I Never Learn escrita por Laurent


Capítulo 9
Without a lover to hold


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo gente :) :'( espero que gostem. Inspirado em Heart of Steel. Links no final. Bjs :*
*Without a lover to hold = sem um amante para segurar



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Minha voz sumiu da garganta. Por um instante, a música, as pessoas, tudo pareceu sumir e perder a importância, porque meu mundo estava desabando. Senti como se Spike tivesse sido atropelado outra vez, como se algo dentro de mim estivesse rachando, ruindo. Rafa apenas me encarava, esperando uma reação, mas eu não sei se tinha uma. De todas as possibilidades que havia imaginado na minha cabeça, nenhuma delas sequer chegava perto dessa.

— Kevin — começou Rafa. Agora eu entedia porque ele parecia tão culpado. — Me desculpa. Me desculpa mesmo, eu não sabia como dizer isso pra você...

— Desde quando? — eu nem sei de onde tirei essas palavras, mas naquele momento eram minha única curiosidade.

Ele suspirou e encarou-me, os olhos transbordando um sentimento que eu estava perplexo demais para identificar.

— Há duas semanas nós voltamos a nos falar. Ele me pediu desculpas por tudo, por ter terminado comigo, e se propôs a começar do zero. No começo eu apenas ignorei porque... bem, eu achei que eu e você tínhamos alguma coisa especial. E eu vi que, mesmo confuso, você sentia algo por mim que eu certamente não mereço mais. Aquela briga que tivemos porque eu falei pra morarmos juntos, foi totalmente por minha causa. Eu tinha feito aquela proposta a você, mas foi um impulso. Eu estava querendo esquecer todas as coisas que o meu ex tinha dito, mas fiz a coisa errada, pois ao dizer aquilo, senti que estava te usando. Por isso acabei brigando. Eu não tava com raiva de você, mas de mim. E depois eu acabei chegando a conclusão de que estava com medo de voltar ao meu antigo namoro porque era exatamente isso que eu queria fazer, e se eu fizesse, perderia você, Kevin. Eu... eu sei que desculpas não vão adiantar mesmo. Mas mesmo assim, me perdoe. Eu não sei o que fazer, mas... eu não posso ficar com você...

Podia ver que ele se esforçava para não chorar. Eu também estava na mesma situação. Essas coisas não deviam existir, pensei. A vida tem uma forma engraçada de te surpreender quando você acha que está tudo bem e tudo está na direção certa.

— Você vai me deixar? — perguntei. Minha voz soava fria, monótona, desprovida de qualquer felicidade.

Rafa olhou não voltou a me olhar. Eu sabia a resposta, e ele também. Mas ela precisava ser dita, por alguma razão que eu desconhecia. Da mesma forma que Carol quis que eu dissesse que a traí.

— Vou — respondeu Rafa. Tive vontade de bater na cara dele, de socá-lo até que ficasse inconsciente.

E de repente, eu quase fiz isso. Agarrei a camisa de Rafa pelo peito, como se fosse empurrá-lo. Eu queria empurrá-lo, queria vê-lo machucado de alguma forma. Sentia tanta raiva e queria descontá-la nele, queria descarregar a torrente de sentimentos que retumbava em meu peito. Algumas pessoas começaram a nos encarar, provavelmente notando que não estávamos mais amistosos — ao menos eu. A fúria escureceu minha mente, e não me importei com os olhares indesejados.

Mas ao invés disso, eu apenas encarei-o com o olhar mais ferido que pude lançar. Queria que ele visse que eu estava sofrendo, embora ele já soubesse. E eu sabia que ele estava sofrendo também. Acabei soltando-o, enquanto ele passava as mãos pela camisa, alisando o tecido que eu amassara com as mãos. Não sabia como processar aquela situação.

Levantei-me depressa. Rafa não me seguiu. Eu tinha que ir para outro lugar. Indo até a mesa, que ficava no outro canto da casa, peguei uma garrafa de vodka e enchi três quartos de um copo, bebendo urgentemente, querendo que o álcool fizesse algum efeito. Queria esquecer tudo aquilo, queria ir para outro lugar da minha mente que não fosse a realidade. Não sei dizer muito bem o que fiz depois, nem por quanto tempo fiquei lá. Mas aquele não foi o único copo que bebi. Só sei que mais pessoas olhavam para mim, mas depois desviavam o olhar quando eu as olhava de volta. Ninguém quis falar comigo, exceto Paulo, que chegou até o meu lado sem eu perceber.

— Kevin — perguntou ele, a voz demostrando preocupação. — Você tá bem?

Coloquei a bebida de volta à mesa, limpando a boca com as mãos.

— Não — respondi. — Não mesmo.

— Você quer sair daqui? Quer que eu te leve pro seu apartamento?

— Eu... acho que sim. — as palavras saíam com dificuldade da minha boca. — Sim, por fav... favor.

— Eu te levo lá — ele disse, e logo que levantei, uma tontura forte me impediu de ter equilíbrio, e eu acabei caindo no chão. Agora eu realmente sabia que todos deviam estar me olhando.

Paulo me segurou pelas costas, levantando-me, e apoiou meu braço em seu pescoço. O caminho até o carro dele era curto, mas pareceu ficar maior enquanto o percorríamos. Não sabia se Rafa estava lá no churrasco ainda, se tinha ido embora de ônibus. Naquele momento, eu queria que ele se fodesse. Acho que estava me sentindo mais ou menos como Carol no dia em que terminamos. Agora eu a entendia.

Quando me dei conta, já estava no banco do carona, o cinto de segurança atado. Do meu lado, Paulo dirigia de olhos na pista, mas de vez em quando voltava a me encarar. Ele não disse nada durante o caminho, e achei melhor assim. Minha mente dava voltas indefinidamente, entorpecida. Chegando ao meu apartamento, Paulo me ajudou a subir as escadas, pegou as chaves do meu bolso e abriu a porta. Conduziu-me até a cama e me ajudou a deitar.

— Não quer tomar banho?

— Depois eu tomo. — eu não queria fazer mais nada. — Valeu... valeu, Paulo.

— Não foi nada.

Paulo ficou lá, parado na minha frente, observando.

— Pode ir embora se quiser... — falei, imaginando que ele quisesse na verdade estar no churrasco, e não assistindo a um cara bêbado se atrapalhar em todos os cantos. — Eu me viro.

Ao invés disso, ele apenas me encarou, e adormeci antes que pudesse dizer mais alguma coisa.


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Notas finais do capítulo

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=BIuMGGNTmL0
Letra: https://www.letras.mus.br/lykke-li/heart-of-steel/traducao.html



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