“Eu devia dizer não, não senhor! (Se importa se eu chegar mais perto?)

Pelo menos vou dizer que tentei... (Por que ferir meus sentimentos assim?)

Eu realmente não posso ficar (Baby, não tente resistir)

Baby... (Mas está frio lá fora!)”

Lily deu um pulo se afastando de James, o grito agoniante de dor ainda continuava, então a ruiva lembrou de suas amigas em algum lugar do trem aquele grito podia ser de qualquer uma delas.  Ela correu até a porta que continuou sem abrir, socou e chutou a madeira até cansar, pegou sua varinha e tentou todos os feitiços, tudo foi inútil.

O grito parou subitamente, então Lily fez o que conseguiu e chorou. Pensou que quando as lágrimas que a estavam sufocando saíssem ela se sentiria melhor mas era como se a cada respiração que dava ela lembrava do terror que estava vivendo, do perigo constante, de como ela não podia proteger seus amigos.

James a abraçou e a tirou de perto da porta, Lily tremia a cada soluço molhando a camisa do rapaz que não se importava com isso. Naquele momento ele só queria fazer a ruiva parar de chorar, dizer que ia ficar tudo bem mas ele estaria mentindo para ela, não podia garantir isso, mas ao vê-la chorando James desmoronou também. Então ali naquela cabine, no último vagão do trem parado, e atacado James jurou para si mesmo  que ia proteger Lily Evans mesmo que custasse a sua vida. A parte boa é que James conseguiu ver a fechadura da porta abrir lentamente, a parte ruim era que ninguém estava realmente lá.

— Lily… - disse ele perdendo o folego quando a mão do dementador segurou a madeira, James empurrou a ruiva para trás encarando a criatura, quando garota percebeu o que estava acontecendo os pensamentos tristes e sombrios de sua vida estavam sufocando-a. Ela viu sua irmã brava com ela por ser uma bruxa, a tristeza nos olhos de seus pais por era ir para Hogwarts no primeiro ano, longe de casa por tempo demais, viu as pessoas a chamando de sangue ruim, jogando insultos nela. Do fundo de sua mente barulhenta ela conseguiu lembrar o feitiço.

— Expecto Patronum! - ela gritava, mas o som não saia de sua boca. Tinha mais alguma coisa, algo importante para fazer o feitiço mas ela não lembrava.

Óbvio que não, ela era um fracasso, um erro, uma mancha no mundo bruxo ela tinha que ser apagada. Quando os gritos ficaram insuportáveis em sua mente ela considerou desistir então Lily sentiu uma mão na sua.

Uma mão quente, grande e familiar que a fez lembrar de onde estava, com quem e tambem liberou sua memória mais feliz. Quando o time da Grifinoria ganhou a taça das casas em seu primeiro ano, a torcida vibrava dourado e vermelho e berrava como leões, Lily se sentiu tão bem em estar num lugar com tantas pessoas diferentes se alegrando com a mesma coisa, que seu coração se encheu de alegria.

A ruiva abriu os olhos vendo uma corça brilhante sair de sua varinha e ir pra cima do dementador, onde um cervo já o atacava. Lily encarou o outro patrono surpresa, olhou para James ao seu lado com um olhar questionador mas o garoto parecia tão impressionado quanto ela.

Logo o dementador sumiu, a corsa se voltou para Lily que a mandou lutar contra os outros, sem ter certeza se isso adiantaria em alguma coisa, mas o patrono voltou a correr pelo corredor com o cervo atrás de si.

— Aquilo foi estranho. - comentou James.

— Aham.  Você está bem?

— Sim, e você?

— Um pouco tonta, é muito esforço fazer um patrono.

— Parecia ser.

— Como assim?

— Lily eu quase te perdi, o dementador chegava cada vez mais perto e você não reagia eu tive que te puxar para fora do caminho.

— Você me salvou. - disse ela sorrindo.

— Bem, foi meio que nós dois juntos com os patronos e…- Lily sorriu e segurou sua mão.

— Você pode só aceitar minha gratidão?

James apertou um pouco a mão da ruiva e se aproximou, dessa vez não ouve um grito cortante, mas sim Marlene Mckinnon gritando de felicidade ao encontrar seus amigos.

— Lily! Você está viva. - disse ela engolindo a amiga num abraço, que ela retribuiu de bom grado.

— Também estou feliz em te ver, Lene.

— Está todo mundo bem? - perguntou Sirius, fazendo a ruiva perceber que os marotos também estavam ali.

— Acho que sim. - respondeu Dorcas se juntando no abraço em grupo das garotas. Lily estava tão aliviada de que elas estavam bem que quase esqueceu de perguntar o que houve.

— Os comensais pararam o trem. - respondeu Remus.

— Saquearam algumas coisas, botaram o terror, mataram o professor de Estudo dos Trouxas e saíram deixando os dementadores. - completou Sirius, Lily se sentiu mal pelo professor Artwick mesmo não tendo aula com ele.

— Babacas. - disse Peter cruzando os braços.

— Ei,disseram que o trem vai demorar um pouco para andar, mas vamos nos mover. Quer ir para a nossa cabine Lily?

A ruiva olhou para o outro lado da cabine, onde os marotos conversavam animadamente como se nada tivesse acontecido, e então seu olhar cruzou com o de James e foi como se estivessem sozinhos na cabine novamente.

— Acho que depois meninas, preciso descansar um pouco.

Elas concordaram depois de um tempo e saíram com os marotos. Lily e James suspiraram ao mesmo tempo ao ficarem sozinhos novamente, Lily abraçou o Potter enterrando o rosto em seu peito.

— Estamos vivos. - disse.

— Trabalho em equipe.

— Somos uma boa equipe.

— Concordo.

James descansou o queixo na cabeça da ruiva enquanto a envolvia mais pela cintura.

— Obrigado Lily.

— Pelo o que?

— Me aguentar, impedir que eu fizesse a coisa mais idiota em enfrentar aqueles caras sozinhos, por estar aqui e não me odiar.

Ela levantou seus olhos verdes para ele.

— Por que eu odiaria James Potter?

— Me odiaria se te beijasse agora?

— Muito pelo contrário. - respondeu Lily sorrindo.

Seus lábios eram quentes e macios, assim como Lily tinha imaginado mesmo que nunca admitisse para ninguém. A ruiva passou os braços pelo pescoço do garoto retribuindo o beijo ficando na ponta dos pés, desejando ficar ali para sempre.

***

Lily acordou com o movimento do trem, estavam saindo do lugar finalmente, então ela percebeu que estava encostada no peito de James Potter que dormia com a boca aberta. A ruiva se acomodou mais em seu corpo quente, porque afinal, ainda estava frio lá fora, fechou os olhos pensando em como tanto tinha mudado e de como ela gostava daquilo.

Era uma situação nova com o bom e velho James Potter.