Domingo, 11 de novembro

 Fazia aproximadamente uma hora que nós quatro andávamos em meio as ruas de New York procurando por algum lugar que pudéssemos nos divertir neste domingo. Era as últimas horas de Scott aqui, ele voltaria para casa no começo da noite, então decidimos aproveitar na companhia dele enquanto ainda tínhamos tempo.

 — Boliche! — a morena do lindo sorriso e covinhas anuncia em um berro. Olhava fixamente para o outro lado da rua, fazendo com que eu, Scott e Lydia também olhássemos para a mesma direção.

 — Sim! — concorda Lydia com animação. As duas mulheres viram suas visões para trás em direção a mim e ao Scott que andávamos logo atrás delas, esperavam pela nossa aprovação.

 — Ah, não — nega Scott demostrando que não havia gostado da ideia.

 — Por que não? — questiona Allison quase fazendo um biquinho em desanimo. Lydia formava o mesmo bico com os lábios grossos. Dou um sorriso contido admirando a cara fofa que ela estava agora, tão linda. — Você sabe jogar, certo?

 — Mais ou menos — murmura Scott.

 — Mais-ou-menos ou sim? — a morena arqueia uma das sobrancelhas e encara-o, seus lábios ainda exibiam um sorriso divertido em provocação. Ele cerra os olhos diante da provocação da moça.

 — Eu jogo muito bem. — Ele dá os ombros e sorri.

 Olho para ele com a testa franzida e balanço a cabeça em reprovação, eu sabia muito bem o quanto Scott era ruim no boliche.

— Ótimo, iremos para o boliche. Tudo bem para você, Stiles? — pergunta Allison. Faço que sim com a cabeça, concordando. Vejo um sorriso desmanchar o biquinho que estava nos lábios de Lydia anteriormente. Sorrio para ela.

 Com a mão esquerda Allison segura a de Scott e com a mão direita ela dá um jeito de pegar a minha e a de Lydia juntas. Segurando nossas mãos, olha para um lado e para outro analisando se era seguro atravessar agora, vendo que sim leva-nos para o outro lado da rua.

 Entramos no boliche e para nossa sorte poucas pessoas estavam ali neste momento, com pistas livres não tivemos que esperar para começar a jogar. Pagamos por duas horas, pegamos uma pista e calçamos os tênis especiais.

 — Quais os times? — pergunta Lydia.

 — Eu não quero separar o meu casal apaixonado preferido, então pode ser vocês dois contra nós — responde Allison, me fazendo rir.  

 Allison é a primeira, escolhe uma das bolas disponíveis, ajusta os dedos nos furos da bola de boliche, se prepara em frente a pista e joga executando um strike perfeito. A morena junta as mãos e dá alguns pulinhos breves de entusiasmos.

 A segunda a jogar é a Lydia. Ela realiza a jogada com a mesma perfeição de Allison. A morena bate palmas com animação para a amiga. A ruiva vem até mim com um sorriso gigante no rosto e comemora comigo em um high five. Puxo-a pela mão fazendo com que ela sente em meu colo.  

 — Você é boa — falo.

 — A Lydia é perfeita, né? — a morena se dirige a mim. Faço que sim com a cabeça confirmando.

 Enlaço a cintura da ruiva com os braços lhe dando um abraço quase apertado e apoio meu queixo em seu ombro para observar Scott em sua vez. O moreno pega uma bola de boliche e se prepara para jogar, logo ao lançar a bola desvia para a esquerda não conseguindo acertar um pino sequer. Na segunda tentativa, ele consegue repetir a mesma falha.  

 — “Eu jogo muito bem” — Allison reproduz a frase dita anteriormente por Scott, em seguida dá uma gargalhada alta.

 — Allison, quieta! — Scott se senta ao lado dela e com as mãos bagunça os longos e lisos cabelos da morena, trazendo grande parte dos fios para frente tampando o seu rosto.

 — Scott, seu merda! — A morena empurra-o com as mãos magras no peitoral dele, logo joga todo seu cabelo para trás em um movimento com a cabeça, terminando de ajeita-lo com os dedos. — Eu te odeio — diz entre risadas.

 — Eu também te amo — brinca e pisca para ela.    

 Por fim, chega a minha vez. Lydia sai do meu colo e se senta direto no banco permitindo que eu levantasse. Escolho uma bola qualquer, afinal eu não sabia nada sobre boliche para conhecer a diferença entre elas. Encaixo meus dedos nos três buracos, e caminho para frente da pista. Encaro os pinos posicionados no final da pista, respiro fundo, dou alguns passos para frente e, depois de um movimento com o braço, lanço a bola. O lance só fez com que eu confirmasse as minhas suspeitas, eu era horrível no boliche, quem sabe até pior em relação a Scott. A bola desvia bruscamente para a lateral, obviamente não derrubando nenhum dos pinos. O mesmo acontece no segundo lance. Escuto risadas altas que se misturavam atrás de mim, apesar disto eu sabia identificar cada uma delas, Allison e Scott riam descaradamente do meu fracasso.

 Suspiro frustrado e espreme os lábios formando uma linha reta que demostrava a minha infelicidade. Volto para o banco e sento ao lado de Lydia.

 — Desculpa... — sussurro.  

 — Tudo bem, Stiles — ela diz com uma voz baixa e sorri. Põe a mão atrás da minha cabeça e faz carinho no meu cabelo. Depois deita a cabeça em meu ombro e eu deixo meu braço em volta dela.

 — Vocês são tão fofos que eu não sei lidar. Eles não são lindos juntos, Scott? — Allison nos encarava com os cotovelos apoiados nos joelhos e o queixo nas mãos. Scott faz que sim com a cabeça. Dou risada.

 — Minha nossa, Allison! — exclama Lydia entre risadas e desapoia a cabeça do meu ombro. — Vamos continuar a jogar, por favor?

 — Ok, ok. — A morena ergue as mãos em rendição. — E vocês dois — aponta para mim e depois para Scott — joguem como garotas nesta rodada — zomba.

 Jogamos até o momento que fomos avisados que as horas que reservamos na pista haviam acabado. Os times que foram divididos empataram no placar final, mas isto não quer dizer que eu e Scott tivemos qualquer contribuição nos pontos marcados em cada time, éramos realmente ruins no boliche. Como Allison mesmo disse: as grandes vencedoras foram as mulheres. Porém, o importante é que nos divertimos nessas horas, os meus erros e os erros do Scott em nossos lances geravam altas risadas, piadas e provocações em um clima descontraído.

 O fim da tarde chegava e era a hora de se despedir. As meninas iriam para suas respectivas casas e eu voltaria para meu apartamento pegar as malas do Scott para leva-lo ao aeroporto.  

 Havíamos chamado dois táxis, afinal iriamos embora separados. Um dos táxis chega. Como Scott tinha hora para chegar ao aeroporto, as meninas cederam para que fossemos primeiro.

 — Me dá um último beijo de despedida ou eu vou ter que esperar meu próximo aniversário e pedir para a velinha mais uma vez? — escuto Scott sussurrar para Allison enquanto a abraçava se despedindo. A morena ergue uma sobrancelha e dá uma risada baixa. Ainda presa com os braços de Scott em volta da cintura dela, Allison repousa a mão na nuca dele e traz o rosto do moreno para o seu e ela mesma dá a iniciativa do beijo.  

 — Te vejo amanhã? — pergunto à Lydia. Ela assente sorrindo. Junto meus lábios ao seu sorriso e lhe dou um beijo rápido.    

 Quando Scott e Allison terminaram, me despeço da morena e ele da ruiva e só assim entramos no táxi.

 — Tchau, a gente se vê qualquer dia — diz Scott para Allison logo após abaixar o vidro da janela.

 — Tchau. — Allison acena e sorri com um fundo de desanimo ao vê-lo partir.

 Scott novamente dirigia o meu carro temporário, enquanto eu sentava no lado do passageiro.  Estávamos a caminho do aeroporto. Ele estava indo embora, iria voltar para a sua casa na nossa cidade. Eu tinha a vontade de ir com ele, sentia saudade da nossa cidade, do meu pai, dos meus amigos, contudo ao mesmo tempo eu não queria ir embora de New York nunca por causa dela.

 — Stiles, quais são os seus sentimentos pela Lydia? Você está gostando mesmo dela, não está? Eu não acredito que tudo aquilo seja atuação, eu conheço você, pode ser sincero — fala Scott. Esta era a primeira vez que ficamos completamente sozinhos com tempo para conversar a partir do momento que encontramos Lydia e Allison na boate.   

 — Eu... — dou uma pequena pausa e relaxo os ombros. — Eu estou tão confuso em relação a tudo, minha cabeça está uma bagunça, mas esta é a única certeza que eu tenho, eu gosto muito dela.

 — Pelo que eu vi você não só conseguiu seduzi-la como também fez ela ficar toda apaixonadinha, ela gosta muito de você, Stiles... — ele diz, fazendo com que um sorriso surgisse no canto da minha boca e belas imagens da ruiva aparecessem em minha cabeça. — E você está ciente que quando ela descobrir que tudo não passou de uma missão, ela poderá ter seu coração partido, não é?

 O pequeno sorriso em meus lábios vai embora no exato segundo que ele profere a frase. Olho para ele que continuava com sua vista para a pista em sua frente. 

 — Não, você não entendeu, Scott! — digo em tom alto, quase um grito de protesto. — Eu gosto mesmo dela... de verdade. Não tem mais nada a ver com a missão.

 — Tudo bem, cara, mas isso você vai ter que explicar para ela depois, não para mim. Talvez ela entenda, talvez não, talvez te perdoe ou não, talvez não queira mais ficar com você, isso não tem como saber. Porém, tem grandes chances que ela fique bastante magoada por ter sido enganada, principalmente se ela tiver criado uma grande expectativa na relação amorosa entre vocês. — A voz dele era calma, não soava como um julgamento, ele só falava o que infelizmente era verdade. 

 Mordo meu lábio inferior e balanço minhas pernas em nervosismo. Encaro os tênis em meus pés.

 — O que acha que devo fazer então? — questiono.

 — Eu não sei, cara. Você que tem que descobrir o melhor jeito, eu não a conheço e não foi eu quem viveu a relação de vocês. Só acho que até você não resolver tudo não a iluda com expectativas para o futuro, porque você não sabe se existirá. Eu sei que você é todo romântico e apaixonado, mas dá uma segurada, pode parecer fofo agora, mas depois se ela descobrir e não entender o seu lado, as coisas podem ficar piores. Depois que tudo se resolver você pode até pedi-la em casamento se quiser.

 — Eu já disse eu te amo para ela — depois de alguns segundos confesso ainda hesitante.

 — Não, você não disse! — Ele tira sua visão da pista por um segundo e me encara, esperava eu dizer que era uma brincadeira, mas eu não fiz. Scott vendo que eu falava sério balança a cabeça de um lado para o outro em negação. — E o que ela disse?

 — Ela estava bêbada, nem sei se ela se lembra, ela nunca me disse nada sobre isto depois.

 — Você é um otário, Stiles! Quando você quebrar a cara, que eu sei que vai, você irá pedir minha ajuda e... — pausa — infelizmente, eu acabarei te ajudando porque eu sou seu amigo, mas não deveria porque eu estou te alertando agora para parar com isso!

 — Scott, você só está conseguindo me deixar pior.

 — Ok, ok. Me exaltei um pouco, desculpa. Vamos tentar de outro jeito. Você pensaria na possibilidade de parar a missão agora?

 — Se eu parar agora, eu vou ter que voltar para minha casa, para minha vida e de qualquer jeito ela irá descobrir. Ainda decepcionarei meu pai, meu chefe, serei demitido e não terei dinheiro nem para pagar a conta telefônica para conseguir ligar para a Lydia.

 — Ok. E você acha que ela é culpada?

 — Eu não sei.

 — O que você encontrou de informação até agora?

 — Quase nada.

 — Você passou mais de um mês aqui e nada?

 — E-eu... — balbucio, porém antes de conseguir terminar a frase, um nó se forma em minha garganta não me permitindo dizer mais nenhuma palavra. Fecho os olhos, passo minha mão sobre o rosto e suspiro. Contudo, permaneço em silêncio, olhando para o vazio. Scott também continua sem falar nada por um tempo, provavelmente esperando por mim.  

 — Você está evitando procurar porque tem medo do que irá encontrar, não é? — diz quando percebe que meu silêncio continuaria. — Tem medo de que as acusações sejam verdadeiras e não quer isto, porque você gosta dela — refletia Scott, enquanto em permanecia sem dizer uma palavra sequer. — Olha, mas se isto for te reconfortar, pense que ela pode ser inocente e você consiga livrá-la de todas essas acusações.

 — E se ela for culpada? — murmuro em um sussurro desanimado.

 — Se ela for mesmo culpada, infelizmente não tem nada que você não possa fazer e ela deverá pagar as consequências dos seus atos. Porém se gosta mesmo dela, ou melhor, se você a ama, não abandone-a independente do que ela fez ou deixou de fazer.