Quarta, 24 de outubro

 Acordo.

 A janela entreaberta permitia a entrada dos raios de sol em meu quarto, além da brisa fria. O vento cismava em balançar as cortinas brancas. As cobertas protegiam parte do corpo do ar gelado.

 Lydia estava deitada ao meu lado, dormia serenamente. Mechas avermelhadas caiam sobre o seu rosto. A ruiva deitava de bruços com o rosto virado para mim. Sua mão direita se posicionava entre a cabeça e o travesseiro. A coberta cobria até o seu quadril, deixando toda sua costa virada para cima desnuda.

 Estava muito próxima a mim, porém infelizmente nossos corpos não se encostavam. Contudo, ainda assim, podia sentir sua respiração calma e analisar cada detalhe da sua face perfeita. Aproximo minha mão e acaricio o cabelo dela com leveza para não acordá-la. Sem perceber um sorriso bobo estava em meu rosto.

 Cuidadosamente, me levanto da cama. Vou até a janela e fecho-a. Procuro por minha cueca e visto. Caminho até a porta.

 — Stiles... — ouço sua voz me chamar suavemente, antes que eu saísse pela porta, olho para trás. — Aonde está indo? — Ela se ajeita na cama ficando sentada, cobrindo seu corpo nu com a coberta.

 — Meu plano era acordar você com um café da manhã, porém você estragou tudo acordando antes da hora — explico. Dou uma leve risada e ela também.

 — Então, vou fingir que eu estou dormindo e você traz, como se nunca tivesse acordado. — Ela pisca e sorri.

 — Boa ideia. — Dou os ombros. Lydia dá uma gargalhada.

 — Estou brincando! — Ela me ataca um travesseiro que estava na cama. — Não é para me trazer café na cama, sério.

 — Não gosta de romantismo, Sra. Martin? — Me encosto no batente da porta e a encaro.

 — Gostar eu gosto, mas melhor evitar.

 — Melhor evitar? — estava confuso.

 — Não estou afim de me apaixonar por você.

 — Então, quer dizer que é possível que você se apaixone ainda mais por mim? — pergunto com um sorrisinho no rosto. Ela me ataca outro travesseiro entre risadas. Desta vez jogo de volta. — Vou lá preparar, pode começar a fingir que está dormindo! — falo.

 — Não, Stiles, eu estou falando sério! — ela tenta parecer séria, mas alguns risos ainda escapavam de sua boca.

 Sorrio e deixo-a falando sozinha. Vou para o corredor em direção à cozinha. Logo ao chegar, ouço os passos apressados de Lydia vindo até mim.

 — Stiles!

 Olho para ela, a ruiva entrava na cozinha ajeitando a alça do sutiã que acabara de colocar. Estava vestida com sua lingerie.

 ­— Se quer fazer o café da manhã, devemos fazer juntos, mas vale lembrar que tem a pizza de ontem que provavelmente será mais gostosa a qualquer coisa que tentarmos fazer agora.

 — Não desafie meus dotes culinário, Sra. Martin. — Encaro-a com uma das sobrancelhas arqueadas e cruzo os braços. — Porém, não quer dizer que não podemos comer pizza hoje.

 Rimos juntos.

 Ela vai até a sala buscar a caixa de pizza que havíamos deixado sobre a mesa de centro, enquanto eu me ocupava em pegar copos e pratos limpos, também pego refrigerante na geladeira e já aproveito para colocar o líquido nos copos.

 Quando volta Lydia usava sua blusa de moletom, mas ainda estava sem o shorts. Ela coloca duas fatias de pizza no micro-ondas e encosta no armário enquanto aguarda os segundos do micro-ondas passarem. Seus olhos se encontram com os meus.

 — O que? — questiona.

 — O que? — repito a pergunta.

 — Você está me encarando com esta cara... de novo. — Se refere as outras vezes que me perdi olhando para ela.

 — Nada. — Sorrio e ela também.

 A verdade que ela estava extremamente sexy com os cabelos levemente bagunçados, cara de sono e vestindo apenas moletom e calcinha.

 O micro-ondas apita. Ela pega as fatias e leva até o balcão, levo os copos para lá também. Sento na banqueta e ela se senta em cima do balcão, em frente a mim. Começamos a comer.

 — Hoje deveria ser sua vez — a ruiva diz entre mordidas na pizza.

 — De quê? — pergunto.

 — De me contar sobre você. Só falamos sobre mim até agora e eu não sei nada sobre você. — Me olhava.

 — Vamos lá, sobre mim, eu... — Pauso para pensar em algo para dizer. Não era fácil me definir, principalmente para Lydia, já que vivia uma vida falsa para ela. — Eu acho você sensacional, sexy, linda e eu estou louco por você.

 Com a minha mão livre acaricio sua bochecha e trago seu rosto para mim, então encosto nossos lábios e lhe dou um beijo.

 — É sério, Stiles. — Ela descola nossos lábios sorrindo e inclina a cabeça para trás para se afastar. Porém, continuo com os carinhos e dou vários beijos rápidos no pescoço dela. — Stiles — murmura meu nome e com a mão empurra meu peito. 

 — Lydia, diferente de você eu não tenho nada de interessante para contar. Minha vida sempre foi... normal. — Suspiro e espreme os lábios, formando uma linha reta na minha boca.

 — Também quero conhecer você, Stiles. — Ela repousa a mão sobre o meu rosto fazendo carinho na minha bochecha com o polegar. — Sobre seus pais, sua faculdade, seus amigos, suas namoradas, sua carreira na Hisieg, qualquer coisa — dizia com uma voz manhosa e com seus olhos verdes e hipnotizantes sobre mim pedindo por favor. Penso no que falar.

 — Meus pais moram em Beacon Hills e morei com eles até começar a trabalhar na empresa do Derek. Fiz faculdade de administração — minto sobre isto. — Foi meu pai quem me incentivou a trabalhar nesta área que estou trabalhando agora. E eu sou iniciante nesta coisa de mídia e celebridades, nunca apareci na televisão nem em nada e estou muito assustado com que essas fotos que fizemos vão se tornar, então preciso de ajuda — esta parte era verdade —, se for a sua ajuda melhor ainda.

 Sorrio e volto a me aproximar meus lábios aos de Lydia.

 Voltamos a comer a pizza. E, juntos, terminamos de tomar nosso café da manhã, entre troca de olhares, risadas, sorrisos e muitos beijos.

 — E isto aqui? Quase sempre está com ela, tem um significado para você? — Ela coloca a mão sobre a minha corrente que havia um pingente de asa de anjo. Olho para baixo para olhar na mesma direção que ela.

 — Eu ganhei quando tinha dez anos. Minha avó estava doente, ela me deu esta corrente para eu lembrar que ela sempre estará presente para me proteger e me guiar. Eu era muito apegado a ela — falo com sinceridade.   

 — Ah. É linda. E aposto que sua avó também era. 

 — Era sim — digo e dou um sorriso contido ao lembrar da minha vó, sentia saudades dela e daria tudo para tê-la aqui comigo.

 Um pouco antes do meio-dia deixo Lydia em seu apartamento para que ela pudesse trocar de roupa e ir para a empresa trabalhar, ela parecia ter muito trabalho na LeYoo e por conta disto ficamos sem ter nenhum contato pelo resto do dia.

Quinta-feira, 25 de outubro

 Hoje ela também foi para a LeYoo logo cedo para mais trabalhos, e me disse que ficaria até mais tarde lá.   

 — Posso te levar para almoçar, pelo menos? — pergunto. Estava no telefone com ela.

 — Se estiver com muita vontade de me ver, pode.

 — Você nem sabe o quanto — digo e pude ouvir a risada dela do outro lado da linha.

 — Passa aqui duas horas. Só vou ter uma hora de almoço, ou menos que isso, para dar tempo de resolver o que precisa da campanha.

 Aguardo-a com o carro estacionado em frente ao edifício da LeYoo. Olho para o relógio no pulso, era exatamente duas horas e três minutos. Vejo ela saindo pela porta de entrada. Estava de coque, óculos escuros, calça jeans, tênis e uma camiseta. Ao avistar meu carro, ela caminha até mim.

 — Ei — diz com uma voz animada assim que entra no carro, mas era visível em seu rosto o quão cansada ela estava.

 — Estava com saudades — falo. Lydia balança a cabeça em negação e sorri.

 — Para com isso, Sr. Stilinski.

 Sorrio e olho-a pela última vez antes de começar a dirigir. Em menos de dez minutos chegamos no restaurante. Fazemos nosso pedido. O restaurante estava praticamente vazio, além de nós dois, apenas um casal estava sentado em outra mesa, então logo fomos servidos.

 Almoçamos.

 Lydia deita a cabeça sobre a mesa com a ajuda dos braços que serviam como apoio.  

 — Está exausta, né?

 Ela responde fazendo um sinal que sim com a cabeça. Acaricio seu cabelo ruivo com a mão, enquanto ela estava deitada.

 — Você não precisa ser tão dura com você mesma.

 — Preciso... para tudo sair perfeito. — Ela espreme os lábios, seus olhos estavam fechados, desfrutava do meu toque, do meu carinho em seu cabelo. Me aproximo mais dela e coloco meu braço em torno da sua cintura, abraçando-a. Deito minha cabeça na mesa assim como ela, ficando com o meu rosto em frente ao dela.

 — Tudo o que você faz fica perfeito mesmo sem esforço. — Lydia sorri com as minhas doces palavras. — Não precisa de tudo, você vai acabar se sentindo mal, logo eu vou me sentir mal.

 — Você é muito fofo. — Ela abre os olhos para poder me olhar. Se remexe e fica apenas com um braço abaixo da cabeça. Com o outro braço livre ela consegue passar a mão sobre meu rosto, acariciando e sentindo minha pele. — Muito fofo... — diz com uma voz mais baixa desta vez. Balança a cabeça para um lado e para o outro fechando os olhos com força. Retira a mão do meu rosto com rapidez, como se não devesse estar fazendo aquilo. Levanta a cabeça, cobre sua face com as mãos e suspira apreensiva. Levanto a cabeça também e a encaro. Lydia era indecifrável, não conseguia entender o que ela sentia ou o que ela queria dizer, ela me deixava tão confuso. — Preciso ir.

 — Lydia, por favor, as coisas estão indo tão bem entre a gente, diga que não irá se fechar de uma hora para outra e me deixar sem entender nada, de novo. Se está incomodada com algo, pode me dizer.

 — Você tem certeza que quer ficar comigo? — sua pergunta soa em um sussurro. Ela encarava as próprias mãos sobre a mesa.

 — Ainda tem dúvidas? — Sorrio, ela também.

 — Se quiser fugir de mim a qualquer momento, tudo bem.

 — Por que eu fugiria de você?

 — Porque eu já deixei claro que é melhor você ficar longe de mim para seu bem.  

 — Mas, nunca disse o porquê disso.

 — Eu só não sou uma boa pessoa, Stiles — murmura e morde o lábio.

 — Por quê?

 Ela me encara, mas não diz nada. Com isto, diversas teorias são criadas em meus pensamentos. Aquelas palavras que saiam da boca dela, me fazia acreditar que ela realmente teve algum envolvimento na morte do marido. Não necessariamente que ela tenha o matado cruelmente como as acusações diziam. Mas, parece que ela escondia algo ruim que fez no passado, porém não faço ideia do que.

 Contudo, não quero a intimidar com perguntas agora, afinal finalmente ela estava se deixando entregue e permitindo que um bom relacionamento entre nós começasse a se desenvolver. Não posso estragar tudo logo agora.

 Eu preciso admitir isto para mim mesmo: eu realmente gostava dela e gosto cada vez mais. E isso pode me fazer parecer um idiota. A minha missão era fazer com que ela se apaixonasse por mim, e olho só, quem está se apaixonando sou eu por ela. Eu sou um trouxa. Aliás, eu sempre fui um trouxa e sempre serei, o que me restava era aceitar. Mas, a culpa não é minha se ela tinha um sorriso encantador.  

 Coloco meu braço em volta dela e puxo-a para um abraço. Lydia apoia a cabeça em meu ombro e os braços em volta da minha cintura.  

  — Você vai fugir de mim? — pergunto com a voz baixa enquanto estamos abraçados. Ela ainda com a cabeça apoiada em meu ombro, balança a cabeça fazendo que não. — Então, não vou fugir de você.

 — Sério, preciso ir, Stiles — dizia agora mais suavemente e com um meio sorriso no rosto. Desfaz o abraço.

 Pagamos a conta. Vamos até o meu carro e dali levo-a até sua agência.

 — Te vejo hoje à noite? — pergunto.

 — Não sei, talvez vou ficar até tarde do trabalho novamente.

 — Lydia. Não é bom você ficar tanto tempo trabalhando assim.

 — Relaxa, estou acostumada. Qualquer coisa te mando mensagem. Até mais. — Ela se vira para abrir a porta.

 — Lydia — chamo antes que ela saísse. Seguro sua mão esquerda. Ela me olha. Agora passo a mão em sua bochecha rosada com minha mão disponível. — Se cuida. — Beijo sua testa e depois lhe dou um beijo rápido. Ela sorri e também me beija.