A Fronteira Maldita escrita por Dama do Poente


Capítulo 13
12 - Tempo


Notas iniciais do capítulo

Dama das Cores, daughter of the sun e Mica Ligeia: muito obrigada pelos reviews no último capítulo!
Gente, eu to amando reescrever essa história, vocês não têm noção. Ta dando um pouco de trabalho, e eu quase não estou com tempo, mas ainda assim estou amando.
Espero que gostem do capítulo!!



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P. O. V Catarina:

Muitas de minhas crenças estavam mudando rapidamente nos últimos dias. Não que eu tivesse pouca fé no sobrenatural, mas tudo o que vinha acontecendo ainda parecia surreal até para mim.

— Então você descobriu que era parte disso depois que foi atacada por pombos? — Lorenzzo tampouco acreditava em tudo o que eu lhe contava sobre minha entrada triunfal no mundo de deuses e monstros.

— Não eram pombos de verdade, só pareciam ser. Eram pássaros de Estinfália, e seus bicos cortam como navalhas afiadas. — contei, pausando para tomar um gole de suco; podíamos estar às vésperas do fim do mundo, mas o café da manhã ainda era a refeição mais importante do dia. — Se quer saber minha opinião, os gregos ligam muito para pássaros: quando conheci e salvei Sadie, ela estava sendo atacada por harpias...

— Minha nossa... Tem alguém que você não salva? — ele pergunta brincalhão, porém logo o clima descontraído entre nós deixa de existir.

Nós dois sabíamos que houve uma pessoa que eu não conseguira salvar, apesar de todos os esforços. Ambos sabíamos que eu falhara com Sophia, e esse era um marco que pesava sobre nossas consciências, mesmo que tentássemos evitar tocar no assunto enquanto comíamos: seqüestros místicos não são bons acompanhamentos, e não poderíamos resolvê-lo sem que todo o grupo estivesse junto. 

— Aquilo que o tal de Nico fez com seu arco... — Lorenzzo tenta mudar o foco da conversa, e eu o agradeço mentalmente por isso.

Eu sempre gostei de falar, e naquele momento precisava extremamente disso. No silêncio, todas as minhas inseguranças e dúvidas a respeito da missão apareciam, enlouquecendo-me pouco a pouco. O medo, que eu jurei não senti, começava a tomar conta de mim.

— Não sei muito bem o que aquilo significa. Sei que sôter é um arco especial, diferente, mas não sabia que podia se transformar em qualquer arma. — confesso, tão curiosa quanto ele. — Vamos ter que esperar Nico ou Claire acord...

— Não se preocupe, priminha: sequer dormimos! — Claire me interrompe, juntando-se a nós com uma xícara de café em mãos.

Ela estava péssima, destruída: os cabelos, que sempre eram perfeitamente alinhados, estavam completamente fora do lugar; seus olhos estavam inchados, e seus lábios completamente ressecados. Assustei-me, e quase corri para me olhar no espelho, porém a aparência era o que menos me preocupava no momento.

— O que ficaram fazendo acordados? — Lorenzzo questiona intrigado.

— Eu estava tentando entender o que raios é esse arco! — Nico resmunga, devolvendo-me sôter, este já encolhido em sua bainha. — Mas Claire se recusou a me contar, e eu não consegui descobrir sozinho!

— Por que eu gastaria minha saliva contando algo que terei que repetir? — Claire nos esclarece seu ponto de vista. — Quando os magos se juntarem a nós, eu conto tudo!

Da cozinha, onde estávamos, era possível ouvir sussurros baixos do que quer que Sadie e seus amigos estivessem conversando na sala; eles estavam lá há mais de uma hora, e o volume de suas vozes já ultrapassara todos os limites: ora alta e exaltada, ora baixa e conspiradora. Isso me deixava curiosa, e ao mesmo tempo tensa — o que arruinou, completamente, minha tentativa já frustrada de tomar um café da manhã saudável.

— O arco de Catarina não é a única arma que me intriga. — Nico murmura, quebrando uma torrada em pequenos pedaços — Onde conseguiram aquilo?

Eu sabia que ele apontava para a tal Lança Sangrenta. Claire havia nos contado, na tarde anterior, que aquela era a arma de Ares, o deus da Guerra — e tecnicamente pai de Lorenzzo, embora fosse seu arquétipo romano, Marte, o responsável pelo nascimento dele —, e que o fato de termos a encontrado não era por acaso.

Lorenzzo rapidamente explica o que acontecera na ruela onde o salvamos, detalhando cada momento do ataque. Deixei me desligar enquanto os dois italianos se envolviam tanto na conversa, que em questão de segundos já falavam em seu idioma natal, ignorando o fato de Claire e eu, supostamente, não entendermos nada do que falavam.

— Claire, por que estou conseguindo entendê-los? — viro-me para minha prima, que comia iogurte com granola tranquilamente.

— Eu consigo entender francês porque é a língua do amor! — ela deu de ombros, levando uma colherada à boca. — O sol atravessa continentes, países, e é Apolo quem o guia... Não me surpreenderia se ele soubesse uma quantidade absurda de idiomas, e seus filhos também soubessem! — era uma teoria um pouco louca, mas que de fato fazia sentido.

Não tive muito tempo para pensar a respeito disso, pois logo duas das visitas de Sadie adentraram o recinto, deixando-nos em desconfortável silêncio. Obviamente eles estavam tão constrangidos quanto nós estávamos surpresos, porém estávamos no mesmo barco: precisávamos colocar essas barreiras de lado e nos juntar. E eu só conhecia um jeito de unir pessoas.

— Querem tomar café?

P. O. V Autora:

Carter Kane soube que o mundo poderia realmente acabar quando Sadie o abraçou e chorou em seu ombro.

Depois de horas dentro de um avião e de ter enfrentado monstros de várias etnias quando aterrissou, enfim o garoto encontrara um pouco de paz: Sadie, apesar de tudo, estava bem... E assustada, o que era natural!

― Me desculpe, Carter! ― Sadie choraminga.            

― Ta tudo bem, Sadie! ― Carter murmura , voltando a desempenhar um papel que, às vezes, ele esquecia que era lhe era fixo: o de irmão mais velho.

― Não está nada bem: Sophia foi levada, e eu ainda não sei o que fazer! Eu odeio não saber, odeio não ajudar, odeio parecer um bebê chorão... ― ela suspira, se afastando.

Zia e Walter haviam deixado-os a sós, e não demorou muito para que Sadie mostrasse como de fato se sentia naquela missão: sentia medo, sequer entendia o que estava acontecendo. Achou que estava tudo prestes a dar certo, ou que pelo menos compreenderia o que estava ocorrendo, porém não teve tempo: antes de descobrirem o verdadeiro papel de Sophia, esta foi levada. E aquele ataque não poderia ser mais suspeito.

― Bom, se fôssemos do tipo fofinho de irmãos, eu diria que você é sim um bebê! Minha bebezinha chorona e rebelde, porém somos algo como: Sadie Kane, respira fundo e não surta! ― Carter se senta ao seu lado no sofá, olhando para as paredes da casa em que estavam. ― Sobre o que realmente é essa missão?

― Esse é o problema: eu não sei! Apenas sei que há uma profecia para nos guiar, e que cada verso pode ser uma previsão macabra do futuro que está por vir! ― suspirando, Sadie lhe conta os versos ditos pelo oráculo do Acampamento Meio-Sangue, revelando também as conclusões as quais chegara com Catarina e Claire. ― Antes que pudéssemos entender se ela era mesmo a proibida, o ataque aconteceu, e agora estamos aqui, tentando saber o que fazer!

Carter adoraria ter respostas para sua irmã mais nova, adoraria poder protegê-la, mas não havia lugar para ele naquela profecia. Estava ali apenas por desencargo de consciência, por preocupação fraterna, porém depois de ouvir tudo o que Sadie lhe contara, todas as suas constatações, sentiu que não precisaria se sentir apreensivo.

― Eu sei que atravessei um oceano só pra poder te ver, mas Sadie, acho que precisava estar aqui para te dizer que você sabe sim o que tem que fazer! De alguma forma você sempre sabe, e quando menos esperar estará rumando para seu destino e vai salvar a tal Sophia! ― Carter praticamente decreta, com a firmeza de um legítimo faraó.

― Eu espero que seu irmão esteja certo, Sadie! ― a voz de Catarina atrai a atenção dos dois. ― E espero que possamos descobrir isso enquanto tomamos um bom café da manhã!

Dando de ombros, os irmãos seguem até o cômodo ao lado, onde as vozes estavam elevadas, e até mesmo Cristina D’Anibale se encontrava formulando teorias e discutindo alguma receita com o tal de Nico di Angelo.

― Acho que a última vez que comi isso, minha mãe ainda era viva! ― o garoto murmurara saudoso.

― Traga minha filha para casa, e eu preparo vários para você! ― Cristina propõe a barganha, recebendo um aperto de mão do mais novo, que prontamente concorda com a sugestão.

― O que está acontecendo aqui? ― Sadie pergunta a Catarina, que solta uma risada ao ver os olhos arregalados da companheira de missão.

― Estamos tentando decifrar o restante da profecia. Sabemos que a proibida, de fato, é Sophia, mas ainda não sabemos o que as palavras traiçoeiras poderem querer dizer! ― Catarina revela, suspirando. ― Estamos tentando não pensar no pior, então vamos deixar isso por último. Nosso foco agora é a terra mista.

E não foi preciso mais do que isso para atrair a atenção dos irmãos Kane. Eles já ouviram aquela expressão; escutaram-na sair dos lábios de Setne, um traiçoeiro mago cuja astúcia e maldade ultrapassavam até mesmo as barreiras da morte. Contaram, então, sobre suas aventuras com Percy e Annabeth, sobre a história de unificar as magias, e precisar de algo neutro como base.

― Historicamente falando, o mundo todo está repleto de magia, porém eu só consigo pensar em um lugar assim! ― foi Nico quem disse. Ele tinha um vasto conhecimento de geografia, adquirido ao longo dos anos que passou viajando pelas sombras.

― Não faz suspense, fala logo! ― Sadie revira os claríssimos olhos azuis, mostrando a impaciência que tomava conta daquele grupo.

― Alexandria! ― o filho de Hades prontamente responde ― Uma das maiores cidades fundadas por Alexandre, O Grande. Ela é híbrida culturalmente, tendo traços helênicos, propostos por Alexandre, que era grego, e traços egípcios, por estar situada no Egito.

Mesmo que houvesse mais territórios com as mesmas características, e aquele não fosse o lugar correto ― embora o fosse, uma vez que foi ali onde Ptolomeu uniu as coroas do baixo e alto Egito ―, assim que o nome da cidade foi citado, a mente de Catarina se toldou com o que ela supôs ser uma visão. Estas aconteciam com cada vez mais freqüência, e a garota passou a se concentrar para compreendê-las melhor: poderiam tanto ser uma pista, quanto poderiam não significar coisa alguma, mas não custava prestar atenção.

O lugar era frio e inóspito, iluminado apenas por uma abertura redonda do que parecia ser o teto. Escombros se encontravam sobre o chão, e nele havia uma garota de joelhos, segurando a cabeça com ambas as mãos. Seus lábios se mexiam, mas ela não parecia deter controle algum sobre eles.

― Qual o seu grande plano afinal? Usar uma pirralha como receptáculo? ― uma voz sibilada e cruel questiona raivosa, provocando arrepios em Catarina, que era uma mera espectadora.

― Minhas experiências passadas me levam a crer que esse plano jamais funcionará. Um cara que eu conheço tentou usar o corpo de um herói, banhando-o no Estige para torná-lo vulnerável, porém não obteve sucesso! ― a voz mudara, tornando-se mais gutural, porém ainda assim maléfica.

― Senhores, senhores, por favor, mantenham a calma! ― outra voz surgiu, dessa vez um pouco mais leve e até mesmo simpática. ― Essa garotinha é mais forte do que imaginam! E não se preocupem: não iremos precisar dela por muito tempo! Os dias da proibida estão contados, mesmo que ela não saiba disso!

Em conjunto, as três vozes riem, dando um fim a visão da filha de Apolo. Iniciando, contudo, uma corrida contra o relógio.

P. O. V Lorenzzo:

Não posso me fingir de santo e tampouco dizer que não estava acostumado a ter garotas em meu colo: isso costumava acontecer frequentemente, e eu costumava gostar das situações em que isso acontecia ― e aproveitá-las também... Não que eu estivesse reclamando por ter Catarina em meu colo ― estava óbvio, para mim, que eu não era insensível a sua beleza e presença ―, porém aquilo não acontecera por vontade de nenhum de nós.

― Catarina, o que aconteceu? ― Claire pergunta aflita assim que sua prima cai sentada em minhas pernas.

As íris azuis de Catarina se reviravam, e ela respirava com um pouco de dificuldade. Tive que segurá-la para que ela não caísse. E então, tão subitamente quanto caíra, ela despertava, completamente confusa.  

― Eu a vi! ― ela sussurra roucamente, prendendo seu olhar ao meu. ― Eu vi sua irmã.

Ela se levanta cambaleante, como se fosse normal cair sobre o colo de estranhos, e pega o arco em suas mãos, tornando a transformá-lo em um diadema e a colocá-lo sobre os longos cabelos castanhos. Todos a observavam em silêncio, confusos.

― O que você viu, Catarina? ― perguntei temeroso, seguindo-a pela casa.

Porém não fui respondido, não de imediato. Primeiro ela arrumou suas coisas, pendurou a mochila nas costas, e sussurrou algo para Nico, que assentiu em dúvida; depois rumou até a Lança Sangrenta, entregando-a para mim.

― Preciso saber se vai querer seguir comigo nessa missão. Se sim, preciso saber se quer carregar consigo uma arma que não lhe pertence, e que pode nos trazer mais prejuízos do que dádivas! ― pergunta-me, no costumeiro tom sério com que falava e batalhava no dia anterior.

Algo me dizia que ela já sabia minha resposta, porém achei melhor falá-la em voz alta, para que não restassem dúvidas.

― Eu não vou abandonar minha irmã, independentemente do que você viu! ― respondo prontamente. ― Mas não quero essa arma: se pertence a um deus, especialmente ao que é meu pai, não creio que deva ficar com ela por nem um minuto a mais... Não podemos devolvê-la?

― Vocês não, mas eu posso! ― Claire toma a Lança das mãos de Catarina, recebendo um olhar assustado. ― É meu destino, Cathy: e antes de à terra mista chegarem, duas hão de partir! Essas são Sophia e eu; a missão nunca foi minha, mas sim sua. Eu só precisava garantir que você ficasse viva até aqui!

― O quê? Mas... Eu não sei o que fazer, eu...

― Catarina, o que você viu? ― dessa vez foi Nico quem perguntou, ficando de pé ao lado de Claire.

Suspirando, Catarina se senta onde antes eu estava. Deliberadamente, ela evitava os olhares que minha mãe lhe lançava, e quando nos contou sobre a tenebrosa visão que tivera, estremecia a cada palavra dita. Não conseguiria, jamais, esquecer do olhar assustado que ela me lançou quando me revelou o detalhe mais importante.

― Eles vão matá-la! Quem quer que esteja por trás disso está usando sua irmã, e ela não vai sobreviver para contar a história se não nos apressarmos. ― o tom de sua voz era adulto demais para uma menina como ela, tão jovem.

Mas a situação não levava idades em consideração, o tempo contado ali era outro, e no momento corríamos contra o relógio.


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Notas finais do capítulo

Perceberam que o Lorenzzo queria sim a Catarina em seu colo? E que ela não reclamou de ter caído? Esses dois...
Gente, eu to com uma fanfic Thalico nova (meu OTP supremo) e gostaria muito de contar com a presença de vocês por lá. https://fanfiction.com.br/historia/707856/Alone_Together/
Aliás, vocês conhecem a iniciativa Team Pipopinha? Se não, sinalizem no review, e eu conto mais, se sim, vamos nos abraçar!
Espero que tenham gostado e desculpem qualquer erro: to correndo pra resolver uns assuntos da faculdade!
Beijoos e por favor, comentem!!



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