A luz insistente de seu celular já começava a lhe irritar. Havia uma nova notificação, mas o problema é que a forte luminosidade azul continuava a piscar a ponto de fazer a lobisomem levantar do sofá confortável e ir até a pequena mesa para pegá-lo.

Desbloqueou o celular e viu que era uma nova mensagem.

“Cora, houveram alguns problemas.

Longa história, não importa.

Aconteceu algo com a Claire? Ela não me atende.

Derek.”.

A morena olhou para a tela do celular e suspirou.

“Não se preocupe, ela está bem e vai falar com você.

Cora.”.

Não iria se intrometer naquele assunto, eles que se resolvessem lá em Beacon Hills.

Ela só esperava que a ruiva estivesse bem lá.

Claire sempre adorou assistir filmes.

Não importava o gênero, que seja romance, suspense, comédia ou terror, ela adorava. Lembrava-se com carinho dos feriados em que passava com Sarah assistindo horas e horas de Netflix.

Não era raro que nesses filmes de Hollywood, ela ver as cenas das crianças pedindo doces nas ruas no Halloween. E nunca achou que veria isso pessoalmente, pois bem, parece que tinha chegado na época do dia das bruxas.

Durante seu caminho do aeroporto para o hotel e do hotel para o endereço que Cora havia lhe dado, a ruiva pôde notar pequenos grupos de crianças fantasiadas pedindo doces nas casas.

Ela não evitou o pensamento de imaginar um garotinho com os olhos de Derek também fazendo isso.

Suspirou quando agradeceu o taxista e lhe entregou o dinheiro da corrida.

A viagem até os Estados Unidos fora tranquila. Estava fazendo um calor agradável na Califórnia.

Havia sentido um pouco de enjoo no avião e teve que levantar algumas vezes para vomitar no banheiro minúsculo. Sorte a sua que uma aeromoça havia lhe ajudado.

Tirando isso, fora estranhamente normal. Como se sempre voasse para o Norte atrás do pai de seu filho.

Nunca fora uma garota muito supersticiosa, mas era dia das bruxas, e o enorme prédio velho parecia assustador por debaixo. Já estava escuro, e tinha apenas um poste fraco iluminando a rua dali.

Um arrepio passou pela sua espinha.

Não conseguiu conter o medo que sentia, afinal, ela estava sozinha em um país diferente, sem contato com ninguém e grávida.

Controlou a vontade de ligar para sua mãe ou Sarah e pedir desesperadamente que elas viessem lhe buscar ali. Ou de xingar a Cora em duas línguas por lhe mandar para aquele lugar aterrorizante, se bem que ela havia lhe avisado para tomar cuidado.

Será que Derek não podia morar em algum lugar mais… movimentado?

Claire revirou os olhos.

Claro que não poderia.

A vontade de gritar chamando o táxi de volta era tentadora, mas pousou a mão em sua barriga já com uma elevação mais aparente.

Estava aqui por ele.

Talvez Deus tenha se dado conta que a ruiva estava sofrendo demais por uma noite só, e ela ouviu vozes entusiasmadas de adolescentes chegando cada vez mais perto.

Olhou minimamente para trás e viu um grupo de pelo menos quatro jovens vindo em sua direção.

— Festa! - um gritou animado demais no ouvido de Claire.

Ela apertou os olhos em confusão.

Festa?

Olhou pra cima, e ela pôde ver algumas luzes coloridas saindo pela grande janela.

Esperava que fossem apenas seus hormônios loucos de grávida, mas Derek estava fazendo uma festa?

Viu os adolescentes entrando no prédio sem hesitação.

Deu os ombros.

Já estava ali mesmo, pelo menos não ficaria sozinha naquele lugar. O caminho não fora tão longo, e quando as portas pesadas de metal se abriram, seus olhos cegaram com o forte brilho fluorescente colorido da festa.

Claire abriu a boca em indignação.

Quer dizer que ela fazia uma viagem enquanto estava grávida e aquele maldito estava dando uma festa?

Para adolescentes?

Começou a passear por entre os corpos pintados, era difícil não se sujar também, mas não se importa com isso. Estava longe de ser uma mulher fresca.

Tentou ao máximo observar alguns detalhes daquele lugar, não tinha nada de pessoal. Não havia quadros, retratos, apenas decorações da festa.

Realmente, aquele lugar era a cara de Derek.

Claire nunca havia perguntado, mas ele também nunca havia falado de sua família, de seus pais ou se havia outros irmãos. Só sabia que ele havia um tio aqui em Beacon Hills.

Suspirou.

— Auch! - resmungou alto quando sentiu alguém esbarrar em si.

— Ai meu Deus, me desculpa! - ouviu o sincero pedido de perdão desesperado de um garoto. - Foi muito mal! - falou mais uma vez e lhe tocou a barriga sem querer querendo lhe ajudar.

A barriga não estava tão notável, mas quem sentisse, dava-se para perceber que estava grávida.

Os olhos castanhos do moreno se arregalaram no mesmo instante.

— Me desc… - o garoto se sentia péssimo. Tinha esbarrado em uma mulher grávida.

Ótimo, Stiles. Assassino de bebês.

— Não tem problema. Estou bem. - ela lhe assegurou.

— Vem, Stiles! - uma garota lhe chamou empolgada para a pista de dança.

O olhar dele encontrou uma última vez a ruiva e lhe sussurrou um “parabéns”.

Claire balançou a cabeça.

Aquilo estava lhe fazendo lembrar sua adolescência com uma nostalgia impressionante.

Ela não sabia se era o forte cheiro de álcool, mas de repente, sentira uma ânsia insuportável.

“Ai, droga.”, falou para si mesma enquanto tampava sua boca fortemente com a mão e corria para um banheiro próximo.

Nem ao menos pensou duas vezes antes de finalmente poder vomitar dentro do vaso. Sorte a sua que tinha aprendido a andar com o cabelo sempre preso agora que estava grávida.

Claire não havia se acostumado com essa necessidade de vomitar diariamente, e talvez, nunca se acostumasse mesmo.

Ela odiava.

Quando a náusea passou, ela deu a descarga e lavou a boca como pôde.

Saiu do banheiro, decidida a voltar para o hotel em que estava, mas pulou de susto ao dar de cara com uma morena.

— Ai meu Deus! - colocou a mão no coração. - Pelo amor…

— Me desculpa! - ela disse. - Eu não queria te assustar… Está tudo bem?

— Nada demais. - Claire respondeu.

— Desculpa mesmo. Eu vi que você estava passando mal, e quis te ajudar…

— Obrigada. - ela sorriu. - Mas dá próxima vez, fala um “oi”.

— Vou tentar me lembrar disso.

Ficaram em silêncio por alguns minutos.

— Então, está tudo bem mesmo?

— Sim. Já passou.

— Você bebeu muito?

— Ah, quem me dera. - riu ironicamente. E sem perceber, suas mãos fizeram um movimento automático de acariciarem levemente sua barriga.

— Ah…

“Droga”, Claire pensou.

— Parabéns… - a garota disse.

— Obrigada… Eu acho.

— Algum problema?

— Bem, mais ou menos.

— Posso ajudar em alguma coisa?

— Você sabe caçar? - perguntou espontânea.

— Algo como isso. - a morena riu.

Bem, Claire não era lésbica nem manda, mas não podia negar que o sorriso dela era bem bonito.

— Então, caça o dono dessa festa, por favor. - suspirou.

A morena franziu as sobrancelhas.

— Achei que Danny era gay.

— Quem é Danny? - perguntou confusa.

— O dono da festa. - falou como se fosse óbvio.

— Espera aí… Achei que o Derek morasse aqui.

— Ele mora, mas… - a garota começou a falar com uma pequena risada, mas logo ficou séria.

Os olhos castanhos se arregalaram em compreensão.

— O que foi? - Claire perguntou preocupada ao ver a expressão da morena.

— Ai. Meu. Deus! - gritou a última parte. - Você está me dizendo que… O Derek…?

— Você o conhece? - a ruiva perguntou.

— Sim…

Claire interrompeu bruscamente a garota com um pedido silencioso com a mão. Talvez ela estivesse muito agitada, porque sentiu uma forte ânsia novamente tomando conta de cada célula de seu corpo.

Correu desesperada de volta para o banheiro e voltou a usar a privada.

— Allison! - ouviu uma voz masculina gritar ao fundo, mas não deu atenção a isso.

Quando finalmente sentiu-se melhor, pelo menos esperava que ficasse sem vomitar por uma meia hora, lavou a boca novamente. Virou-se para a porta, mas a morena não estava mais lá.

“Droga.”.

Começou a procurar desesperadamente pela garota, mas… nada.

Assustou-se novamente com um forte estrondo alto vindo da festa.

— Fora! - ouviu uma voz furiosa gritar.

Ela foi ver o que estava acontecendo.

Arregalou os olhos ao ver que era Derek em cima de um pequeno palco improvisado.

Não hesitaria em ir até ele, mas os adolescentes estavam correndo desesperados para fora do loft. Então, teve que esperar escondida para que não fosse pisoteada.

Finalmente, iria se encontrar com seu namorado, mas parou bruscamente ao ver cinco… ou seis figuras pretas paradas olhando para um garoto todo pintado de verde.

— Pessoal, eles estão todos olhando pra mim. - falou.

Claire notou que eles usavam uma máscara prata e de sua cabeça saia uma fumaça preta.

“Mas que porra…?”.

Tentou olhar com mais atenção para o que estava acontecendo. Só reconheceu a garota que lhe ajudou no banheiro e Derek.

As criaturas deram um passo em direção ao garoto, Claire deu um para trás. Ela fez o máximo para se esconder atrás de uma coluna de concreto, ninguém a tinha visto ali.

— Por que estão todos olhando pra mim? - o garoto de verde falou novamente. - Pessoal?

A ruiva segurou um grito na garganta ao ver Derek e outro garoto avançarem naquelas figuras de preto.

Ela ficou estática de medo.

Não conseguia nem falar ou se mexer, apenas abraçava sua barriga como podia, querendo inconscientemente proteger seu bebê.

Nunca entendeu absolutamente nada sobre lutas ou nunca havia visto uma sem ser em filmes, mas aquela lhe parecera mais rápida e violenta do que o normal.

Claire ofegou apavorada quando viu presas aparecerem na boca de Derek e ele soltar um rosnado alto, completamente selvagem.

Seus olhos tinham ganhado um azul intenso, e ela não estava louca quando notou garras.

O que Derek era? Como ela nunca percebeu?

O lobisomem mais velho quebrou o pescoço de um Oni, mas não fora o suficiente para detê-lo, virou a cabeça por alguns segundos e quando notou, já tinha sido atacado violentamente.

A ruiva estava com medo de Derek, mas não conseguiu deixar de se preocupar com ele ali, caído no chão, ferido.

Derek estava com dor, mas não superou o desespero ao sentir um cheiro conhecido.

“Claire.”.

Seus olhos procuraram a ruiva, mas ele não a achou.

— Alguém faça alguma coisa!

Claire não quis olhar quando as criaturas se colocaram envolta do garoto.

Depois disso, não ouviu-se mais nada.

Quando abriu novamente os olhos, estava amanhecendo.

E como se fossem fumaça, eles desapareceram.

Claire estava ofegante.

Era coisa demais pra ela.

— Que diabos eram aquelas coisas? - ouviu alguém dizer.

A ruiva ainda estava absorta em seus pensamentos por tudo que havia visto naquela noite.

— Claire! - foi despertada pelo grito de Derek.

— Quem?

Ela saiu de onde estava escondida.

— Me escuta… - ouviu seu namorado dizer e andar alguns passos para perto de si.

— Não posso… - falou com a voz falha e se afastou dele.

Seu corpo tremia violentamente.

— Não agora. - sussurrou.

Saiu correndo do loft, sem olhar para trás.

Derek quis ir atrás dela, mas não conseguiu. Estava parado, não saberia o que dizer, não sabia porquê ela estava aqui.

— Quem é ela? - Scott lhe perguntou confuso.

— Minha namorada. - ele suspirou.