Jaspes e Jades escrita por Ikarus


Capítulo 2
Capítulo 2 — Infância




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— … e nesse sonho, o grande pássaro da árvore da vida assustou as águias que atacavam os cavalos do nosso povo!

Dois garotos se encontravam ao redor de uma fogueira durante uma fria noite de primavera. Era o início da estação e as baixas temperaturas ainda se faziam presente. Uma coruja observava as crianças do alto de um galho de choupo, ainda nu e sem folhas.

Naquela noite em algum lugar na Transilvânia, um berço natural de campinas aos pés dos Cárpatos, duas jovens representações contavam histórias à beira do fogo e dividindo um pouco de pão que ganharam de um vilarejo próximo. Seus cavalos descansavam um ao lado do outro, deitados sobre um pedaço de chão coberto de gramíneas. Um deles dormia; o outro observava seu mestre conversar com seu companheiro.

— Isso é muito legal! Você já viu esse tal pássaro por aí?

— Não, não! Ele é ancestral do grande Átila.

— E gente pode nascer dos ovos?

— Sei lá, é a história que me contaram. As pessoas também não têm poder pra abrir passagem por um mar!

— Hahah, é só a história que escreveram num livro muito antigo.

Duas crianças conversavam sobre suas religiões e suas crenças, cada qual com sua fé. Trocavam histórias, contos e causos, impressionando-se com figuras mitológicas e grandes feitos. Sabiam que eram diferentes, mas em suas diferenças estreitavam sua aliança secreta. O garoto huno já havia tomado uma bela bronca de seu príncipe por referir-se ao garoto albino como seu “amigo”. O aprendiz de cavaleiro havia sido castigado e forçado a correr pelo acampamento o dia inteiro pelo mesmo motivo. E nenhum dos dois sabia a razão por trás de tanta aversão pelo outro.

Às vezes até encontravam-se em lados opostos do campo de batalha, mas era como se fosse uma brincadeira: Fingiam ser inimigos por alguns meses e depois poderiam encontrar-se novamente para brincar.

O mundo era cruel para tão jovens crianças, mas lutavam para encontrar refúgio da violência em uma estranha amizade marcada por duelos de espadas, corridas a cavalo e noites sob a proteção da sombra das árvores como aquela.

O vento soprava forte e Gilbert ficava preocupado com os animais, que dormiam. Levantou-se e tirou sua grossa capa, demasiado grande para um menino daquela altura, para cobri-los.

— Não está com frio? — Perguntou o menino pagão que se denominava “Eli”.

— Não. Eu venho do Norte, lembra? — Respondeu-lhe o aprendiz de cavaleiro, tentando o seu melhor para esconder qualquer prova de seu desconforto.

Eli levantou-se, dirigiu-se ao lado de seu amigo e sentou-se novamente, cobrindo Gilbert com sua pesada capa de pelo de urso. O garoto cristão sentiu o calor envolvendo-o, protegendo-o da brisa gelada da noite. Sob a capa, sentiu um braço puxando-o para perto de si e assustou-se um pouco com o contato muito próximo do pequeno bárbaro.

— Quando fazia muito frio no acampamento, meu vô fazia isso pra me aquecer.

— Obrigado… Eu acho — murmurava Gilbert, de bochechas avermelhadas e sem jeito. — Meu, ahn… “pai” me mandava ir catar lenha, hahah.

Os dois riram no silêncio da noite e olharam para as estrelas. Que futuro os aguardava?

Quanto tempo duraria aquela amizade?

Seriam eternos enquanto durassem o brilho das estrelas.


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