Felixz Vida Nova escrita por ALoka


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Adeus vida velha, feliz vida nova!

A música que Félix menciona é a famosa "Auld Lang Syne" (procura no Google ou no Youtube pra ouvir, você vai reconhecer)



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O primeiro fim de ano da família Corona-Khoury na casa de praia foi atribulado, mas especial. Era uma época de adaptações, pois não fazia muito tempo que haviam se mudado para lá, e muito trabalho, que incluía pequenas reformas na casa e preparativos para a inauguração do novo restaurante, entre outras coisas.

No meio de toda agitação, Félix andava às voltas com o humor do pai que, mesmo dependendo do filho para quase tudo, não perdia uma oportunidade de ser grosseiro com ele ou qualquer pessoa. César não somente estava insatisfeito  por ser obrigado a morar com um casal de homens, mas também não havia ainda se recuperado do golpe que sofreu da ex-mulher. O Papi soberano de Félix era um homem amargurado e deprimido, que vivia praticamente trancado no quarto e fazia questão de demonstrar o quanto estava infeliz.

Era dia 27 de dezembro quando Jonathan chegou com a namorada, para passar o Réveillon e uns dias de férias na nova casa do pai. Ele também tinha a intenção de tentar animar o avô, pois o achou muito abatido e acabrunhado quando o visitou pela primeira vez, não fazia muito tempo.

Jonathan tinha um plano, que incluía algo especial para o último dia do ano, uma vez que Félix confirmou que não havia planejado nada para a data.

— Vai ser como no Natal, Jonathan. Fizemos nossa ceia aqui entre nós e foi ótimo. Seu avô até participou... deu um ou dois sorrisos, o que já é um progresso.

Jonathan então avisou a Félix que sairia com a namorada; iriam até o centro da cidade e voltariam mais tarde com uma surpresa para toda a família.

— Pelas contas do Rosário, criatura, veja lá o que você vai aprontar, eu não gosto de surpresas, eu....

O rapaz interrompeu o pai com um tapinha nas costas, comunicando:

— Fica tranquilo. Tenho certeza que você vai adorar.

E saiu, dizendo que tinha tudo sob controle e que, mais tarde, Félix ficaria sabendo os detalhes.

...

Já era noite quando Jonathan  retornou e foi direto falar com o avô. Passou um bom tempo lá no quarto com ele e depois se reuniu com todos na sala, para contar à Felix e Niko o que havia planejado. E acabou por surpreender a família informando que César havia concordado com a idéia.

— Papi quer mesmo fazer isso? Não acredito!

— Sim, pai. Ele ficou contente. Pode ir lá falar com ele, você vai ver.

Jonathan então anunciou que havia comprado, para a família toda, convites para uma noite de Réveillon "chiquerérrima" em um hotel de alto luxo, localizado não muito longe dali. Um baile de Ano Novo com uma orquestra completa tocando música ao vivo e com tudo que Félix sempre gostou: serviço cinco estrelas, comida cara e sofisticada e muito, muito champanhe francês. Para completar, era obrigatório o uso de traje de gala. À meia noite, todos teriam uma visão privilegiada da queima de fogos promovida na praia, já que o hotel fica muito bem localizado, de frente para o mar.

— Tudo fino e de bom gosto, pai. Do jeito que você curte. E o vô César também. - Jonathan entregou à cada um o convite, juntamente com um folheto que detalhava tudo que seria oferecido no luxuoso evento. Ele estava animado, com a certeza de que havia tomado uma ótima decisão: a de proporcionar à família Corona-Khoury uma linda festa de Réveillon.

No entanto, era Félix, para a surpresa de todos, quem não parecia muito entusiasmado.

—  Jonathan, meu filho, esse lugar é carérrimo! Deve ter custado uma fortuna. Nós não estamos em condições agora...

— Pai, é vó Pilar quem está pagando. Ela mandou dizer que é um presente pra vocês. É uma maneira de animar o vô César e, além disso, ela sabe como você gosta dessas coisas.

— É? Mami sempre querendo me agradar, né... Enfim.... Mas bom... mas... é... e Papi? Papi com aquela cadeira...

— Já verifiquei tudo lá. Eles tem acesso para cadeirantes e a nossa mesa ficará em um local especial, fica tranquilo.

— E a dificuldade dele pra comer, esqueceu?

— Ele disse que aceitará minha ajuda.

— Mas Jonathan... ele anda tão... tão mal humorado!

— Pois é, mas ele achou uma boa idéia...

— Olha... difícil acreditar.

— Ele quer ir! Vai lá falar com ele e você vai ver.

Niko não dizia nada, apenas ouvia e observava a conversa entre pai e filho.

E Félix, por alguma razão, parecia buscar desculpas para não concordar com Jonathan. Nenhum de seus pretextos pareciam fazer sentido.  Olhou para o Carneirinho como quem pedia ajuda mas, como Niko continuou em silêncio, Félix usou ele mesmo o último argumento:

— Jonathan, veja bem... e as crianças? Jayminho vai achar esse evento extremamente chato.

— Tem uma espécie de parquinho com recreadores, ele vai curtir.

— E Fabrício?! Ele é tão pequenininho!

— Tem serviço de creche, com babás...sabe como é, hotel cinco estrelas tem essas coisas.

— Pelas Contas do Rosário! Mas de jeito nenhum deixaríamos Fabrício com estranhos! Sinto muito, Jonathan, não podemos ir, sinceramente...

Foi aí que, pela primeira vez naquela conversa, Niko deu opinião:

— A Adriana vai, Félix. Fabrício não ficará com estranhos. Jayminho vai adorar o tal parquinho e seu pai, pelo que Jonathan disse, quer ir. Ele está animado então devemos ir sim.

— Carneirinho! Você acredita nisso, mesmo?

— Claro, Félix!

Niko afirmou que achava importante que eles fossem porque seria bom para César. Era melhor que saíssem de casa, para passar o Ano Novo em uma festa, do que ficarem ali com o ex doutor trancado no quarto, ou na sala emburrado, como em grande parte da ceia de Natal.

— Ele vai se distrair, vai sair daquele quarto, vai ser bom pra ele, Félix.

— Mas... mas as crianças... não vai ser cansativo pra elas? É uma festa para adultos... não sei... melhor Jonathan e Ana levarem papi e nós ficamos em casa.

Jayminho, que ouvia de longe a conversa, aproximou-se declarando:

— Eu também quero ir na festa!

 O garoto estava animado e dizia repetidamente que  queria muito ir. Ana se ofereceu para fazer companhia à ele, no tal parquinho. Niko encorajava a todos e Jonathan lembrou que os convites custaram uma fortuna, e já haviam sido comprados. Seria um desperdício se todos não fossem.

Félix então cedeu. E disse que concordava. Mesmo que não demonstrasse muita empolgação.

— Ok. Nós vamos. Eeeeehhh... – Disse agitando os braços.

Entretanto, quem o conhecia muito bem, sabia que o entusiasmo demonstrado não era genuíno.

Mais tarde, quando todos já dormiam, e o casal estava na cozinha fazendo um lanche, Niko quis saber porque o companheiro não estava animado. E Félix tentou se explicar. Falou que não achava um bom programa para as crianças mas, sobretudo, preocupava-se com a maneira que o pai ia comportar-se.

— Niko, ele mal olha na sua cara. Aliás, ele nem olha. E ele solta uma piadinha de mal gosto aqui, outra ali... Não era o que eu tinha em mente para passar nosso primeiro réveillon juntos.

— Nosso primeiro réveillon juntos foi ano passado... eu até disse que te amava, você que não levou à sério. – Brincou.

— Carneirinho... Eu digo juntos como casal. E mais importante que isso, eu achei que você fosse concordar comigo sobre não ser uma boa ideia ir nesse baile, por causa das crianças.

Niko confessou que não achava mesmo a melhor das ideias ir para um evento daqueles com dois meninos, principalmente com um de colo, mas insistia que  precisavam levar em consideração a situação de César, que andava deprimido e, pela primeira vez em meses, demonstrou vontade de sair de casa e se divertir. Félix sobressaltou-se:

— Você concordou em ir porque vai ser bom pro meu pai? Alguém que só não te trata mal porque te ignora... sinceramente, Carneirinho... você... você sempre querendo agradar todo mundo, até quem não tá nem aí pra você...

— Não é assim, amor. Sim, eu concordei em ir pensando mais no seu pai, mas também Jayminho vai se divertir. E você também! Vai ter tudo que você gosta. E Fabrício... bom, se ele ficar cansadinho, chorando, eu venho pra casa com ele.

— Oi? Tá vendo? É isso que não quero!

— Félix...

— Não quero, Niko! Quero nós dois juntos, aliás bem juntos na virada do ano. E você está enganado sobre a festa ter tudo que eu gosto. Ok, eu gosto, mas... mais do que um ambiente chique com champanhe jorrando como água na fonte, o que eu quero mesmo, e é um sonho meu, eu quero...

De repente, um  barulho inesperado no exterior da casa interrompeu a conversa deles. Era um carro que se aproximava preocupando Félix. Niko o tranquilizou dizendo que com certeza era Adriana chegando, pois ela havia saído para um encontro.

— Encontro, é? Huumm...

— Sim, e eu já sei a ficha completa do boy! – Niko contou que  descobriu muita coisa sobre o namorado de Adriana na administração do condomínio, pois é lá que ele trabalha. – Ele é um ótimo partido, Félix. Trabalhador, honesto e um gato.

— Ótimo partido... você está parecendo a Márcia... que mania vocês tem de querer casar os outros!

Niko não teve tempo nem de protestar. Félix olhou no relógio, disse que era tarde e sugeriu que eles fossem dormir logo. Mas antes, ele ia assegurar-se de que a casa estava bem trancada e completou:

— Vai ver os meninos, Carneirinho... eu vou ver papi e depois verificar se Adriana fechou direito a porta. Te encontro no quarto. Anda, anda... béé béé!

E, como ele sugeriu, eles fizeram. Niko foi para um lado e Félix para outro.

Após visitar o quarto do pai e assegurar-se de que ele dormia bem, Félix foi até a entrada da casa verificar a porta. Percebeu que Adriana ainda estava la fora, com o namorado, e então ficou de dentro da casa só observando os dois pela janela, escondido atrás da cortina.

— Pelas barbas do profeta... Carneirinho tinha razão, é mesmo um gato, o bofe da Adriana!

O casal parecia apaixonado e planejava outros encontros para os próximos dias. Félix ficou ali, ouvindo parte da conversa deles, enquanto refletia sobre como nunca teve o mínimo interesse na vida de Adriana, quando ela trabalhava na mansão dos Khoury. Anos depois, quando a reencontrou trabalhando para Niko, uma simpatia surgiu entre eles. E agora, passado o tempo, ali estava ela sendo quase parte da família. Ele remexeu a memória e não se lembrou de ter visto Adriana com nenhum namorado, nem em São Paulo e nem desde que mudaram para a praia. Félix ficou feliz por ela, ele bem sabe como tudo fica melhor quando se vive um amor.

Finalmente o casal se despediu. Félix escondeu-se mais ainda atrás da cortina no escuro para que, quando Adriana entrasse e fechasse a porta, conseguisse dar um susto nela. E conseguiu, falando alto:

— Se eu não fosse casado, ia perguntar se ele tem um irmão para apresentar pra mim!

— Seu Félix! – Adriana deu um pulo, quase tropeçou e caiu. Primeiro ficou pálida de susto e, logo em seguida,  vermelha de vergonha.

...

Os próximos três dias passaram tranquilos com as crianças brincando, a família na praia, refeições ao ar livre e longas conversas à noite entre Félix, Niko, Jonathan e Ana à beira da piscina.

Como de hábito, César permanecia no quarto e tolerava apenas a visita do filho e da enfermeira para ajudá-lo a comer, vestir-se, usar o banheiro... coisas da rotina diária. No entanto, ele não reclamava da presença de Jonathan, vez ou outra naquele cômodo.

A única preocupação de todos era a roupa que usariam no Baile de Réveillon. Saíram um dia e foram até o shopping, para comprar roupa nova e um ou outro acessório, de maneira a compor o vestuário elegante.

E até Félix, que antes se mostrou reticente, quanto à ideia de virar o ano em um baile junto de seu pai e do companheiro, nem se alterou quando foi informado por Niko  que Adriana pediu o dia de folga e não iria cuidar de Fabrício na noite da virada.

— Félix, não fique chateado, tenho certeza que damos conta das crianças sozinhos. Ela merece sair com o rapaz, tadinha. Eu dei a folga que ela pediu, tá?

— Claro, Niko! Claro que merece! Um boy daqueles não se dispensa nunca!

Niko nem sentiu ciúmes do comentário do companheiro. Ele estava era aliviado que Félix não reclamou e parecia finalmente animado para a festa.

...

Logo, o tão antecipado último dia do ano chegou. Ainda pela manhã bem cedo, Félix iniciou a seguinte conversa na cozinha, enquanto Adriana e Niko começavam a preparar o café:

— Pois é Carneirinho. Daqui a pouco vou lá acordar o Fabrício e espero que ele esteja melhor.

— Melhor? Do que?

— Da tosse, ué.

— Que tosse?

— Como que tosse? A tosse que ele teve de madrugada.

Niko coçava o rosto, na altura da barba, enquanto olhava para Félix como se o companheiro falasse de um assunto completamente estranho. Olhou para Adriana e esta permaneceu muda, mas a babá tinha os olhos arregalados e mordia o lábio inferior, como quem confirma que algo preocupante acontecia. E Félix continuou:

— Ihh... já sei! Não viu nada, né? Dormiu tão pesado que nem percebeu que eu saí do quarto.

— Bom, Félix... eu realmente não vi, nem ouvi nada...

— Mas é compreensível, Niko. Depois de tudo aquilo que fizemos você precisava mesmo descansar.

Niko repreendeu o companheiro com um pequeno tapa no braço, indicando a presença de Adriana, que quase enfiava a cabeça dentro da máquina de café prendendo o riso e morrendo de vergonha.

— Calma, gente! Carneirinho, só estou explicando que você dormia um sono pesado, por causa do cansaço, lógico. Foi ceia de Natal, agora é praia, piscina, shopping... enfim... e  foi por isso que você não ouviu Fabrício tossir e nem viu que eu fui cuidar dele. Vocês tem a mente muito poluída!

— Tá Félix... tá bom, mas o que ele teve?

— Tosse! Pelas contas do Rosário, já disse que era tosse.

— E como era essa tosse?

— Uma tosse chata... – Félix procurava as palavras – Insistente... irritante... é... enfim, uó! Coitadinho... tossia, tossia e tossia. Eu fiz um chazinho de camomila bem fraquinho e dei pra ele, embalei, cantei baixinho, ele foi acalmando... tirei a temperatura e a febre tinha baixado...

— Febre? Então além da tosse teve febre?

— É... mas calma. Foi pouca coisa. Baixou logo depois que dei um banho nele.

— Mas... mas como eu não vi nem ouvi nada disso? Por que você não me chamou?

— Niko, não foi nada. Ele dormiu bem, depois de tudo. Não te chamei porque pensei que você tinha escutado ele sim, mas  decidiu deixar eu cuidar dele do meu jeito! Eu devo ter salgado a Santa Ceia pra você achar que não sou capaz de cuidar do nosso bebê sozinho.

O Carneirinho disse que obviamente confiava em Félix e estava feliz por ele ser um pai tão bom para os meninos, apenas ficou preocupado com o filho, chateado por não saber de nada e confuso com o fato de ter dormido e não ter escutado o menino tossir.

Adriana disse que também não sabia de nada, só o que Félix havia contado. Normalmente ela só começa a trabalhar pela manhã. A responsabilidade de cuidar dos meninos à noite é dos pais, salvo um dia ou outro especial quando eles pedem que ela faça hora extra.

Niko pediu licença, se retirou e foi até o quarto de Fabrício, deixando Félix com Adriana na cozinha. Os dois se entreolharam e começaram a levar, para a mesa do lado de fora, a louça e o que seria servido no café da manhã.

Não demorou muito e lá chegaram Jonathan com Ana, logo em seguida surgiu Jayminho. Os três se preparavam para sentar à mesa do café quando Niko apareceu com o bebê nos braços.

Félix então repetiu a história sobre a tosse e febre do menino, dessa vez omitindo por que Niko não acordou com o barulho. Aliás, ninguém acordou, nem ouviu nada.

— Vocês tem sono pesado, hein? Acho que só eu tenho sono leve nessa casa... Vocês dormem como pedras, já eu sou mais sensível...

Félix então fez perguntas à Jonathan sobre como era o lugar onde ia acontecer o baile de réveillon.

— O ar condicionado estava muito forte quando você foi até lá comprar os convites?

Félix argumentava que o ar condicionado não faria bem ao bebê, nem tampouco o ar frio da praia.

— A mesa é do lado de fora? Hum, não sei... se for ele pode vir a tossir de novo...

Jonathan disse que, embora os convites tenham custado muito dinheiro, a saúde do irmão não tinha preço. Talvez fosse melhor não irem ao baile.

Félix concordou balançando a cabeça. - Claro, claro! – E enfatizou: - Mas vocês podem ir! Você vai com Ana e leva seu avô. E Jayminho, se quiser pode ir com vocês. Imagina, por um milagre Papi Soberano está animado, não vamos tirar essa alegria dele! Ah, não!

Sentado à mesa, Niko observava calado, segurando Fabrício em seu colo. O bebê, alheio à tudo, alegremente pegava pedaços de fruta em um pratinho de plástico e colocava na boca. E sorria para todos.

Aí então, Adriana se manifestou:

— Melhor eu não tirar folga. Eu fico aqui cuidando do menino e vocês podem ir se divertir.

— Mas de jeito nenhum, criatura! Nem que você tivesse sido concubina de Herodes! Você não merece dispensar um boy magia ma-ra-vi-lho-so daqueles. Mas nem sendo doida, Adriana. Aliás só doido dispensaria. 

Niko pigarreou, como quem não se agrada do que ouviu.

Jayminho declarou:

— Eu ajudo a cuidar do meu irmãozinho! Eu fico aqui com ele!

Todos riram. E Ana, que pretendia estudar medicina, começou a fazer um breve resumo sobre o que ela sabia à respeito de tosse e resfriado em crianças pequenas.

Jonathan sugeriu pedir a opinião do avô.

— Ele é médico. O que será que ele acha?

— É o apocalipse. Seu avô não acha mais nada, meu filho! Agora então... sem enxergar...

— Vamos ligar para tia Paloma, ela é pediatra.

— Sinceramente... pediatra... ela não deve nem levantar a bunda da cadeira de presidente do San Magno. E eu não preciso perguntar pra ela, eu sei que o ar frio da praia não é bom para bebês com tosse.

— Eu cuido do meu irmãozinho dentro do hotel, deve ser quentinho lá. - Jayminho sugeriu com toda a boa vontade.

E então seguiu-se um debate confuso onde todos falavam ao mesmo tempo. Cada um dava opiniões diferentes sugerindo fazer isso ou aquilo. O falatório à mesa só crecia. Foi aí que Niko, finalmente, se pronunciou:

— Pessoal, não vamos decidir nada agora, ok? - Todos calaram-se, enquanto ele continuava. - Eu vou observar Fabrício nas próximas horas. Olhem pra ele, ele parece estar bem! Se ele não tiver febre, não tossir e continuar bem disposto... aí então, vamos todos. Menos Adriana, que vai encontrar o... – Niko imitou a voz e o trejeito de Félix ao falar: - O boy magia ma-ra-vi-lho-so!

Seguiram-se algumas risadas, mas logo cessaram, pois Félix olhou para todos com cara de poucos amigos.  Por fim começaram a tomar o café da manhã, enquanto trocavam poucas palavras sobre temas triviais. Nada mais foi dito sobre o assunto. Félix e Adriana entreolharam-se novamente, enquanto Fabrício continuava sorrindo e divertindo-se com os pedaços de fruta.

Minutos depois, Félix anunciou que ia cuidar do pai e pediu ajuda a Jonathan. O rapaz foi acompanhá-lo na tarefa. Jayminho levantou-se puxando Ana pela mão, chamando-a para ir à piscina. E Niko ficou ali, pensativo e com o bebê sentado em seu colo. Fabrício continuava sorrindo, distraído e querendo brincar com as coisas que haviam na mesa.

— Adriana.

— Sim... sim, seu Niko. – Ela roia uma das unhas. Parecia nervosa.

— Hoje é sua folga. Só me ajuda a tirar a mesa, depois vai cuidar de você. Tá bom, meu anjo?

Ela acelerou na realização da tarefa e logo anunciou que iria até o salão de beleza do shopping e voltaria só mais tarde.

Na cozinha, Niko colocou Fabrício na cadeirinha de bebê e o observava atentamente, enquanto organizava o ambiente. Quando terminou, foi com ele até a sala e sentaram-se no sofá. O menino logo alcançou um brinquedo, que encontrou ali, e se distraía com ele. A criança estava sorridente, feliz e não tinha um pingo de febre e nem sinal de tosse. Desde a hora que Niko o  buscou no berço, o menino estava bem disposto.

— Meu filhotinho, o que você tem, hein? Você está corado, alegre, lindo como sempre... se alimentou bem... nem parece doente. – O Carneirinho, mais intrigado do que nunca, conversava com o filho, que respondia balbuciando palavras ininteligíveis.

Passado alguns minutos, Félix retornava com Jonathan do quarto de César quando pararam para conversar próximos à porta de vidro, que dá para a área da piscina. Eles nem se deram conta de que havia alguém sentado no sofá, bem ali na sala ao lado. O Carneirinho acabou escutando a conversa entre pai e filho, principalmente porque Félix falava alto, como de hábito.

— Jonathan, é quase inacreditável, mas Papi está animado com essa festa!

— Pois é, pai. É uma pena se a gente não puder ir.

— Filho, eu já disse. De qualquer jeito você vai. Vai com a Ana, leva seu avô e Jayminho, se ele quiser ir. Já eu e o Niko... não sei. Você fica chateado se a gente não for?

— Não pai, eu entendo.

— Criança pequena é fogo! É uma criaturinha tão frágil, qualquer friagem e lá vem o apocalipse! Você vai entender quando tiver seus filhos

— Eu já entendo, fica tranquilo.

— E sabe o que eu acho? Seu avô vai até ficar feliz de ir só com vocês.

— Não diga isso, pai!

— É sim, Jonathan. Me fala com sinceridade, você acha que o todo soberano César Khoury vai se sentir bem, em um local público, junto do filho que tem um homem como acompanhante? E eu não estou com vontade sabe, de me reprimir, de fingir que eu e Niko somos... sei lá... colegas! Sinceramente.

Jonathan não disse nada, mas o silêncio do rapaz demonstrou que ele até concordava com Félix, então chegou à uma conclusão:

— Pai, é por isso que você não quer ir?

— Jonathan, não! É claro que eu quero ir... é... você sabe como adoro esse tipo de festa! – Félix gesticulava enquanto falava, tentando parecer sincero. Suas mãos voavam para todos os lados enfatizando cada palavra dita. - Criatura, se há alguém aqui nessa casa que adoooora se produzir da cabeça aos pés para aparecer em eventos chiques, beber champanhe e comer do bom e do melhor, esse alguém sou eu!

— Sei... você sempre disse isso.

— Mas com certeza!

— Então não fiz mal em comprar os convites?

— Mas claro que não! É claro que quero ir. – Mudando de tom, ele agora falava de maneira séria e contida. - Se eu não for, é por causa do Fabrício. Coitadinho, ele não pode pegar friagem. Isso é sério, Jonathan, ele está doentinho.

Os dois, pai e filho, saíram caminhando em direção à piscina, sem perceber que, no sofá da outra sala, havia outra dupla de pai e filho escutando tudo.

Niko olhou para Fabrício e começou a rir.

— Meu filhotinho doentinho... tá doentinho, né Fabrício?

O bebê ria, bem disposto, corado e lindo como sempre.

Niko suspeitou que algo estava acontecendo, mas ainda era cedo para saber o que exatamente. Ele tinha algumas suspeitas, mas decidiu deixar o dia correr e ver como as coisas ficariam.

...

No fim da tarde choveu. Era apenas uma dessas chuvas de verão, bem comuns no litoral. Foi uma tempestade, acompanhada de trovoadas e muito vento.

Todos, com exceção de César, que estava sob os cuidados da enfermeira, encontravam-se reunidos na sala. Sentados no sofá, Jayminho jogava no celular e Ana lia no tablet. Jonathan e Niko, no chão sobre um tapete, interagiam com Fabrício usando diferentes brinquedos. E de pé, agitado e andando de um lado para o outro, estava Félix, falando sem parar tal qual um palestrante.

Entremeando com outros assuntos, ele fazia comentários sobre como a chuva podia fazer mal à Fabrício e continuou até mesmo depois que a tempestade cessou.

— Essa umidade no ar... essa ventania... muito ruim para crianças com tosse.

Jonathan, Ana, Jayminho e Niko comentaram que o temporal já havia passado, que era apenas uma tempestade de verão e não ia chover mais. Mas Félix insistia.

— Vai saber! Ninguém aqui é meteorologista, me poupem...

— Pelo menos, desde que estamos aqui na sala, Fabrício não tossiu nem uma vez – Ana observou.

— Ana, meu docinho, você ainda nem começou a faculdade, não é? Já eu trabalhei em hospital durante anos! Alguma coisa eu sei... Pode ser um tipo de tosse que so dá à noite.

Ele continuaria falando, sobre os problemas respiratórios que as intempéries causam às crianças pequenas, se não fosse interrompido pela chegada de Adriana. Logo que escutou o barulho vindo da entrada da casa, Félix pediu licença à todos na sala e foi falar com ela.

Niko esperou alguns segundos e levantou-se.

— Fica de olho no Fabrício, Jonathan.

O Carneirinho foi atrás do companheiro e chegou à tempo de vê-lo conversando com a babá. Que estava quase irreconhecível, maquiadíssima e penteada em alto estilo.

— Tá bom assim, seu Félix? Não tá exagerado, não?

Insegura, Adriana virava o rosto, mostrava o cabelo e as unhas ao patrão.  Félix aprovou. Ele mesmo havia marcado hora para ela no salão de beleza do shopping e ficou feliz que fizeram um bom trabalho.

— Está ótimo! Show! Fiz bem em te mandar nesse salão, vai tudo combinar com o vestido. Espero que aquele seu bofe tenha alugado um terno como eu recomendei!

Os dois riam e falavam baixo, como cúmplices. Félix ensaiava bater palmas e Adriana quase dava pulos de alegria, mas se continham para não chamar a atenção de ninguém. Não sabiam, mas Niko estava vendo tudo.

O Carneirinho ficou tão admirado ao ver Adriana daquele jeito, que naturalmente se aproximou e fez um comentário sincero. Sem perceber, ele matou uma charada ali, naquele momento:

— Nossa, Adriana, você está linda! Que luxo! Onde é a festa? Parece até que você vai para um baile, aliás um baile de gala, muito chique!

Adriana riu sem graça, abaixou a cabeça e agradeceu o elogio. Ameaçou levar um dedo à boca e roer a unha recém feita, mas foi logo repreendida por Félix, que chamou a atenção para a hora, dizendo que ela devia ir rápido se vestir. A babá pediu licença e saiu. E daí que Félix fez a sugestão:

— Pois é Niko, falando em baile, podíamos dar nossos convites para a Adriana, para ela ir com o boy dela... digo... já que nós não vamos... é... enfim, se a gente não for... aliás, não devíamos ir por causa do Fabrício... e ela... ah, imagina, como ela ia ficar feliz... ela não está parecendo uma princesa? Bom, não é nenhuma Gisele Bündchen, mas... ela ficou bem não ficou?

Niko nada dizia. Apenas olhava para o companheiro, que continuava:

— Você não acha que seria um presente maravilhoso, mandar ela ao baile, com aquele boy gostosérrimo... hein? Eu tenho que concordar com você, ele é mesmo um bom partido. Pensa, eles dois dançando, que romântico! Ela vai fisgar esse bofe, ah vai! Hein, Niko? Nikooo... Carneirinho... fala alguma coisa...

Niko permanecia calado enquanto ouvia tudo. Até que cerrou os olhos, colocou as mãos na cintura e pensou. Desde o momento que Félix sugeriu dar os convites deles para Adriana e o namorado dela, os cachinhos dourados do Carneirinho começaram a funcionar. Ele juntou isso, com o fato de ter sido Félix quem escolheu e marcou a hora no salão de beleza e com o que escutou mais cedo da conversa dele com Jonathan. Sendo assim, ele tirou suas conclusões.

Enquanto isso, Félix se dava conta que acontecia algo com o companheiro.

— Hein, Carneirinho? O que foi... por que você está mudo?  

Niko deu as costas à Félix sem nada dizer e fez o caminho de volta à sala onde estavam todos.  Félix o seguiu sem parar de falar.

— Ah, não, não me diga que a geniosa está chateada porque falei que o boy é gostoso. Você sabe que você é mais, alias muito mais... Carneirinho... vem cá...

Ao chegar à sala de estar, Niko parou e disse ao enteado:

— Jonathan, por favor, cuida do seu irmãozinho mais um pouco? Eu preciso ter uma conversa com seu pai. – Ele olhou para Félix, indicou com a  cabeça a direção da piscina e começou a dirigir-se para lá.

Félix não foi imediatamente. Ficou parado no meio da sala e riu. Riu porque achava graça que Niko quisesse discutir a relação por causa de ciúmes bobos. Mas, ao mesmo tempo, ele riu de nervoso, pois tinha a consciência pesada por causa do que estava aprontando há dias. Como de hábito, ele tentou brincar:

— Carneirinho, sinceramente, eu devo ter feito churrasco com a...

Muito sério, Niko abriu a porta de vidro que da para a piscina e falou com autoridade:

— Lá fora, Félix.

Niko saiu, Félix o seguiu, não sem antes revirar os olhos e balançar a cabeça rindo, dando a entender à todos que não era nada sério.

O Carneirinho só parou de caminhar quando chegou do outro lado da piscina, de modo que, lá de dentro da casa, ninguém poderia ouvir nada, mesmo que estivessem curiosos. Com o mobiliário todo molhado, por causa da chuva, não restava outra alternativa senão conversar de pé mesmo.

Ali, de frente para Niko, não era preciso mais fingir. Félix roia as unhas, ele desconfiava que era sério. O Carneirinho colocou as mãos na cintura, olhou diretamente pro companheiro e foi direto:

— Félix, você nunca quis ir nessa festa de réveillon. Não é?

— Imagina Carneirinho, claro que...

— Você inventou essa história da tosse e febre do Fabrício. Não foi?

— Não... é... veja bem...

— E você planejou mandar Adriana com o namorado dela no nosso lugar. Acertei?

— Carneirinho... eu...

De cabeça baixa, Félix decidiu que não tinha mais porque  não ser sincero. Niko continuava com as mãos na cintura, esperando uma resposta. E ela veio.

— Tá bom. Eu confesso.

Felix então contou tudo. Contou que desde o primeiro momento que Jonathan chegou com os convites, ele não gostou da ideia. Ele iria gostar, se o pai fosse mais liberal e menos mal humorado e grosseiro, o que não era o caso.

E além de tudo, ele realmente achava um sacrifício para uma criança pequena como Fabrício ficar em uma festa até tarde. Ele sabia que Niko ia passar a noite se desdobrando em cuidar do filho. Mesmo que Adriana fosse, era capaz dele querer voltar para casa mais cedo se o menino ficasse indisposto. E ele já sabia, muito antes de Niko, que Adriana não iria.

— Tenho certeza que você fica falando que devemos ir por causa de Papi, mas e se Fabrício ficasse muito cansado ou indisposto... e se começasse a chorar, sem conseguir dormir? Você, tanto quanto eu, não ia querer deixá-lo lá na tal creche com gente que não é da nossa confiança. Ia fazer o que? Ficar na creche com ele, no carro ou voltar pra casa?

Além do incômodo para as crianças, ele contou que ia se sentir tolhido e reprimido, com medo de magoar o pai, e magoar Niko também. Ele acreditava que, de alguma forma, todos se aborreceriam. Ele tinha medo que César falasse uma grosseria e estragasse a noite e não ia aguentar ver pessoas se abraçando, se beijando e ele sem a mesma liberdade com o companheiro.

— Já passei o réveillon em diversos lugares, sabe Niko. Em festas extravagantes e lugares carérrimos. Aqui e no exterior. Minha família sempre viajou muito. Eu sempre  olhava os casais juntos e felizes nessa hora e pensava comigo que nunca ia ter a felicidade de compartilhar um momento desse com alguém especial. Alguém do jeito que eu queria. Por causa do Papi.

Félix contou que ficava triste, quando era adolescente e não podia ter um namoradinho nessas horas. E depois, já casado com Edith, ela não era bem a companhia que ele queria ter de verdade.

— E agora, pela primeira vez em todos esses anos, eu tenho alguém que eu amo, e que me ama, pra passar esse momento junto. E eu não queria que nada estragasse isso. Não quero, Niko, correr o risco de ficar separado de você à meia-noite e também não quero afrontar Papi, sabe... nâo quero chatear ele e, ao mesmo tempo, quero ter toda a liberdade de te beijar, abraçar. Então eu tive uma ideia.

Ele contou que começou a planejar tudo desde aquela noite, quando ficou observando Adriana e o namorado se despedirem. Depois que ela entrou, eles conversaram brevemente e ela pediu folga. Disse que havia sido convidada pelo namorado para uma festa simples, na praia mesmo, para ver a queima de fogos. Ele concordou em dispensá-la e sabia que Niko concordaria também.

Em resumo, Félix disse que não queria magoar Jonathan dizendo que achava uma má ideia, não queria estragar a alegria do Papi Soberano, que se animou em ir ao evento, não queria que Niko ficasse a noite toda cuidando de Fabrício sem a babá, não queria que as crianças ficassem indispostas e cansadas ainda cedo e, mais do que tudo, queria seu Carneirinho junto de si à meia-noite com toda a liberdade para beijar e ser beijado.

E, para completar, naquele momento observando Adriana, imaginou ela no baile com o namorado e sentiu vontade de proporcionar uma noite de princesa à ela.

— Me senti a própria fada madrinha, quando pensei em mandar a criatura ao baile, não como nossa babá, mas sim como uma convidada com o boy de acompanhante.

Então, juntando tudo isso, ele propôs a ideia para Adriana. E inventou a história da tosse.

— Desde quando Jonathan falou sobre o baile, e eu disse que não achava adequado ir com as crianças, que era cansativo para elas, eu esperava que você fosse concordar comigo. Mas você pensou tanto ou mais na alegria do meu pai, do que na sua, na nossa. Com a história da tosse, eu pensei que você mesmo ia desistir de ir se pensasse na possibilidade do Fabrício estar doentinho, e piorar indo ao baile.

— Tá bom, Félix, porque você simplesmente não me disse como se sentia?

— Eu achei que  você ia, sei lá... em algum momento concordar comigo.

— Não faz sentido, Félix, imagina se eu insistisse em ir! Fabrício não demonstra nenhum sinal de doença. E eu acho sim, importante, fazer a alegria do seu pai. Como você faria se eu não desistisse, com Adriana aí toda arrumada. Félix, você devia ter falado comigo!

— Eu já disse, não queria magoar Jonathan, queria que ele pensasse que não estou indo só porque Fabrício está doente.

— Ok, então me contasse a verdade, pra eu poder ajudar.

— Ajudar como? Mentindo que Fabrício está doente? Eu jamais te pediria para mentir, Carneirinho. Você não leva jeito pra isso.

Niko não disse nada em relação ao assunto, só respirou fundo, coçou a cabeça alguns segundos e decidiu-se:

— Félix, vamos entrar.

— Carneirinho, você está chateado comigo? Tudo que eu quero é estar com você quando der meia-noite. E se a gente se separar por causa das crianças, porque elas ficaram com sono ou indispostas? E se? E se elas ficarem com sono e indispostas... coitadinhas, não?

— Eu já entendi tudo, Félix. Vem, vamos lá pra dentro.

Niko começou a fazer o caminho de volta em direção à casa. Félix se colocou na frente dele e não o deixou passar.

— Vai brigar comigo!? Eu só quero beijar você na passagem do ano! Mas como eu poderia, com o meu pai ali, sentado na nossa frente? Eu devo ter salgado a Santa Ceia pra correr o risco dele falar uma grosseria e magoar todo mundo!

— Félix, eu já sei. – Niko não deu nenhuma indicação se havia ficado chateado, ou não. Nem o que ia fazer à partir dali. No entanto, estendeu a mão para o companheiro. – Vamos entrar, vem. – E foi praticamente arrastando ele para dentro da casa.

Niko ia na frente e Félix atrás, sendo levado, se explicando,  falando seus últimos argumentos.

— Me desculpa Niko, eu não te falei nada porque... imagina, você não ia me ajudar a mentir... se alguém aqui tem que fazer o trabalho sujo, esse alguem sou eu.  Niko... Carneirinho... sabe... é que... eu tenho um sonho... um sonho que eu desejo realizar um dia, mas bem que podia ser essa noite...

Niko parou e virou-se.

— Sonho... você falou nisso outro dia, mas acabou não me contando nada e eu estou pra te perguntar... mas é tanta coisa acontecendo...

— Pois é, eu ia te falar naquela noite quando a Adriana chegou... depois eu fiquei conversando com ela... Bom, é uma coisa simples... boba até...

Félix abaixou a cabeça, riu timidamente. Se há alguém que conhece esse lado dele, esse alguém é o Carneirinho. Mas, mesmo  assim, naquela época, Félix ainda não estava totalmente seguro em exibir esse outro lado. Se fosse uma piada, certamente ele não titubearia, não gaguejaria, mas para falar de coisas sentimentais, desejos românticos que todas as pessoas tem, mas poucos admitem com medo de baixar a guarda e se sentir vulneráveis, Félix ainda lutava com a dificuldade.

— Fala, Félix.

— Eu penso nisso há anos! Enfim... Niko, é... então, sabe...

Félix enrolou tanto que não chegou a dizer nada, foram interrompidos pela enfermeira de César, que lá da porta da casa gritava em direção à piscina:

— Seu Félix, seu pai está chamando!

Eles então retornaram com pressa até dentro da sala.

A enfermeira comunicou que César estava ansioso, dizia que já era hora de se arrumar.

Todos concordaram que se não fossem logo ficaria tarde, então levantaram de onde estavam. Ana disse que ia tomar banho, Jayminho disse que ia também. A enfermeira informou que já estava na hora de ir embora e Jonathan se ofereceu para ajudar o avô.

Enquanto todos falavam ao mesmo tempo, Félix se sentia encrencado. Seu plano, de fazer Niko acreditar que o filho estava doentinho, e desistir por si mesmo de ir ao baile, falhou. O que faria agora, uma vez que havia prometido à Adriana os convites para e Fabrício sorria e gritava alto como qualquer criança saudável da idade dele?

Enquanto Félix estava parado, em silêncio e roendo as unhas no meio daquele falatório, Niko abaixou-se, pegou Fabríco no chão, que brincava sobre o tapete, colocou a mão na testa dele e disse:

— Ah, meu filhotinho, tá com febre, tá? Papai vai cuidar de você, viu?

Ao ouvir isso, todos se manifestaram. Disseram em coro um “ahhhh”. O lamento ecoou pela sala. Todos ficaram tristes. Menos Félix. Félix arregalou os olhos enquanto observava o carneirinho, que continuou:

— Pois é, está febril, tadinho. Não vamos poder ir ao baile.

— Ahh, que pena... – Disse Ana. – Ele nem parece doente!

— Pois é, Fabrício é assim mesmo: brinca, ri de tudo... a gente nem percebe que está doentinho. – Niko afirmou.

— Puxa, que chato. – Disse Jonathan. – E esse tempo todo ele não tossiu, achei que estivesse bem.

— Como o Félix falou, deve ser esse tipo de tosse que só dá de noite.

Niko trocou um olhar com Félix. Não piscou, ou perceberiam que os dois estavam de combinação. E nem precisava. Eles se entendiam. Eles estavam sim, de combinação. O Carneirinho decidiu que o melhor era fazer o que o companheiro queria.

Félix ficou surpreso. Quando ele pensou que não podia contar com Niko, ele estava muito enganado.  Por fora, ele fingia estar preocupado com Fabrício, por dentro estava aliviado.

Ficou acertado que Jonathan iria com Ana e levariam César. Félix avisou ao filho que o prejuízo com os convites talvez não fosse ser tão grande.

— Eu tenho uma ideia, vamos ver se vai dar certo. Quem sabe Adriana retorna cedo, aí nós vamos para aproveitar um pouquinho. Deixa aí na gaveta dois convites de adulto. Mas não fica me esperando, Jonathan!

Félix sabia que não iria. Ele sabia que Adriana e o namorado usariam os convites. Ele ficou feliz, acreditava que essa era a melhor solução para todos. Só faltava saber de Jayminho.

— E então, criaturinha, quer ir com seu irmão mais velho, ou ficar com seu irmão mais novo?

— Eu quero ficar com você e o papai. É meu primeiro ano novo com dois pais. Eu posso?

— Claro que pode, meu filhotinho. – Niko acrescentou que iria preparar um jantar gostoso e eles passariam o réveillon em casa mesmo. Jayminho perguntou se podia vestir a roupa elegante que compraram para ele. Félix achou a idéia ótima.

— Vai sim, jayminho. Um homem elegante é tudo! Vai se arrumar.

Dessa forma, cada um foi em direção ao que precisava fazer, deixando o casal na sala.

— Enfim sós com meu rebanho! – Disse Félix enquanto abraçava o companheiro, que segurava o bebê no colo, imprensando o menino entre eles. Fabrício não parava de rir.

— Félix, da próxima vez, vê se me conta tudo, tá? Não sai por aí inventando esses planos mirabolantes que quase sempre te colocam em enrascadas!

— Quase sempre, mas não sempre. Eu já fiz planos muito bons, confessa.

— Você mentiu Félix... que feio.

— Desculpe. Mas você também. - Sorriu sem graça.

— Não faremos mais isso, tá bom?

Félix concordou com a cabeça, enquanto continuava abraçando o Carneirinho e Fabrício ao mesmo tempo.

— Desculpa, Niko. Por te fazer mentir. Acima de tudo, por te fazer não ir no baile. Eu sei que você queria ir.... pra comer...

— Eu? Quem é que curte esse tipo de festa? Achei que você não perderia por nada. Insisti pra ir por causa disso também.

— Imagina só a variedade de geléia no café da manhã, você ia adorar.

— Félix, o melhor lugar pra mim, é ao lado da minha família. Em casa ou em uma festa, o que mais quero é estar com você e os meninos. – Ele entregou o bebê para o companheiro. – Toma, fica com o doentinho. Por falar em comer, eu vou preparar umas coisas pra nossa festinha.

Niko já caminhava até a cozinha quando se lembrou, deteve-se e retornou. Tinha ainda uma pergunta.

— Félix, e o sonho? O senhor pode me contar agora o que é?

— Carneirinho, não vai rir de mim... é algo tão simples... é apenas...

E mais uma vez eles foram interrompidos.

— Seu Félix, Seu Niko!

Dessa vez era Adriana, que chegava na sala toda arrumada, devidamente à rigor trajando um lindo vestido de gala.

Seguiram-se elogios e a babá, insegura, ainda pedia à Félix que repetisse todos os detalhes do plano.

— Estou bem mesmo, seu Niko? E como faço com os convites, seu Félix?

Félix repetiu que estava mandando ela ir mais cedo para ter tempo de trocar o lugar, na mesa da familia Corona-Khoury, por uma mesa para dois.

— Diga que foi um engano, que vocês estão sozinhos e peçam uma mesa reservada. Fica longe de papi, de Jonathan... agarra seu bofe, criatura, dá atenção só pra ele!

Félix lembrou também que, se por um acaso, ela fosse vista por alguém, era para  dizer que foi o namorado que a convidou.

Niko observava encantado o lindo vestido que parecia ter sido feito sob medida para a babá dos meninos. O estilo, a cor, tudo combinava com Adriana e caia-lhe perfeitamente bem.

— Félix, como, quando e onde você comprou esse vestido? Claro que foi você, né... anda, me conta.

— Pois é, Niko, lembra no shopping quando você ficou escolhendo a roupa pro Jayminho e eu fui com a Adriana até o fraldário trocar Fabrício?

— E vocês demoraram... demoraram... Adriana chegou com a desculpa esfarrapada de que você tinha ido ao banheiro e ficado numa fila enorme...

— Pois é... mas Adriana falou a verdade, eu fui ao banheiro sim. Só que depois eu ainda fui até o estacionamento, esconder na mala do carro o vestido que havíamos comprado. Desculpa Carneirinho.... desculpa por não te contar nada!

— Eu devia puxar suas orelhas, Félix! – Niko não conseguiu manter uma fisionomia aborrecida por muito tempo e logo abriu um sorriso. – Mas tudo bem... Adriana está linda. Parece uma princesa!

— Menos Carneirinho... menos... princesa é um pouco de exagero... – Félix também não conseguia ficar sem fazer piada por muito tempo. -  Tou brincando, gente! Parece sim, uma princesa. Mas presta atenção, Adriana, só não vai beijar um sapo, hein! Beija só aquele seu bofe, porque olha...

Niko pigarreou, passando a mão na barba. Félix calou-se, pegou na gaveta da estante da sala os dois convites e entregou à Adriana. Ela então disse que ia esperar o namorado na entrada da casa, pois ele já havia enviado mensagem que estava chegando. Se despediram e até Fabrício ficou olhando embevecido ela afastar-se, até fechar a porta atrás dela.

Os três ficaram novamente sozinhos.

— Félix, eu ainda fico pensando... como é que você contava que eu fosse concordar em não ir no baile? Você achou que eu fosse acreditar que Fabrício estivesse mesmo doente? E se eu não descobrisse nada e insistisse em ir? Você esperava o que... um milagre? Tipo que caísse uma chuva de granizo na hora ou acontecesse um apagão na cidade...

— Eu só tinha esperanças, Niko. Eu tinha esperanças de que voce fosse perceber... perceber que eu não queria mesmo ir, e ia me dar apoio.

— Pensei no seu pai, Félix. Tadinho dele, trancado aí nesse quarto... e em você também, que adora esses eventos, vamos combinar!

— Vamos combinar é que eu não sou mais aquele cara tão ligado nessas festas chiques, Carnerinho! Até sou, mas não quando há coisa melhor pra se fazer... como por exemplo... um sonho bobo pra realizar.

— Você contou com a sorte, Félix. Eu percebi por um acaso... mas vai, me conta logo esse sonho.

— Não senhor, eu contei com você. Confesso que com a sorte também... porque você com esses cachos loiros é imprevisível, tudo pode sair daí dessa sua cabecinha e...

— Félix! O sonho.

— Aff... tá bom! Então... eu sonho em...

E, como de hábito, Félix foi interrompido mais uma vez. Esbaforido e aparentando cansaço, Jonathan irrompeu no ambiente.

— Pai! Pai... me ajuda com o vô César... não é fácil lidar com ele... despir... vestir... ele implica com tudo... é pesado... por favor?

Félix revirou os olhos e riu.

— Viram? Pensam que é fácil? - Ele devolveu Fabrício para o Carneirinho, já que não conseguiria cuidar do pai e do bebê ao mesmo tempo.  – Niko, quando eu terminar lá, nós vamos pra cozinha e eu ajudo, tá? Me espera.

E assim foi, cada um para um lado. Ainda havia muito o que se fazer nas últimas horas de 2014.

...

...

Já passava das onze e meia quando os quatro membros da familia Corona Khoury estavam no sofá, em frente à TV enorme da sala de estar. Já haviam jantado mas, mesmo assim, havia na mesa de centro diferentes petiscos, suco para as duas crianças e vinho para os dois adultos.

Fabrício dormia, quentinho e confortável, entre Niko e Félix e Jayminho tirava um cochilo, deitado com a cabeça na coxa do Carneirinho.

— Será que eu acordo ele, Félix?

— Deixa ele. Ele vai acordar com o barulho dos fogos, tenho certeza.

Félix mudava os canais da TV até que parou na famosa emissora, de sinal aberto, que iria transmitir o réveillon de diversas partes do Brasil.

— Amor, quem diria... Félix Khoury, o Magnífico, entrando o Ano Novo em casa, assistindo o Show da Virada, sentado no sofá.

— Pois é Carneirinho, como eu sempre digo, o mundo dá voltas! Depois de Paris, New York, Londres, Disney e tantas festas chiques na mansão dos Khoury... aqui estou eu, um pai de familia sentado no sofá da própria sala.

Félix não lamentava, ao contrário. Estava realmente feliz.

— Mas mesmo tendo rompido o ano em tantos lugares e festas caras, só agora, aqui nessa casa, eu vou realizar meu sonho.

— Félix, é mesmo! Mas, gente, afinal que sonho é esse!? Agora não tem mais ninguém pra interromper! Vai, me conta.

— É uma coisa até meio boba...

Félix ria dele mesmo, sentia-se um pouco envergonhado, vulnerável talvez, por estar deixando finalmente seu lado mais romântico, mais sensível se expor. Mas a alegria dele era imensa e isso, inclusive, o emocionou. Ele olhou no relógio, olhou para Niko, limpou a garganta e começou:

— Vou te contar. Sabe nos filmes? Principalmente filme americano, eu já vi muitos que tem essa cena, algumas bem famosas: quando dá a meia-noite, no último dia do ano, o casal apaixonado troca um beijo de amor. E ficam se beijando por um tempo...  E sempre toca aquela mesma música. Sabe qual?

— Sei, Félix. - Niko o olhava apaixonado. Se havia algo que pudesse encantá-lo ainda mais, à respeito de Félix, eram momentos como esse, quando o companheiro exibia um lado sensível e romântico que ninguém nunca havia conhecido, além dele. Félix prosseguia:

— Pois é... Eu assistia esses filmes sonhando que, um dia, eu iria encontrar um amor verdadeiro e passar a virada do ano exatamente assim: trocando um beijo apaixonado, um beijo de amor, amor de ambas as partes, ao som dessa canção.

Enquanto terminava de falar, Félix abaixou totalmente o som da TV com o controle remoto, pegou o celular e colocou exatamente a famosa música para tocar.

Eles se olharam e nada disseram. Olharam a TV, que estava muda, mas exibia a contagem regressiva que acabava de começar. Então eles se beijaram, ao som da música, como era o sonho de Félix.

E com um beijo de amor e uma canção, ele foram carregados do ano velho para o ano novo, que se iniciava da melhor maneira possível.

Foram apenas alguns segundos, que pareceram horas, que os mantiveram absortos em um lugar no tempo que era só deles.  E eles continuariam, se não fosse o barulho dos fogos que estouraram ali perto, acordando Fabrício, que logo começou a rir, olhando os pais. O bebê se sentia tão seguro que nem a explosão de milhares de fogos de artifício seria capaz de assustá-lo. Ele só ria.

O casal interrompeu o beijo.

— Feliz ano novo, Carneirinho.

— Feliz ano novo, Félix. Feliz vida nova!

O barulho das explosões só aumentou e Jayminho deu um pulo do sofá. Ele puxou Niko pela mão.

— Vem pai, vamos ver os fogos lá fora! Vem papi, vamos maninho!

Niko quase foi arrastado pelo filho mais velho, Félix seguiu atrás deles carregando o mais novo.

Em vários pontos do céu de Angra pipocavam fogos de artifício de diversas cores. Os maiores e mais barulhentos vinham da praia, que ficava no centro da cidade, onde localizava-se o hotel que abrigava o tal baile. Félix pensou no pai e torceu para que ele estivesse se divertindo. Afinal, aquele ano que acabava havia sido o pior ano na vida de César. Em contra partida, aquele havia sido o melhor ano da vida de Félix até então.

Jayminho estava agitado, entretidíssimo com o espetáculo de luzes no céu.

— Olha, pai, olha!

Fabrício também. Assustava-se as vezes, mas não tinha medo, estava aconchegado no colo de um pai e sendo acarinhado pelo outro. Seus olhinhos brilhavam e ele sorria o tempo todo.

Entre observar os fogos e as crianças, os dois pais trocavam olhares. Ali estavam sem festa, sem baile, sem buffet de comidas caras, sem serviço cinco estrelas e nem usando trajes de gala. Mas tinham tudo que sempre desejaram: o amor verdadeiro e a família completa.

Era o começo de um ano novo, mas principalmente o primeiro réveillon deles como uma família, marcando de maneira especial o início da vida que eles escolheram viver juntos.

Menos de uma hora depois, aquela agitação toda teve um efeito já esperado nas crianças. Os meninos estavam visivelmente cansados e Niko sugeriu que já era hora de irem para a cama. E naquele dia não foi uma tarefa difícil colocá-los para dormir. Em menos de dez minutos já estavam os dois em seus respectivos quartos, ferrados no sono.

Quando o casal voltou à sala, sozinho, eles abriram uma garrafa de champanhe e fizeram um brinde.

— Pois é, Félix, perdemos um grande baile de gala.

— Não seja por isso, Niko.

Félix colocou uma seleção de músicas que ele mesmo preparou para tocar, começando com diferentes versões da música que ele queria tanto ouvir no rompimento do ano. Apagou as luzes do ambiente e colocou em volta deles o pisca-pisca da árvore, que já estava solto pronto para ser usado assim, e começou a dançar com o Carneirinho.

— Nosso baile começa agora, Niko. Só se eu tivesse salgado a Santa Ceia pra não dançar com você nessa noite!

— Você tinha tudo planejado, não tinha, Félix? O champanhe na geladeira, a música no player, até essas luzes...

— Confesso que sim. Nem todos os meus planos dão errado,viu?

— Também fazia parte do sonho?

— Niko, sempre ouvi falar que o que se faz à meia noite, e nos primeiros momentos do ano, se vai fazer por todo o ano que inicia. Sinceramente? Estar num baile chique, já não é lá o que eu mais quero na vida. Seria interessante estar com você na cama fazendo amor, exatamente à meia-noite em ponto, mas eu confesso que, ainda mais do que isso, o que eu quero mesmo, por todos os dias do ano, é beijar você. Além do que, não somos sozinhos. Temos os meninos. Então a nossa virada foi perfeita, nos beijamos e passamos nos divertindo com eles assistindo os fogos. E agora estamos assim, agarradinhos, sabendo que as crianças estão seguras, quentinhas e confortáveis em suas caminhas. É isso que eu quero que se repita, todos os dias do ano inteiro. E em todos os outros que virão. É assim que eu quero ficar: eu e você, juntos.

Se existe um paraíso na terra, é exatamente onde Niko se sentia naquele momento. Ele nem precisava dizer muita coisa. Era capaz de tropeçar na emoção e derramar ainda mais lágrimas.

— Feliz 2015, Félix.

— Feliz 2015, Carneirinho. E feliz 2016, 2017...

— 2018, 2019...

Entre selinhos e beijos mais compridos, prosseguiram com a contagem...

— Feliz 2030.

— Feliz 2031.

... enquanto dançavam...

— Feliz 2042.

— Feliz 2043.

E dançaram e se beijaram e contaram...  por um bom tempo...

— Feliz 2054

— Feliz 2055

... até que o fato de estarem se beijando, sob a tênue luz colorida, com os corpos bem colados e bebendo champanhe, provocou uma sensação que tornou imperiosa a ida para o quarto.

— Vem Carneirinho, vem que eu quero entrar bem o ano... e você também vai entrar, ah vai!

E o “baile” continuou lá, e entraram bem o ano novo. Ah, mas entraram muito bem! ;-)


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Notas finais do capítulo

Felixz 2016 :-)



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