Posicionando seu arco com destreza e firmeza, Lena mirou na criatura que estava em sua frente. Puxou a flecha, sorrindo. Soltou, atingindo em cheio o leopardo. Suspirou.

Fazia anos que trabalhava para o governo, matando criaturas. Desde que ficara órfã, afinal de contas, fora o antigo rei que cuidou dela. Tinha uma dívida eterna com o reino, porém inicialmente discordou do o novo soberano.

Sentia uma obrigação, contudo, de servir aquele reino incondicionalmente. Embora tenha crescido aprendendo a amar e proteger os animais, agora tinha de matá-los, para ‘’proteger o reino’’. ‘’Não era justo. Eles nunca tinham feito mal para ninguém.’’, ela pensava. Porém, eles aparentemente conseguiram fazer uma lavagem cerebral na garota.

Depois de matar todos os animais que viu e eram considerados ‘’perigosos’’, ela foi praticar pontaria. Enquanto mirava nas árvores, viu Victor chegando. Majestoso, como sempre.

—Como vai?

—Nada bem, você sabe- O garoto respondeu- Lena, fui criado por esses leopardos, e você os mata. O que aconteceu com minha amiga de infância?

—Aconteceu que eu tenho uma dívida com aquele reino, Victor.

Victor e Lena eram amigos desde os oito anos, antes dela se tornar órfã. Pouco ela sabia sobre o garoto, exceto que ele vivia na floresta. Eles continuaram se vendo mesmo depois do rei a ter adotado, e também depois dele morrer e ela começar a matar leopardos. Ela tinha sentimentos por ele, mas era orgulhosa e arrogante demais para demonstrar.

—Ouça seu coração. Quando for tarde demais, não tente me pedir perdão.

Ele foi embora. Lena o ignorou e continuou praticando. Sentia que havia um fundo de verdade nas palavras de Victor, mas simplesmente ignorava essas sensações.

Alguns dias se passaram, Lena estava de volta á floresta. Percebeu um movimento em um arbusto. Um leopardo fugiu. Ela sorriu, e atirou. A flecha atravessou a distância entre ela e o animal, numa velocidade incrível. Mira perfeita. Em cheio.

O animal caiu no chão. Ela foi atrás para pegar sua flecha de volta, mas, ao chegar lá, não era um leopardo. Era Victor.

—Lena...- Ele sussurrou, a dor da flecha se espalhava por seu corpo.

—Victor?

—Eu... Te avisei...

—Não, Victor- Ela o segurou em seus braços- Era um leopardo! Onde ele foi? Você pulou na frente dele? Como eu não te vi?

—Me escute. Eu te falei que fui criado por eles, eram minha família, certo? Eu sou...- Ele gemeu de dor- Eu sou um deles. Quando você começou, tentei te fazer parar, mas isso não deu certo...

Ela o encarou, confusa. Em seguida, a forma dele começou a mudar. Ela viu diante de si o leopardo que tinha atingido. No momento seguinte, o animal se contorceu e caiu para trás. Morto. Ela ficou alguns segundos olhando o corpo rígido no chão. Então, lágrimas quentes começaram a escorrer pelo seu rosto. Não adiantava pedir perdão, ele estava certo. Céus. Onde sua ambição tinha chegado?

Ela se levantou, secou o rosto, ficou novamente com sua expressão determinada de sempre. Sabia agora quem era o verdadeiro inimigo. Carregando seu arco e flecha, se dirigiu ao palácio. Pediu para ser levada ao rei. Puxou a flecha. Atirou. Matou o soberano. Fugiu dali, parou em cima de um rochedo.

Pensou. Agora, deveria descobrir um novo motivo para lutar. Mas deixaria isso para depois.