Os Olhos Dela escrita por Bianca Vivas


Capítulo 1
Capítulo Único - Os Olhos Dela


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Essa fanfic foi escrita como uma homenagem ao nosso querido Alan Rickman, que faleceu no dia 14 desse mês. Acredito que muitos fãs tenham feito isso, como um tributo ao nosso eterno e querido professor de Poções.
Então, espero que se divirtam e sempre lembrem do Alan com carinho.



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Quando sentiu a Marca Negra escurecer, ele soube que Dumbledore estava certo. Durante treze anos, duvidou. Algumas vezes, se perguntava se o bruxo já não estava velho demais. Ou se ele próprio, corroído pelo remorso, estava cego o suficiente para encarar as teorias malucas de Alvo Dumbledore como verdades absolutas. Nesses momentos, se perguntava se Lílian o odiava pelo que fez ou o agradecia pelo que havia prometido — uma promessa que, em seu íntimo, ele sabia que era perpétua. Mas, naquele momento, não importava muito, não é? Lílian já estava morta há mais de uma década.

Anos antes, quando Dumbledore mandou que vigiasse Quirrel, ele chegou a desconfiar. Mas Dumbledore não dizia nada, não explicava nada. Eram pedidos sem razão alguma. Apenas quando o menino matou o Professor, ele entendeu. O Lorde das Trevas ainda estava vivo. Era algo que ele não sabia o motivo e Dumbledore não fazia questão de lhe explicar. Mas jamais, mesmo em seu pior pesadelo, ele imaginaria que o Lorde das Trevas seria capaz de ressurgir, poderoso como antes. Dumbledore discordava. E repetia a cada dia que o garoto estaria em grande perigo quando Voldemort finalmente retornasse.

Foi quando Karkaroffmostrou a Marca, tão escurecida quanto a dele, que teve certeza. O Lorde das Trevas ressurgia. Dumbledore estava certo. Ele teria de decidir de que lado estava. Ao contrário do que imaginava que aconteceria caso esse momento chegasse, ele não estava dividido. Seu caminho estava tão claro para ele quanto estivera na noite em que Lílian Evans morrera (porque, para ele, Lílian nunca seria uma Potter). Ele não trairia Lílian de novo.

Na noite da última prova do Torneio Tribruxo, ele finalmente sentiu a Marca Negra queimar. Avisou Dumbledore e seguiu suas instruções. Naquela noite, no cemitério em Little Hangleton, nunca sentiu que tanto dependia de sua proficiência em Oclumência, da sua habilidade em fingir. E nunca sentiu tanto nojo de si mesmo comoquando aquelas palavrassaíram de sua boca:

— Aquela sangue-ruim nojenta nunca mereceu a honra de estar entre nós. Ela era apenasum... Passatempo.

O Lorde das Trevas soltou um esgar de maligna felicidade, concordando com o que ele havia dito.

— Ah, Severo, vejo que finalmente recobrou o juízo! — disse, com suas fendas vermelhas fixadas nos olhos negros de Snape.

O bruxo percebeu que foi bem sucedido quando Voldemort desviou sua atenção. Ele nada havia encontrado na mente de Severo, exceto desprezo. Um sentimento que ele nutria sim, mas não por Lílian como Voldemort acreditava, e sim por ele — o Lorde das Trevas — que assassinara a pessoa que ele mais amava. A sua única lembrança feliz naquele mundo tão triste e negro. Se não fosse pela promessa feita a Dumbledore, ele atacaria o Lorde das Trevas ali mesmo. E não se importava de morrer no processo, pelo menos se vingaria por Lílian. Mas tinha de se manter vivo para proteger o garoto. Porque o garoto era o único que podia derrotar o Lorde das Trevas... Sempre o garoto.

Dumbledore tinha a mania de fazer com que o garoto fosse sua máxima prioridade. Aulas de Oclumência, vigiar as reuniões da Armada de Dumbledore à distância, encontrar maneiras de mantê-lo longe das garras do Lorde das Trevas, proteger ele e seus amiguinhos de Comensais da Morte, lhe entregar a espada de Gryffindor. E a mais difícil de todas as tarefas: matar o próprio Dumbledore. Tudo para atrasar e enfraquecer o Lorde das Trevas, para proteger o garoto. Para deixar o caminho do garoto mais fácil, mais rápido.

Snape poderia odiar o garoto por isso — por tê-lo obrigado a matar Dumbledore e se arriscar tanto. Odiá-lo por ser filho do estúpido Tiago Potter e, ainda assim, ter que protegê-lo. Porém, não conseguia. Mesmo o garoto tendo o mesmo rosto do pai, as mesmas desculpas patéticas para as próprias transgressões e a mania de chamá-lo de covarde enquanto fazia de tudo para desperdiçar o sacrifício dos outros. Não conseguia odiá-lo porque Harry Potter tinha os olhos dela. Os olhos de Lílian Evans. O mesmo formato e o mesmo tom de verde intenso.

Por vezes, Severo se perguntava se seria um castigo. Ter de ver aqueles olhos tão belos no rosto do desprezível Tiago Potter. Outras, enxergava tudo como um grande presente: poder ver novamente aqueles olhos verdes. Na maior parte do tempo, porém, os olhos do garoto apenas o lembravam de seu passado terrível e de sua tortuosa missão. Proteger Harry Potter.

Enquanto fitava as costas do Lorde das Trevas, era nisso que pensava. Tinha que proteger o garoto do Lorde das Trevas. Tinha que passar a ele as últimas instruções de Alvo Dumbledore. A maneira definitiva de matar Voldemort. Por isso implorava tanto para trazer o garoto até ali. Era a única forma de acabar com aquela guerra. De não deixar que o sacrifício de Lílian fosse em vão.

— Por favor... Me deixe trazer o garoto...

Ele implorou mais uma vez. E mais uma vez o Lorde das Trevas negou. Ele dizia algo, mas Severo não prestava atenção. Só precisava convencer aquele que um dia fora seu senhor a deixá-lo procurar o garoto. Ou tudo seria em vão. Mas o Lorde das Trevas não prestava atenção no que ele dizia. Só percebeu o que estava acontecendo quando viu Nagini vindo em sua direção.Quando sentiu as presas da cobra no seu pescoço um estranho pensamento lhe ocorreu: talvez Dumbledore nunca lhe deixara ensinar sua matéria favorita para lhe proteger de um cargo azarado.

Apenas quando caiu no chão que sentiu a dor lancinante e percebeu que morreria. Morreria sem cumprir sua última tarefa. Cerrou os olhos pedindo por um milagre. Quando os reabriu, viu o garoto acompanhado da menina Granger. Ele balbuciou algumas palavras, pedindo para o menino levar suas memórias, sem saber se ele entenderia. Pela primeira vez desde que Lílian morrera, sentiu medo de falhar.

Viu a garota Granger materializar um frasco no ar e respirou aliviado. Mesmo que morresse, o filho de Lílian Evans estaria a salvo. A dor onde a cobra cravara os dentes aumentava agora. Seguia para todo o corpo e Severo sentiu a visão escurecer. Antes que tudo ficasse negro, ele reuniu suas últimas forças e segurou na gola da camisa de Harry. Olhou nos olhos do garoto. Queria ver os olhos de Lílian uma última vez, se lembrar uma última vez antes que virasse um nada. Quando encontrou aquele verde que amava, viu o rosto dela. E tudo escureceu. E a dor parou. Tudo o que sentiu foi paz.

— Está acordado? — ele ouviu uma voz infantil chamar.

Reconheceu como sendo a voz de Lílian, quando eram crianças. Pensou que o paraíso, afinal, existia e que, por algum misterioso motivo, ele foi levado para lá. Abriu então os olhos, ansioso para ver o rosto do qual mais sentiu falta nos últimos dezesseis anos. Mas algo estava errado. Ele fitava a Lílian mais nova, porém aqueles não eram seus olhos. Ao invés do habitual verde, ele via íris tão negras quanto as suas.

— Está acordado? — a garotinha a sua frente repetiu.

Severo esticou o braço para tocar no rosto dela. Ao sentir o calor da pele da menina, viu que ela era real. Percorreu os olhos pelo local onde estava. Não era o paraíso, era seu quarto. A realidade o atingiu como um vento forte. Fora tudo um sonho. Apenas um sonho. Soltou o ar que nem sabia que prendia, aliviado.

— Estou — respondeu, com sua voz grave.

— Mamãe disse que o café está pronto — a garotinha voltou a dizer, fitando-o com uma ruga na testa.

Snape apenas alisou o cabelo ruivo dela e assentiu. Levantou da cama e, segurando a mão da garota que tinha seus olhos, seguiu em direção à cozinha. O cheiro de panquecas o atingiu assim que chegou na porta do cômodo. A garotinha seguiu para mãe, que estava na pia lavando alguma coisa e a abraçou por trás. Severo não conseguiu não parar para observar aquela cena. A mulher virou e olhou para ele, sorrindo com seus cabelos ruivos caindo no rosto. Severo esboçou um sorriso ao ver novamente aquele olhos verdes que tanto amava. Tão vivos e tão brilhantes.

— É melhor se apressar — ela disse, vindo em sua direção. — Não vai querer chegar atrasados no seu primeiro dia como professor de Poções em Hogwarts.

— Não, não vou — foi tudo que ele conseguiu dizer quando ela deu um beijo de leve em seus lábios.

Severo sentou na mesa ainda sorrindo. Fora tudo um sonho. Ele nunca havia feito uma Marca Negra. Nunca existira um Lorde das Trevas e muito menos um garoto com uma cicatriz na testa. E o mais importante: Lílian estava viva. Toda aquela vida, havia sido apenas um sonho.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim e espero que sempre se lembrem do Alan e do professor Snape como, provavelmente, o homem mais corajoso que já conhecemos.
Até a próxima!



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