Born to die escrita por magigliotti


Capítulo 1
The end.




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Sempre considerei-me altamente dramática, chata, irritante, maluca, bipolar e até psicopata. Talvez seja porque eu mudo de cidade a cada dois anos, porque cresci vendo os piores casos e assassinatos e suicídios, porque todas as pessoas que eu me relacionei até agora foram músicos e poetas doentes.
Só que você não vai ler mais uma historia daquelas que as meninas são problemáticas, depressivas, e não tem nem um pingo de alto estima. Eu não sou problemática nem depressiva e me considero bonitinha. Mas se a solidão for ser depressiva pra você então pode me chamar assim.
Enfim, final de fevereiro, e eu to me mudando novamente. Dessa vez é pra uma cidade pequena no Canadá. Porque infelizmente os dois adultos na minha frente resolveram ter os piores trabalhos do mundo.
-Falta muito? – perguntei desencostando minha cabeça do vidro do carro.
-Mais umas duas horas querido? – minha mãe perguntou virando a cabeça para meu pai que dirigia.
-Quase isso amor.- ele respondeu.
Bufei e voltei a olhar na janela. O céu era toda cinza, como uma coberta encharcada. De todos os lugares que morei a Florida foi a melhor. O clima dava vontade de viver e eu sentia falta, até das pessoas de lá.
Fiquei algum tempo fazendo mais uma tour pela minha vida quando adormeci e só acordei quando chegamos.
Parecia uma cidade normal se não fosse pelos casarões abandonados a cada esquina. E as pessoas eram estranhas, elas andavam normalmente com aquelas carcaças de casas as rodeando. Aquilo me revirava o estomago, mas talvez a estranha seja eu.
Paramos na rua onde eu contei uns dois casarões abandonados. Altamente bizarros, mas não muito diferentes da minha nova casa. Dois andares, portão de ferro, jardim escroto e não quero nem falar das janelas. Mas eu estaria mentindo se falasse que não gostei. Meu pai e minha mãe já estavam abrindo o portão quando resolvi sair do carro. O vento frio e forte ajudou a deixar as coisas mais medonhas do que já eram.
-Acho que já sei o porque de tantos suicídios, se eu estivesse andando sozinha a noite desse lugar me matava só pra não sentir medo. – minha mãe comentou com meu pai que riu.
-Caso solucionado, já podemos voltar pra casa? - falei dando mais uma olhada na rua.
Abracei meu próprio corpo e entrei.
-Podemos florir o jardim. – disse minha mãe mais uma vez.
-E pintar a casa. – terminou meu pai.
Eles ignoraram o que eu disse completamente então decidi me manifestar novamente.
-Quando terminar de pintar já vamos ter mudado.
Meu pai virou a mim e me abraçou de lado com um dos braços.
-Parece uma velha reclamando.
Ele parecia animado. Certamente policiais investigadores gostam de lugares misteriosos.
Quando vi minha mãe já tinha aberto a casa e vasculhava lá dentro. Eles estavam cheio de trabalho por aqui por pelo menos uns dois anos.
A casa cheirava a mofo, a primeira sala era com papel de parede bege e flores, a segunda tinha uma lareira e então a cozinha logo depois a lavanderia. Pelo menos alguma coisa na casa que não lembrava o século XIX. Tinha mais uma sala debaixo das escadas onde seria o escritório. Subindo a escadaria de madeira que rangia a cada passo, quatro quartos, cinco banheiros. Um sótão bizarro que eu me recusei a entrar e um porão mofado. O espaço atrás da casa era pequeno, continha uma churrasqueira e grama.
Quando o caminhão chegou com as poucas coisas ajudei a colocarem no lugar e então me tranquei no meu novo quarto. Ele era maior do que os três últimos e tinha uma janela gigante que dava pros fundos da casa.
Dei um jeito de colocar a cama perto da janela e ficar o resto do dia olhando pro cinza.
Todo dia era sempre um começo, mas eu já não sabia se queria começar novamente.

Esse com certeza foi o final de semana mais tedioso em quatro anos. Não tem exatamente nada pra fazer na cidade então decidi ajudar minha mãe a terminar de arrumar as coisas em casa, péssima escolha. E agora é meu primeiro dia de aula. Eu já estava acostumada a ser a aluna nova mas sempre dava aquele frio na barriga, aquela vontade de sair gritando.
Minha mãe me deixou vinte minutos antes do previsto naquele lugar horrendo.
Era tudo velho, bem cuidado mas velho. Tinham grandes muros em um salmão e uns portões enferrujados lá dentro não era muito diferente. Muitas paredes pichadas e descascadas. Cara, eu realmente queria muito saber como alguém consegue estudar ou dar aulas nesse lugar.
O primeiro corredor no primeiro andar tinha apenas uma porta, a secretaria e tinha grades na porta. Andei calmamente até lá e parei da frente esperando alguém lá dentro me notar. Até que uma mulher de cabelo escuro veio até mim. Ela parecia ser legal porque tinha um sorriso no rosto.
-E a aluna nova certo?
-Exatamente – forcei um sorriso.
-Certo, aqui esta seu horário. - ela disse e então virou para trás e voltou com um papel.
Aquilo era bem confuso mas eu me virava. Sorri e então dei as costas a ela. O corredor estava vazio e parecia ter uma entrada no final dele então caminhei até lá e virei a direita. Tinham duas portas em ambos os lados e então um jardim, na verdade era um gramado e uma arvore grande no meio. Na volta tinham muretas e janelas.
Fiquei ali parada sem reação até escutar vozes passando por mim.Eram vozes femininas e elas pararam perto demais. Virei para trás e me deparei com duas garotas, ambas tinham cabelos castanhos e os olhos da mesma cor, uma era alguns centímetros mais alta que a outra que era mais magra.
-Ei – me chamou.
-Você é a aluna nova não é?
Era ruim saber que todos sabiam que eu era nova, tipo, vários alunos novos chegavam todo ano em todo o lugar mesmo naquele fim de mundo mas era março quase ninguém entra na escola em março. O que era desesperador saber que todos sabiam de mim.
-S-sou.
A mais alta riu baixo e então virou a amiga.
-Ela vai se acostumar.
-Não é uma opção. – deu de ombros.
-Desculpe mas, acostumar a que? – perguntei tentando parecer simpática.
-Você não sabe? – perguntou surpresa.
Fiz que não com a cabeça.
Fizeram sinal para começarmos a andar e então entramos no “jardim” e andamos pela parte onde tinha calçada.
-Esse lugar não é normal, acontecem coisas horríveis toda hora. – a mais alta começou a dizer.
-Que tipo de coisas?
-Pessoas brutalmente assassinadas, desaparecimentos, suicídios sem explicações. – a morena que ainda não tinha falado disse.
Meus olhos se arregalaram por algum tempo e depois voltei ao normal. Eu sabia disso, claro, meus pais me contaram eu tinha que saber o porque eu viveria nesse lugar mas eu fiquei surpresa porque elas disseram como se eu fosse algum passarinho frágil e que ficaria com medo e correria pro colo da mamãe.
-Acho que da pra viver. – sorri torto e as duas gargalharam e saíram.
Elas foram tão estranhas, e claro que, eu também era mas eu estava sozinha no meu primeiro dia de aula, é normal você ser estranho.
Fiquei um tempo parada pensando no que elas tinham dito, como assim suicídios sem explicações? Todo suicídio é assim não é? As pessoas chegam a um ponto em que nada é suficientemente bom e então elas não conseguem ficar suficientemente bem.
-Eu sei porque seus pais se mudaram pra cá. – uma voz do meu lado me fez pular de susto.
Um garoto sentado na janela, cabelos bagunçados,camisa regaçada nas mangas, calça rasgada nos joelhos, vans preto nos pés. Seus olhos eram escuros de um tom incolor que eu não consegui distinguir tipo um verde musgo e também tinha olheiras arroxeadas em tom de hematoma. Como se tivesse passado uma noite insone. Tipo adolescente rebelde.
-Da onde você saiu? – perguntei baixo.
Ele sorriu e desceu da janela, caminhou até a mureta no meu outro lado e sentou. Ele era alto, não era muito forte.
-Eu estava ali o tempo todo. – ele disse tranquilamente.
-Não tava não.
-Por que eu mentiria pra filha do chefe de investigações?- seus lábios se repuxaram num sorriso torto.
Minha boca se entre abriu e eu fique só olhando para ele pensando em como ele sabia daquilo. Mas eu tinha que falar, ele estava esperando.
-Eu realmente queria saber o porque todo mundo sabe da minha vida.- disse indignada.
Ele gargalhou como se eu tivesse feito alguma piada. Seus olhos se desviara poucas vezes dos meus enquanto eu não conseguia o encarar.
-Toda vez que os assassinatos aumentam chega gente nova na cidade. – ele fez uma pausa.
-Então tem gente nova chegando todo mês? – sorri de canto.
-Você não deixou que eu terminar de falar. – a voz dele era aveludada, baixa.
Tipo aqueles vilões de filmes de vampiros que seduzem as meninas pra depois chuparem o sangue delas.
Balancei as mãos como um sinal para que ele continuasse e assim ele fez.
-E que, nessa temporada de matança a cidade ta sendo evacuada, muita gente morrendo ninguém vindo pra cá quando chega gente nova todo mundo sabe. – ele sorriu no final
-É uma boa explicação. Mas, sobre o que tinha falado antes?
Ele desviou os olho e deixou a boca numa linha reta como se pensasse. Seus traços eram fortes e delicados ao mesmo tempo, na verdade parecia uma criança indefesa. Era como se ele tivesse passado a noite inteira chorando ou acordado. A segunda opção era mais provável, nenhum garoto como ele – lindo – passava uma noite chorando. Ele parecia ser daqueles que tem todas as garota que quer na palma de sua mão.
-Seus pais se mudaram pra cá pelo aumento de homicídios, não é?
-Hum... sim. – disse um tanto insegura.
-Relaxa não sou nenhum monstro que esta investigando sua família pra depois matar todos brutalmente.- o sorriso que surgiu em seu rosto no final da frase era como um sorriso psicótico. Não que eu conheça muitos psicopatas que ficam sorrindo para mim - É que... todo mundo aqui faz quase a mesma cosia. Menos a policia, é o único cargo que tem menos de quinze.
-Que tipo de coisas?
Ele mordeu levemente o lábio inferior antes de começar a falar e eu repeti o ato automaticamente.
-Perito disso, perito daquilo, psicólogos, investigadores e ai tem as outras profissões normais. – ele dizia com expressão de tédio, mais o modo como sua voz saia contrariava o que as pessoas viam e isso confundia.
-E seus pais fazem o que? – perguntei.
-Minha mãe e psicóloga. E eu acho que não nós apresentamos ainda.
Fiz que não com a cabeça.
-Gabriel Langdon. – ele estendeu a mão a mim e eu a segurei.
-Daphne Bellisario.
Ele deu um sorriso suave e encantador.
-Então Senhorita Bellisario, o que esta achando da caverna nebulosa?
Eu ri divertida e ele correspondeu desviando seus olhos. Aquilo dava um charme a mais a ele o que era extremamente fofo.
-Caverna nebulosa? – eu perguntei ainda rindo.
-Ou prefere chamar de caverna dos horrores? – ele deu outra opção.
-Caverna nebulosa é menos assustador. – eu pisquei.
Ele concordou e então desceu da mureta e se pós ao meu lado.
Ele tinha um cheiro bom, não do tipo que passa muito perfume. Parecia natural, como se ele tivesse acabado de tomar banho escovado os dentes e passado só desodorante. Eu realmente tinha gostado daquele cheiro.
-Mas então Senhor Langdon, porque se mudou para cá?
Ele suspirou antes de começar a falar.
-Minha mãe estava fugindo do meu pai, ai veio parar aqui. É uma historia complexa, chata, clichê.
Ele disse baixo enquanto andávamos pelo jardim.
-Entendo. – disse compreensiva.
Ficamos em silencio por um tempo apenas andando no jardim até que um grupo de garotos entra e começa a caminhar em nossa direção. O garoto do meio, o mais alto, cabelos dourados e a pele bronzeada parou a pouco centímetros de nós.
-É seu primeiro dia de aula não é? – ele perguntou apenas olhando para mim. Ignorando Gabriel completamente.
Eu olhei aos outros dois garotos do lado dele, um mais magro e moreno e o outro ruivo.
-É sim.
-E você vai ficar com esse maluco ai? – ele sorriu perversamente no final.
Ele parecia capitão do time de futebol, sempre o valentão que não tem medo de nada, aquilo me dava repulsa.
-Antes maluco do que idiota. – eu disse me referindo a ele que sentiu a direta e ficou serio.
-Olha só garota – ele começou dizendo baixo – você não o conhece e vai se arrepender de não ter trocado de lado.
Eu realmente não o conhecia, assim como eu não conhecia o brutamontes a minha frente.
-Mil vezes andar com qualquer pessoa do que andar com você.
Eu não gostava de brigas mas ele estava pedindo por uma boa discussão. O loiro me olhou indignado, ele quase bufava .
-Daphne deixa ele, vamos. – Gabriel sussurrou na minha orelha e eu tive um pequeno arrepio.
-Então ta – o loiro disse – é um caminho que não tem mais volta.- ele deu de ombros.
-Então nós encontramos no inferno.- eu disse a ele sorrindo no final e a única coisa que ele fez foi dar as costas com os dois parceiros dele e saírem do jardim.
E eu fiquei só ali olhando e esbravejando mentalmente.Por um momento esqueci que tinha alguém do meu lado e então eu virei para ver Gabriel.
-Odeio ele. – ele comentou.
-Quem não odeia? Eu só o conheço a trinta minutos e já quero que ele morra.
-O Palmer sempre foi um imbecil.
Eu concordei e fiquei esperando que ele falasse algo sobre a minha conversa com o loiro aguado mas ele não disse nada, apenas ficou em silencio como eu. Então eu aproveitei para repensar no que o Palmer disse. Eu não sabia quem era Gabriel Langdon, só sabia que ele foi o único educado naquela cidade que ficou comigo por quase uma hora. Ele não se intrometeu na minha vinda pra cá e não foi metido dizendo que eu não me acostumaria a todas as porras que acontecem nesse lugar. E por mais estranho que ele ficasse daqui pra frente eu não me importaria eu gostei dele.


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Notas finais do capítulo

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