A Filha de Poseidon - A Busca Pela Lâmina de Luto escrita por Caroline


Capítulo 1
Recebo ajuda de um membro da trindade terrorista




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Eu sempre estive sozinha. Não tenho amigos, não conheci meu pai porque o indivíduo resolveu se mandar e abandonou a minha mãe, minha mãe vive trabalhando e nunca tem tempo para mim. Eu realmente pensei que não pudesse ficar ainda pior, mas vejam só a minha vida conseguiu me surpreender.

Você sabe o que é comemorado no dia é 11 de julho? Não, você não sabe! É o meu aniversário e era para ser uma data especial e eu devia encher balões e festejar o dia inteiro, mas minha mãe todo ano faz questão de esquecer o meu aniversário. Não a culpo, pelo menos não cem por cento.

Acordei no dia do meu aniversário e fechei as cortinas do meu quarto deixando todo lugar escuro. Como era dia do meu aniversário e não tinha ninguém para comemorar esta data comigo eu preferia ficar em casa o dia inteiro comendo paçoca e assistindo filmes de terror acima da minha faixa etária, se você nunca fez isso não sabe o que é engasgar com paçoca e ter um mine colapso ao mesmo tempo toda vez que alguém é assassinado no filme.

Se você entrasse no meu quarto provavelmente saberia o que eu sou: uma garota emo. O piso laminado escuro quase preto, as paredes eram cobertas por um papel de parede preto com detalhes cinzas que parecia tecido, a cortina também era preta e nenhum raio solar conseguia ultrapassa-la, o teto era branco com pequenas luminares redondas espalhadas e tinha um lustre preto no centro, tinha uma poltrona preta e vermelha no canto esquerdo do quarto, a cama de casal era de madeira escura com um edredom preto com caveiras vermelhas, tinha diversas almofadas: uma com estampa de caveiras, outra com estampa dos prédios de Nova York e várias outras. Duas mesinhas de canto cinza e dois enormes abajures brancos. No meio do quarto ficava minha guitarra elétrica vermelha e minha bateria branca. No canto direito do quarto ficava o meu enorme espelho de chão.

Assim que acendi a luz usando um controle remoto me olhei no espelho e tive a certeza de que eu estava ainda pior do que no aniversário do ano passado, no qual passara o dia inteiro assistindo filmes de terror e comendo paçoca. Minha pele estava pálida e gélida, meu olho direito era azul como o mar numa noite sem estrelas apenas com a lua iluminando. Nossa como isso soou poético. Minhas olheiras tinham aumentado cerca de vinte vezes e eu tinha perdido alguns quilos também, mas não era considerada desnutrida. Meu corte de cabelo ainda era o mesmo de sempre, curtos bem acima dos ombros e com uma enorme franja que eu sempre deixara cair no olho esquerdo para esconder que eu tinha heterocromia e que meus olhos eram de cores diferentes. Meu olho esquerdo era verde como algumas algas marinhas totalmente sem graça e ao mesmo tempo chamativo. Eu sempre pintava meu cabelo de roxo e deixava as pontas mais escuras revelando um pouco a cor natural do meu cabelo.

—Uol! Eu estou pior que péssima! —Falei enquanto escovava os cabelos.

Peguei um jeans desbotado e uma blusa preta e joguei uma jaqueta de couro por cima e um all star preto. Desci para o primeiro andar, no fundo eu esperava que minha mãe estivesse ali me esperando para tomar café como nas raras trinta e cinco vezes em cada ano, mas ela não estava tinha deixado um bilhete em cima da mesa com um jarro de flores em cima para que o vento não o carregasse.

Ni

Tive um imprevisto no trabalho e tive que ir mais cedo, por favor não fique chateada comigo. Te busco na escola para comemorarmos o seu aniversário naquele restaurante que você ama.

Mamãe.

—Já era de se esperar! —Disse rasgando o bilhete e então fui para cozinha fazer a única coisa que eu fazia mais ou menos bem: ovos com bacon.

Assim que tomei meu café da manhã fui procurar algo para fazer até dar a hora de ir para a escola. Redes sociais eram uma porcaria já que não tinha amigos, se eu tocasse bateria ou guitarras os vizinhos idiotas iriam reclamar, só me restava ver se tinha algo de bom passando na TV em uma hora daquelas. Para variar nada de interessante somente alguns noticiários idiotas. Deixei em um canal de noticiário para ver se o tempo passava depressa. Falava sobre um grupo de adolescentes, na verdade dois garotos e uma garota, que tinham colocado uma bomba em um aeroporto. Patético isso! Qual será o futuro dos jovens de hoje? A garota era loira com os cabelos ondulados, tinha olhos cinzentos e muito ameaçador, usava short jeans, sapatos surrados e uma camisa laranja com algo escrito, mas como eu tinha dislexia não consegui ler. Um dos garotos possuía olhos verdes intensos e brilhantes, cabelos pretos e tinha uma espada nas mãos. Quanta loucura! O outro eu não consegui ver direito, mas não era preciso ser gênio para saber que eles estavam metidos em uma baita encrenca e eu não sabia o motivo e não estava nem aí para essas baboseiras. Aquilo parecia um filme de ação, eles lutavam com algo que a câmera estúpida do aeroporto não foi capaz de filmar. Não funcionou, ainda estava entediada, então deliguei a TV.

—De que adianta morar em uma casa tão grande como esta, se não tem nada interessante para fazer! —Reclamei e fui até o telefone fixo.

Minha mãe não gostava que eu usasse telefones por algum motivo. Mas tinha um telefone fixo em casa, mas ela disse que eu só poderia usar em caso de emergência e aquilo era uma emergência. Eu não ligava muito para telefones já que não tinha para quem ligar.

Ela atendeu. Eu nunca tinha escutado a voz dela tão preocupada antes, era a primeira vez. Talvez porque era a primeira vez que eu ligava pra ela.

—Filha...aconteceu alguma coisa? Você está bem? —Ela disparou assim que atendeu.

—Não está tudo bem, você devia estar em casa é meu aniversário mamãe!

—Ah...é só isso!

—“Só isso”? —Perguntei indignada. Naquele momento a raiva tomou conta de mim. Ela tratara o meu aniversário como nada. — Eu espero que você não esqueça do meu aniversário mamãe! Espero você quatro horas em frente à escola. Se você não for pode esquecer que sou sua filha! —Eu só reparei o quanto aquelas palavras foram duras quando desliguei na cara dela e deixei o telefone mudo. Naquele momento o cano da torneira explodiu e voou água para todos os lados, mas eu estava atordoada demais para me dar o luxo de concertar. Na verdade, eu não sabia como consertar então apenas liguei para o técnico.

Não me importava mais, estava cansada de ficar em segundo plano na vida da minha mãe. Não sei quem eu odiava mais o meu pai por ter nos abandonado ou a minha mãe por nunca estar presente. Subi correndo para o meu quarto, estava com muita vontade de gritar e chorar, mas não ia fazer isso; então ao invés disso peguei minha guitarra e comecei a fazer o que eu fazia de melhor. Hora do show!

Só parei de tocar quando Beth veio até meu quarto. Ela entrou sem bater, parecia irritada, provavelmente o namorado a chutara, mas isso não era da minha conta. Ela desconectou a guitarra do amplificador me obrigando a parar de tocar.

—O que você quer? —Revirei os olhos irritada.

—Não fique tocando com o amplificador no máximo, pode acabar ficando surda ou pior deixando alguém surdo. —Pelo visto ela nunca mudaria sempre se preocupava consigo mesmo, ainda não entendia porque minha mãe tinha contratado alguém como ela para cuidar da casa.

—Nem comece Elizabeth! Não preciso de alguém me dando ordens, não acha que já estou bem crescidinha! Não preciso mais de você! —Gritei e ela me fuzilou e respirou fundo.

—Garota eu já te peguei no colo quando você era um bebê e já troquei muitas fraldas suas, porque você não parava de suja-las e é assim que você me agradece? —Revirei os olhos. Então percebi que não era com Beth que eu queria gritar.

—Esqueça isso e me deixe. —Meus olhos voltaram para o chão. Ouvimos um barulho no andar de baixo.

—Você escutou isso? —Ela perguntou saindo do quarto para ver e eu a acompanhei.

—Claro eu ainda não estou surda!

Assim que chegamos na sala, o vaso de tulipas que mamãe tanto adorava estava em mil cacos no chão e não pude evitar me sentir satisfeita com aquilo. Estava tudo silencioso quando a campainha tocou.

—O que está esperando Beth?

—Hãn...o quê?

—Oras, vá atender a porta.

Ela atendeu a porta enquanto eu me preparava para jogar vídeo game, e então se virou para mim.

—Visita para você.

Não pude evitar ficar surpresa, afinal não tinha ninguém que pudesse se dar ao luxo de me visitar. Levantei correndo e fui ver quem era. Era uma garota com aparência latina, com a pele cor de avelã, cabelo encaracolado e volumoso e olhos estranhamente verdes, como musgo. Era alta e de porte atlético. Bonita e provavelmente muito popular na escola.

—Olá, meu nome e Mary e eu sou nova na vizinhança.

—O que você quer? —Perguntei sem dar muita importância.

—Eu sou um pouco difícil para fazer amigos e me disseram que seremos da mesma escola, então eu pensei que po...

—Não podemos ser amigas, até logo! —Ela colocou o pé no batente da porta, me impedindo de fechá-la.

—Você acabou de pisar na minha gentileza, idiota, isso não vai ficar assim! —Somente naquele momento comecei a enxergar as coisas como elas realmente eram, como se fosse uma transformação. Não. Uma distorção.

A garota usava uma saia rodada amarela e uma blusa preta com estampa I will kill you! Usava tênis esportivos como se estivesse acabado de fazer uma caminhada. Uma de suas pernas se transformou em pata de burro e a outra em metal. Porque é a coisa mais normal do mundo! Nem me assustei pouco. Sua pele agora estava pálida, semelhante à de um defunto. Suas presas estavam um pouco maiores do que o normal. Seu cabelo estava flamejante.

—Beth, mamãe mentiu para mim! —Gritei para ela.

—Hãn. O que disse? —Perguntou ela da cozinha.

—Ela disse que mulas sem cabeça não existiam!

—Já me confundiram com vampiros garota, mas mula sem cabeça é um pouquinho demais, você não acha? —Ela falava gesticulando e parecia muito irritada.

Eu realmente estava pirando ou algo do tipo. Aquela garota...quer dizer não tinha como ela ser aquilo. Eu só podia estar sonhando, não, tendo um pesadelo.

—O que você quer de mim? —Perguntei me afastando da porta e pegando um jarro de flores e com certeza não era para dar de presente de boas-vindas.

—Não é óbvio? —Ela lambeu os lábios de um jeito sinistro.

—Beth! —Gritei assustada.

—Acho melhor deixar a mortal fora disso a não ser que queira que eu a mate primeiro! —Ela respondeu sorrindo friamente.

—O que você quer? —Ouvi os passos de Beth se aproximando da sala e um calafrio me percorreu a espinha.

—Beth fique na cozinha é uma ordem! —Gritei.

—Como?

—Não saia da cozinha. —Ela não me obedeceu. Sua expressão ainda era a mesma. Ela não se assustou nem um pouco com aquilo. Eu tenho que confessar que fiquei um pouco admirada já que estava prestes a molhas as calças de tanto medo e ela agiu como se a garota não fosse um monstro.

—Ah...que bom que vocês estão se dando bem, sabe, Nice é péssima para fazer novas amizades.

Aproveitei aquela oportunidade para fugir. Sai correndo e passei pela porta que ainda estava aberta. Na melhor das hipóteses Mary me seguiria para me matar e na pior delas mataria Beth. Pode parecer estranho e esquisito, mas torci para que ela ignorasse Beth e viesse atrás de mim.

San Diego estava mais movimentada do que deveria por causa de alguns eventos de verão que estavam sendo organizados, então não posso simplesmente dizer que foi fácil passar por todas aquelas pessoas. Minhas pernas começaram a doer quando já tinha passado dois quarteirões, fui obrigada a parar para descansar. O suor escorria em meu rosto.

—Que tal uma flor para dar a alguém especial? —Disse uma velha senhora que estava vendendo flores em uma cesta.

Ela tinha um sorriso meigo nos lábios e não consegui recusar. Peguei quatro dólares e entreguei, mas quando ia pegar a rosa azul, minha preferida para constar, vi que Mary estava quase me alcançando.

—Moça o seu troco e a sua flor! —Ela gritou para mim quando voltei a correr.

—Pode ficar com o troco e com a rosa de presente! —Gritei de volta e senti que ela tinha sorrido.

Na próxima rua era o aeroporto de San Diego, lembrei do noticiário que falava da trindade terrorista que tinha colocado uma bomba em algum lugar lá dentro, portanto evitei passar pelo aeroporto com receio de ser explodida. Entrei em uma rua que eu não conhecia e acabei trombando em alguém. Era um garoto esquisito. Seus cabelos eram escuros e estavam bagunçados. Seus olhos eram pretos e estranhamente solitário, senti uma sensação de morte e percebi que Mary não era tão assustadora quanto parecia. Olhar para ele fez um arrepio percorrer minha espinha. Ele usava uma calça jeans escura, uma blusa preta com estampa de caveiras e jaqueta de aviador marrom. Ele segurava um binóculo preto na mão direita, não, não era um binóculo. A imagem se distorceu como aconteceu com a aparência de Mary e o binóculo virou uma espada preta. Mas que droga está acontecendo! Estou em um filme de terror por acaso?

Agora eu tinha entendido ele era o garoto que não consegui ver direito no noticiário, o terceiro terrorista. Mary pareceu hesitar em atacar e eu aproveitei para me levantar.

—Você está causando problemas de novo? —Ele perguntou sério. Ao que tudo indicava não era a primeira vez que ambos se encontravam.

—Ei vocês se conhecem? —Resolvi perguntar. Não sei de quem eu sentia mais medo, da garota Mary ou do garoto morte.

—Seu nome é Nice Parker? —Eu odiava quando as pessoas não me respondiam e ainda faziam uma pergunta ignorando a minha.

—Sim. Quem é você? —Perguntei pensando em voltar a correr.

—Nico di Angelo. Fique perto de mim.

Se fosse em um outro lugar ou em outras circunstâncias eu riria e debocharia da cara dele dizendo: Poupe-me garoto não preciso de sua ajuda, sei me proteger sozinha! Mas se dissesse isso naquele momento seria uma baita mentira, porque naquele momento meu corpo inteiro estava travado eu nem lembrei de respirar.

Como eu nunca escutava ninguém, me preparei para correr no momento certo. Uma neblina começou a se formar ao nosso redor e um frio sinistro fez minha voz sumir. Olhando ao redor tinha alguns latões de lixo, tinha uma casa amarela com escada de incêndio e era ali que a rua terminava. Alguns mendigos estavam deitados e cobertos por jornais, o cheiro naquela rua era um dos piores: tipo animais mortos em decomposição e meias sujas. Procurei algo para me defender daquela mostrenga. Recuperei os movimentos do meu corpo assim que outras duas mostrengas apareceram ao lado de Mary.

—Você não me interessa filho de Hades, eu matarei essa garota arrogante agora mesmo! —Disse Mary.


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