King's Cross escrita por Amauri Filho


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Infelizmente, o motivo de postar essa fic é muito triste: a morte do nosso amado Alan Rickman, o maraviilhoso ator que deu vida a um dos personagens mais emblemáticos do universo de Harry Potter. Que essa fic seja um singelo tributo ao ator e que, possa, de alguma forma, se útil aos sentimentos de uma legião de fãs que, hoje, devem estar se sentindo órfãos.
Espero que gostem ;)



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Claridade. Uma claridade tão grande que o impedia de ver qualquer coisa a mais de um centímetro além de seus olhos. Uma claridade ofuscante mas que, ao contrário do que se poderia esperar, não era de forma alguma incômoda às suas retinas. Muito pelo contrário: apenas lhe trazia paz e tranquilidade, dois sentimentos tão mundanos e pouco apreciados pelos homens mas que, só naquele momento, na hora da morte, ele conseguira encontrar.

Foi só ao chegar a essa conclusão que ele percebeu que estava morto. Inicialmente, toda a serenidade que invadia seu corpo foi substituída por um misto de ansiedade e desespero ao mesmo tempo em que imagens horríveis passavam em frente aos seus olhos, como se estivessem acontecendo bem alí, na sua frente. Ele podia ver as escamas lisas e brilhantes da cobra ao seu redor enquanto sentia a pressão da gigantesca boca do animal perfurando o seu pescoço e deixando o sangue fluir para fora de seu corpo.

Tentando fugir do que via, ele se levantou. Mas não havia nada alí. Nada além dele e daquela imensidão branca e interminável. Da mesma forma repentina que surgira, o desespero desapareceu, dando lugar à paz que ele sentira quando abriu os olhos. Alí, havia apenas a calma. Apenas a serenidade. Apenas aquele silêncio tão profundo e penetrante que chegava a ser assustador. Um silêncio que congelava a espinha e o deixava em constante estado de alerta, sentindo-se como uma presa que, vigiada pelo predador, de nada desconfiava. Com medo, ele olhou ao seu redor, esperando detectar qualquer sinal que lhe indicasse que não estava alí sozinho.

Imediatamente, um som chegou aos seus ouvidos. O primeiro som que ouvia que não fora ele mesmo quem produzira. Estava distante mas, com um pouco de atenção, ele logo percebeu que se tratava do apito de um trem. E, após alguns segundos, o apito pareceu ficar ainda mais alto, indicando que se aproximava dele. Ao olhar pela segunda vez ao seu redor (dessa vez, com um pouco mais de atenção), Severus Snape reconheceu as pilastras de pedra, os arcos de metal e o teto de vidro: estava na estação de King’s Cross. E, apenas nesse momento, a consciência de que estava nu pareceu lhe incomodar.

Quando o apito do trem, muito mais perto dele, tocou novamente, roupas se materializaram ao seu lado. Longas vestes iguais as que usava em vida, exceto pela coloração branca que em nada destoava de toda a estranha e espectral luminosidade da estação. Temendo que o trem chegasse logo, ele se vestiu o mais rápidamente que pôde, mas o apito não apreceu se aproximar durante todo o tempo que precisou para fazer isso.

Era estranho... Era como se nenhuma forma de sentimento negativo fosse permitida naquele lugar. Era como se, naquele lugar, esse tipo de sentimento fosse artificial e proibido, sendo desfeito quase imediatamente a partir do momento em que se originavam. Como se, naquele lugar, apenas sentimentos positivos fossem permitidos e tudo conspirasse para que ele existissem o fossem duradouros. Toda vez que algo lhe incomodava, esse incômodo era passageiro: ao se lembrar de Nagini, as imagens logo sumiram de sua mente; ao se sentir sozinho em meio a todo aquele silêncio, ele ouviu o apito do trem; ao se sentir envergonhado por estar nu, as roupas apareceram à sua frente.

Um lugar tão diferente de onde viera. Vivo, ele era obrigado a viver à margem de seus sentimentos, oprimido pelo medo e pela dor e aceitando essa situação como se fosse normal. A angústia se tornara não só uma companheira, mas a sua única e verdadeira amiga. A angústia por esperar a pessoa que ele sabia que jamais retornaria para ele. A ngústia por esperar a pessoa que morrera junto com todos os seus sonhos e alegrias. A pessoa cuja morte fora a causa de sua perdição e de sua maldição.

Ao mentalizar o rosto de Lily Potter, a dor voltou a tomar o seu peito. A dor de tê-la perdido. A dor de ter sido um responsável indireto pela sua morte. A dor de não ter conseguido salvá-la E, dessa vez, nem mesmo aquele limbo no qual se encontrava conseguia reverter ou desfazer o que sentia, porque era uma dor que o acompanhou durante sua vida e que ele sabia que se perpertuaria na morte, permanecendo ao seu lado por toda a sua medíocre e miserável existência. Uma dor cujas raízes estavam fincadas na culpa de ter sobrevivido por tantos anos enquanto ela apodrecia em um cemitério em Godric’s Hallow. E essa culpa surgia da certeza de que ele jamais mereceria o perdão dela. Suas atitudes foram repreensíveis e abomináveis e ele sabia que deveria sofrer pela eternidade para pagar pelos seus incontáveis erros.

Nesse momento, quando a primeira lágrima escorreu pelo seu rosto e ele caiu de joelhos sobre o piso da estação, o trem parou ao seu lado. Como tudo naquele lugar, a lata que recobria a locomotiva era branca, mas havia um brilho intenso. Como se fosse novo. Como se estivesse esperando justamente por ele. Mas não foi isso que chamou a sua atenção. A prta aberta do trem lhe informava que deveria entrar. Não poderia ficar na estação para sempre. Entrar era a única forma de seguir frente, seja lá o que isso pudesse significar. Talvez, seguir para a punição que não só sabia que merecia receber, mas que desejava receber. Talvez, a dor física e o calor do inferno pudessem ser um conforto para a dor que a sua alma dilacerada há tanto sentia.

Disposto a encarar de frente o seu penoso destino, Severus se levantou. Já que não havia escolha e seguir em frente era a única opção, abraçaria seu futuro com a bravura e o orgulho que tinha. Pagaria pelos seus erros nem que isso significassem permanecer em tormenta pela eternidade. Ele merecia aquilo. Sabia que merecia. Mas não foi isso que encontrou quando adentrou o vagão.

Usando vestes do mesmo branco que o dele, ela estava a apenas alguns passos. Suas sardas se destacavam em seu rosto pálido e seus cabelos ruivos e ondulados deslizavam graciosamente pelos seus ombros. E ela sorria para ele. Um sorriso que ele não via há muitos anos e que não esperava jamais rever. Um sorriso que fora o maior presente que a morte poderia ter lhe dado. Um sorriso que cumprira com a função daquela estação: mais uma vez, ele era presenteado com algo que pudesse lhe acalmar e lhe devolver a paz.

–Voldemort está morto, Sev – disse Lily Potter. – E a culpa é sua. Sem você, Harry jamais teria chegado tão longe. Não se culpe pelos seus erros. Eles já não podem te ensinar mais nada. Orgulhe-se pelos seus acertos e tenha ciência de que as suas virtudes superam em muito os seus defeitos e redimem os seus pecados. Você é o homem mais honrado e corajoso que já conheci, e merece todo o perdão que precisar para se sentir em paz.

Severus Snape jamais pensara que ouviria aquela voz de novo e nunca cogitara ouvir aquilo. Talvez, fosse apenas a estação de King’s Cross dando-lhe paz e serenidade; mas ele soube que era real quando se aproximou e tocou a sua face. Podia sentir o calor de sua pele. Era real e Lily o perdoava pelas suas falhas.

–Bem vindo, Sev, ao lugar onde as tristezas são passageiras e as alegrias são eternas – ela tornou a dizer. – Estava esperando por você.


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Notas finais do capítulo

E ai?
Gostaram?
Deixem seus reviews, amores e amoras!
Até a próxima ;)



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