— Eu não aguento mais! – Gritei me jogando no chão. Acho que era a décima terceira vez que eu fazia isso. Provavelmente o professor está uma fera comigo, mas eu não me importo. Meus calcanhares doem, minhas pernas estão duras, sinto meu ombro deslocado, e meus pés parecem prestes a explodir. – Mais cinco minutos, por favor! – Implorei com cara de cachorrinho pidão.

— Tudo bem! Cinco minutos! Eu já volto, vou ter que chamar reforços. – Falou o professor. O que é isso? Reforços para que? Vamos entrar em guerra?

Daisy desabou no chão, ao meu lado. Camellia e Jasmine pareciam bem, elas encostaram-se a uma parede e começaram a conversar enquanto bebiam água. Já Rose apenas se sentou no chão e começou a mexer no celular. Eu estava toda suada, com alguns fios de cabelo se desprendendo do coque que havia feito. Resumindo, me sentia uma porca. Estava tão cansada, que quase cochilo ali mesmo, deitada no chão duro e frio, se não fosse pelo professor, Kwang, que abriu a porta com força, gritando:

— Vamos voltar a ensaiar! – Camellia, Jasmine e Rose se colocaram em suas posições. – Levantem suas lesmas mortas! – Essa frase foi dirigida à mim e Daisy. Ela o obedeceu, mas eu estava com preguiça até mesmo de abrir os olhos. A sala parecia mais barulhenta, havia muitas vozes por ali.

— Deus, já pode me levar daqui. – Falei, ainda estirada no mesmo lugar. Dez segundos depois, alguém me puxa pelos pés e começa a me arrastar para o desconhecido. – Deus, é você? Veio mesmo me resgatar desse inferno? – Perguntei atordoada, e o que escutei como resposta foi uma risada masculina. Uma não, duas. Deixei a preguiça de lado e abri os olhos, curiosa para saber quem ria da minha desgraça e, devo confessar que me surpreendi com quem vi ali. Hoseok segurava um de meus calcanhares, enquanto V tinha suas mãos em outro.

— Ya! Quando o Kwang falou que você era preguiçosa, não imaginei que fosse tanto assim! – Hope falou, enquanto continuava a me arrastar.

 Os dois logo me largaram, exigindo que eu ficasse de pé. Bufei frustrada e me levantei cambaleando.  Tropeço na bolsa de Rose e quase caio de cara no chão, minha sorte é que existe algo chamado parede, que me impediu disso, mas em troca me proporcionou uma dor gigante no nariz, já que bati o mesmo nela.

— Ai! – Exclamei com a voz nasalada, enquanto pressionava o polegar e o indicador no local, tampando minha respiração.

— Você está bem? – JungKook perguntou se aproximando, e só então notei sua presença ali. Olhei ao redor, mas além dos três meninos, as únicas pessoas ali eram minhas amigas e Kwang. Ufa, menos mal.

— Nem liga, ela é muito desastrada. Nós já até nos acostumamos. – Jasmine falou e eu lhe mostrei a língua.

— Acho que toda vez que te vejo, você está em uma situação estranha. – JungKook comenta, dando risada.

— E provavelmente será assim para sempre. – Dessa vez quem fala é Camellia.

— O que é isso? É um complô contra a minha pessoa? – Pergunto indignada. – Vamos voltar à ensaiar logo! – Falo indo para a minha posição.

O professor que antes estava quieto, e assistia à cena com um sorriso no rosto, desatou a falar:

— Bom, acho que não será necessário uma apresentação, visto que todos aqui parecem se conhecer.

— Na verdade, nós os conhecemos, mas eles não nos conhecem. – Daisy falou, abaixando a cabeça, já que estava corada.

— Você não é a menina da salada? – V perguntou, olhando para ela com um semblante confuso.

— Ei! Eu tenho um nome sabia? – Ela protestou irritada.

— E qual seria? – Questionou ele.

— Não sei se você merece saber! – Daisy falou cruzando os braços sobre o peito e virando o rosto para o lado.

— Espera aí! – Rose exclamou. – Você é a menina esfomeada? – Perguntou à ela, já caindo na gargalhada.

— Ya! Não é bem assim! – Daisy tentou se defender, mas logo a ruiva voltou a falar.

— E eu suponho que você é a que estava apanhando, certo? – Dessa vez se referiu à mim. Fiquei quieta, eu não tinha o que falar. – Por isso vocês duas sumiram naquele dia! Mistério resolvido!

— Ok, ok! Agora deixem de conversa e vamos voltar à dança! – O professor nos cortou.

Depois de alguns protestos e resmungos, a maioria vinda de minha parte, nós fizemos o que nos foi ordenado, e Kwang ficou em nossa frente, junto com os meninos.

— Eu os trouxe aqui para me ajudar, já que algumas pessoas são difíceis de lidar. – Falou me dirigindo um olhar severo. Eu o olhei da forma mais fofa que pude e fiz um coração com as mãos, que o fez revirar os olhos. – Enfim, garotos, essas são Camellia, Daisy, Rose, Jasmine e Violet, em ordem da direita para a esquerda. Façam o que for preciso para mantê-las dançando. Vocês também podem corrigir erros, se acharem necessário. – Eles assentiram. – Ah, e fiquem de olho naquelas duas! – Ele apontou para mim e Daisy. Ótimo! Virei o centro das atenções, para variar.

Kwang então caminhou até o rádio e deu o “play” na música que, só para a informação de vocês, era the light do grupo The Ark. Mal começamos a dançar e já pude ouvir Hope falando para pararmos. Kwang pausou a música. 

— Violet, você precisa levantar mais a perna! – Bufei, pelo visto a tarde ia ser longa!

~//~

— Arrg! – Um som gutural saiu do fundo da minha garganta. – Já está tudo perfeito, por que precisamos ensaiar mais? – Questionei.

— Correção: as meninas estão fazendo tudo perfeito, você ainda dá uns passos esquisitos. – TaeHyung falou e eu choraminguei.

— Me falaram que seria apenas um teste para testar habilidades... Por que estamos ensaiando tanto? – Daisy me apoiou. Finalmente alguém que concorda comigo!

— Acho que elas têm razão. – O professor ponderou por algum tempo, antes de continuar a falar. – Vocês podem ir descansar, amanhã, pelo pouco que sei, vocês irão testar suas habilidades vocais, e se arrumem bem, também serão escolhidas as visuais.

— Ne! – Falamos em uníssono e começamos a juntar nossas coisas.

Todos começaram a se despedir uns dos outros, e sair pela mesma porta, mas eu estava tão cansada, que simplesmente me arrastava para lá e para cá, procurando meu celular e minha garrafa d’água.  Olhei o horário na tela de bloqueio do telefone e arfei surpresa. Nove da noite? Quando foi que passamos tanto tempo aqui dentro? Estava quase saindo pela porta, quando ouço alguém me chamando.

— Puxa, te esperei todo esse tempo e você nem ia fazer o mesmo por mim? – JungKook perguntou, saindo das sombras, e eu confesso que levei um susto.

— Desculpa, não tinha te visto. – Falei com um sorriso tímido no rosto, ele parou em minha frente.

— Me dá seu celular. – Pediu ele, e eu não consegui digerir o que tinha escutado. Ele iria me roubar? Na caruda? Meu ídolo é um ladrão?

— N-ne? – Olhei confusa para ele.

— Seu celular. – Ele respondeu calmo, e sem muito que fazer, entreguei à ele. O mesmo tirou seu próprio telefone móvel do bolso, e começou à digitar rapidamente e de uma vez só nos dois objetos em sua mão. – Pronto, salvei meu número no seu celular, se tiver alguma dificuldade com a coreografia, é só chamar! – Explicou, e eu apenas assenti. – Só não vá divulgar por aí ne? – Ele falou rindo.

— Pode deixar! – Falei o acompanhando em uma risada nervosa. O que? Você está insinuando que eu queria mostrar para as invejosas que eu tenho o número de Jeon JeongGuk e elas não? Humpf! Balela!

— Boa noite roxinha! – Ele me lançou mais um de seus sorrisos encantadores e saiu.

— Y-ya! – Protestei quando me dei conta do que ele havia falado, mas já era tarde demais, eu estava sozinha na sala de ensaio.

Quando já estava deitada em minha cama, no dormitório, me peguei com uma dúvida rondando minha mente: Eu deveria mandar uma mensagem?