Acordei no outro dia da forma mais delicada que alguém conseguiria acordar: recebendo uma sapatada no meio da cara. Sentei-me na cama confusa, querendo saber de onde surgiu o calçado voador. Olhei ao redor. Jasmine parecia tão confusa quanto eu, porém já se encontrava de pé, ao lado de um beliche, quase dormindo novamente encostada no mesmo. Daisy tirava selfies ainda deitada, logo virou a câmera para mim, e lá vou eu sendo cegada pelo flash novamente. Já Rose e Camellia se encontravam em uma pequena discussão, onde uma acusava a outra de ter usado seu perfume, e blá blá blá.  Vi Camellia segurando um sapato pelos cadarços, e logo percebi que fora ela que me acertou, enquanto gesticulava irritada com Rose. Bufei e me levantei logo em seguida.

— Que horas são? – Perguntei, mas não obtive resposta. – Vou tomar banho primeiro ok? – Perguntei, e novamente, ninguém prestou atenção. – Então tá! – Dei de ombros e caminhei em direção à minha mala, ainda intacta. A abri e peguei uma roupa qualquer. Andei em direção ao banheiro, e como ninguém me impediu, tomei uma ducha rápida. Troquei-me e prendi meus capelos em um rabo de cavalo. Gostei do resultado. – Tá uma diva, amiga! – Falei para mim mesma em frente ao espelho, e logo dei risada da minha própria loucura.

Quando saí do banheiro, todas já estavam prontas. Acho que só iriam tomar banho à noite. Tsc Tsc! Essas porcas! Porém tenho que admitir que estavam bonitas. Mas gente, para quê se arrumar tanto logo pela manhã? (Link nas notas finais).

— Me sinto uma mendiga perto de vocês. – Resmunguei me referindo à minhas roupas, e ninguém se importou muito. – Por que se arrumaram tanto?

— Vai que encontramos algum menino bonito por aí? – Rose falou. Típico. Sempre são os meninos.

— Falando em meninos bonitos, venham ver isso daqui! – Camellia mandou, deixando à todas curiosas. Ela olhava alguma notícia em seu celular. Pulamos todas em cima da cama onde a mesma se encontrava, que no caso era a minha.

— Se vocês quebrarem a minha cama, vocês vão ver! – Ameacei.

— Tá, tá, tanto faz! – Falou Camellia. – Só escutem. Parece que uma menina entrou no refeitório batendo em outra, e logo em seguida caiu de cara na mesa dos boys magia, BTS. – Camellia falou, e eu reprimi uma risada. Aquilo já estava na internet? Já vi que a fofoca corre solta por aqui. – Ah, não tem nenhuma foto. – Lamentou. – Mas, falaram que ela acabou com a comida deles.

— Credo, que esfomeada! – Rose comentou.

— Hey, não foi assim qu... – Daisy começou a se defender, já que a coitada não engoliu a comida do jeito que todos falavam. As meninas olharam para ela, Rose com uma sobrancelha erguida.

— Ela quis dizer que, nós estávamos passando pelo local e vimos a cena. Parece que a menina caiu na mesa e levantou com salada na boca. – Disfarcei. Daisy com certeza me devia uma. Ela apenas concordou com a cabeça e a meninas pareceram achar a resposta convincente.

Depois de mais um tempo enrolando, resolvemos tomar o café da manhã. Nesse instante era exatamente nove horas da manhã. Nosso manager queria falar conosco às dez e meia. Ainda teríamos um tempinho para conversar. Pegamos o elevador e fomos até o segundo piso, onde estava o refeitório. Quando passei pelas portas de vidro, lembrei-me de Daisy puxando meu cabelo, e instintivamente, levei as mãos à cabeça

— Violet, tá tudo bem? – Perguntou Jasmine. Tirei rapidamente as mãos de lá, fingindo um bocejo. Ela deu de ombros e foi andar ao lado de Rose.

Comecei a “fiscalizar” o local, em busca de alguma pessoa que pudesse ter me visto ontem. Avistei Jimin, Suga, J-Hope e JungKook sentados em uma  mesa, não muito distante de mim. Ai tia Cleide! E agora? Olhei desesperadamente para todos os lados, e encontrei minha solução em uma pessoa: Camellia. A mesma andava distraída, e sozinha. Coloquei minha mão em seus ombros, e me encolhi atrás dela. Ela se assustou com o toque repentino, mas ficou quieta assim que viu que era eu quem estava lá.

— Shhh. – Coloquei o indicador entre os lábios, falando para ela ficar quieta.

— De que estamos fugindo? – Se inclinou um pouco para trás, sussurrando em meu ouvido, enquanto tentava agir naturalmente.

— Depois eu te explico. – Sussurrei de volta e chegamos à bancada onde o café era servido. Peguei duas bandejas e entreguei uma a ela. – Cobre o rosto com isso. – Indiquei, enquanto fazia o mesmo.

— Por que eu tenho que me esconder também? – Perguntou, indignada.

— Acredite, neste momento você não iria querer ser vista comigo. – Acho que eu optei pela opção mais complexa, já que ao invés de simplesmente me esconder, a arrastei junto comigo.

Ela deu de ombros e fez o que eu mandei. E logo, estávamos como duas baratas tontas, andando cegamente pelo refeitório, tentando achar a saída. Agora que paro para pensar, devo ter chamado muito mais atenção desse jeito, do que se eu simplesmente tivesse caminhado como uma pessoa normal. Com metade da visão tampada pela bandeja, grudei em Camellia e perguntei se ela sabia para onde estávamos indo.

— Não faço a menor ideia. – Ela falou, enquanto pedia desculpas à um senhor, no qual acabara de esbarrar. O problema, é que ela me soltou para reverenciá-lo, e agora eu não consigo achá-la.

— Psiu! Camellia! – Sussurro para o vento. – Camellia, cadê você? – Perguntei baixo novamente. – Camellia, isso não tem graça. – Falei um pouco mais alto.

— Cadê aquela criança? – Ouvi a voz da mesma.

— Camellia, estou aqui! – Falei para que ela ouvisse. Para nossa sorte, o refeitório possui muita gente, então ninguém nem sequer nota duas malucas andando com uma bandeja na cara.

— Aqui aonde, criatura? – Escutei sua voz vinda da direita.

— Espera ai! Eu vou até você, estou à sua esquerda. – Falei e logo em seguida, fui caminhando em sua direção.

— À minha esquerda? Espera um pouco! – Falou.

— Camellia, o que você vai faz...? – Antes que eu pudesse completar minha frase, bato de frente com algo, e caio de uma vez no chão. Acontece que esse algo, era Camellia.

 A mesma veio andando em minha direção ao mesmo tempo em que fui até ela. O problema maior não estava em cair. O problema maior foi que, além de fazermos muito barulho, eu cai e, de algum jeito que só Deus poderia explicar, entalei minha cabeça em uma lata de lixo. A minha sorte é que a mesma se encontrava vazia, tirando alguns farelos de bolo e uma casca de banana.

— Camellia, você está ai? – Perguntei, mas não ouvi nada. Levantei cambaleando e comecei a procurar minha amiga. – Camellia, me ajude! – Falei tentando tirar aquela porcaria da cabeça. Não iria aguentar muito tempo. Comecei a entrar em desespero. Eu odeio lugares nos quais não posso respirar sabe? Isso se chama claustrofobia, ou amor à vida, como preferir.

Fui andando e chamando minha amiga como podia, até pisar em algo mole, e ouvir alguém gemendo de dor. Presumi que era ela.

— Camellia? – Perguntei.

— Que é? – Perguntou irritada.

— Camellia, me ajuda! Eu estou ficando com falta de ar. - Falei, tentando inutilmente tirar aquele troço da cabeça. Espera um pouco, cadê todo o barulho do refeitório? Ai não! De novo não! – C-Camellia, por que ninguém está conversando? – Perguntei.

— Booooom... – Ela falou com uma voz extremamente fina. Droga! Estão olhando para nós. Mas, eu não tinha tempo de pensar nisso. Minha falta de ar estava piorando

— Gente... Será que alguém poderia me ajudar? Sabe, eu estou com um pouquinho de falta de ar. – Falei, mas ninguém fez nada. – Para assistir vocês prestam né? Ajudar que é bom... Vocês vão ver! Eu vou me lembrar disso! – A falta de ar só aumentou. – Eu vou... Eu vou... – Tentei falar algo coerente, mas quando me dei conta, tudo ficou preto, e meu corpo desabou por cima da própria Camellia. A última coisa que escutei foram seus xingamentos de dor.