— Eu não acredito que você caiu na deles! – A menina de cabelos roxos exclamou irritadiça para JungKook, que também não estava contente com a situação.

— Como eu poderia saber que iriam me empurrar do nada para dentro de um armário e me trancar aqui? Como eu ia adivinhar que você também estava trancada aqui? Aliás, por que nos trancaram aqui? – O garoto perguntava cada vez mais confuso.

— Não é evidente? Eles armaram isso! Aposto que foi aquela traidora chamada Camellia! – Violet culpava a amiga, enquanto tentava se esquecer do desconforto que é para alguém claustrofóbico estar em um cubículo escuro como aquele em que lhe haviam submetido a ficar.  

— Por que armariam isso? E por que a culpa é de Camellia? – JungKook questionou intrigado.

— A primeira pergunta é muito óbvia. Eles queriam que nós fizéssemos as pazes. – Falou emburrada, enquanto soprava uma mecha de cabelo que caíra em seus olhos. – Já a segunda pergunta... É uma longa história.– Violet resmungou, se se encostando a uma das paredes, e deslizando pela mesma, enquanto se sentava desajeitadamente, procurando um modo melhor para se ajeitar dentro do pequeno espaço.

Sua falta de ar aumentava a cada segundo, mas ela fingia estar bem para não preocupar o garoto que lhe fazia companhia. O mesmo se sentou ao seu lado, também com certa dificuldade em achar uma posição confortável.

— Olha, eu não vou pedir desculpas para você. – JungKook proferira as palavras com frieza, mas seu coração doía enquanto cada uma delas saía de sua boca. – Mas, pelo que me parece... – Ele fez uma pausa, olhando para ela, e involuntariamente, encarando também seus grandes olhos quase negros, que pareciam ainda maiores mais de perto. – Temos bastante tempo, então pode me contar tudo.  

Ela engoliu em seco, e mesmo com o coração dando fortes marteladas em seu peito pela proximidade dos dois, se forçou a encará-lo e contar o que havia acontecido.

**** ****

Na noite anterior

Camellia rolava na cama, enquanto tentava de alguma forma aliviar a dor que estava sentindo. Ela aos poucos estava morrendo, morrendo por algo chamado cólica. Já havia tomado dois remédios para amenizar seu sofrimento, porém de nada adiantara.

De certo modo, a cólica a ajudara, pois se não fosse por ela, Camellia nunca teria visto o momento exato em que Violet saiu do quarto. Apesar de toda a angústia que a cólica lhe proporcionava, a menina decidiu seguir sua amiga, pois sua intuição lhe dizia que algo ruim iria acontecer. 

Ela calçou rapidamente suas pantufas, e silenciosamente traçou seu caminho, sempre se escondendo atrás de algum objeto, para evitar ser descoberta.  Viu a outra entrando na dispensa da cozinha, pegando uma maçã e voltando a caminhar enquanto mordia a mesma. Camellia seguiu-a até o momento em que chegaram no estacionamento, e praticamente assistiu de camarote a briga entre JungKook e Violet.  

Mas, para ela, algo não se encaixava. Algo ali não fazia sentido. Aquela briga não fazia sentido. E o principal: as atitudes de JungKook não faziam sentido. Ela há de concordar que ele é um pouco reservado, mas nunca o vira agir de tal maneira com alguém. 

Quando Camellia viu Violet saindo do estacionamento, pôde ver também, de onde estava escondida, as lágrimas que brotaram nos olhos da mesma.  A garota então decidiu voltar para o quarto, e esperar que Violet se acalmasse, para enfim ajudá-la. Camellia podia parecer dura e intolerante para com as brincadeiras da mais nova, mas, na verdade, sempre a achara uma ótima amiga. A esta altura do campeonato, havia até esquecido de sua cólica, que aos poucos voltava, e com uma força descomunal.

Violet finalmente voltou para o quarto, e foi quando viu Camellia sentada na cama, muito parecida com um zumbi, que levou um susto. 

— C-Camellia, o que você est... – A garota não conseguiu completar a frase.

— Eu vi tudo. – Explicou de modo calmo.

— Ah. – Foi a única coisa que Violet conseguiu dizer.

— Olha, eu sei que você está chateada, mas...  – Dessa vez, quem foi interrompida foi ela.

— Não estou chateada! – Violet falou de forma rápida.

— Está sim! Você está na defensiva! – Camellia elevou um pouco o tom de voz, mas não o suficiente para acordar suas outras colegas de quarto.

— Não estou não! – A de cabelos roxos praticamente gritou, enquanto derramava mais algumas lágrimas, se sentindo inútil por chorar desse jeito quando queria ser forte.

A garota não entendia o porquê de chorar tanto por uma simples discussão. Afinal, desde pequena, sempre soube se defender muito bem, e nunca se deixou abalar pelo que os outros pensavam, por que agora tudo parecia diferente?

Somente quando Camellia a abraçou que a mesma percebeu que estava alagando o quarto com suas lágrimas. Ela já não chorava mais por conta da discussão, e sim por não saber distinguir o que estava sentindo. Violet, sendo tão nova, nunca passou por experiências como essa.

— Vai ficar tudo bem. – Camellia sussurrou no ouvido da outra. Não era de seu feitio fazer isso, mas digamos que a situação era especial. Camellia havia percebido antes da própria Violet, que a mais nova estava começando a sentir algo mais forte pelo maknae do BTS.

Violet, orgulhosa demais para admitir que estava chorando por um garoto, apenas disse:

— É a TPM.

O comentário fez com que a mais velha desse risada. Porém, com o comentário da amiga, se lembrou de que ainda possuía algo chamado cólica, e que a mesma só piorara. A mesma colocou a mão na boca do estômago, e apertou o local, numa vã tentativa de aplacar o tormento.

— Amanhã nós conversamos. – Conseguiu soltar a frase entre gemidos e grunhidos. – Não consigo te ajudar desse jeito.

— Obrigada Camellia, você já me ajudou bastante! – Violet deu um beijo estalado em sua bochecha, logo em seguida, enxugando suas lágrimas e se jogando de volta em sua cama, onde permaneceu pensativa pelo resto da noite.

**** ****

Violet contou a JungKook sobre a conversa entre ela e a mais velha, omitindo, é claro, as partes em que chorava feito um bebê de colo, enquanto abraçava a outra. Ele, por sua vez, ouviu à tudo atentamente. O garoto percebeu que o desconforto que Violet sentia por estar presa ali era cada vez maior, e se perguntava se era por conta de sua presença.

Do lado de fora do pequeno quartinho, Camellia e Suga comemoravam por seu plano ter dado certo. Foi tudo arquitetado de última hora, e é claro, se aproveitaram também das circunstâncias. Eles tentavam ouvir a conversa, ambos com os rostos colados na porta, porém nada escutavam. Decidiram então, voltar para o salão, onde o pessoal estava reunido, e informar a todos que por enquanto o plano funcionara.

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— O que há de errado com você? – JungKook perguntou, tentando parecer zangado, mas com um tom de preocupação evidente em sua voz. A garota ao seu lado estava com a respiração pesada, encarando as paredes de forma assustada. – Minha presença te incomoda tanto assim?

— N-não. – Engoliu em seco. Ela até tentara ignorar a falta de ar, mas a sensação das paredes se fechando ao seu redor era cada vez maior. – E-eu, e-eu não...

— Não o que? – O garoto começava a se desesperar.

— Não consigo respirar. - Respondeu de forma entrecortada e com dificuldade. Ela agora abraçava seus joelhos e começava a hiperventilar.

— Calma, respira fundo. – Ele, que não sabia o que falar, tentou acalmar a mesma.

— Não dá! – Gritou. – Está tudo se fechando ao meu redor! Não tem mais espaço. – Violet explodiu.

Ela se levantou, e ficou andando de um lado para o outro no pequeno local, repetindo a mesma frase: “Não tem mais espaço”. JungKook ficou sem reação por um tempo, e só depois se lembrou: Ela é claustrofóbica.

O mesmo, sem saber exatamente o que fazer para tranquiliza-la, fez a única coisa que veio a sua mente. Ele se levantou e segurou-a pelos ombros, fazendo-a parar onde estava. Logo em seguida, envolveu-a pela cintura num abraço apertado. Um arrepio percorreu seu corpo, quando o mesmo entrou em contato com o dela. Ele nunca havia estado tão próximo da mesma, mas uma sensação boa se apoderou de si. Ele se sentiu ainda melhor quando ela correspondeu ao seu abraço, entrelaçando seus braços sobre a nuca do mesmo, e respirando dificultosamente no pescoço dele, algo que lhe causou arrepios. Ele logo sentiu algo molhado em seu ombro, ela estava chorando.

— Por favor, eu sei que está bravo comigo, mas não me solte agora. – Ela implorou-lhe.

— Eu não irei te soltar. – Respondeu. – Eu prometo.

**** ****

— Posso te fazer uma pergunta? – JungKook questionou.

— Acabou de fazer. – Ela respondeu, soltando uma risada fraca logo em seguida.

Os dois já estavam presos ali a mais de uma hora. Depois de Violet finalmente se acalmar, ambos se sentaram no chão, e ficaram em silêncio, até o momento.

— É sério... – Ele a encarou.

— Eu não tenho escolha mesmo. – Ela deu de ombros.

— Você gosta do Suga-Hyung? – Foi direto, coisa que fez Violet engasgar com a própria saliva.

— Não. – Praticamente gritou. – Por quê? Ciúmes? – Provocou-o, enquanto um sorriso sacana se espalhava por seu rosto.

— Nunca! – Deu uma risada curta. Mesmo sem um pedido de desculpas apropriado, ambos já conversavam como amigos de longa data, fazendo piada um com o outro. – Então, se você não gosta dele... – Fez uma breve pausa. – Por que mandou o Jimin calar a boca enquanto ele tirava sarro dos cabelos do Yoongi?

— Eu não mandei o Jimin calar a boca.

— Mandou sim! – Retrucou.

— Eu estava falando com a menina ao meu lado.

— Por que? – Perguntou confuso.

— Porque a todo instante ela ficava falando: “JungKook oppa é perfeito”; “ Oppa, olhe para mim!”; “Ai, os cabelos do oppa são tão lindos”. – Ela imitou a mesma, afinando a voz e fazendo caretas conforme falava.

— Ciúmes, roxinha? – Dessa vez, quem provocou foi o garoto.

— Só nos seus sonhos. – Violet respondeu, sem querer confessar que talvez sentisse um pouco de ciúmes do mesmo.

Ambos ficaram em silêncio por mais alguns instantes, até que uma dúvida começou a martelar na cabeça de Violet. Dúvida essa que ela fez questão de sanar.

— A Camellia me disse hoje de manhã que alguma coisa estava errada. – Ela começou, e JungKook acenou com a cabeça, lhe dando permissão para continuar. – Ela me disse que você está escondendo algo. Isso é verdade? Há alguma coisa que eu precise saber? – Ele encarou o chão, em silêncio absoluto. – Tem algo haver com o modo como me tratou ontem? – Silêncio novamente. – JungKook, diga alguma coisa! – A garota alterou o tom de voz

— Eu não posso falar! – Ele também se exaltou um pouco.

— Você pode me falar qualquer coisa... – Falou um pouco mais baixo. – Principalmente se eu estou envolvida nessacoisa.

JungKook soltou tudo num fôlego só, se arrependendo logo em seguida de revelar para Violet a verdade:

— Meu manager desconfia de nós. Ele não nos quer mais andando juntos.

— E por que isso? –Questionou surpresa.

— Eu não sei... – Fez uma pausa. – Talvez ele pense que temos algo a mais. – Esse comentário fez Violet corar, e a mesma agradeceu mentalmente pelo quarto seu escuro e sem iluminação. – Mas isso é impossível! – Exclamou ele, irritado. O comentário causou certo desconforto na menina, que ficava cada vez mais confusa com o que sentia em relação a ele.

— É verdade. – Foi a única coisa que ela disse, enquanto tentava esconder seu repentino desânimo. – Mas, e então? O que faremos? Eu não quero perder sua amizade. – A frase esquentou o coração de JungKook. Além de seus Hyungs, o mesmo nunca tivera uma amizade de verdade. A menina, vendo que o mesmo não a respondeu, resolveu perguntar, mesmo que receosa. – Nós somos amigos, certo?

— Sim. – JungKook deu um sorriso acalentador. – Nós somos amigos.

— Então, como vamos resolver isso?

— E se... – Ele pareceu ponderar por um tempo, pensando na melhor opção para resolver o problema. – Nós fingirmos estar bravos um com o outro?

— Como assim? – Ela indagou, tentando compreender o raciocínio do amigo.

— Eis aqui o que eu pensei: na frente do manager e dos outros, nós fingimos nos odiar, como se ficar presos aqui tivesse nos deixado mais nervosos, a ponto de brigarmos e declararmos ódio mortal um ao outro. Daí, o manager iria achar que não somos mais amigos, e nos deixaria em paz. – Concluiu.

— Mas, teríamos que fingir até na frente do pessoal do Bangtan e do Flower Girls?

— Sim, eu acho melhor, assim corremos menos risco de sermos descobertos.

— Então, me deixe ver se eu entendi. Nós vamos fingir nos odiar na frente dos outros, mas, quando estivermos sozinhos, podemos ser amigos? – Perguntou Violet, e JungKook apenas confirmou com um aceno de cabeça.  – Não acho que esse plano durará muito tempo... Mas eu topo! – Exclamou animada.

— Então, já temos um acordo, minha nova aminimiga.