Counting Stars escrita por BlueBoxInSpace


Capítulo 4
Capítulo 4




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Um silêncio desconfortável cai sobre a caçamba do caminhão. Os únicos sons que escutávamos era o som dos trovões e do veículo fazendo seu trabalho. Olho para todos os "companheiros" do capitão e, até mesmo, para ele próprio. Todos eles estavam tensos e balançavam os pés freneticamente. Alguns até roíam unhas.
    - Então... - digo tentando afastar a tensão - O que é essa tal de "Chuva Flamenjante"?
    Eles se entreolham.
    - Não é LITERALMENTE uma chuva flamejante. Nós íamos colocar outro nome mas esse nos veio à cabeça primeiro. - responde Bane.
    - Mesmo? E qual nome vocês iam colocar?
    - Um nome haver com "queimaduras".
    O Doutor se inclina no assento ao meu lado.
    - Porque? - ele pergunta.
    - Bom, depois que os Daleks invadiram o nosso lar nós tínhamos que dar um jeito de sobreviver. Construímos uma base e um centro de refugiados. Nos primeiros meses deu certo, mas então começou a faltar água e nós não podíamos ficar sem o recurso mais importante.
    "Aquilo virou um caos. Pessoas desesperadas com atitudes desesperadas. Eles estavam até mesmo espancando uns aos outros para arrumar um copo de água."
    "Duas semanas depois nuvens começaram à se formar sobre o nosso planeta e o desespero aumentou. Pessoas correndo pra lá e pra cá com baldes, copos, jarras, bacias e até mesmo sacolas."
    "Nós já havíamos avisado antes que qualquer tipo de líquido e alimento encontrado tem que passar por testes em laboratório para saber se podiam ser comestíveis. Pouco mais da metade das pessoas nos escutaram e esperaram pacientemente. Mas a minoria não."
    "Então as chuvas começaram e nós recolhemos um balde para testes. As outras pessoas também, mas as que nos escutaram devolveram a água recolhida para nós testarmos. Depois de vários testes descobrimos que a água continha níveis absurdos de ácido e que matariam alguém somente ao entrar em contato com a pele..."
    Ele para de contar a história e olha para o chão parecendo se lembrar de alguma lembrança ruim.
    - E oque houve depois? - pergunto.
    - Os coveiros tiveram bastante trabalho à fazer - o capitão responde friamente.
   Fico horrorizada.
    - Mas porque os Daleks modificaram o clima deste lugar? - o Doutor pergunta sério. 
    - Alguns meses depois descobrimos que era para punir os escravos que trabalhavam pouco.
    Olho para o Doutor. Ele parecia concentrado mas, ao mesmo tempo, tenso e aquilo me preocupava muito, porque quando ele agia assim, com certeza alguma coisa ruim estava por vir.
    Aperto um pouco sua mão e ele me encara. 
    - Que foi? Algum problema? - ele pergunta.
    - Relaxe, OK? Não faça nada estúpido - respondo.
    - Mas eu estou relaxado.
    - Não, você não está. Eu te conheço e sei que cara é essa.
    Ele fica pensativo e desvia o olhar de mim.
    Percebo que o caminhão estava perdendo velocidade, oque significava uma coisa. Estávamos chegando.
    Fico meio confusa por que nós havíamos parado em frente uma montanha e não havia nada mais nada menos que aquilo e algumas árvores com as folhas amarelas.
    Blake se levanta e vai em direção ao velho Joe, eles trocam algumas palavras e descem do veículo.
    Observo os dois caminharem até a montanha e dão algumas batidinhas no que parecia ser uma porta secreta. Uma fenda se abre na porta e um rosto aparece. O capitão troca algumas palavras com a pessoa atrás da porta e logo depois um portão enorme é aberto. Joe e Blake voltam correndo, entram no caminhão e nós entramos dentro de uma base secreta.
    A iluminação era pouca mas eu podia enxergar alguns homens e mulheres armados cuidando da proteção do lugar.
    Depois de algum tempo o caminhão para numa espécie de centro de descarregamento de produtos e nós descemos.
    Olho em volta e percebo que o lugar era medonho e ao mesmo tempo aconchegante. As luzes bruxuleantes davam uma impressão sombria à caverna escavada na pedra da montanha. Olho mais adiante e vejo um escavadeira. Provavelmente eles pretendem escavar mais fundo.
    Olho para o lugar de onde nós viemos e vejo que haviam mais caminhos para ir, tanto para a direita quanto para a esquerda. Ali devem ser a casas dos refugiados.
    - Vocês dois - o capitão chama -  Venham comigo.
    Eu e o Doutor nos entreolhamos. Nós não tínhamos muitas opções ou lugar para fugir, então decidimos segui-lo.
    Ele nos conduz por um labirinto de corredores e eu observo tudo à minha volta. Pessoas passando com caixas, máquinas ajudando, chefes dando ordens... tudo isso acontecendo em perfeita harmonia. Parecia até que eles não estavam vivendo em um apocalipse.
    - Isso daqui é um armazém? - pergunto.
    - Sim - Blake responde - É aqui que guardamos a maioria das nossas comidas e bebidas.
    - E pra onde você está nos levando? - pergunta o Doutor. 
    - Todo estranho que nós prendemos aqui devem ser levados para um "julgamento" e a decisão de uma "pena", então eu estou os levando para lá. 
    - Mas nós não fizemos nada! Eu já disse: nós viemos aqui somente para nos divertir e comer vários quilos de bala!
    - Então você está bem desatualizado. Nós paramos de produzir doces à muito tempo atrás, bem antes da invasão.
    - Inacreditável - o Doutor murmura.
    Caminhamos em silêncio por vários minutos até que o capitão para em frente uma porta de madeira escura com um vidro desfocado escrito "Gen. Bouden".
    Blake pousa a mão na maçaneta e diz se virando para nós: 
    - Esperem aqui - ele gira a maçaneta e entra.
    Ouvimos o som de vozes conversando por uns 10 minutos, até que tudo fica silencioso e o capitão põe a cabeça pra fora nos chamando para entrar.
    O Doutor aperta a minha mão de leve e entra na sala.
    Era um escritório apertado que fedia à fumaça de cigarro, com um sofá vermelho velho em um canto, uma estante com caixas cheias de documentos e arquivos. No centro da sala havia uma mesa de madeira gasta com papéis espalhados, um cinzeiro com um charuto aceso, uma caneca de café e um copo de uísque. 
    Sentado atrás da mesa estava o homem mais medonho que eu já havia visto em toda a minha vida.
    O rosto enrugado dava um aspecto mais sombrio ao sujeito e as mãos cheias de cicatrizes sugeriam que o último cara que cruzou com seu caminho acabou em um hospital. 
    Mas o pior de tudo era o jeito que ele me olhava.
    - Podem se... - o Doutor se senta em uma das duas poltronas do lado oposto da mesa e do homem e colocou as botas sujas de terra na mesa, interrompendo-o - ...sentar.
    O homem não gostou nem um pouco da atitude do Doutor, porque sua expressão de calma foi para uma calma assustadora e uma fúria silenciosa.
    Me sento devagar na outra poltrona.
    Blake percebendo aquilo pigarreia e diz:
    - Doutor, Clara, este é o General Bouden. General, estes são Doutor e Clara.
    - Prazer em conhece-los. - o General diz com um sorriso falso.
    - E aí? - o Doutor cumprimenta. 
    - Oi - digo.
    - Vocês já devem saber o porque de estarem aqui, não é? 
    - Sim, desenbucha logo - o Doutor diz com um gesto de mão. 
    O General respira fundo tentando conter sua raiva e diz:
    - Vocês invadiram a nossa área...
    - Nós invadimos? Você só pode estar brincando... - cutuco as costelas do Doutor - Ei, oque foi?
    - Cale a boca e deixe-o falar! - respondo.
    Ele bufa e cruza os braços. 
    - Obrigado - o General continua - Bom, vocês invadiram a nossa área e já devem saber também que fomos invadidos por Daleks e que nossa prioridade é o bem de nossa população. 
    "Desde que o Daleks nos invadiram isso aqui tem virado um inferno. Correria pra cá e pra lá, toque de recolher, escassez de comida e água e os cuidados para não sermos vistos... resumo de tudo, temos sido bem cuidadosos com tudo oque fazemos, inclusive em como tratamos estranhos. Então nós vamos fazer somente algumas perguntas para vocês dois e decidir qual será a pena de vocês."
    O Doutor tira os pés da mesa, descruza os braços e se endireita na poltrona.
    - Que tipo de perguntas e porque? - ele pergunta com uma sobrancelha erguida.
    - Perguntas básicas de qualquer interrogatório e porque nós precisamos saber se vocês são ou não espiões daquelas latas velhas. Porque? Tem algum problema?
    O General pareceu mais desconfiado ainda. O Doutor me encara e eu encaro de volta. Ele não disse nada mas eu pude perceber a pergunta pela sua expressão: "Quer fazer isto?". Aceno que sim com a cabeça.
    Ele se vira para o General e diz:
    - Tudo bem.
    - Certo, vamos lá então. Primeira pergunta: De onde vocês são? 
    - Da Terra - o Doutor responde.
    - Como vieram para cá? 
    - Na nossa nave.
    - E onde ela está? 
    - Não sei.
    - Quais eram seus objetivos quando vieram para cá? 
    - Nos divertir e comer bala.
    - Estão armados?
    - Não. 
    - Tem alguma relação além da amizade?
    O Doutor hesita e eu me remexo na cadeira.
    - Não.
    - Conhecem os Daleks?
    - Sim.
    - Interessante... como?
    - Eles já invadiram a Terra milhares de vezes.
    - E como estão vivos?
    Ele hesita de novo.
    - Um homem salvou a terra daquelas coisas.
    - E qual o nome dele?
    - Não sei.
    O General se inclina sobre a mesa.
    - Não sabe? 
    - Não. 
    Ele semicerra os olhos. Com certeza estava desconfiado de nós. Mas uma coisa eu não estava entendendo: porque o Doutor estava mentindo?
    Depois de muito tempo nos encarando o General diz:
    - Tudo bem... podem ir, estão liberados.
    Nos levantamos e nos encaminhamos pela porta.
    - Porém - paramos e olhamos para o General - Terão de colocar isto, como todos aqui tem - ele tira de dentro da gaveta duas tornozeleiras eletrônicas. 
    - Você só pode estar brincando. - o Doutor diz.
    - Se quiserem ficar aqui vão ter que usar isto. 
    - De jeito nenhum. 
    - Então terão de ir embora.
    Olho do General para o Doutor que parecia estar em um conflito interno sobre usar ou não aquilo.
    Ele estende a mão e Bouden entrega as tornozeleiras.
    Colocamos aquilo e o General diz

— Tudo bem, podem ir.
    Nos direcionados até a porta e saímos.
    Mas o pior de tudo era que eu sentia os olhos do General nas minhas costas, observando cada movimento meu.


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