Chiquititas - Innocence escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 15
Silêncio


Notas iniciais do capítulo

"Há um menino, que está perdido
Procurando alguém para brincar
Tem uma garota na janela chorando

Somos apenas crianças perdidas
Tentando encontrar um amigo
Tentando achar o caminho de volta para casa

Não sabemos para onde ir
Então vou me perder com você
Nunca vamos desmoronar
Porque ficamos bem juntos...
Estas nuvens escuras sobre mim, fazem chover e fogem
Nunca vamos desmoronar, porque ficamos bem juntos
Como duas partes de um coração partido..."

Demi Lovato_Two Pieces



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Abri os olhos e os fechei novamente, havia muita luz ali; virei a cabeça e vi a penteadeira com uma jarra cheia de água. Água...

Levantei cambaleando e sedenta, peguei a jarra tremendo e bebi como uma perdida. A água escorreu por meu queixo até que eu parei e respirei fundo, bebi de novo até que ouvi uma risada baixa.

Tiago.

Ele estava sentado no canto do quarto com uma folha e um lápis na mão, me encarava com um sorriso que me derreteu.

Abaixei a jarra e fui até ele, rapidamente ele se levantou e me firmou.

— Tudo bem?

Olhei em seus olhos, ele havia me salvado.

— Tiago... _ sussurrei e me joguei contra ele o abraçando. Parecia que aquele tempo que passei sem vê-lo foram anos... e então me lembrei delas, Chiquititas! _ Onde as meninas estão?

— Eu já vou atrás delas, espera só um pouquinho.

Segurei seus ombros.

— Espera Tiago. Como conseguiram me tirar do quarto?

Não queria me lembrar daquilo mas precisava saber.

— A gente já vai explicar...

— Tá legal. Muito obrigada.

Beijei tiago nas bochechas e ele ficou vermelho na hora.

— Não demora.

— Tudo bem. _ Tiago sorriu, me deu um beijo na boca e foi embora.

Fiquei parada ali, como se minha alma tivesse partido... Tiago havia me beijado? Meu Deus! Tiago havia me beijado! Isso era demais!

Não era tão nojento como eu pensava porque na verdade, foi só um selinho, mas bastou pra eu ficar no mundo da lua até eles chegarem.

Sentei na cama toda pateta e meu estômago roncou. Fui até a porta pra ir a cozinha procurar alguma coisa mas então paralisei. Provavelmente Tiago havia me tirado escondida do quarto então não seria uma boa ideia alguém me ver andando pela casa.

Voltei pra cama e depois troquei de roupa, aquele pijama estava podre. E esperei.

CH

Ouvi vozes no corredor e fiquei prestando atenção até que a porta se abriu e Tiago surgiu; junto com ele vieram Adriana e Renata. Me levantei num impulso e as abracei.

— Ai Laurinha! Quase me mata de susto! _ falou Adriana.

— Ainda bem que a gente conseguiu. _ disse Renata.

— Conseguiu? _ Me afastei e analisei seus rostos. _ Como conseguiram?

— Bom... _ suspirou Renata. _ É uma longa história...

— Mas acho que temos tempo de sobra pra contar... _ disse Adriana estalando os dedos.

— Então comecem. _ retruquei eu cruzando os braços e sentando na cama.

— Tudo bem... _ Renata começou a falar. _ Depois que você entrou naquele quarto Soraya nos trancou também em nossos próprios quartos e só mandava Maize nos dar comida uma vez por dia.

Meu estômago roncou.

— Ao contrário de você né... _ completou ela com pena.

Dei de ombros.

— Mas por que a casa estava tão silenciosa?

Tiago começou a explicar.

— Quando Soraya não estava dando comida pra gente ou resolvendo algum problema no escritório ela simplesmente saía com Maíze, e deixava Rangel com a gente. Na verdade ele ia brincar no quintal porque eu vi pela janela do meu quarto ele ir pegar uma bola no lado da casa uma vez. Depois disso tentei manter contato com as meninas.

— A casa estava tão silenciosa que era possível ouvir nossas vozes. _ disse Adriana.

— Mas porque eu não ouvia? _ perguntei.

— Só conseguíamos conversar com os ouvidos e as bocas encostadas na parede Laurinha. _ respondeu Adriana.

— Eu só consegui falar com as meninas quando falei pra Rangel que queria ir no banheiro. E ele nem ligou, então...

— Armamos o plano. _ disse Renata sorridente.

— E qual foi o plano? _ perguntei curiosa.

—O plano era iludir Maíze pra que ela ficasse na casa a próxima vez, assim conseguiríamos pegar a chave dos quartos, que estariam com ela.

— Iludir? Como?

— Essa parte foi até a fácil, _ disse Adriana_ porque Maíze é besta mesmo e Tiago sempre foi charmoso.

Todos rimos e Tiago ficou corado mas depois que eu entendi o que ela quis dizer eu o encarei, o sorriso de Tiago sumiu e ele abaixou a cabeça. Renata pigarreou.

— Era necessário fazer isso e o mais importante é que deu certo.

Adriana continuou.

— Depois que Tiago pegou as chaves de Maíze sem ela saber...

— Eu gosto dessa parte._ Tiago murmurou.

— Ele foi a noite tirar você de lá enquanto a gente fazia a cobertura.

Os três me encararam e eu levantei da cama, dei o sorriso que eles esperaram e falei.

— Muito obrigada. Obrigada mesmo. Acho que ninguém tem amigos tão preocupados como eu.

— Não há de quê. _ disse Adriana balançando a cabeça e sorrindo de olhos fechados.

— Estaremos aqui da próxima vez. _ avisou Tiago.

— QUE PRÓXIMA VEZ TIAGO?!

— Er... acho que Tiago gostou dessa aventura. _ disse Renata rindo. _ Mas acho que agora você precisa ir lá com a Maíze, né?

— Tudo bem, tudo bem, eu vou...

Tiago saiu chateado do quarto e mesmo que estivesse triste eu fiquei feliz. Esse era o sinal de que ele não gostava de Maíze.

— Por que Tiago ainda tem que ir falar com Maíze? Eu já não estou aqui?

— Sim Laurinha, _ falou Renata olhando para Adriana_ mas é que, aconteceu um pequeno imprevisto.

As duas me olharam.

— Soraya descobriu que você saiu do quarto.

A voz de Renata ecoou pelo quarto e eu engoli em seco.

— Quando ela descobriu?

— Hoje de manhã. _ disse Adriana.

— Foi mais rápido do que imaginamos. _ falou Renata. _Antes de tirarmos você de lá vimos que ela nunca ia ver você, não sei porque ela foi justo hoje.

— Uma semana. _ murmurei e sentei na cama absorta.

— O quê? _ perguntou Adriana. E ambas sentaram ao meu lado.

— Soraya me disse que se eu... me comportasse _ fiz uma pausa _ Ela me deixaria no quarto por apenas uma semana.

— Será que ela ia tirar você de lá? _ indagou Adriana.

Balancei a cabeça negativamente.

— Com certeza não. Soraya me deixou no quarto e me tratou como um animal, não me trouxe comida de propósito e se pudesse controlar o tempo, não deixaria chover um dia sequer pra eu morrer de sede.

Ninguém falou nada então continuei.

— Se Soraya foi hoje ao quarto podem ter certeza que não foi pra me soltar.

Suspiramos. Renata passou o braço por meu ombro.

— Mas o que importa é que você está a salvo e com a gente.

Adriana me abraçou também.

Mas então uma dúvida veio a minha mente: Será? Será que eu realmente estava a salvo?

Alguém bateu na porta e meu coração acelerou. As duas se olharam depois olharam pra mim e Adriana se levantou para ver quem era.

Tiago.

Relaxei os ombros. Adriana pegou duas maçãs das mãos dele.

— Foi só o que consegui achar.

Tiago saiu em disparada.

— Nossa, parece que só o seu libertador lembrou de trazer comida pra você...

Peguei as maçãs e as devorei.

— Calma Laurinha, come devagar. _ disse Adriana.

— Acho que_ falei de boca cheia_ depois do que passei, nunca mais vou desperdiçar comida.

Renata riu.

— Nem se quisesse poderia _ retrucou Adriana _ comida é raridade no orfanato.

— Sério? _ perguntei.

— Parece que o orfanato anda sem dinheiro... _ disse Renata olhando para o chão.

— Mas sabe, _ falei engolindo a maçã. _ uma coisa que eu ainda não entendi é esse negócio do Tiago ter que ir conversar com a Maíze.

— Bem... _ Renata começou enquanto olhava rindo para Adriana. _ ele começou uma amizade com ela pra poder pegar as chaves, então não pode simplesmente parar de falar com ela depois que você saiu, poderia levantar suspeitas.

— É certo que Soraya sabe que fomos nós que tiramos você mas não tem provas. Por enquanto vamos fingir que nada aconteceu.

— Só acho desnecessário _ dei uma mordida na outra maçã. _ esses encontros do Tiago...

— Hum... _ disse Adriana rindo. _ Acho que alguém está com ciúme aqui...

— Ciúme? Eu?

— Eu não falei que era você...

— Por que eu teria ciúme de Tiago?

— Olha só, está se entregando...

As duas desataram a rir e eu bufei.

Enquanto elas continuavam com suas gracinhas eu terminei minha maçã.

— Até parece que você não tem ciúme do Railsom, né A-dri-a-na? _ silabei.

Adriana parou.

— Não começa. _ ameaçou.

Deitei na cama e suspirei.

— Preciso pensar. _ disse.

— Pensar ou descansar? _ perguntou Renata.

— Os dois...

— Mais? _ disse Adriana.

— Olhem, mesmo que eu tenha dormido nesses dias mais do que em toda a minha vida, não significa que eu não esteja cansada.

— Está cansada de dormir? _ perguntou Adriana horrorizada.

— Mais ou menos isso... _ sorri.

As duas se olharam.

— Não pensa muito. _ disse Adriana para mim enquanto saíam.

Mesmo que tudo parecesse estar bem, o silencio de Soraya me amedrontava. Eu sabia que o pesadelo ainda não tinha acabado.

CH

No dia seguinte tomei café da manhã sozinha depois de todos saírem da sala de jantar para realizarem suas tarefas. Arrumei apenas o quarto e não saí pra canto nenhum.

À tarde Tiago me ensinou o Alfabeto, me disse que eu precisaria conhecer todas as letras caso quisesse ler. Ele me ensinou de um jeito tão carinhoso que percebi que não “gostava” dele apenas, mas sentia algo mais que eu ainda não sabia o que era.

Durante a noite Renata ficou conversando comigo e Adriana até que Tiago apareceu trazendo informações, ele havia falado com Maíze.

— Ela me disse que toda a vez que vai falar com Soraya ou levar comida ela está muito estranha, mexendo em papeladas, no celular e no computador...

— Viciada... _murmurou Adriana.

Não falei nada.

Depois de certa hora todos fomos dormir.

Quando já estava tudo escuro vi uma cabeça surgir da cama de cima do beliche, era Adriana.

— O que é? _ perguntei sonolenta.

— Posso fazer uma pergunta?

Meu silêncio foi um sim.

— Já pensou em quem vai te adotar?

Meditei.

— Já pensou? _ ela perguntou de novo como se eu não tivesse ouvido.

— Sinceramente? _ suspirei. _ Não.

— Hum...

Adriana voltou a deitar e eu franzi o cenho. Levantei colocando meus pés nas lajotas frias e observei Adriana fingindo dormir. Ela me olhou pelo rabo do olho e sussurrou:

— O que é?

— Por que perguntou isso?

— Por nada...

— É sério...

Adriana se virou e se apoiou no cotovelo.

— Sabe o que é... _ começou ela_ ouvi alguma histórias de crianças que não foram adotadas e acabaram ficando pra sempre no orfanato. Senti medo por isso.

— Hum...

— Mas não se preocupa Laurinha, bem no fundo do meu coração eu tenho certeza que algum dia alguém vai vir adotar a gente.

— Humhum. _ concordei.

— Você não quer ser adotada por alguém legal?

— Claro... _ dei um sorriso amarelo e voltei a me deitar.

Quase não consegui dormir. Havia um conflito na minha cabeça, nunca havia parado pra pensar sobre isso e nem ligava pra quem ia me adotar porque eu simplesmente não queria ser adotada!

Apesar de eu estar num lugar horrível não queria me separar daqueles que eu amava...

E isso me deixou mais confusa ainda...


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