Odisseia do Zodíaco escrita por SEPTACORE


Capítulo 5
Desentendidos




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O dia mal havia começado e o movimento na Toca era grande, algumas pessoas ainda estavam explorando o local, que era enorme, e descobrindo lugares que eram incríveis e diferentes. Outras pessoas já haviam encontrado o seu “point” e estavam sentados, conversando entre si.

Mais ao lado, acontecia um campeonato muito afreguesado: Queda de braço. Os veteranos de Fogo dominavam o campeonato e os novatos estavam curiosos para participar. Maiara, uma das novatas, cuja confiança era extremamente alta, nunca teve vergonha em se enturmar. Chegou até dois veteranos que brincavam e os encarou.

— Quero jogar – ela diz.

— Espera só um pouco, estamos decidindo uma briga de muitos anos – Alexandre fazia uma força tão grande que era capaz de se ver a maioria das veias em seu rosto.

— Eu...Vou...Ganhar... – Americo falava entre os dentes.

— Andem logo com isso – Naty fala. – Vocês sabem que nunca vão se vencer porque são orgulhosos demais para se renderem!

— Vamos ficar aqui até amanhã – Stefani fala, bocejando.

— Sinceramente, como vocês aguentam? – Evelin fala, com desprezo.

— A questão é que a gente não aguenta, querida – Ingrid rebate.

Não demorou muito até o braço de Alexandre perder a força e Americo levantar, comemorando sua vitória. Alexandre logo se emburrou e não quis mais participar, dando lugar para os novatos.

— É o seguinte, vocês são novos nesse campeonato e não achem que isso aqui não é levado a sério – Ingrid fala. – Os novatos sempre chegam achando que isso aqui é bagunça, porém não é. Você tem que provar que é digno de estar conosco ganhando uma Queda de Braço.

— E se não ganhar? – João Pedro pergunta.

— Não acontece nada porque somos obrigados a aturar gente nova – Stefani fala. – Mas você não terá o nosso respeito.

— Como se eu estivesse aqui para ter respeito de veterano – Yasmim fala para Clara, que está do seu lado.

— Como é que é? – Ingrid fala. – Você aí, garota do delineado esquisito, você vai ser a primeira, e será contra mim.

— Manda ver – ela diz, talvez não tão segura de si igual à Ingrid.

As duas arianas se olharam com sangue nos olhos, preparadas para começar. Americo contou até três e as duas começaram, a torcida era grande, de um lado alguns gritavam Ingrid, do outro, Yasmim. Alguns puderam jurar que viram faíscas saindo das mãos das duas. Mas era obvio que no final, quem venceria, seria a veterana Ingrid.

— Segura essa marimba aí – Ingrid fala, finalizando-a.

Após os emocionantes duelos de Queda de Braço, o sino para o almoço soou levando todos ao refeitório. O cardápio variava de legumes a inúmeros bolinhos de carne recheados com molhos exóticos. Todos comeram até ficarem satisfeitos. Aos poucos, os eremitas voltavam para suas atividades ou desciam até os dormitórios. Lucas, Luisa e Bruna sobraram num canto da grande mesa de madeira.

— Os voluntários partem amanhã pela madrugada – começou Bruna. – Ainda acho muito arriscado ir de dois em dois numa missão como essa.

Lucas e Luisa não prestavam muito atenção no que Bruna falava, estavam preocupados em discutir quem ficaria com o próximo pedaço de maçã que dividiam.

— Ai, por favor, “sejem menas”— implorou Bruna –, senão falo com os Globinos para colocarem veneno na comida de vocês.

— Olha o recalque – disse Luisa para a amiga.

— Amara preocupada e vocês aí trocando saliva.

— Não devíamos estar falando sobre isso – retrucou Lucas.

— Não deviam mesmo – respondeu Iago, um veterano cujo treinamento havia concluído há poucas semanas. – Não fora do Conselho.

O Conselho era o grupo de veteranos mais experientes de cada signo que, junto com Amara, toma as decisões dentro da Toca. Lucas, conselheiro de Aquário, era o mais velho e experiente. Luisa havia tomado o posto do antigo conselheiro de Virgem, morto há pouco mais de um ano em uma missão. Bruna representava Gêmeos desde alguns meses antes de Luisa entrar.

— Você não sabe sobre o que tratamos no Conselho, Iago – informou Lucas.

— Eu sei que não, mas de qualquer forma não deveriam falar sobre isso em público.

— Só estamos nós aqui, querido – Bruna disse após dar uma olhada em volta.

— Enfim, o Conselho está ciente, mas obrigado pelo alerta – agradeceu Lucas.

— Não parece – insistiu Iago.

— Você está com inveja dos membros do Conselho, tem algum problema com algum deles ou o quê? – perguntou Lucas.

— Sentimento nenhum, mas a julgar pelo que vocês andam dizendo, logo, logo, assuntos do Conselho estão correndo pelos corredores.

— Já chega, Iago – pediu Bruna.

— Está insinuando que não sabemos desenvolver nossas funções? – pergunta Lucas, levantando-se. – Que somos incapazes?

— Não, só disse que vocês não deviam falar sobre isso.

— Já entendemos o seu recado – completou Luisa, que, até o momento, só observava.

— Pois é, vamos fazer algo de útil, ao invés de pagar de fiscal de nossas obrigações – pediu Lucas.

Luisa tentou pedir que Lucas parasse com as provocações, mas Iago prosseguiu.

— Pois é, já que você não é útil o suficiente para se voluntariar para sair em missão.

Nesse momento, a paciência de Lucas fora testada. Veias já começavam a aparecer em sua testa.

— Pensei que não pudéssemos falar sobre isso – retornou Bruna.

— Só estamos nós aqui, querida – debochou ele.

— Vai lá contar pra mamãe que estamos desobedecendo as regras – provocou Lucas.

— Eu deveria, já que vocês não devem se lembrar delas – respondeu ele.

— Você é chato assim mesmo ou pediu pra ser? – quis saber Lucas, já impaciente.

— Aprendi com Aquário – respondeu ele sarcástico.

Lucas partiu pra cima de Iago. Mesmo com as vãs tentativas de Luisa e Bruna de apartá-los, os dois trocavam socos, chutes e empurrões mal aplicados. Chegaram a rolar no chão ao som de xingamentos indescritíveis. Às vezes, podia-se ouvir algo como "Gêmeos é a escória do Ar" e "Melhor que ser esse monte de estrume" como resposta. Novatos se aglomeravam aos poucos em volta da cena. Veteranos recém-formados não sabiam se ajudavam a encerrar a briga ou se a incentivavam juntando sua voz aos berros dos novatos.

"Briga! Briga! Briga!" – gritavam os arianos.

Veteranos mais antigos – alguns inclusive membros do Conselho – chegaram para segurar os brigões, mas a coisa toda só acabou depois que a silhueta mediana de Amara surgiu na roda convocando os 4 para a sala de reuniões. Luisa e Bruna, furiosas, acompanharam Lucas e Iago, segurando-os pelo braço.

— Estou decepcionada com vocês – repreendia-os Amara. – Atitudes totalmente desnecessárias de ambos.

— Eu sinto muito, Amara – Lucas tentou se explicar, limpando sua testa com um pano. - Ele chegou todo cheio de razão...

— Nem se incomode em explicar – interrompeu-o. – Eu sei de tudo o que aconteceu e não justifica você, um dos mais antigos e cientes de nossas regras, agindo de má fé, não só com seu colega como também com todos os que presenciaram, dando a eles um péssimo exemplo.

Lucas ouvia de cabeça baixa ao lado de Iago que não se pronunciou em nenhum momento.

— O Conselho tem plena ciência das regras e costumes da Toca, portanto não se é necessário que um veterano, cujo treinamento acabou de concluir, fique cuspindo regras aos membros – continuou ela. – Espero que eu tenha sido clara, Iago.

Ele apenas assentiu, sem olhar para cima.

— Não preciso dizer que, independente da presença ou não de alunos que não estejam cientes das decisões tomadas aqui dentro, nenhum assunto deve ser discutido fora desta sala sem a minha permissão, muito menos quando se trata de algo perigoso como o que estamos lidando. Tome mais cuidado, Bruna.

— Sim, senhora, me perdoe – pediu ela.

— Leve seu subordinado para o dormitório, onde passará o resto do dia sem participar das atividades diárias. – Bruna encaminhou Iago para a saída enquanto Amara prosseguia. – Vá com Luisa tratar deste ferimento – disse ela para Lucas, referindo-se a um pequeno corte em sua sobrancelha, que sangrava. – Quando terminar, volte para o dormitório e veja se Tiago precisa de algo para a viagem, se não, fique por lá até amanhã, também.

Acompanhado por Luisa, Lucas deixou a sala. Antes que a porta se fechasse, Amara ouviu a garota ralhar com Lucas. Suspirou forte, tentando manter a calma. Sentou-se em sua mesa, colocou os óculos e pôs-se novamente a trabalhar na sombra misteriosa que assolava a paz do Pico do Cristal e do universo astral.

***

— Que lugar é esse? – pergunta Lucas, quando ele e Luisa chegam a um corredor sem portas.

— Você já vai descobrir. – A garota se aproxima da parede, onde encosta a palma da mão. – Mas, se contar para alguém, farei um corte bem maior na sua sobrancelha.

— Tudo bem.

A parede, que era apenas uma figura reta e sólida de rocha e poeira, cria relevo, transformando-se numa porta. Uma maçaneta se forma e Luísa a gira.

A sala por trás da porta é grande e cheia de prateleiras, armários e vidraças. No centro, duas mesas enormes se estendiam paralelas em posição horizontal, onde frascos, ferramentas e mecanismos se espalhavam, usados por poucos alunos que trabalhavam sem dar atenção aos que acabaram de chegar.

— Isso é uma oficina? – pergunta ele.

— Preferimos chamar de laboratório – Luisa se aproxima de um armário branco com uma cruz vermelha, de onde tira uma série de objetos de enfermagem. – Apenas virginianos podem trabalhar aqui.

— Então é pra cá que vocês vêm quando não estão nos treinamentos?

— Sim. Somos mais úteis aqui do que atacando.

Lucas deu um close por toda a sala. Reconheceu alguns de seus amigos – até mesmo os novatos – trabalhando em pelo menos alguma coisa. Jake, por exemplo, consertava uma espécie de relógio.

— O que houve com você? – pergunta o garoto, distraindo-se de seu trabalho por um instante.

— Uma briga bem louca.

Jake acena um não, como se discordasse da atitude.

— E você, o que está consertando esse relógio para quem?

— Ia falar que não te interessa, mas você merece saber – o garoto mostra o relógio para Lucas que observa uma série de planetas no lugar dos ponteiros. – É um relógio que marca as posições atuais dos planetas da Amara. Genial, né?

Antes que pudesse responder, Luisa injetara algo com uma seringa na sobrancelha de Lucas.

— É pra não causar dor.

Depois, costurou a sobrancelha de Lucas tão rápido que o garoto não fora capaz de contar a quantidade de pontos. Para finalizar, Luisa tira um lenço do bolso e passa sobre o corte recém costurado, que cicatriza na hora.

— Gostou do meu truque? – pergunta ela, colocando o lenço no bolso.

— Como você...

— Não interessa. Agora, dê o fora e não conte pra ninguém.

— Nossa, por que você...

Luisa se levanta e coloca a mão direita na cintura, cansada.

— Sai do laboratório – diz, apontando para a porta com a esquerda. Sem dizer uma palavra sequer, ele atravessa a porta de cabeça baixa.  

Lucas anda na direção do dormitório do Ar, acreditando estar sozinho por aqueles corredores. Mal sabia ele que duas pessoas conversavam, em particular, num corredor próximo.

No lado exterior do Pico do Cristal, vários dos novos eremitas saíam em seus grupos para passar a tarde conversando e se divertindo.

Logo atrás do Pico, uma cadeia montanhosa começava, junto de uma enorme cachoeira e trilhas com tochas não acesas.

— Vamos? – perguntou Evelin, e várias pessoas a seguiram, descendo do Pico.

— Está a cento e oitenta e três metros daqui. - Jay, agora de biquíni, se juntou à turma. Vários olhares voltaram para ela, esperando por uma explicação. – Nada demais, meu elemento é Água.

Todos assentiram e prosseguiram.

— Mal vejo a hora de pular dali – e apontou para uma parte da cachoeira, onde já era visível o rio abaixo.

Minutos depois, após descerem e subirem por trilhas íngremes, chegaram ao local. A altura da cachoeira era mais baixa ali, com dezesseis metros de queda. Os garotos tiraram as camisas, tirando alguns suspiros desesperados. As leoninas estavam todas já de biquíni, conversando sobre qual delas estava mais bem "vestida" para a ocasião: observar os garotos e aproveitar para conseguir uma marca de biquíni.

— Au revoir! – gritou Jay, correndo e dando um belo salto.

— Ela está viva? – Paulo perguntou, rindo.

Jhordan, que estava já sem camisa, se preparava para um pulo.

— Acho que sim – respondeu ele.

Paulo, com os olhos fumegantes, chegou perto da ponta e empurrou Jhordan, que caiu dezesseis metros gritando.

— Vai verificar, então – Paulo disse, rindo à beça ao som do grito de Jhordan ao cair.  Alguns riam, outros se mostravam preocupados. 

— Gente, pausa! – berrou Paulo chamando atenção. – Vocês viram a cara dele? Eu dei um grito, UAAAAAAAH!

O garoto de Sagitário afunda no pequeno e profundo lago que se formava, chegando a encostar os pés no chão. Com um grande impulso, retorna à superfície, formando bolhas de tanta fúria que tinha.

— Você perdeu a noção do ridículo? – diz, ao olhar pra cima.

— Por um momento eu perdi, mas acabei de achar você.

Aquele comentário de Paulo gerou uma série de risadas, que fizeram com que a raiva de Jhordan aumentasse. Com os nervos à flor da pele, pegou uma pedra na borda da cachoeira, se concentrou, mirou bem e jogou-a para cima, usando seu atributo para acertar Paulo.

O resultado deste ato foi uma coisa bem desagradável. Ao ser atingido no pé, Paulo deu um pulo para frente, escorregando na pedra cheia de limo e caindo do topo da cachoeira. Sua queda fora pior que a de sua vítima, fazendo com que suas costas se chocassem com a superfície da água, criando agonia até em quem estava seco.

— Isso deve ter doido – diz Tardelli, que ajudava Jay a sair da cachoeira.

Jhordan e Paulo, ambos machucados, saem da água. O primeiro estava com as coxas doendo com a queda, enquanto o segundo sentia suas costas formigando até o momento. Por um instante, todos pensaram que a briga havia acabado, até ambos começarem a trocar socos.

Em poucos segundos, chutes foram adicionados à briga, acompanhados de gritos da torcida, que descia para ver tudo de perto.

— Acerta ele! – gritou Augusto, fazendo gestos de soco e rindo como se aquilo fosse uma atração. – Chega de moleza, batam com firmeza!

— Para, Paulo! – Danilo gritou, indo em direção aos dois brigões, que agora estavam com as caras escuras. – Você também, Jhordan!

Jhordan, desviando e gritando que Paulo havia começado, da um chute na barriga do mesmo. Paulo puxa o pé de Jhordan, e junto os dois mergulham, para emergir e começarem a se estapear novamente.

A esse momento, Augusto continuava na torcida.

— Acerta ele, viado! - gritou, gesticulando socos e rindo. - Bate que nem homem!

As pessoas se dividiam em risadas e caras confusas. Alguns tentavam separá-los, mas somente uma voz novata conseguia acalmá-los.

— PAREM COM ISSO, AGORA! – Jay gritou e, de repente, os que estavam envolvidos na briga viraram o rosto. Suas expressões mudaram, como se sentissem nojo de si mesmos por suas ações anteriores. – Se desculpem!

E, para o choque estampado no rosto de todos os outros, Paulo e Jhordan se levantaram, abraçando-se e pedindo desculpas um ao outro.

— Você está bem? – Jhordan perguntou, olhando para o lábio inferior de Paulo. O mesmo, um pouco dolorido, confirmou.

— E você? – Paulo perguntou, dando uma olhada no olho roxo que deixara no adversário. – Estou arrependido, desculpa.

O sorriso exibido no rosto de Jay a denunciou mais uma vez. Ela estava usando suas habilidades, e muito bem para uma iniciada. Logo depois, começou a sentir algumas dores de cabeça, rápidas.

— Isso não é justo! – Augusto gritou, realmente chateado.

Após esse incidente, Paulo seguiu de volta para montanha, enquanto Jhordan limpava suas feridas. Por um grande momento, fez-se silêncio na cachoeira, até Tardelli e Jay voltarem a pular.

***

O dia fora muito agitado em vários pontos da montanha. Pessoas continuaram suas atividades diárias, porém com muita desarmonia. Arianos estavam implicavando ainda mais com os cancerianos, geminianos e librianos discutiam sem parar, até os capricornianos se estressavam com os sagitarianos.

Depois de um dia tenso, os veteranos se preparavam para partir. Vanessa ainda sentia os lábios quentes de Mick.

A garota deitara em sua cama, num dos dormitórios mais aconchegantes do Pico do Cristal. Seus companheiros de Peixes dormiam em um sereno silêncio, onde só ouvia o som da pequena fonte de água, tranquilizando o ambiente. Não demorou muito para Vanessa pegar no sono.

Sentia-se tão leve que quase não era capaz de sentir seu corpo. Um formigamento lhe corria de uma forma estranha. A garota de cabelos loiros resolve se levantar e, para a sua surpresa, encontra-se fora do seu próprio corpo.

— QUE? – pergunta-se, ao olhar para seu próprio corpo dormindo.

Era como se tivessem feito uma duplicata dela, porém, enquanto a normal dormia, a outra estava sentada no corpo. Também havia uma diferença notória: seu novo corpo estava com uma transparência evidente, envolvido em uma áurea azul. Lembrou-se de uma aula onde May – instrutora de Peixes – havia dito que piscianos tinham a habilidade de sair do corpo com muita concentração.

— Isso é muito maneiro – disse para si, empolgada.

Não conseguia sentir nada – nem mesmo frio –, mas sua consciência estava ali. Deu uma volta pelo quarto, observando todos dormindo calmamente. Tentou encostar a mão na testa de Yngrid, mas acabou atravessando seu corpo. Nesse momento, teve uma ideia genial.

— Vou dar uns rolês – diz Vanessa, andando na direção da porta e encostando na maçaneta.

Porém, como era esperado, o mesmo aconteceu: sua mão atravessara o ferro como se fosse o ar. Levantando os ombros, a garota atravessa a porta, encontrando o dormitório da Água. Estava escuro, exceto por poucas velas. Reconheceu a face de uma de suas melhores amigas e riu escandalosamente ao ver como a garota dormia.

— Queria poder pegar meu celular pra tirar uma foto sua agora.

Sabendo que não poderia ser ouvida, Vanessa atravessou a porta do dormitório e desceu as escadas circulares rapidamente. Depois, atravessou os jardins e os túneis, até chegar ao centro do pico. Viu alguns eremitas conversando em um canto, mas não quis saber sobre o que estavam falando.

Em vez disso, outra coisa chamou a sua atenção. Na sombra de uma das paredes, Daniela e Bolzan se pegavam loucamente.

— Mas ela não estava beijando a Yasmim? – perguntou-se.

Não querendo ficar de vela – mesmo não estando ali –, decidiu seguir em frente, até chegar ao Cafofo. Lá, viu que algumas velas foram apagadas e que as almofadas foram afastadas. Um grupo de pessoas se reuniu com um som e uma luminária colorida que piscava.

— Arrasa – diz Pedro.

Nesse momento, Vanessa vê Gorran, seu melhor amigo, ir até o centro da roda e começar a dançar Funk ao lado de Alexandre. A batida era de uma música famosa, mas a letra denunciava.

— Tá tranquilo, tá favorável – canta Gorran, fazendo sinal de HangLoose com a mão, enquanto Alexandre rebolava a bunda.

Estava rolando uma competição de dança interna, na qual Pedro, Toni e Ana eram jurados. Vários eremitas reuniram-se ali e dançavam. Parecia ser uma brincadeira muito boa, mas Vanessa não conseguia analisar direito, porque ria igual a uma foca com tuberculose.

Queria assistir à competição de dança até o final, e pretendia. Porém, dando uma olhada para fora do Cafofo, viu a silhueta de algo que chamou sua atenção. Um corpo brilhava, igual ao dela.

Sem hesitar, Vanessa se levanta e corre até o pequeno corredor. Lá, depara-se com a figura de um menino jovem – e bonito – tão azul e transparente quanto ela. Se pudesse chutar, diria que tem uns vinte anos. Mas sua beleza era apagada com a preocupação em seus olhos, que pareciam saltar para fora de seu rosto.

— Eles... Correm... Perigo! – diz o garoto, em uma voz rouca.

Após esse acontecimento, seu corpo se desfaz como fumaça. Assustada, Vanessa resolve retornar para seu dormitório o mais rápido possível. No caminho, refletiu sobre as palavras do garoto, se perguntando quem seriam "eles". Subiu as escadarias circulares sem se cansar, ainda pensando sobre o que acabara de presenciar.

Assim que sua alma encontrou seu corpo, mente e razão se fundiram e ela soube, naquele instante, do que se tratava.

— Os veteranos – sussurrou pasma. – Mick! – Com os olhos arregalados, ela se levanta.

— Preciso falar com Amara, AGORA! – diz, aos berros, para May, que acordara confusa.

May instrui aos piscianos que voltem a dormir e acompanha Vanessa ao escritório de Amara. Nem viraram o corredor e encontraram-na do lado de fora.

— Amara, os veteranos – disse May.

— O que têm eles? – perguntou ela.

— Os que vão sair em missão – respondeu May.

— Mayara, não devemos falar sobre isso na presença de novatos.

— Eles estão em perigo, tia – interrompeu Vanessa –, onde eles estão?

— Acabaram de partir.

 


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