Odisseia do Zodíaco escrita por SEPTACORE


Capítulo 14
Atrasados




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E a solução veio no momento mais desesperador.

— CUIDADO! – grita Bruna, empurrando Augusto, que quase fora engolido pela serpente, assim como Hanna.

O garoto de Capricórnio saca um spray de pimenta do bolso e atira nos olhos da criatura. Isso fornece tempo o suficiente de eles correrem enquanto o animal era esmagado com uma rocha nas costas, levitada por Elli.

Em meio a ataques como esse, Fiorin teve uma excelente ideia.

— Vamos tapar os buracos com as rochas – diz ela, aos conselheiros que se agruparam.

— Não vai dar certo – responde Erica, que disparava com duas pistolas. – Fariam outro buraco na parede, até a estrutura da montanha enfraquecer.

— Precisamos fazer com que eles queimem de uma só vez – responde Babi, afundando as garras.

Ingrid concentra-se ao ponto de criar uma serpente enorme de fogo, que transformou-se em um jato, queimando todas as cobras até o buraco por onde entravam.

— Tive uma ideia que talvez funcione – diz Casanova, observando-a.

O garoto pede a Brenda e Jay que afastem todos os eremitas dali, deixando apenas os arianos.

— O que pretende fazer? – pergunta Americo.

— Só arianos são imunes ao fogo, certo? Vamos transformar isso num forno à lenha.

— Entendi a ideia – responde Iago, que transmite a mensagem a todos, gritando: – TAMPEM TODAS AS PASSAGENS! APENAS ARIANOS NO CENTRO.

Rapidamente, os eremitas ali presentes se encaminharam para os corredores, onde alavancas eram ativadas e portas de rocha erguidas do chão.

— Não se esqueçam dos Globinos! – diz Ursinha, e na hora Fernanda invocara todos os Globinos para si.

Estando apenas os arianos no centro, ficou difícil segurar a batalha enquanto se organizavam. Ingrid iniciara o plano com um círculo de fogo.

— Vamos espalhar fogo para todos os lados – diz a conselheira. – No fim, pode ser que estejamos nus.

— Posso nem ver que eu adoro – responde Angelloti. – VAMOS BOTAR FOGO EM TUDO!

Yasmin hesitara em ampliar as chamas de Ingrid, que formava círculo fora de círculo e os ia expandindo. Angelloti literalmente cuspia as chamas, enquanto Mattheus formava elaborados redemoinhos. Todas as serpentes que se aproximavam eram carbonizadas, junto com as mesas e qualquer objeto da Copa.

Era curioso que, apesar de estar a apenas metros deles, o poço das pedras não era atingido de forma alguma. Parecia ter uma magia muito poderosa envolvendo aquele círculo, ao ponto de nem mesmo todas as chamas reunidas poderem atingi-lo.

Como de costume, o trabalho dos arianos não demorava muito para ser finalizado. As chamas se aproximaram rapidamente das paredes, até serem cuspidas para fora dos buracos. Quem estava protegido nos corredores, via o amarelo alaranjado entre as frestas das portas – o que os colocava levemente em perigo, mas nada que o atributo dos aquarianos não pudesse conter.

— Ok, acho que já deu – diz Yasmin, parando de produzir chamas e varrendo-as para fora dos buracos.

Os outros três eremitas a acompanharam e, em questão de segundos, só restavam cobras mortas e móveis queimados. As portas foram abaixadas e os eremitas retornaram ao centro, seguros.

— Acho que funcionou – diz Thiago, espetando uma das cobras com a sua garra.

— Vamos começar a limpar essa bagunça... – sugere Jake, mas é interrompido por um movimento estranho ao seu lado.

Uma das serpentes mortas – e uma das maiores – começou a se mexer, alertando os eremitas. Com um baque enorme, uma explosão aconteceu, espalhando líquido negro por todos que estavam num raio de cinco metros. Junto com o couro da serpente, via-se uma garota coberta do líquido escuro e frascos na mão.

— É muito difícil fazer uma reação com todo esse tumulto – comenta Hanna, para a surpresa de todos. – Vencemos?

— Claro que não – diz Lucas. – Serpentário ainda está à solta. Porém, vamos organizar essa bagunça. Tampem os buracos e as saídas e, é claro, fiquem juntos. Usem seus atributos. Bora, fazendo!

Americo começara a recolher suas flechas e reuniu os conselheiros que ali estavam. Pelo que se sabia, alguns eremitas ainda estavam à solta pela montanha, e não tinham como saber se estavam possuídos ou não.

— Vamos formar equipe de buscas – diz o líder. – Temos cinco saídas desse local. Três pessoas por entrada, serve?   

— Deve machucar muito – ri Alexandre.

— Isso é sério, sem brincadeiras – chama Erica. – Enfim, quem vai?

Foi necessário um tempo para se organizarem. A maioria dos conselheiros precisava ficar e proteger – caso tivesse outro ataque, o que era muito possível. No fim, as equipes se colocaram rumo às entradas, enquanto os capricornianos bolavam estratégias de defesa, virginianos limpavam e aquarianos tapavam os buracos.

Evelin, Vitor e Tiago seguiram para o corredor mais próximo. A sombra não permitia que enxergassem direito, por isso, tiveram que acender uma vela para ao menos não tropeçarem. E seguindo corredor por corredor, não encontravam nenhum sinal de vida. Já haviam decorado a sequência dos corredores para que não pudessem se perder.

Por fim, se aproximavam da velha biblioteca quando uma forte onda de vento apagou a vela.

— Me passem o isqueiro, por favor? – pergunta Tiago, segurando a vela.

— Droga, deixei com o outro trio! – exclama Vitor.

— Tinha que ser – diz Evelin. – Af, agora estamos cegos.

Subitamente, uma luz se acendeu próximo a eles, fazendo Evelin dar um grito.

— Precisam de uma luz? – pergunta um ariano com uma chama nos dedos, que, pela voz, reconheceram ser Auster.

— Achamos um – fala Tiago, acendendo a vela. – Vamos retornar, estamos em perigo. Tem um cara nada legal por aí.

— É, me falaram – responde Auster. – Serpentário, né? Nome meio estranho. Deve ter sido zoado na escola, coitado.

Aos risos, o trio conduzia o eremita pelo mesmo local em que vieram. Até que chegaram ao silêncio reflexivo, onde tentavam compreender exatamente o que acontecia.

— E quanto aos eremitas que já estão possuídos? – comenta Tiago. – Temos que arranjar uma maneira de trazê-los de volta depois disso.

— Quem são eles, mesmo? – pergunta Evelin.

— Não sei, mas Netto é um deles, por enquanto – responde Vitor. – Inclusive, ele olhou a maca de Daniela antes de ser possuído, estava suja de sangue, o que a coloca na lista também.

— E Barbara, ela que causou as intrigas – lembra Evelin.

Vitor começa a contar nos dedos as pessoas que foram possuídas – o que acaba causando as risadas de Evelin.

— Será possível você ser tão de humanas ao ponto de contar três pessoas no dedo? – ri a leonina.

— Não é isso, é que primeiro ele possuiu Daniela, que é de Terra. Depois, Netto, que é de Ar e Barbara que é de Água.

— E daí?

— Serpentário gosta de seguir padrões. Acho que a próxima pessoa deve ser de Fogo.

Ao dizer a palavra, acabou atraindo-o. Auster, mais uma vez, assustou-os com fogo, porém agora atirava labaredas no chão, que cresciam até formar uma parede, impedindo a passagem deles. Antes, no breu, não era possível reconhecer seu rosto direito, mas agora, com a luminosidade das chamas, dava pra ver o vermelho assustador nos olhos de Auster.

— Acho que descobrimos o que faltava – comenta Tiago.

Ele lança as primeiras chamas contra o grupo, mas Tiago forma um escudo de telepatia com o seu atributo, protegendo-os. Evelin, por sua vez, salta por cima de Tiago e chuta Auster para longe. Aproveitando a situação, Vitor tenta colocar seus poderes em prática de alguma forma – rapidamente, o pisciano cai quando sua alma projeta-se para fora de seu corpo.

Coberto de uma áurea azul, Vitor não vê diferença em Evelin e Tiago. Porém, quando se aproxima do corpo caído de Auster, vê que o garoto está rodeado por uma áurea semelhante à sua, porém, esta era negra e oscilava como se fosse o sol. Naquele momento, compreendeu uma coisa: Serpentário era semelhante a Peixes nesse quesito. Se o signo banido podia possuir pessoas, por que ele não? De alguma maneira, sabia que cedo ou tarde conseguiria fazer o mesmo.

Porém, quando Vitor toca o corpo de Auster, sente uma dor descomunal, fazendo-o correr de volta para o próprio corpo, na qual Evelin sacudia.

— A gente consegue uma brecha e você apaga? Qual o seu problema?

Vitor balança a cabeça várias vezes. Mas, por fim, diz:

— Nada não. Vamos.

***

Não muito longe dali, talvez a três corredores de distância, uma batalha ainda era travada sob a luz do luar. Ainda com os efeitos de Barbara, Triza já utilizara golpes de todas as artes marciais existentes, enquanto Paulo não sabia mais em qual lutador se transformar.

— Sou incrível mesmo – diz Triza, rindo. – Jamais conseguirá me derrotar. Pode virar até o homem mais habilidoso da terra.

Levando aquele comentário como ideia, Paulo assumiu a aparência de Bruce Lee. Seus golpes ficaram mais rápidos e, com isso, mais fortes e impactantes. Porém, a resistência de Triza conseguia superá-los. Concluía-se que o uso dos atributos formava um ciclo infinito.

— Será que algum deles está possuído? – pergunta Alexandre, armando uma flecha, quando o trio de busca chegara ao jardim externo – Talvez sejam os dois...

— Relaxe aí, foi arte da Barbara – responde Jay. – Nada que eu não possa resolver.

A canceriana se coloca no meio deles, tendo que desviar de golpes. Com sabias e dóceis palavras, cortou o feitiço de seu próprio signo revertendo-o, fazendo os amigos se abraçarem.

— Vai ficar tudo bem, só precisam relaxar – diz Jay. – Enfim, enquanto batalharam, viram algo estranho?

— Não me lembro exatamente... – começa Paulo. – Só queria acabar com a Triza mesmo. Mas me lembro de ver o Netto correndo para fora da montanha, acompanhado de Thomas... PERA AÍ, THOMAS NÃO ESTAVA MORTO?

— Longa história, explico no caminho – diz Tardelli, que, com Jay e Bruno, completava o trio de busca. – Vamos voltar para o centro, lá estaremos mais seguros.

Enquanto retornavam para os corredores, algo no céu chamou a atenção de Alexandre. Há dias, observava as estrelas perdendo o brilho, analisando o que poderia acontecer. Porém, agora, algumas delas se destacavam no azul escuro, formando rastros de luz.

— GENTE, OLHEM! – grita Alexandre, apontando para meteoritos que cortavam o céu, há muito longe dali. – ESTRELAS CADENTES.

Não só ali, mas pela montanha inteira, eremitas observavam o aglomerado de estrelas caindo. A beleza do fenômeno atraia a todos, abrindo sorrisos nas faces de alguns. Como se fossem uma criança inocente, não compreendiam o perigo de rastros luminosos nos céus.

Porém, para os piscianos, com seus pressentimentos estranhos, sabiam que aquilo não cheirava bem. Até porquê, não há beleza que fizesse os esquecer do enigma que tanto procuraram.

— A queda do brilho das estrelas – diz Julia, entre os buracos que ainda não foram tampados. – As coisas só vão piorar.

— O que quer dizer com isso? – pergunta Bruna, ajudando a arrastar uma serpente.

Essa pergunta não precisou ser respondida, pois basta uma explosão forte e toda a atenção se voltou para uma das portas do local. De costume, os eremitas se aglomeraram no meio, esperando mais um ataque das serpentes. Porém, algo pior revelou-se das sombras.

Exibindo um sorriso de orelha a orelha, Serpentário caminhava lentamente, de braços abertos, na direção do aglomerado.

— Boa noite, meus caros amigos! – começa ele. – Para quem não me conhece, sou Serpentário. Já devem ter ouvido o meu nome em algum momento, mas vocês...

Um movimento rápido de Americo fez a flecha voar na direção do rosto de Serpentário, que foi parada pelo mesmo, segurando-a com a mão esquerda a centímetros do seu rosto.

— Assim fica difícil te defender, Americo – recomeça Serpentário, partindo a flecha com uma só mão. – Eu tento dialogar com vocês, mas parece que só foram feitos pra brigar.

— Falou o cara que só quer nossa destruição – diz Ingrid.

Serpentário começa a rir, exibindo língua e presas de cobra. Sua pele – que pertence a Thomas – começava a assumir escamas negras, principalmente no pescoço.

— Minha querida, não quero a destruição de vocês – ele toca o chão sutilmente. – Eu sou a destruição de vocês!

Um eremita possuído passou por cada uma das quatro passagens que restavam. Daniela exibia uma expressão ainda mais demoníaca do que da última vez, talvez o seu avental sujo de sangue tenha contribuído para isso. Netto trazia uma expressão de puro ódio, coberto de sangue e líquido negro, não parecendo se importar de faltar uma das mãos. Barbara mostrava que se divertia com aquilo, pois em seu rosto via-se excitação, com os olhos arregalados e tão vermelhos quanto os seus cabelos armados. Por fim, Auster aparecera e arrancou a camisa, mostrando veias negras que cobriam seu tronco.

Obviamente, nenhum dos quatro estava realmente em si. Todos possuídos por Serpentário. E logo não tardaram a atacar: Daniela levantou os braços e dezenas corvos começaram a rodeá-la, erguendo-a no ar e pairando sobre os eremitas. Netto soltou gritos supersônicos ao mesmo tempo em que Auster colocou fogo em seu corpo inteiro, voando em torno dos eremitas, formando um paredão.

— Vamos combater fogo com fogo – diz Yasmin, atirando labaredas na direção do garoto. Os arianos repetiram seus movimentos e a guerra continuara. Mas o fogo em excesso começou a afetar o restante dos eremitas, deixando o ambiente quente e gerando fumaça.

— Obrigado, otários – Auster ri, parado ao lado de Serpentário.

O fogo dos arianos só aumentou o perigo em que Auster os tinha colocado. Agora, dificilmente alguém sairia dali.

— Fez seu trabalho – diz Serpentário. – Agora voe e queime todo o mato da montanha.

Auster atravessa o paredão de fogo, voando na direção de um túnel por onde se perde. Deixou sua marca no Pico do Cristal: um queimado que jamais seria esquecido. Agora, tinham de lidar com outros dois problemas.

— Temos que parar esse inferno que chamam de grito – diz Americo, atirando flechas na direção de Netto, que eram quebradas pelas ondas sonoras antes de serem atingidas. – Eu distraio ele, vocês atacam.

— Tudo bem! – diz Babi, juntando suas garras. Americo já se posicionava a esquerda de Netto. – Tiago, vou precisar de uma ajudinha.

O aquariano assente e usufrui de sua telecinese para erguer a escorpiana no ar. Enquanto isso, Americo atirava flechas simultaneamente, deixando apenas uma em sua bainha, antes de Babi ser lançada na direção de Netto.

Um silêncio súbito indica que Babi obteve sucesso – mas não da maneira que desejou. Babi saltou sobre Netto com as garras na direção de seu estômago, mas um desvio nas ondas sonoras fez seu corpo girar, acertando seu pé com força contra o peito do garoto. Tentou atacá-lo com as garras novamente, mas já era tarde quando dezenas de corvos partiram em sua direção.

Mas, em vez de atacar Babi, os corvos o ergueram no ar e levaram-no até Serpentário. Aproveitando o momento de felicidade, Daniela gritou e mais corvos entraram por uma brecha nas chamas. Perguntavam-se como poderiam existir tantos, principalmente naquela região.

Não demorou mais do que alguns minutos para ter mais corvos que fogo. Um mar de penas sufocava até os não claustrofóbicos.

— Já chega, Daniela! – diz Serpentário. – As estrelas se aproximam. Pegue Barbara no fim do corredor e saiam daqui. Preciso dar um fim nessa bagunça.

A garota obedece a suas ordens, levando consigo alguns corvos que possibilitaram seu voo. O caos havia, de fato, se espalhado por todo o Pico. Serpentário sentia-se realizado; pediu a Netto que replicasse sua voz para todos ali ouvirem e, sem hesitar, ordenou que o garoto repetisse suas palavras.

— Atenção, caros eremitas! Aqui vos trago seu fim. Não se culpem por isso, pois já estava escrito na história. Uma pena ter vindo justamente para vocês. Bem..., enfim, não posso falar muito. Pretendo não morrer soterrado.

Serpentário e Netto fugiram pelo corredor mais próximo, levados por corvos. Os eremitas continuaram a enfrentar os pássaros negros por mais alguns minutos, antes de começarem a partir, tampando os corredores e impossibilitando a passagem dos outros.

O paredão do fogo apagou. Só restavam duas saídas: os buracos na parede, que levavam para um precipício e a morte. Entraram em pânico, pois não sabiam o que fazer, mas sabiam que as estrelas se aproximavam.

— Vamos queimar corvo por corvo! – siz Ingrid, laçando labaredas.

— Não adianta, levaríamos horas – responde Felipe, com uma chave de fenda na mão. – Precisamos voar.

— Sim – diz Augusto. – Ou sermos lançados e amortecidos.

— Por quem? – pergunta Americo.

— Não é óbvio? – siz Lucas. – Por nós.

Rapidamente, os aquarianos se reuniram. Tiago, Lucas e Eduardo voaram para baixo da montanha, onde amorteceriam a queda de eremitas lançados por Ivo, Elli e Adrieli. A ideia funcionara perfeitamente, mas muitos tinham de ser encorajados – ou obrigados a pular por Jay e Brenda. Arianos se recusaram e preferiram voar com o próprio fogo; Letícia e Gabriela montaram no robô e voaram para longe. Dandhara e Paulo optaram por ganhar asas e voar.

No fim, só sobrou Americo, Ingrid e Brenda.

— Você sabe que ainda tem gente, né? – diz Americo.

— Temos que ser frios, nessas horas – responde Ingrid, observando os pequenos meteoritos se aproximando cada vez mais. – É irônico vindo de um ariano, mas é a verdade. Vamos!

Ingrid saíra voando, enquanto Brenda era lançada por Elli e Ivo.

— Vamos, estou com medo disso! – fala Elli.

— Espere um minuto – Americo diz, vendo a silhueta de uma pessoa sob vários corvos. – Tem uma pessoa ali.

Precisou correr ao máximo para ver o rosto de Gorran desacordado. Entrou em desespero, pois não tinha força o suficiente.

— Elli, preciso de sua ajuda!

A aquariana se aproxima de Americo e, com um movimento, tira o corpo da serpente de cima de Gorran. Ao fazer isso, acaba se arrependendo, pois vê as veias do garoto, negras, saltando de sua pele. Na hora reconheceram mais um possuído pelo poder de Serpentário.

— Será que ele...

Rapidamente Gorran se levanta e chuta Elli para muito longe, desacordando-a.

— IVO, TIRE ELA DAQUI! – grita Americo, quando Gorran salta sobre seu corpo. Mesmo sendo duas vezes maior, não conseguia lidar com a força de um leonino, principalmente quanto este estava possuído por um poder enorme. – Precisa resistir! Estamos prestes a morrer.

— Não ligo – responde a voz de Serpentário. – Isso estava nos meus planos.

Chutes e socos começaram a atingir o sagitariano em cheio. Sangue escorria no canto de seu rosto e nada podia fazer senão fugir até onde seu arco fora chutado.

Armando sua última flecha, Americo aponta para Gorran, que caminhava lentamente em sua direção, com uma pedra na mão.

— Vai atirar em mim? – ri Gorran, num tom agudo. – Pode atirar. Já estou morto. Estamos mortos... Não há nada que você possa fazer pra impedir.

Americo começou a raciocinar rapidamente, observando tudo ao seu redor. Realmente, nada podia fazer, além de atacar o garoto – mas ainda assim nenhuma vida seria salva. Estava sozinho, nem o tempo do seu lado. O brilho dos meteoritos ficava mais intenso.

— Já que não vai fazer nada, eu faço – Gorran atira a pedra contra Americo, que desvia e agradece ao cosmos pelo garoto não ser sagitariano. Foi nesse momento que viu um poço atrás de Gorran e teve uma ideia, mas era uma tacada só.

— Na verdade, tem algo sim.

Rapidamente, Americo vira a flecha ao contrário e a atira. O cabo da flecha atinge Gorran, machucando-o, enquanto o outro aproveita o momento para agarrá-lo e juntos pulam dentro do poço, antes das estrelas atingirem a montanha e tudo explodir.

***

Não se sabe como, mas ambos conseguiram resistir, embaixo da água, por vários minutos. Ao lado externo da montanha, pessoas choravam enquanto a mesma se desfazia em pedras.

Outra explicação era exigida pela forma como Gorran voltara ao normal. O poço, construído para resistir a qualquer coisa, fora parar sobre uma enorme pedra. Graças ao cosmos, ambos os eremitas dentro dele viveram, mas com alguns arranhões.

— O que diabos aconteceu? – perguntou o Leonino. – Como eu voltei?

— “A água do poço possui propriedades mágicas” – diz Americo, com dor, parafraseando Amara. Por um momento, preferiu morrer ao lembra-se da existência dela, e sentiu-se culpado por sua morte e sua solidão. – É, eu sei, esquecemos dela. Mas não tinha o que fazer. – O garoto tenta sair, mas nota que quebrou alguma costela. – Vou precisar da sua ajuda.

Devagar, Americo é tirado do poço por Gorran. Não faziam ideia de onde estavam, mas, de alguma maneira, tinham de continuar em frente. Só erraram sobre a atual situação de Amara.

***

Não muito longe dali, há alguns minutos atrás, Bruna via-se presa em uma sala, onde apenas um espelho estendia-se sob uma mesa. Sua única companhia viva – ou não – era Amara, que estava desacordada. Não sabia o que fazer, principalmente quando estavam trancadas por dezenas de corvos no corredor. Tentou chamar por ajuda no espelho, mas ninguém a ouvia. Mal sabia Bruna que ela quem seria chamada.

— Por favor, diga que está me ouvindo. – Bruna vê a silhueta de Amara no espelho, chamando-a. Levou um susto ao ver a velha eremita, e teve de olhar várias vezes para o seu corpo dormente para ter certeza. – Não se assuste. Aquele corpo já não me pertence mais.

— Mas o que houve com você? – pergunta Bruna, desesperada. – Como você está aí? O que eu faço? Me ajude!

— Como disse, esse corpo não me pertence. Você precisa deixá-lo para trás se quiser sobreviver. Algum dia te explicarei o que acontece, mas vamos chamar isso de projeção poderosa. Agora, quero que se concentre mais do que nunca e use seus poderes para atravessar esse espelho. Imagine um lugar em que já esteve, fora dessa montanha, e veja seu reflexo.

— O quê? Isso é loucura... Do que está falando?

— Apenas confie em mim. As estrelas se aproximam. Você é capaz.

A imagem trêmula fica opaca, desaparecendo. Bruna se desespera mais ainda, acreditando que tudo foi fruto de sua mente. Mas, querendo ou não, algo era verdade: as estrelas se aproximavam e ambas iriam morrer. Se havia alguma chance de ser salva, por que não tentar? Bruna achava-se egoísta e sentia culpa por pensar assim, mas apenas estava sendo racional.

Suas mãos tocam a face do espelho com a mesma delicadeza que suas lágrimas tocavam a sua. Respirou fundo várias vezes, até sentir o sólido transformar-se em líquido. Suas mãos começaram a afundar no espelho e, sem abrir os olhos, Bruna deixou-se levar pelo instinto.

Seu corpo deixara a atmosfera do quarto de Amara rapidamente e, agora, via-se embaixo da água. Não sabe como fez, nem o que fez – apenas que deu certo. Sabia também que Amara estava consciente, em algum lugar. Não se atreveu a abrir os olhos até seu rosto encontrar a superfície de um lago, bem longe da montanha, puxando ar para os seus pulmões.


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