Antes que seja tarde escrita por Sweet Girl


Capítulo 2
Capítulo 1 - Novembro de 2015




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Nunca refleti tanto sobre minha vida como nos últimos tempos. Analisei cada pormenor e tentei enxergar como foi que cheguei à minha situação atual. A resposta foi a mesma: as coisas aconteceram de tal maneira, que eu nem percebi. Fui atingida por este sentimento como um trem de carga e não consegui mais controlá-lo, mesmo que fosse errado.

Como eu gostaria que as coisas fossem mais fáceis para mim, mas não. Tanto cuidado para não me apaixonar pelo homem errado, e eu acabei fazendo justamente isso!

Ah, Marisa! Só você para cometer tal burrice! – Pensei exasperada.

No entanto, eu iria resolver esta situação hoje. Não deixaria passar mais nenhum dia. Nick entendendo meu ponto de vista, ou não. Era hora de seguirmos em frente, soltando as rédeas deste relacionamento conturbado, que jamais deveria ter sido iniciado, para começo de conversa.

Encarei minha casa uma última vez antes de descer do carro. As flores do jardim exalavam um cheiro agradável, e embelezavam o lugar. Eu adorava me sentir próxima à natureza, assim como minha mãe. As plantas me acalmavam, deixando-me em paz comigo mesma. E era justamente disso que eu precisava para enfrentar o que seria mais uma discussão com Nick.

Segui pelo caminho ladeado de pedras, cercado de crisântemos dos dois lados, e estaquei na porta de entrada por um momento. Não seja covarde!

Girei a chave na fechadura e entrei. Ao longe ouvi o som do violão, o que significava que Nicholas estava em casa. Não que eu esperasse que ele não estivesse, mas... pelo menos eu teria mais tempo para me preparar. Bani rapidamente este pensamento. Eu já havia esperado tempo demais. Não precisava mais me preparar. Esta era só mais uma desculpa que eu estava querendo dar para adiar este momento. O que mostrava o quanto eu poderia ser estúpida, mesmo com a minha idade.

– Nick? - Chamei, da sala de estar. Quando ele apareceu no corredor com seu cabelo loiro despenteado meu coração deu pulo dentro do peito, entretanto o ignorei. - Nós precisamos conversar.

Assim que pronunciei essas palavras, lembrei-me de outra conversa que tivemos, e que foi iniciada desta forma. Naquele tempo as circunstâncias eram totalmente diferentes.

2009

Cheguei em casa exausta, depois de mais um plantão noturno no hospital, pronta para me jogar na cama e dormir profundamente, quando ouvi vozes e risadinhas vindas do andar de cima. Conferi o relógio em meu pulso, e mesmo com os olhos turvos pelo cansaço, pude perceber o absurdo da situação.

Ah, mas dessa vez Nicholas iria me escutar! Ele estava passando dos limites.

Durante todo o tempo em que esteve morando comigo, Nick se comportou bem. Sua adaptação comigo não foi difícil, apesar do momento em que estávamos vivendo. Perder a mãe não fora fácil para ele, mas, mesmo assim, ele encontrou forças para me ajudar a superar a perda da minha melhor amiga. E ele era só um garotinho quando tudo aconteceu!

No entanto, agora que já estava um rapaz, as coisas estavam mudando. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde iria chegar o momento em que ele exploraria sua sexualidade, mas existiam alguns limites que precisavam ser respeitados nesta casa. Eu não iria permitir que ele transformasse minha casa em um motel, mas não iria mesmo!

Tudo o que não precisava à esta altura da minha vida era ter que presenciar um comportamento similar ao do Marcus, o cretino do pai dele que abandonou minha amiga quando soube da gravidez. Estremeci só de lembrar como as coisas foram difíceis para ela naquela época. Sem apoio dos pais - que não aprovaram sua gravidez, e a eliminaram de sua vida, como faziam com tudo que não era "perfeito" - e abandonada pelo namorado. A sorte de Marley foi que minha mãe e eu a acolhemos em nossa casa, e a ajudamos a passar pela gravidez.

Subi os degraus da escada com determinação. A raiva queimando em minhas veias. Quando cheguei ao seu quarto e ouvi os gemidos, senti meu estômago revirar. Fechei os olhos e respirei fundo. Eu conseguiria passar por isso. Bati na porta com força, e esperei. Quando nada aconteceu, bati na porta novamente, desta vez com mais força, e gritei:

– Nicholas Reymond, saia deste quarto agora ou eu não respondo por mim! - Isto foi suficiente para que o barulho cessasse. Bom. - Mande a sua amiguinha embora e me encontre no escritório lá embaixo.

Desci a escada esfregando as têmporas, prevendo a dor de cabeça que logo, logo iria chegar. Sentei-me na minha poltrona de couro em frente à mesa e, cerca de 5 minutos depois, um Nick carrancudo entrou no escritório. Ele nem se deu ao trabalho de vestir uma camisa, e, mesmo que fosse inapropriado, peguei-me observando seus músculos, que estavam cada vez mais tonificados, desde ele começou a treinar na academia. Ele estava se tornando um rapaz bonito, atraente, e parecia possuir o mesmo magnetismo que o pai para as mulheres. Se eu não conversasse com ele agora, as coisas iriam se tornar muito mais complicadas no futuro.

– Nick... - comecei, um pouco hesitante. - Nós precisamos conversar.

Seus olhos verdes se estreitaram por um momento, enquanto me encarava, mas logo deu de ombros e se jogou em uma cadeira.

– Fala - disse de modo displicente.

– Será que você poderia, pelo menos, se endireitar na cadeira? Esta é uma conversa séria - ele revirou os olhos, mas fez o que pedi. - Bem... Eu não quero soar chata, nem nada, mas existem algumas regras nesta casa que você deve obedecer, Nick.

– Deixe-me adivinhar. - Nick me interrompeu, algo que ele sabia que eu odiava. - Eu não posso trazer ninguém para dormir comigo aqui em casa, não é mesmo? - Concordei com a cabeça. - Isso é muito hipócrita da sua parte, sabia? - Ele riu de modo sarcástico.

Espere. O quê?

– Do que diabos você está falando? - Inquiri, com raiva. - Como pedir que minha casa seja respeitada é hipocrisia?

– Você, Risa. Você pode sair com seus namorados e dormir na casa deles, e eu não posso fazer o mesmo? Por quê? Por que só você pode se divertir?

Minha cabeça já estava latejando àquela altura. Tudo o que eu queria era poder tomar uma aspirina e me deitar na minha cama para descansar.

– Nicholas, me escute. A situação é completamente diferente neste caso. Eu não estou querendo te impedir de fazer nada, só o que quero que fique bem claro é que não pode trazer suas "amiguinhas" aqui para a nossa casa. Quer se divertir? Se divirta. Só não embaixo do meu teto. Isto eu não tolero.

– Como você quiser - falou de modo desdenhoso, já se levantando.

– Nick! - Falei, exasperada.

– Não precisa se preocupar, Risa. Não vou trazer mais ninguém aqui para casa.

– Risa? - Nick falou em tom interrogativo. Só então me dei conta que havia me perdido em meio à lembrança.

– Desculpe, eu estava com a cabeça em outro lugar.

– Isto eu percebi - disse ele, rindo. No entanto, quando se aproximou de mim para me abraçar e eu me afastei, seu sorriso morreu. - Certo, você disse que precisávamos conversar. Sobre o que seria?

Havia chegado a hora. Eu iria acabar com este envolvimento estranho que havia estre nós dois. Libertar-nos desta relação sem sentido. Eu estava cansada de viver com culpa, de ser olhada de modo desaprovador na rua como se tivesse corrompido alguém. E talvez tivesse mesmo. Que outra razão haveria para Nicholas estar comigo? Ele dizia me amar, mas o que Nick entendia do amor? Ele era jovem demais. Jovem demais para mim. Eu gostaria que não fosse assim, mas era.

– Nick, você sabe muito bem sobre o que quero falar! É a mesma coisa que venho tentando dizer há tempos, mas você sempre consegue fazer com que eu adie um pouco mais. Não desta vez!

– Tudo bem, você quer falar? Então fale. Só não espere que eu concorde com você!

– Eu não me importo se você concorda ou não! - Falei, irritada. - Nós não podemos mais ficar juntos, entendeu? Nunca deveríamos ter nos envolvido, para começo de conversa. - Suspirei, cansada de toda esta situação. - Eu só preciso que você vá embora, Nick.

Virei-lhe às costas e comecei a andar em direção ao meu escritório, onde eu pretendia me trancar até acalmar meus ânimos, mas ele, claro, tinha que me seguir. Eu podia sentir a ira emanando de seus poros e me distanciei, entrando e ficando no meio do cômodo.

Nicholas bateu a porta com uma força além do necessário, como se estivesse realmente odiando a situação, mas eu não poderia ligar menos para seus acessos de raiva. Ele poderia explodir a casa e nem isso me faria mudar de ideia.

– E o que você quer que eu diga, Marisa? Que tudo isso foi um erro? Que eu não deveria me apaixonar por você e que não sou nada além de um menino mimado? - Nick gritava, como se dizer aquilo tudo tirasse um peso de suas costas. Ele tinha um semblante de puro sofrimento e eu sentia meu coração apertar minimamente por isso, mas o estrago estava feito. Nada do que fizéssemos poderia consertar essa bagunça em que nos metemos. Era hora de colocar um ponto final, de acabar com tudo.

– Eu não quero que diga nada! Não quero ouvir suas desculpas esfarrapadas para toda essa confusão! Suas tentativas de justificar esse relacionamento doentio. Cansei de tudo isso, cansei de você. Eu. Não. Quero. Mais. Ouvir. - falei pausadamente, tentando controlar a raiva que fervia meu sangue - Consegue entender?

Ele soltou uma gargalhada sarcástica demais para o meu gosto e revirou os olhos, jogando as mãos para cima em sinal de rendição.

– Você adora jogar na minha cara que tem mais experiência, que sabe mais da vida, mas parece exatamente com o tipo de menininha mimada que tanto abomina. Não quer ouvir, não quer discutir o que temos, não quer salvar nosso relacionamento. Estou impressionado, Risa. Pensei que você fosse mais madura do que isso - ele citou as mesmas palavras que eu lhe disse semanas atrás, quando tivemos outra discussão. Eu respirei fundo, massageando as têmporas e tentando me controlar.

– Não quero discutir porque esse relacionamento não existe. Não temos compromisso, não temos nada além de uma relação jurídica, que por sinal acabou faz algum tempo. Uma assinatura em um papel define o que temos, Nick. Não seus sentimentos e fantasias de menino.

– Fantasias que você adorou realizar, não esqueça essa parte.

Minha tentativa de controle foi em vão. Bati em seu rosto com toda a força que poderia. Eu já estava perto do limite e ele pressionava cada vez mais. Não queria quebrar, não queria sucumbir a todo esse stress. Não queria perder a cabeça e a razão, dando motivos para Nicholas pensar que eu estava apenas com medo e que ele poderia driblar meus pensamentos como fez em todas as outras vezes.

– Chega. Pegue suas coisas e suma da minha vida. Eu nunca mais quero ver sua cara de novo, me entendeu? Meu compromisso era com a sua mãe. Fiz o que fiz por ela, pela amizade que tínhamos. E, graças a Deus, minha responsabilidade com você acabou no segundo em que você fez 18 anos. - Respirei fundo e me afastei - O que você acha que ela pensaria disso tudo, huh? O que você acha que Marley diria ao saber que eu, a mulher em que ela confiou para criar seu filho depois de sua morte, acabou não por educá-lo, mas por levá-lo para a cama?

– Ela pensaria que nos apaixonamos, como todo e qualquer casal. Minha mãe nunca nos condenaria por isso e você sabe. Ela foi mãe solteira, nunca teve ninguém além de você para ajudar. Ela confiava em você e por isso te designou como minha tutora caso algo acontecesse. Você fez um trabalho maravilhoso, mas não conseguiu evitar com que nos aproximássemos. Essas coisas acontecem, Risa. - Nick se aproximou, pegando minha mão e fazendo aquele carinho que eu tanto gostava. Tentando me acalmar, fazer com que eu mudasse de ideia, mas dessa vez não tinha volta.

– Nick, por favor. Não dá mais. Eu não consigo aguentar. Não quero que entenda ou que concorde. Eu só preciso que respeite e que você vá embora - as lágrimas corriam soltas e eu já não tentava esconder que aquilo estava me machucando mais do que deveria. Era Nick ali. O filho de Mar, minha melhor amiga. O menino que segurei em meu colo no dia em que nasceu. A criança que caiu em meus braços quando tinha oito anos e eu vinte e três, que cuidei como se fosse meu filho. O garoto que eduquei, que busquei na escola, que levei ao médico, que esteve comigo em todos os momentos. Meu pequeno amiguinho que me consolou quando perdi minha melhor amiga, mesmo que ele tivesse perdido a mãe.

Mas, ao mesmo tempo, era Nick. O garoto extrovertido e companheiro, que sempre me ajudou, que sempre esteve ao meu lado, que fez questão de conhecer cada homem com quem eu saía. O garotinho que cresceu. Nick, agora um homem de 23 anos que estava ao meu lado, acariciando minha mão, pedindo para ficar. Ficar para o resto da vida. O homem que me fazia completa, que me amava, que me aceitava com todos os meus defeitos. Mesmo com meus 38 anos e uma bagagem imensa nas costas. O cara que admirava minha experiência de vida e que lutava comigo quando tínhamos um problema. Nick, o homem que eu amava, mas com quem nunca poderia ficar.

Ele beijou minhas lágrimas cuidadosamente, descendo para os meus lábios em um pedido silencioso e sofrido. Deixei que nossas línguas se cruzassem, misturando amor e saudade. Mas, enquanto o beijo dele tinha gosto de reencontro e esperança, o meu tinha gosto de adeus. Puro e doído adeus. Embrenhei meus dedos em seus cabelos loiros quando Nicholas puxou meu corpo, moldando-o ao seu próprio.

Lágrimas ainda saltavam dos meus olhos e eu tentava gravar todo e qualquer mínimo detalhe daquele corpo, daquele beijo, daquele homem que roubou meu coração.

– Não quero que isso seja um adeus. Eu amo você. Mais do que deveria, mais do que se pode amar alguém - ele roubou um selinho e encostou a testa na minha, misturando nossas respirações ofegantes e sofridas. - Por favor, Risa. Eu sou seu, para sempre. Por favor, esqueça tudo o que está perturbando sua cabeça. Esqueça o que as pessoas pensariam, o que diriam. Deixe que falem. Nenhum deles tem algo a ver com o que apenas nós dois sentimos e entendemos. Por favor, seja minha.

– O problema é exatamente esse - falei com pesar, olhando em seus olhos verdes e gravando cada risco em sua íris. - Eu não entendo o que temos. Nunca consegui entender. E é exatamente por isso que precisamos nos separar. Desculpe, mas eu não consigo mais - me desvencilhei de seu abraço e corri a mão na linha de seu maxilar uma última vez. Nick deixou que uma lágrima solitária corresse por seu rosto e tentou segurar minha mão, mas eu já estava longe demais para que ele pudesse me alcançar.

– Risa...

– Adeus, Nick.


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