The Guardians escrita por Sawatari


Capítulo 1
Prólogo




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            A forte chuva continuava a cair sobre as ruas da cidade, os ocasionais relâmpagos clareando a noite apagada por breves minutos. O vento batia forte, fazendo algumas janelas baterem, às vezes tirando algumas pessoas de seu sono. Devia passar da meia-noite, e devido ao tempo nenhuma pessoa era vista nas ruas. Mas isso não queria dizer que ela estivesse vazia.
            Ele pisou sobre o telhado com força, ganhando impulso e deixando a marcas de suas garras na telha, mas no momento em que suas asas se abriram, foi obrigado a fechá-las e pousar em outro telhado. O projétil negro passara raspando por seu rosto. Saltou novamente, mais baixo, pousando sobre um poste ainda aceso e olhou para trás. Eles não iriam deixá-lo levantar vôo. Teria que fugir por terra, o que significava despistar seus perseguidores, ou matá-los. Preferiu a primeira opção.
Suas orelhas pontudas levantaram quando ouviu um som de choque abafado. Repreendeu-se por ter ficado tão exposto, logo naquele poste. O mendigo saiu correndo assim que percebeu seu olhar. Mesmo sendo um humanóide, aquelas criaturas se assustavam ao vê-lo. Se bem que não era muito parecido com eles assim.
            Parecia um adolescente normal, de pele pálida coberta por tatuagens tribais e olhos verdes. Cabelos brancos com mechas verdes caíam compridos pelas costas, um contraste à armadura negra e fina que usava. A metade inferior de seu rosto era oculta por uma espécie de cachecol escuro. Mas o que assustava as pessoas eram as pernas de pássaro, com garras afiadas e curvas abaixo dos joelhos da armadura, o grande par de asas negras como de um corvo em suas costas, e a incrível quantidade de armas que possuía. Bufando, Zephyros se virou de novo para os dois seres que o perseguiam.
            Um deles era outro humanóide, vestindo uma armadura negra e roxa, mas era difícil defini-lo devido à longa capa que usava e que tinha que desviar de um golpe toda vez que ele chegava perto. As únicas coisas claras nele eram seus olhos vermelhos e raivosos, os chifres negros e curvos em seu elmo e o par de grandes espadas igualmente escuras que usava. Essas últimas Zephyros vira de perto até demais.
            O outro não tinha nada de humano. Corpo quadrúpede de leão, os pêlos castanhos quase totalmente cobertos por uma armadura negra e manchada de... bem, ele preferia não saber do que. Suas asas encouraçadas de morcego estavam abertas, mas mesmo assim ele corria pelos telhados. Sua cauda, longa, negra, sem pêlos mas coberta de grandes espinhos pontudos, estava ereta e apontada em sua direção. Em seu rosto, desprovido de pêlos e sim de pele vermelha e parecido com o de um gárgula, raiva e fome disputavam pelo domínio.
            Missão de captura, não morte.
            Era isso que Zephyros não entendia. Eles tinham tido várias oportunidades de matá-lo, mas não o faziam. Fazia parte da resistência, logo, Kronos lhes daria uma recompensa por sua morte imediata.
            Não devia ter se distraído pensando nisso, pois outro projétil negro foi disparado. Segundos antes que o acertasse, fechou o punho direito e desferiu um golpe em arco contra ele. Uma lâmina se projetou da parte de cima de seu pulso, no mesmo estilo da armadura, e cortou o espinho em dois, que caiu inútil no chão. Mas esse pequeno momento era tudo o que os inimigos precisavam.
            Voltou a olhar para trás, e percebeu que apenas um dos perseguidores corria até lá. Então olhou para cima, tarde demais. O imenso corpo do monstro quadrúpede caiu sobre o seu, fazendo-o despencar pelo telhado até um jardim bem cuidado a frente de uma casa. O monstro cravou as garras longas em suas asas, enquanto a cauda se enterrava em seu peito. Não conseguia nem ao menos gritar, o que na verdade só serviria para piorar sua situação. O que humanos podiam fazer contra dois gadians?
            O segundo pousou na grama um pouco atrás, cruzando os braços. Seus olhos completamente vermelhos estavam voltados para Zephyros, como se zombasse dele. O que de fato se provou verdade.

            - Fuja agora, passarinho. – disse. Pelos olhos, parecia estar sorrindo, mas seu elmo tornava difícil saber. Então se voltou para o companheiro. – Hey, Mantikhor, o chefe deixou claro, não mate esse aí.
            O quadrúpede bufou e fechou as presas com força, a milímetros do rosto de Zephyros. – Você tem muita sorte, moleque. – ele não respondeu. Já era impressionante que conseguisse respirar.

            - Vamos dar o fora daqui logo. – retrucou o gadian negro. – Odeio esse mundo.

- Ok. – bufou Mantikhor.

 

            Ele puxou de volta as garras e a cauda, fazendo com que um sangue dourado e fino corresse dos cortes. Zephyros só fechou os olhos e virou o rosto, arquejando. Dando o que parecia um muxoxo, o gadian manticore se aproximou dele e mordeu um pedaço de seu cachecol para que levantasse.

 

            - O chefe exagera muito. – disse, sua voz grave meio abafada. – Foi fácil pegar esse garoto.

 

            Porém, no momento em que ele disse isso, Zephyros abriu os olhos e levantou o punho. A lâmina afiada se projetou mais uma vez de seu pulso, e cravou-se no pescoço de Mantikhor, quase atravessando sua garganta, em um golpe fatal. Quase. O monstro deu um pulo para trás quando a lâmina raspou por sua pele, mas logo depois se recuperou do susto e lançou os longos espinhos de sua cauda. A maioria dos projéteis bateu em sua armadura, fazendo apenas alguns amassos, mas outros se cravaram em suas asas.

            O gadian manticore rosnou enraivecido e saltou, enquanto Zephyros ainda se curvava para não sair e fazia com que uma segunda lâmina saísse do outro pulso. Iria cair lutando. Quando Mantikhor desceu do salto, ele deu um giro, fazendo com que as lâminas se enterrassem e fizessem longas lacerações em seu corpo. Mantikhor caiu com um ganido baixo atrás dele.

            Zephyros se virou, erguendo uma das lâminas para outro ataque, mas foi detido antes que pudesse revidar. Uma membrana de energia arroxeada passou em volta de seu peito, fechando-se e prendendo ao mesmo tempo seus braços e asas. Confuso, ele tentou atacar aquilo, mas foi inútil, suas lâminas passavam como se não fosse nada. Então o braço de energia que o segurava levantou, fazendo-o deixar o chão.

 

            - Não vai escapar tão fácil. – disse o guerreiro negro. Estava com o braço estendido, e dele provinha aquela estranha energia. Parecia se divertir com o esforço de Zephyros para se soltar.

            - Quem é você? – perguntou ele, confuso. – O que quer comigo?

            O outro se aproximou, permitindo que fosse visto mais claramente. Seu elmo em forma de crânio de pássaro deixava apenas visíveis seus olhos vermelho, e sua armadura, alternando entre roxo e negro, possuía entalhes de pássaros e chamas. A capa se enfunava com o vento, deixando a mostra um par de bainhas com espadas. Só uma deles estava lá, a outra estava na mão dele.

 

            - Eu sou Tanathos. E eu não quero nada com você, apenas sigo ordens. – disse ele, antes de se virar para Mantikhor, que se levantava furioso. – Kronos quer você vivo... Mas vivo não quer dizer inteiro.

 

            Tanathos ergueu a espada à luz de sua estranha energia, enquanto Mantikhor expunha as presas e corria na sua direção. Estava perdido. Foi então que algo mais estranho ainda aconteceu. Uma luz branca tomou o lugar, deixando todos cegos por um instante. Então a luz pareceu se dividir para que uma nova figura se aproximasse. Mantikhor se encolheu, e Tanathos se afastou alguns passos. Zephyros não podia se afastar, mesmo que quisesse. E não queria.

            Ela ergueu a mão e, os dois gadians negros sumiram em outro clarão. Zephyros caiu no chão, mas ergueu o rosto imediatamente, mirando a estranha. Aquilo não podia ser verdade... Quer dizer... Depois de tanto tempo, e logo ali...

 

            - Você...  – começou em tom baixo. – Você os matou?

            - Não. – disse a voz calmamente, como sinos badalando. – Apenas os mandei de volta ao seu mundo.

            - Você é mesmo...

            - Nada de perguntas. – interrompeu ela, e Zephyros se calou no mesmo instante.        – Logo tudo ficará claro. Por hora, descanse, criança.

            - Mas...

 

            Antes que ele terminasse a frase, aquela mão iluminada pousou sobre sua testa. Outro clarão de luz tomou o lugar, e quando acabou, sua origem se fora, deixando tudo silencioso e calmo. Isto é, antes que os ruídos nervosos se dentro da casa começassem.       A luta e a aparição tinham finalmente chamado a atenção dos humanos ali. Se soubesse disso, Zephyros teria voado o mais longe possível dali. Entretanto, se achava deitado na grama molhada da chuva, os olhos fechados, respiração calma, em vez dos arquejos. Mas suas lâminas ainda estavam a mostra.

 


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