Depois da surpresa de Jake e Beemo, veio mais uma. Só que dessa vez não era pra mim.

— Cake?

— Oi Finn, como vai? Lamento pelos seus pais, que triste né?

— Bem sim, mas...

— Cake!! – Jake gritou, assustando a mim e a Cake – O que você ta fazendo aqui? Meu pai não falou que era pra você ficar em casa?? Aqui só tem homem, pode voltar.

Fiquei um pouco envergonhado por estar entre eles então fiz questão de sair ali do meio e deixarem os primos se resolverem.

— Só homem? Claro, a Fionna mudou de sexo e não me contou foi?

— Absolutamente não amiga.

Todos viraram pra escada e encararam minha irmã, que provavelmente acordou depois daquele grito exagerado de Jake.

— Esqueceu que a Cake é a melhor amiga da Fionna, Jake? – Perguntou Beemo subindo as coisas dele pro meu quarto e cumprimentando Fionna depois de passar por ela.

— Poxa, não é que eu esqueci? Desculpa. – Jake corou e começou a coçar atrás da cabeça.

Fionna desceu, abraçou a amiga e ajudou com algumas (muitas) coisas que Cake havia trazido. Meninas são complicadas, levam toneladas de malas pra casa das amigas quando vão dormir lá mesmo sabendo que vão ficar apenas uma noite ou duas.

Fionna e Cake subiram deixando Jake e eu sozinhos na sala, já que a Jeane tinha ido pra cozinha preparar um lanche pra gente. Apesar de estar contente por meus melhores amigos estarem aqui, eu ainda me sinto muito triste. Imaginar minha vida sem meus pais ainda é uma coisa muito dolorosa pra mim.

Jake chacoalhou meu ombro com força e só então que eu percebi que uma lágrima tinha caído de novo. Que droga, odeio quando choro tanto e ainda por cima na frente do Jake.

— Finn? Ta tudo bem, irmão? – Ele me olha preocupado.

— S-sim, eu to legal. Foi só um cisco no meu olho.

— Xará, se for mentir, inventa uma mentira melhor porque essa é bem velha. Desculpa, é óbvio que você não tá bem. Eu não deveria ter vindo. Esse momento é coisa de família, eu não deveria ta me metendo.

— Tá doido? Jake, você e o Beemo fazem parte da família sim. Lembra que vocês dormiam tanto aqui que minha mãe até falou pra vocês se mudarem pra cá de uma vez?

— Lembro, passei a maior vergonha naquele dia.

— Haha, viu só?

Rimos mais um pouco e subimos pro meu quarto onde o Beemo já havia se instalado no meu vídeo game.

Passamos o resto da noite bebendo refrigerante, comendo salgadinhos e jogando vídeo games até que uma hora o Jake se levantou e começou a dizer:

— Quero fazer um brinde ao Senhor e a Senhora Mertens que além de nos acolher, sempre foram amorosos e divertidos comigo e com Beemo, e que se não fossem eles, nunca teríamos conhecido Finn e Fionna, nossos grandes amigos e irmãos. – Então ele levantou a sua latinha de refrigerante e disse – Aos Mertens!

— Aos Mertens!

— Ao papai e a mamãe!

Depois disso, passamos umas horas relembrando velhas histórias envolvendo viagens de férias em que Jake e Beemo vieram junto comigo, Fionna, mamãe e papai.

Uma história em particular foi mencionada logo de cara, foi aquela em que fomos até a Coréia e Jake conheceu Íris e ela acabou ficando tão apaixonada que se mudou pra nossa cidade e pra nossa escola só pra ficar mais perto do Jake (que acabou gostando bastante já que depois da viagem ele só falava e  pensava nela).

— Ah cara, amor de praia não sobe a serra, mas amor de viagem atravessa oceanos às vezes, hehehe.

— Que linda história de amor. – Disse Beemo, com uma certa ironia na voz.

— É, meus filhos vão se amarrar nessa história quando perguntarem pra mim como foi que Íris e eu nos conhecemos.

— Aposto que sim. - Disse Beemo revirando o olhos e terminando seu refrigerante.

Quando a Jeane apareceu e nos mandou dormir, Jake e Beemo foram rapidinho pro banheiro escovar os dentes, me deixando com toda a bagunça pra arrumar. Assim que eu arrumei tudo, eles apareceram e começaram a arrumar as coisas deles pra dormir, porém, mesmo com tudo arrumado, ficamos conversando em sussurros até as duas.

Mesmo depois da noite divertida, ainda fui dormir pensando nos meus pais e como era possível eles terem morrido daquela maneira. Eles eram pessoas tão boas. Se existe mesmo um Deus, ele não é nem um pouco justo.

Seis em ponto, ouvi Jeane batendo na minha porta e me chamando pro café. Resmungo alto um “Já vou” e Jake me pergunta se pode usar meu xampu porque esqueceu o dele em casa.

—Tá, sem problema. – Respondo me levantando da cama e jogando um travesseiro em Beemo que dorme como uma pedra ao lado do meu pé.

— Mãe, já vou, só mais um minutinho. – Beemo resmunga sem nem abrir os olhos.

Jake, que nunca perderia uma oportunidade de zoar alguém, faz uma voz tentando imitar a mãe de Beemo e diz:

— Nada disso meu filho, você vai levantar agora mesmo.

— Ai mãe, relaxa. – Beemo diz ainda dormindo.

Jake então grita, fazendo Beemo levantar assustado e nos fazendo cair na gargalhada.

— Beemo! Será que eu terei que chamar seu pai aqui??

— Não, mãe, não... Ah Jake, será que você não cansa de me encher?

Jake ainda recuperando o fôlego diz ainda com sua imitação de mãe do Beemo:

— Não, meu filhinho, nunca me canso e nunca vou me cansar.

— Meninos, vocês vão se atrasar!! – Grita Jeane lá da cozinha.

— Eu vou primeiro! – Grita Jake indo em direção ao banheiro e iniciando uma corrida entre ele, Beemo e eu.

Quando chegamos lá, Cake acaba de entrar trancando a porta.

— Isso só pode ser brincadeira. - Fala Beemo e ouvimos uma risada de dentro do banheiro.

Depois de todos prontos, descemos pro café e Jeane olha pra mim e Fionna e diz:

— Tem certeza de que querem ir? Geralmente isso não é fácil.

— Relaxa Jeane. Cuidaremos deles. – Fala Jake.

— Bem, se vocês concordam.

A verdade é que eu sei que não vai ser fácil, e que Jake não vai estar sempre do meu lado. Tenho medo de como vai ser todos me encarando. Nunca passei por isso, mesmo que meus pais já tenham aparecido nas noticias várias vezes. Tenho medo por Fionna também. Ela é uma garota que gosta de atenção, mas não sei se esse tipo de atenção vai ser bom pra ela. Tudo o que me resta agora é esperar pra ver o que acontece.