Lágrima Escarlate escrita por Evo Gonzales


Capítulo 6
Em busca do passado




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***

Dylan saiu do banho e encontrou Alícia na cozinha preparando algo para beber.

— Um chá para nós. Chai, já tomou? - Olhou ao menino de soslaio, construindo um riso em sua bela face.

— Bem… nunca ouvi nem falar. Não faço a mínima ideia do que seja. - Voltou seus olhos à xícara donde subia uma fumaça úmida. Ele preferia um refrigerante naquele dia de calor infernal. Odiou ter que tomar chá.

— É uma bebida típica aqui da Índia. Quis fazer para você… mas se preferir, tem refrigerante na geladeira. Fique à vontade.

— Não. Deixe experimentar. - Não quis ser desagradável.

Como um bom cavalheiro e tentando se mostrar um bom hóspede, Dylan degustou a bebida e não achou de toda ruim, ainda que o sabor do gengibre estivesse um tanto acentuado para seu paladar.

— E então… não creio que a Índia fosse um destino que você desejasse… - Aline sentou-se à mesa, sinalizando para que o garoto sentasse também.

— Bem, não era mesmo. Fui pego meio que de surpresa. E minha mãe, você sabe como é… me “convenceu” fácil. - Desenhou aspas com as mãos depois de pousar na mesa a xícara com o chá.

— É, eu sei bem. - Ficou um tanto desenxabida e desviou o olhar forçando um leve riso.

Dylan notou o desconcerto de Alícia. com certeza ela não gostaria de falar da irmã. Mas mesmo assim, quis aprofundar o assunto para talvez pescar alguma coisa. Ele até gostou de causar desconcerto na tia. Se sentia mais “filho” de Marine quando fazia isso.

— Quer dizer… não sei o quanto conhece minha mãe… - Tentou encontrar os olhos da tia que insistia em abandonar os seus.

— Bem… - Um instante de silêncio tentando encontrar as palavras. Depois voltou seus olhos para o menino. - É, eu a conheço bem sim, sei de seu poder de “convencimento”. - Desenhou também aspas com as mãos.

— Alícia. - Riu. - Desculpe, eu não consigo te chamar de tia. - Tentou ser sedutor.

— Não ligue. Nós somos praticamente desconhecidos mesmo. - Riu também.

— Você nunca me viu durante todo esse tempo?

— Quando você nasceu eu te vi. Desde pequeno já parecia o pai. Mas não tinha nada de Marine.

— Gostaria de lhe perguntar uma coisa.

— Pois não. Pergunte.

— Bem… - Pousou a xícara na mesa e cruzou as mãos à sua frente. - Eu nunca ouvi falar de você. Minha mãe nunca falou. Meu pai nunca falou. Bom, meu pai é claro que não falaria, é pau mandado de Marine, só faz o que a senhora Lefevre quer. - Deu uma pequena pausa observando mudanças no semblante de Alícia. Depois perguntou. - O que aconteceu que fez você se separar de minha mãe... da família?

Alícia pigarreou e ficou sem jeito. Tirou os olhos de Dylan e o pousou em algum ponto impreciso da mesa enquanto tentava disfarçar guardando alguns fios de cabelos por trás das orelhas.

Ele riu por dentro.

— Bom… - Tentou falar após um tempo buscando as palavras. - Tivemos desentendimentos Dylan. Prefiro não comentar, se não se importa. - Emitiu um riso acabrunhado.

— Ela disse que foi por conta de um namorado que você arrumou. - Mentiu. - Foi isso mesmo?

Alícia realmente corou enquanto imaginava o quanto Marine havia dito ao rapaz.

— É. Tua mãe não o aceitou bem. - Não conseguiu esconder a irritação. - Você quer mais chá? - Levantou e pegou a xícara de Dylan que ainda continha uma grande quantidade de chá.

— Eu ainda não terminei. - Respondeu analisando a atitude da tia. Com certeza haviam muitas coisas escondidas por debaixo do tapete.

Ela não o ouviu dizer. Ou talvez tenha ouvido, mas não deu caso.

— Vou preparar o almoço. Você deve estar com fome. - Falou ríspida e séria. Foi para a cozinha.

Ele notou que ela queria acabar com a conversa o mais rápido possível.

Dylan ficou na sala pensando. Com certeza seria algo muito grave que teria acontecido entre as suas irmãs. Crescia-lhe a curiosidade.

 

O almoço, ao estilo inglês para agradar o visitante, ocorreu com conversas amenas, com Alícia discorrendo sobre as qualidades da Índia, apresentando-o como um país maravilhoso. Dylan o achava medonho.

Mesmo que tentasse disfarçar, Dylan notou que ela estava um tanto incomodada com ele. Por certo era por cota da conversa que tivera mais cedo.

O rapaz, cortes e atencioso, não voltou ao assunto de outrora. Decidiu esperar para encontrar oportunidade melhor. Talvez quando ela confiasse mais nele. Além do mais, ela deu pouco espaço para que ele desenvolvesse qualquer assunto que fosse. Com certeza o receio de que ele retomasse aquele assunto desagradável a fez falar descontroladamente.

Ficou para outro dia um tour pela cidade, já que Dylan estava cansado e preferiu ver a cidade apenas pela janela do apartamento.

O apartamento era pequeno e utilitário. Havia nele apenas o que Alícia necessitava para levar sua vida sossegada e pacata. Dylan logo tomou a vida da tia como algo inútil, já que nem namorado ela parecia ter.

Alguns quadros de pinturas melancólicas pela parede que ele identificou serem de pintores de rua da cidade. Provavelmente comprados de alguém na calçada. Pela semelhança e data entre um e outro, pintados pelo mesmo artista e comprados no mesmo dia.

Passou quase a tarde toda ouvindo Elton John que tocava em um aparelho à sala. Ele pensou que a música tinha o intuito de o agradar, afinal, que inglês não aprecia aquele músico?! Mas ele preferia o punk rock americano. Ela não tinha como saber, claro.

À tarde, entre um chá e outro, conversas amigáveis e aleatórias entre os dois. Passaram a se conhecer melhor e Elton John parou de tocar no aparelho de som, sendo substituído por Green Day.

Alícia sentia certa antagonia em si.

Não apreciava muito a estadia do menino ali, afinal, sempre vivera sozinha e ter uma visita iria minar sua liberdade. Alem do mais, ela percebeu que ele queria saber sobre o passado, um passado que ela preferia esquecer.

Por outro lado, pareceu-lhe bom ter alguém para conversar, já que Dylan se mostrou um hóspede agradável e atento a tudo que ela dizia. Talvez forçasse um pouco para dar atenção, mas ao menos se mostrava cavalheiro para isso.

Ademais, haviam traços neles que lhe traziam lembranças de Wallace e isso lhe pareceu agradável. Lhe trouxe recordações doces, ainda que essas recordações, ela se cobrava por esquecer.

Dylan até que gostou de saber algo sobre a Índia. Porém, continuava preferindo as Bahamas. Mas deu atenção à tia e a achou agradável. Era muito diferente do sarcasmo ácido de Marine. Não que ele não gostasse do humor de Marine. Ele adorava, quase como uma veneração. Mas gostou da suavidade e franqueza na fala solta da tia.

 

O dia se foi e veio a tarde. Principiava a dar sinais das primeiras penumbras da noite quando Dylan, debruçado na sacada do apartamento, viu que um cortejo que se aproximava. Voltou, sem compromisso, sua atenção a ele.

***


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