Immortal Star - Segunda Saga escrita por Sandaishiro


Capítulo 4
Monstros, Reinos e Guildas


Notas iniciais do capítulo

Quando um reino começa a ser invadido por tudo quanto é coisa ao mesmo tempo, as pessoas começam a entrar em um desespero pelo simples desconhecido.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/671622/chapter/4

Foi rápido mesmo. Tudo aconteceu ao mesmo e em uma hora que todos achavam que teriam outro dia pacato e tranquilo, como sempre. A cidade mais protegida que existia estava sofrendo sua segunda provação em um só ano, provando que o mundo precisava rever seu conceito de "rankings".

Riven nunca teve um momento mais desesperador do que esse. Como eu tinha lhe dito no começo do meu conto, essa foi a época das mudanças, e quase todas foram ruins. Foram forçadas. E foram demoradas.

Já deu para perceber que a mistura de soldados inimigos com monstros aleatórios em um só ataque era, no mínimo, suspeito. Mas como sempre, isso era só a ponta do iceberg. Quando as tropas do castelo começaram a se mover, aí sim que a coisa ficou mais desastrosa, principalmente porque nossa Guilda acabou se envolvendo em algo que não deveria.

E isso também fazia parte de um "Plano Maior".

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~xXx~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Não só de humanos e monstros o mundo era forrado. Haviam muitas espécies dotados de grande inteligência que tinham formas humanoides, mas que não eram e não viviam com os humanos. Uma das mais numerosas eram os "Anões", uma raça com um grande talento para construção, minério e possuidores de uma grande força física. Assim como o nome já lhe diz, eles eram mais baixos que os humanos, coisa que nunca os impediu de fazer qualquer coisa pior do que um humano. Ah sim, muitos deles eram extremamente competitivos e em geral, eram uma raça amigável e adoravam festejar.

A segunda raça mais numerosa e com certeza, a mais conhecida e temida, eram os "Elfos". Eles podem ser facilmente confundidos com os humanos pois são praticamente idênticos, tirando seus cabelos com cores bem diferentes, orelhas pontudas e olhos afiados.

Vamos começar dizendo que eles tinham uma capacidade mental maior do que as outras raças, inclusive dos humanos. Eles aprendiam mais rápido e se adaptavam mais rápido. Mas eles eram um tanto reclusos. Vivem somente em vilas feitas nas grandes florestas e só visitam as grandes cidades  para buscarem remédios não naturais ou recursos não encontrados em suas vilas. Em geral, também eram uma raça amigável, mas não suportam nenhum tipo de brincadeira de mal gosto e ficam realmente furiosos com qualquer menção negativa sobre sua raça.

Como guerreiros, eram perigosos e com uma precisão mais do que absurda. Eram muito bem treinados com arcos e bestas, magia natural e exímios caçadores. Não gostavam de participar de guerras e sempre recusavam qualquer aliança com reinos e até Guildas. Era possível sim, ver algum elfo em uma guilda, mas eram casos especiais e motivação do próprio elfo em questão.

Então quando Mana teve que se defender de duas investidas seguidas de um elfo de longos cabelos loiros usando uma espada fina, mas muito bem afiada, a assassina não deixou de estranhar e sabia que o caos decidiu dar uma passadinha dos limites.

O tal elfo atacou mais uma vez, dando um golpe rápido e horizontal na altura do pescoço da assassina. Mana usou a kodachi para defletir o ataque, mas quase perdeu o equilíbrio. Deu dois passos para trás e arremessou três agulhas envenenadas na direção do seu atacante. O elfo rolou para frente, se esquivando e usando o movimento para fazer uma investida direta contra Mana. Mas o que ele não esperava é que as agulhas eram apenas uma finta. Uma velha estratégia que a assassina usava e geralmente dava certo.

LÂMINA DE ENERGIA!

Depois de ter atirado as agulhas, Mana concentrou um pouco de energia mágica em sua arma e deu um salto para cima, saindo do campo de visão imediato do seu oponente. Assim que ele avançou e viu que não tinha ninguém em sua frente, Mana desceu com um golpe direto mirando a cabeça do elfo.

Essa magia era uma típica "Magia de Arma", que eram únicas para cada arma diferente. Essa magia criava um tipo de "alongamento" da lâmina da kodachi da assassina usando energia mágica, fazendo ela ter o mesmo tamanho do que uma katana.

Mana acertou o oponente em cheio, cortando desde o olho até o pescoço em um só golpe vertical de descida. O elfo gritou, largou a espada e caiu de costas no chão com as mãos no novo machucado fatal, enquanto sangrava como um furo em um balde de água. A assassina, assim como foi treinada, não esperou para ver se ele ainda se levantaria. Deu dois passos para frente e enterrou a kodachi no coração do oponente, que deu um último grito gutural e faleceu.

A assassina ouviu um curto grito feminino vindo de não muito longe dali, o que a fez se virar e correr.

Ao mesmo tempo que essa batalha estava acontecendo, Victoria estava tentando se virar em um duelo complicado contra outro elfo. Esse era um elfo um tanto atípico, pois ele tinha mais músculos, usava um machado de duas mãos e era careca. Com certeza uma visão estranha. Mas a aprendiz não estava nem aí para o fato de seu oponente não estar nos padrões élficos.

A garota se jogou para o lado, se esquivando de outro golpe potente da arma de seu oponente, que destruiu duas caixas de madeira que jaziam perto da casa. Victoria e o elfo lutavam em um grande jardim aberto que ficava atrás da casa de algum rico esnobe que adorava se exibir. Claro que depois de hoje, ele não teria mais muito para mostrar.

Victoria se levantou rápido e correu em direção ao oponente. Ela lembrava dos ensinamentos. Contra um oponente com uma arma mais pesada, sempre use a velocidade para pegá-lo antes dele atacar. A garota chegou até atrás do elfo, mas mesmo que sua arma seja pesada, ele em si ainda era um guerreiro e tinha muito mais força física do que a garotinha. O elfo se virou dando um soco com as costas da mão em um movimento aberto e horizontal. Victoria foi ainda mais rápida, se abaixando e deixando o soco passar raspando por sua cabeça. Sem defesa, o elfo não conseguiu fazer nada contra a faca que lhe cortou no peito, lhe tirando sangue e causando uma ligeira dor.

Irritado, o elfo careca se levantou e girou o machado, mirando na lateral do pequeno corpo da garotinha. Victoria deu um salto ligeiramente rápido para o ar — coisa que ela vinha treinando muito recentemente — e logo que pousou, adicionou mais um corte na perna direita do oponente. O elfo tentou agarrá-la com uma das mãos livres, mas Victoria deu um salto para trás, suando frio. Ela quase foi pega.

A garota estava tremendo. Era sua primeira batalha de verdade, e ela não fazia ideia do porque estava sendo atacada. Ela conhecia os elfos, mas nunca ouviu falar de um com olhos tão... Vermelhos como aquele ali. Ele parecia bufar e não parecia sob o próprio controle. Havia realmente algo errado com aquela situação, mas a pobre coitada ainda não tinha experimentado como a vida era complicada quando você decidia entrar para uma Guilda.

O elfo atacou novamente. Desceu o machado com tudo, querendo esmagar o inseto de garota que havia lhe cortado duas vezes. Victoria saltou para o lado, se esquivando perfeitamente mais uma vez. Mas lembrem que eu disse que os elfos eram uma raça inteligente? Pois é. Eles tinham muitas táticas de batalha e poderiam ser mais perigosos do que campeões do Coliseu. Assim que o machado acertou o chão, o elfo arrastou a arma na direção da oponente, jogando arreia e pedras na direção dela. Victoria foi acertada por toda aquela sujeira e pedras que não a machucaram tanto. Mas a investida de ombro do elfo sim, machucou bastante.

O membro mais novo da Immortal Star soltou um grito curto e caiu no chão rolando duas vezes, sem ar nos pulmões. Ela tinha ficado ligeiramente tonta e tentava se levantar o mais rápido possível. Mas era o primeiro dano que ela tinha levado de um oponente de verdade, então ela passava pela experiência da dor e de uma ferida de combate. Enquanto isso, o elfo se aproximava, preparado para fazer mais uma descida mortal com seu grande machado.

Você deve estar pensado em algo como: "A pobre garota perderá a vida tão cedo, sem ter terminado seu aprendizado e sem nem ter tempo de aprender os prazeres da vida". Ou, se você é mais propenso a gostar de contos de heroísmo, deve estar pensando: "Essa é a hora que Mana aparecerá como Salvadora e derrotará o oponente". Bom, então surpreenda-se: nenhuma dessas duas coisas aconteceu porque Victoria acordou um novo "poder" dentro de si. Ela experimentou pela primeira vez a "adrenalina" da batalha.

Victoria sabia que seu oponente se aproximava. Ela também sabia que seu corpo estava mole, e não obedecia do jeito que deveria. O elfo não precisaria se aproximar muito para acertá-la. Então ela não tinha mais nenhum segundo para poder se levantar e se recuperar para continuar a batalha. Nesse momento, ela sentiu o desespero lhe corroer cada veia e cada partícula do seu ser. Sua boca não fechava e a tremedeira havia piorado. Mas então uma frase brilhou em seu consciente. "A batalha só começa quando você entende o perigo que está enfrentando". As palavras de sua Mestra fizeram o corpo de Victoria se encher de energia mágica, que chegou a emitir um bonito brilho branco com cinza escuro.

RECUO IMEDIATO!

O machado desceu como deveria. Mas não esmagou um pequeno corpo humano como deveria. O elfo olhou para o chão estranhando o fato de não ter ouvido o som de ossos quebrando ou a falta óbvia de sangue. Quando percebeu, Victoria estava a mais ou menos dois metros de distância da onde o machado havia atingido. Ela não estava mais deitada no chão. Estava de joelhos e respirava rapidamente. Mas algo havia mudado.

Victoria encarava o elfo nos olhos. Agora o olhar da garota estava tão afiado quanto do oponente. A adrenalina estava enchendo a cabeça da inocente lutadora. Ela apertou o cabo das duas facas e ficou em pé novamente, fazendo energia mágica escapar de seu corpo. Era preciso lembrar que ela ainda era muito novata nesse aspecto, e controle de energia não era uma coisa que se aprendia da noite para o dia.

O forte elfo forçou os braços mais uma vez, levantando seu machado que ainda não havia atingido seu objetivo inicial. O homem deu mais um passo para frente e aplicou um novo golpe horizontal contra Victoria.

ATAQUE FLASH!

Victoria fez um movimento que se ela pudesse se ver, ela choraria de tanto orgulho. Ela não esperou o elfo completar o ataque. Assim que ela percebeu a movimentação do machado, Victoria explodiu aquela energia que ainda emanava de seu corpo e usou outra magia que vinha treinando em suas horas vagas. Essa magia transformava seu corpo em um tipo de raio, e o fazia avançar em linha reta na velocidade da luz. Ah claro, ela poderia atacar nessa linha reta enquanto fazia o avanço, o que, na nossa atual situação, aconteceu. Quando a garota apareceu novamente atrás do elfo, duas novas linhas de cortes haviam aparecido na perna esquerda do homem de machado, que não aguentou o ferimento e foi de joelhos para o chão.

Mas Victoria também caiu de joelhos, quase não tendo ar nos pulmões. Ela acabou de usar duas magias que ainda estavam em fase inicial de treino. Na verdade, considerando a empolgação e dedicação da garota, podemos afirmar que as magias já estavam quase que perfeitas. Mas ela ainda precisava se acostumar com o controle de liberação de energia mágica.

Outra frase surgiu na mente da garota, mas dessa vez, não eram palavras de sua Mestra, e sim, de seu pai: "Nunca pare de atacar o inimigo até você ter certeza que ele não se mexerá mais". Victoria se virou e viu que o elfo já estava quase em pé novamente. O ferimento em sua perna era sério, mas isso não parecia atrasar aquele homem. A aprendiz respirou fundo e se levantou novamente, ainda com o corpo emanando energia mágica, que já lhe esgotava.

O elfo se virou furioso para trás, esperando encontrar a pequena peste que havia lhe ferido tantas vezes. Mas não encontrou. Victoria já havia corrido e agora estava bem do lado esquerdo do elfo careca. Ela pulou e aplicou um chute no nariz desprotegido do oponente. Parte um da estratégia para lutar contra pessoas mais fortes: atingir um ponto vital. Acertando o nariz do oponente, ele perde o equilíbrio e tem a concentração quebrada.

O grande elfo levou as duas mãos no nariz que agora escorria sangue. Mas as dores não paravam aí. Parte dois da estratégia para lutar contra pessoas mais fortes: combine ataques e ferimentos que piorarão ainda mais a situação do oponente. Então Victoria acertou com o cabo de sua faca exatamente no meio do pescoço do elfo, fazendo ele engasgar imediatamente. Agora ele não conseguia respirar pelo nariz e nem pela boca, o que estava fazendo ele perder a consciência em termos de segundo. Ele caiu de joelhos e lutava por ar.

Mas não acabaria por aqui. Parte três da estratégia para lutar contra pessoas mais fortes: assim que o oponente estiver com a guarda aberta, ataque com tudo, sem esperar. Victoria passou todo o resto de energia mágica que tinha para as duas facas, que vibravam perigosamente. Ela deu um passo para trás e logo em seguida, um salto para cima. Não precisaria ter muito impulso, mas sua mira precisava estar perfeita.

BIDENTE PERFURANTE!

O pulo não tinha sido muito alto, mas serviu seu propósito. Com as duas facas energizadas, Victoria aplicou um golpe duplo de descida mirado exatamente no meio das costas do oponente. As duas facas entraram no corpo musculoso do elfo até o cabo, fazendo o próprio homem careca gritar e vomitar sangue ao mesmo tempo. Com o choque e a falta de ar, o elfo caiu de cara no chão, completamente apagado.

Assim que viu que seu oponente tinha finalmente sido derrotado, Victoria perdeu a outra luta que fazia, que era contra seu próprio corpo. Ela caiu sentada no chão de terra, respirando rapidamente. Sua tontura tinha voltado e ela sabia que sua consciência estava prestes a dar um basta em todo aquele esforço. Ela foi caindo para trás, mas foi segurada.

— Victoria! Você está bem? — perguntou Mana, a colocando no chão devagar e a analisando imediatamente.

— Mestra... — foi a única coisa que ela conseguiu responder antes de apagar.

— Não consigo acreditar que ela derrotou um desses elfos sozinha!

Havia outra coisa que deveria ser levada em consideração quando se trata de elfos. Eles eram grandes caçadores, e geralmente, grandes caçadores eram bons em camuflagem. Eles sabiam se esconder muito bem e tinham paciência para atingir um alvo que está totalmente desatento ao seu arredor. Então quando o elfo camuflado em cima de um dos telhados atirou a flecha mirando exatamente no meio da cabeça de Mana, podemos ter uma ideia do perigo que é enfrentar esse tipo de guerreiro.

A flecha dos elfos era uma obra de arte por si só. Ela é criada artesanalmente por um elfo que treina anos para confeitar todos os equipamentos de sua raça, começando sua carreira ainda como criança. Um elfo artesão tinha habilidade manual ainda mais precisa que os próprios arqueiros da raça, e com isso, as flechas saiam todas perfeitas, sem exceção. A madeira usada vinha da própria floresta, e tinha uma resistência particularmente potente. A ponta feita geralmente de prata era feita de uma maneira que ela quebrasse facilmente a resistência do vento ao ser atirada, fazendo a flecha atingir uma velocidade sobrenatural. Lendas dizem que os melhores arqueiros dos elfos conseguiam atirar uma flecha tão rápida quanto um tiro dos atiradores de elite do Império Haoriano.

Essa mesma flecha voou sem resistência nenhuma contra a cabeça de Mana, e não importaria qual capacete ela estivesse usando, essa flecha atravessaria seu crânio e a deixaria sem vida em milésimos. Uma forma rápida para se morrer. Sem dor. Sem nem saber o que lhe atingiu. Sem nada.

Mas a flecha assassina parou exatamente a sete centímetros da têmpora de Mana, que vislumbrou o brilho lustrado da flecha de prata. Uma pessoa havia aparecido do nada do lado da assassina e parado a flecha antes que ela atingisse seu alvo. Essa mesma pessoa levou a mão rapidamente na bolsa de adagas de Mana e retirou uma. A própria assassina nem sentiu o rápido movimento. A pessoa, envolta de uma energia meio branca com salmão, girou a adaga e atirou contra o arqueiro camuflado no telhado. O elfo, que não estava entendendo nada, não conseguiu se esquivar na adaga envenenada que lhe atingiu mortalmente no olho direito. Ele caiu do telhado, caindo de cabeça no chão a mais de três metros de distância. Não é necessário dizer que o elfo não sobreviveu.

— É nessas horas que eu sou contente por ter roubado tantas técnicas. — disse a pessoa, que agora desativava sua aura de cor diferente.

— SAN! — gritou Mana, tentando entender tudo que havia acabado de acontecer. — O que você... Como você chegou aqui?

— Correndo pelos telhados. — respondeu o garoto, colocando as mãos nos bolsos. — Ela está bem?

— Ahm? Ah! — levou um segundo para Mana entender que a pergunta era sobre Victoria, que continuava dormindo calmamente no chão. — Eu acho que sim, ela não tem nenhum grande ferimento pelo corpo, só está desmaiada. Provavelmente por causa da exaustão.

— Temos que levar ela de volta para a Base. Tem algo muito errado acontecendo na Capital.

— Errado não é nem o começo! — disse Mana, se preparando para carregar a garotinha em seus braços. — O que Riven fez para irritar os Elfos das Florestas?

— Irritar não é bem o caso. Veja.

San se aproximou do corpo caído do elfo careca que tinha enfrentado Victoria. Ele se abaixou e analisou algo que havia no pescoço do elfo. San arrancou um tipo de colar quase invisível que estava literalmente "enfiado" no pescoço do elfo e o mostrou para sua parceira.

— Eu derrotei um outro monstro que também tinha isso no pescoço, mas era mais visível. Não sei o que se trata, mas é algo que possui energia mágica própria e ainda recebe mais energia vinda de algum outro lugar.

— Espere, outro monstro? O que você enfrentou?

— Uma Lâmia Listrada. — respondeu San, tirando um novo olhar de dúvidas de Mana. — Eu percebi que ela estava agindo de maneira muito estranha, pois esses monstros são exímios controladores de mente... Mas a que eu vi estava simplesmente atacando pessoas com as garras enquanto gritava como uma maluca. Então depois que eu a matei, vi um colar parecido com esse no pescoço dela e estranhei.

— Acha que isso está fazendo monstros e elfos perderem o controle? — Mana já estava com Victoria nos braços e já estava planejando um caminho de escape.

— Pode ser. Ou... — respondeu San, mas não completou a sentença. — Temos poucas informações e a Capital está sendo atacada. Precisamos nos organizar primeiro e depois fazer o possível para acalmar essa situação.

Sem mais esperar, San e Mana começaram a correr de volta para a Base, que estava a muitos "monstros" e "problemas" de distância.

Já havia sido dito que o dia para muitos residentes da Capital de Riven não tinha sido muito tranquila. Alguns acordaram muito mal para só descobrirem que tudo estava prestes a piorar. Mas alguns poucos acordaram muito bem naquele dia. E um em específico, transformou as atrocidades e problemas em uma forma ótima de se viver a vida. Esse alguém era Jimmy.

Hoje era dia dele dar aula, e ele adorava ensinar. E não só por gostar, mas ele era um bom instrutor, e muitos membros estão hoje na guilda por causa dele. Jimmy estava fazendo um certo sucesso em outras escolas de artes marciais e chegou a atrair desafiantes por causa disso. O que para um amante de desafios, era um grande presente.

Logo depois do seu treino matinal, Jimmy tinha tomado uma demorada ducha e estava se sentindo muito empolgado. Ele estava pensando seriamente em ir fazer algum desafio para os melhores lutadores da Guilda a tarde, mas um certo "problema flamejante" acabou aparecendo e mudando todos os planos.

Depois de uma rápida reunião no salão de entrada da Base da Guilda, quase todos os membros foram ordenados para sair na cidade e tentar ajudar o máximo de cidadãos possível. Como dito antes, ninguém esperava que a situação era mais complicada do que imaginado. Então Jimmy saiu, ajudou algumas pessoas com o fogo e poucos minutos depois, viu monstros. Claro que sua atenção foi totalmente mudada para a luta.

Ele atacou e derrotou três monstros diferentes sem sair com quase nenhum ferimento. Ao contrário de lutadores que sempre estão pensando nas consequências ou razões, Jimmy era um combatente que não ligava para nada até a luta ter terminado. Mas não deu tempo para o lutador de artes marciais tentar montar o quebra cabeça que o explicaria das coisas bizarras que estavam acontecendo na cidade. Aliás, é mais certo dizer que não "deram" tempo para ele pensar.

Depois de derrotar o terceiro monstro — um Guerreiro-Tritão de algum mar do Leste —, Jimmy foi atacado violentamente por alguém. A primeira investida dessa pessoa quase pegou o lutador despercebido, e por um segundo a mais, uma luta nunca teria acontecido. Isso porque a tal pessoa veio de cima de um telhado e caiu com um chute reto e potente mirado na cabeça de Jimmy. Claro, não houve impacto direto com o corpo, mas Jimmy percebeu imediatamente o nível do seu oponente pelo estrago que o chute causou no chão.

— Você conseguiu perceber meu golpe no último segundo! Eu sabia que era um lutador de primeira classe! — disse o atacante, assim que Jimmy se virou para ele, já em posição de combate.

— Um chute potente e silencioso desses... E vendo por suas roupas, eu só consigo lembrar de um estilo marcial... — Jimmy falava da vestimenta simples do seu oponente. O homem vestia uma calça larga azul com listras laterais brancas, camisa apertada sem mangas na cor branca e com duas listras vermelhas e luvas de impacto que eram usadas em combates em ringues oficiais. Mas Jimmy também percebeu outra coisa óbvia que estava costurada no lado esquerdo do peito da camisa. Era uma cabeça demoníaca chifruda com a boca aberta, e em sua língua havia algo como uma alavanca ou botão de acionar algo. — Você é da Devil Trigger! O que está fazendo aqui e por que me atacou?

— Você é de uma Guilda também, então sabe o que temos que fazer quando temos uma missão. — respondeu o cara, dando dois pulinhos rápidos, se preparando para avançar. — E você acabou de atrapalhar a missão que foi me dada. Então sou obrigado a te eliminar. Simples assim.

— Sua missão? Tudo que fiz foi derrotar um monstro que estava atacando inocentes e destruindo a cidade!

— Opa, já te passei informação demais. Agora... Jimmy da Immortal Star, eu lhe desafio para um duelo mortal sem intrometimentos e sem pausas até que um de nós não consiga mais respirar!

Jimmy estava em um dos maiores impasses de sua vida. Ele tinha sim estranhado o fato de que alguém de uma guilda famosa como a Devil Trigger tinha acabado de anunciar que estava fazendo uma missão que envolvia "ajudar" um monstro possivelmente descontrolado a atacar uma cidade e matar inocentes. Mas ao mesmo tempo, ele tinha acabado de ser desafiado pessoalmente a um duelo até a morte por um lutador de alto nível. É válido lembrar que Jimmy era viciado em desafios e lutas diretas. Duelos eram como seu ar. Ele "respirava" esse tipo de coisa. Então eu imagino que você deve ter acertado quando pensou que Jimmy cerrou os punhos e gritando "DESAFIO ACEITO!", pulou para cima do oponente.

A luta começou bem destrutiva. Jimmy avançou correndo e atacou com uma joelhada mirando o estômago do oponente. Aquele golpe já levava energia o suficiente para estourar os órgãos vitais de alguém treinado. Mas o oponente não iria deixar que a luta terminasse assim tão cedo. Ele girou o corpo e aplicou um chute reto, atingindo o joelho atacante de Jimmy e criando uma coisa que chamamos de "defesa agressiva". O impacto criou uma vibração forte o suficiente para limpar toda a poeira acumulada ali naquela parte da rua. Os dois guerreiros foram afastados, mas o oponente foi um pouco mais para longe.

Jimmy nunca foi de pensar em coisas complicadas, mas quando o assunto era luta, ele tinha um rápido raciocínio e conseguia separar bem os tópicos que deveriam ser levados em consideração. Então ele analisou o primeiro chute que foi esquivado e esse de agora. Com o impacto, Jimmy conseguiu sentir o nível de força física do oponente. Com o giro, ângulo e habilidade utilizada no segundo chute, Jimmy sabia que enfrentava alguém com uma arte marcial com foco nisso. Analisando a roupa...

— Eu já ouvi falar de um grande lutador da Devil Trigger que ganhou três campeonatos solos do C.A.M.A.L.S. sem sofrer nenhuma derrota ou empate. — disse Jimmy, sem tirar os olhos do oponente. Ele também citou o "Campeonato de Artes Marciais do Litoral Sul" com empolgação, pois sempre quis participar e nunca conseguiu chegar lá na data certa. — Acho que o nome dele era Gerald.

Gerald Holdsilt, ao seu dispor. — disse o oponente da Devil Trigger, fazendo uma rápida reverência. — Perdão por não ter me apresentado anteriormente. Mas devo dizer que fiquei impressionado por você saber tanto sobre alguém de tão longe.

— Ah, não pense em se gabar. Eu lembro de todos os nomes das pessoas que eu pretendo derrotar!

Jimmy atacou novamente. Correu e aplicou um soco reto mirado no rosto de Gerald. Esse, por sua vez, se esquivou colocando a cabeça para o lado e já emendou um chute baixo e rápido nas pernas de Jimmy. Esse lutador foi mais rápido ainda, dando um passo para trás e se esquivando. Jimmy levantou a perna em um chute circular alto, mas também foi esquivado por uma baixada de corpo de Gerald. Que logo em seguida aplicou um soco reto mirado no nariz de Jmmy, mas que foi defendido com o braço pelo mesmo.

Vendo que uma luta assim poderia demorar muito, os dois deixaram suas energias saírem e envolverem seus corpos. A primeira troca de golpes já foi explosiva, com Jimmy levantando a perna para defender um chute reto de Gerald. O impacto afastou os dois novamente, mas nada que um novo passo para frente não fosse o suficiente. Mas dessa vez Jimmy não avançaria só para atacar de uma maneira "testadora". Agora ele foi para machucar.

CHUTE IMPACTANTE!

O brilho arroxeado na perna direita de Jimmy chamou a atenção de Gerald. Ele sabia que nenhum chute de alguém que pratica Muai Thay é dado sem o propósito de assassinar alguém. Mas ele também era um orgulhoso lutador de artes marciais. Ele não poderia ficar se esquivando para sempre. Então outra boa estratégia que ele iria usar era "defender e atacar no segundo que o oponente perder a defesa". Seria uma ideia boa... Se o golpe não tivesse feito o que foi criado para fazer.

Gerald levantou os dois braços para se defender do chute horizontal de seu oponente. Concentrou energia mágica nos braços para diminuir o dano e se preparou mentalmente para contra-atacar. O problema é que esse chute de Jimmy foi feito para criar um grande impacto e tirar o oponente do chão. Que foi exatamente o que aconteceu.

A explosão fez Gerald sair do chão e voar como se fosse um disco de papel. Ele bateu com tudo na janela de um estabelecimento que havia ali perto, entrando pelo vidro e sumindo da visão de Jimmy. Esse, por sua vez, correu até o local e pulou pela janela, já preparado.

O estabelecimento era um restaurante um tanto quanto grande, com mesas bem enfeitadas e boa iluminação, coisa que foi impossível manter depois de uma entrada triunfal como aquela. Havia um caminho de destruição entre as mesas e cadeiras de madeira, que levava até uma pilha de destroços com panos, toalhas de mesa e mais madeira quebrada dos móveis. Se levantando dessa pilha estava Gerald.

Os ferimentos nas costas eram quase inúteis, principalmente se for comparar ao roxo nos dois braços que ele tinha acabado de ganhar. Os dois membros machucados estavam tremendo e causavam uma dor agonizante. Mas mesmo tendo que suportar tudo isso, Gerald estava rindo. Jimmy percebeu o sorriso assim que pulou para dentro do restaurante.

— Parece que você gostou de ser jogado para mais de cinco metros de distância. — disse Jimmy, com ar de deboche.

— Quero ver você dar o mesmo sorriso depois que eu acabar com você!

Gerald atacou de uma maneira diferente. Havia uma cadeira caída em sua frente, e ele fez dela uma arma arremessável. Ele chutou a cadeira de madeira na direção de Jimmy, que mesmo um pouco assustado, continuava com a guarda ativa. Jimmy destruiu a cadeira que vinha em sua direção com um soco, e logo em seguida percebeu que seu oponente estava voando livremente pelo ar, como se tivesse asas. Gerald, em um grande salto, pulou para trás de Jimmy e chutou a parede ainda no ar, ganhando um novo impulso. Co um giro magnífico no ar, ele transformou aquela acrobacia toda em um chute potente, que nem Jimmy conseguiu se esquivar.

Jimmy foi acertado na cabeça e voou quase três metros, jogando mais mesas e cadeiras para todos os lados. Por mais que tenha sido um golpe certeiro, Jimmy se levantou imediatamente e de prontidão. Não podemos esquecer que estamos falando de alguém com anos de vitórias em campeonatos de artes marciais, assim como seu oponente.

Gerald já havia corrido na direção de Jimmy, e dessa vez, ele havia dado um salto baixo e usado um chute de descida, mirando o ombro direito do oponente. Jimmy aparou o golpe com a mão, deixando o chute raspar seu braço sem nenhum problema. Sem nem se mover do local onde estava, Jimmy aplicou uma cotovelada também mirando o rosto do oponente. Esse golpe quase pegou. Gerald esquivou puxando a cabeça para trás e logo em seguida aplicando uma combinação de três socos em Jimmy. Os golpes eram rápidos e Jimmy não teve espaço para se esquivar, então ele cruzou os braços na frente da cabeça e recebeu os socos. Sem nem esperar a dor chegar, ele puxou um dos braços e aplicou um soco potente que foi defendido pelo oponente. Mas mais uma vez, Gerald teve um gostinho da força física de Jimmy. Um soco dele parecia ser uma marretada de um ferreiro.

Gerald pulou para trás, pegou uma outra cadeira de madeira meia destruída com sua mão esquerda e atirou a peça contra o oponente. Jimmy não perdeu tempo com um ataque desses, então se abaixou e avançou com tudo. Aplicou um gancho quando estava em uma boa posição, mas foi esquivado. Gerald aplicou um novo chute lateral, mas Jimmy aparou com seu joelho, e quem tomou o choque negativo foi o próprio membro da Devil Trigger.

SUPER DIRETO!

Jimmy puxou o braço direito para trás e concentrou energia mágica nele. Sua especialização de magias destrutivas incrustadas em suas habilidades físicas eram uma combinação mortal. Geralmente, Jimmy conseguia derrotar seus oponentes com um só golpe, ou no máximo dois. Mas nem sempre ele pegava inimigos com tanta experiência em combate e um histórico a zelar.

O soco potente acertou Gerald exatamente no meio do peito, o que, convenhamos, não era uma maneira muito inteligente de se iniciar uma luta séria. Ele foi jogado para trás, batendo com tudo no balcão das bebidas. Seu impacto quebrou inúmeras garrafas de bebidas caras, e o cheiro misturado de licores acabou apagando o cheiro de sangue e suor que estava inundando o restaurante.

Um rápido silêncio se criou no segundo seguinte. Jimmy sabia que tinha acertado um golpe lindo em cheio, e se o oponente não estivesse usando uma boa armadura, toda sua arcaria peitoral estaria em migalhas. Para a sorte de Jimmy, seu oponente não vestia nada por baixo de sua camisa apertada. Mas para o azar de Jimmy, seu oponente tinha acabado de se levantar.

Gerald respirava com dificuldade. Seu ferimento no peito era sério e ele  desconfiava que haviam ossos partidos em seu corpo. Mas como ninguém esperava, ele ainda conseguiu rir. Dos filetes de sangue escorreram de sua boca, tornando a cena ainda mais sinistra. Ele fechou os olhos e se concentrou muito rapidamente. Depois pulou por cima do balcão e ficou frente a frente ao oponente, que é bom lembrar, estava boquiaberto com aquilo tudo.

— O que foi? — perguntou Gerald, ainda com o sorriso. — Achou que a luta tinha terminado?

— Está tentando dar uma de fortão? O golpe que você levou foi mortal e eu sei que você mal pode se manter em pé!

— Ah é? Tem tanta confiança no seu golpe assim? Então por que não vem aqui e me finaliza?

Mais uma vez, Jimmy sabia que aquilo era uma armadilha. Ele estava raciocinando rápido, sabia que aquilo era algum tipo de tática do oponente para atraí-lo. Só que Gerald não sabia que esse tipo de coisa não funcionava contra Jimmy. O motivo? Porque não era necessário.

Jimmy partiu para cima, parando de pensar no certo ou errado. Apertou os dois punhos e se preparou para dar novos golpes que encerrariam aquele duelo de uma vez por todas. Nem tinha sido uma batalha demorada, mas isso também fazia parte da vida de um guerreiro. Nem todas as suas lutas dão bons contos de fadas, com muitas reviravoltas e momento empolgantes. Algumas lutas não tinham nem direito de levar um "título", quanto mais um conto.

VINGANÇA DO FERIMENTO ÚNICO!

Não, isso não era um título. Isso foi um golpe. E um bem perigoso. Jimmy pulou na direção de Gerald achando mesmo que ele não estaria em condições para se defender. O cara tinha quase um buraco no peito, como se defenderia com aquilo? Bom, a resposta não foi macia. Gerald fez sua energia mágica explodir de uma só vez e antes mesmo de Jimmy chegar até ele para atacá-lo, ele aplicou um chute reto de ponta que superou qualquer velocidade de reação do lutador da Immortal Star jamais teve.

Jimmy foi acertado no braço direito pois mesmo com a extrema velocidade do golpe do oponente, ele ainda tinha um corpo de lutador. Para explicar melhor, é mais fácil dizer que o próprio corpo de Jimmy conseguia reagir automaticamente ao perigo sem que o cérebro precisasse mandar uma ordem. A parte boa? A reação defensiva dele se tornava mais rápida. A parte ruim? Nem sempre isso funcionava da maneira que a pessoa esperava.

O artista marcial da Immortal Star voou para muito mais longe do que Gerald quando entrou naquele restaurante. Jimmy explodiu uma das paredes laterais do estabelecimento, indo parar no beco do lado direito da rua e ainda caindo em cima de duas latas de lixo de madeira — onde o restaurante jogava a comida estragada ou não consumida —, se machucando ainda mais. Mas o impacto da parede e sua queda não chegavam nem perto do que o seu braço direito sofreu.

Jimmy se revirou em meio ao lixo malcheiroso e engoliu o grito. Ele logo perceberia que era melhor do que ter engolido qualquer coisa que estava jogada ali. Ele se virou e sentiu uma incrível pontada em seu braço direito. A dor de mil facas lhe atingiu em cheio. Jimmy olhou para o membro dolorido e o viu virado de uma forma que não era humanamente possível. Seu braço direito estava estraçalhado e se não fosse tratado com uma certa urgência, ele poderia perdê-lo para sempre.

O mais "engraçado" em tudo aquilo era que necessitava de um braço quebrado para que o cérebro de Jimmy voltasse a raciocinar. Ele lembrava do nome "Gerald Holdsilt". Ele era mesmo um membro de elite da Devil Trigger. Ok, isso não era informação nova. Mas o que era novo, era o fato de que Jimmy se lembrava de duas coisas que viriam o ajudar nesse combate. Em primeiro lugar, o estilo de luta do oponente: uma arte marcial chamada "Savate", criada por uma Academia de Soldados perto de Rulian, ao nordeste. Não era algo ensinado para qualquer pessoa e se tratava de uma arte marcial efetiva focada em golpes diretos e em pontos fracos. A precisão dos chutes dessa arte marcial era algo fenomenal. Deu para perceber, não é?

A segunda coisa que Jimmy lembrou era sobre a magia utilizada por seu oponente, que agora saia pelo buraco feito na parede e lhe encarava de longe, irritantemente satisfeito. Gerald usava um tipo raro e perigoso de magia, chamado de "Rebalanceamento". É meio complicado de se explicar como essa magia funciona. Pense que ela transforma um tipo de energia em outro tipo de energia, de igual quantidade, fazendo uma troca de "receber e devolver". Alguns Magos usam esse tipo de magia incrustada em sua energia mágica. Um exemplo disso era que, se um mago com Rebalanceamento que fosse atingido por qualquer magia, ele transformava a energia mágica utilizada naquela magia em energia mágica para o mago atingido. Era uma magia difícil de se entender e pior ainda de se controlar.

No caso de Gerald, troque "energia mágica" da explicação anterior para "danos". Ele conseguia devolver o mesmo dado que ele recebe e ainda o aumentar usando a própria energia mágica. O lutador da Devil Trigger dava passos vagarosos em direção a Jimmy, que lutava contra a dor e tentava se levantar. A Vingança só estava começando.

— Que foi? — perguntou Jimmy, limpando o sangue que escorria de sua boca e ficando em pé, finalmente. — Achou que a luta tinha terminado?

— Ahahahahahah! — a gargalhada de Gerald ecoou por todo o beco, fazendo todos os sons mortíferos que a cidade gritava serem superados. — Você é um grande lutador, Jimmy! Foi uma sorte tremenda acabar encontrando você nessa cidade tão grande!

— Essa fala é minha!

Jimmy atacou de novo. Você esperava que ele fosse ficar na defensiva depois de levar um dano daqueles e ter o braço quebrado? Pensou errado. Mais do que ninguém, Jimmy sabia que os próximos movimentos que seu oponente fizesse seriam ainda mais perigosos, então era melhor se manter no ataque para tentar criar uma abertura e aplicar um novo golpe, mais forte do que o último, para encerrar de vez aquela luta.

Jimmy começou aplicando um chute circular alto, mirando a cabeça do oponente. Gerald já sabia da força física de um chute do seu atacante, e mesmo que ele estivesse machucado, o soldado da Devil Trigger não era burro o suficiente para arriscar uma defesa. O chute foi esquivado com um passo para trás, e logo em seguida, Gerald aplicou uma rasteira em Jimmy. E mais uma vez, vemos uma incrível capacidade de raciocínio rápido de nosso lutador. Jimmy energizou a perna e a reforçou, deixando-a como um bloco de pedra. A rasteira de Gerald acabou tendo um efeito negativo, e ele perdeu o equilíbrio, ficando no chão de mal jeito. Jimmy não esperou e aplicou uma canelada na cabeça dele, mas pegou apenas de raspão. Gerald rolou para trás e ficou em pé novamente, ignorando o formigamento na perna. Ele foi atacado de novo, com um soco direto. Gerald aparou o golpe e depois teve que aparar mais uma sequência de três chutes dados rapidamente. Jimmy não estava poupando fôlego para atacar. E isso não ia parar aqui.

— É, parece mesmo que enquanto eu não destruir essa sua cabeça, você não vai parar! — disse Gerald, concentrando mais energia e partindo para o ataque.

Longe dali, mas acontecendo ao mesmo tempo, havia algo que poderia ser descrito como "O Fim de Uma Era". Nos portões sul da grande capital, uma batalha tão grande quanto a própria grandiosidade da cidade estava se iniciando. Não era um reles duelo. Não. Era uma batalha de grande escala. Era uma guerra. E metida no meio disso tudo — e MUITO por acaso — estava Geovanna.

Mas calma, vamos por parte. Ela não tinha ido diretamente para lá por causa da batalha. Como dito, ela tinha parado lá por puro acaso. Uma brincadeira do destino. Uma brincadeira de muito mau gosto, por sinal. Tudo para salvar uma mãe em perigo.

Quando Any passou as ordens para quase todos os membros presentes na Base no início do incêndio, Geovanna ficou de verificar a parte sul da cidade, mesmo que de lá não estava tendo nenhum perigo de fogo. Mas de acordo com Any — e isso foi confirmado muito rapidamente —, o fogo poderia ser um chamariz para algo ainda maior. Então para confirmar isso, Any mandou Geovanna que tinha uma grande percepção mágica e Reita, que tinha uma grande visão e senso de perigo. A missão deles era verificar e reportar qualquer outro possível perigo existente, para que toda a Guilda pudesse se reorganizar e lançar uma Missão Imediata mais consistente.

Mas pouco tempo depois de saírem da Base e correrem pelas ruas que davam para a parte sul da Capital, os dois membros da guilda deram de cara com uma certa quantidade de monstros soltos e alterados destruindo tudo o que viam pela frente. E claro, como um bom Caçador, Reita não poderia deixar isso passar. Os dois tiveram uma luta rápida contra os monstros, mas no meio da luta, uma garotinha de uns sete anos, no máximo, foi vista fugindo de um beco, sendo perseguida por um Goblin Rosado — uma raça rara dos Goblins de corpo rosa claro que tem tendência a viverem em um bando menor e adoram pregar peças nos humanos. Preocupados com a garotinha, Reita disse para Geovanna ir atrás dela enquanto ele mesmo dava conta do resto dos monstros.

A maga de energia não precisou correr muito. Assim que virou duas esquinas, ela conseguiu usar uma magia nas costas do goblin que tinha acabado de derrubar a pobre criança. Mas os problemas não terminaram aqui. Depois de ter certeza que a garota estava bem e sem ferimentos, Geovanna foi forçada a ouvir o apelo dela. A garota disse que seus pais corriam perigo e que falaram para ela buscar ajuda dos soldados. Ela disse que morava mais ao sul e que algumas "pessoas más" estavam capturando residentes inocentes e os prendendo em um depósito de alguma coisa que a garota não conseguia descrever. Tendo o coração fraco para crianças e sabendo que Reita conseguiria dar conta dos monstros, Geovanna decidiu ir ajudar essas pessoas e descobrir o que estava acontecendo.

E claro, assim como você deve ter imaginado, foi assim que a maga acabou dando de cara com a batalha mortal que acontecia nos portões do sul. A visão que ela teve foi desencorajadora. Os muros estavam sendo invadidos por soldados de pelo menos três reinos diferentes junto com alguns monstros alados, o que tornava tudo ainda mais confuso. A Guarda Real de Riven estava tendo que recuar pouco a pouco e parecia que havia muito mais gente do lado de fora dos grandes muros. Geovanna foi pega em uma maré de confusão, não sabendo o que fazia primeiro. O que estava acontecendo na Capital? Por que haviam monstros "ajudando" soldados inimigos a atacarem Riven? Por que os soldados de Semangard, Lazetna e até mesmo Wistor — uma grande cidade que ficava a Sudoeste e era especializada em criar armas de cerco — estavam atacando em conjunto? E o mais importante de tudo: o que era aquele símbolo que ela estava vendo nas bandeiras desses reinos? Pareciam duas espadas com asas? Geovanna não conseguiu ver muito bem o símbolo, mas parecia um típico símbolo de Guilda ou até de Clãs.

No momento de desespero, Geovanna não conseguiu não pensar em San. Mas não era só por causa dela ser totalmente gamada no lutador caolho e cabeludo. Mas San era o Estrategista da Guilda e tinha uma velocidade de raciocínio anormal. Se ele visse tudo o que estava acontecendo e saber quem estava atacando, era bem possível que ele conseguisse juntar as peças e falar exatamente o que era aquele ataque massivo. Mas onde ele estava agora? Geovanna não o tinha visto sair da Guilda, mas tinha certeza que na hora que o fogo começou, ele estava lá...

A garotinha puxou Geovanna para dentro de uma casa que tinha a porta aberta, para se esconder de um monstro que passava voando baixo. Nisso, a maga voltou a realidade. Ela não podia ficar perdendo tempo. Ela tinha prometido salvar os pais da garota, e era isso que ela faria primeiro. Ela perguntou mais uma vez para onde as pessoas estavam sendo levadas, e a garota conseguiu apontar dali da porta da casa. Geovanna percebeu que era mesmo um grande galpão, provavelmente um depósito de comida do mercado que havia do lado. A maga disse para a garotinha se esconder naquela casa enquanto ia verificar o local.

Primeiro de tudo, tente entender que o depósito ficava muito perto de onde a batalha dos exércitos estavam acontecendo e muitas construções ao redor estavam totalmente destruídas... Mas o depósito em si parecia bizarramente intacto. Geovanna seguiu para as duas grandes portas da frente do depósito, mas antes de abri-la, ela foi atacada por uma explosão mágica.

Geovanna voou por uns quatro metros, caiu no chão de mal jeito e, depois de rolar mais umas duas vezes, tentou se levantar o mais rápido possível. O que lhe salvou foi sua rápida percepção mágica que fez ela dar um pulo certo na hora certa, mas isso não lhe salvou totalmente dos danos.

— Você conseguiu se esquivar da minha magia mais rápida! — disse uma voz vindo de mais a frente. A voz parecia feminina e nada imponente. — Eu lhe parabenizo por isso. Era o esperado de um membro da Immortal Star!

Geovanna não precisou gritar algo como "Pare de se esconder e me enfrente!", pois a pessoa estava frente a frente dela. Como esperado, se tratava de uma mulher. Era naturalmente alta, mas parecia gigantesca por causa do salto alto. Vestia roupas nada convencionais para uma guerreira. Usava uma saia ligeiramente apertada que ia até um pouco acima do joelho, na cor branca. Uma camisa tipo tomara que caia que mostrava seu umbigo, também na cor branca. Nas duas peças de roupa, haviam desenhos aleatórios e coloridos que Geovanna identificou como sendo "armas". Espadas, facas, machados, arcos. Eram muitos desenhos pequenos e estavam em posições e ângulos totalmente fora de alinhamento. A mulher ainda usava um colar de prata com um medalhão do mesmo material, quatro braceletes de argolas, duas em cada mão, também pratas e anéis em três dedos da mão direita, todos prateados. Seu cabelo era longo, cacheado e loiro. Usava uma tiara prata de pedras preciosas, brincos espalhafatosos cinzas e um batom nada gracioso, também na cor cinza. Ela era bonita e com aquele corpo bem feito provavelmente deixava muitos homens babando. Mas mesmo que Geovanna fosse um homem, ela estaria mais preocupada com a própria vida do que vislumbrar os fartos seios de sua possível oponente.

— Então é por isso que esse lugar parece intacto... Você o está protegendo! — gritou Geovanna, ficando em pé e em posição defensiva. Ela estava sentindo a emanação da mulher de branco e sabia que ela era problema.

— Nossa querida, que conclusão mais rápida! E sim, você acertou em cheio. Por isso eu lhe recomendo dar meia volta e correr de volta para os braços da sua guilda se não quiser se meter em algo perigoso.

— Vocês atacam as pessoas inocentes da cidade onde nós operamos e depois querem que fiquemos longe? Parece que vocês não conhecem bem como a minha guilda pensa e age. — disse Geovanna, certa de que a loucura de certas pessoas da Immortal Star era tamanha que as faria entrar de cabeça em uma guerra que não era deles só para protegerem inocentes.

— Ah não, minha querida. Acho que eu não fui bem clara. — disse a mulher, dando dois passos para frente. Ela parecia estranhamente à vontade e parecia se deliciar com a situação. — Conhecemos bem a sua Guilda, mesmo ela tendo tão pouco tempo de vida. Aliás, estamos CONTANDO com sua Guilda para... Diversos planos futuros.

— Como é? — Geovanna perguntou, se sentindo realmente perdida. A resposta da mulher não fez o menor sentido e ela achou que talvez aquilo fosse só um tipo de papeado para lhe enganar ou lhe confundir. — Se vocês conhecem bem nossa guilda, então deveriam saber que não nos afiliamos a nenhum reino!

— Reino? Ohohohohoh! — a risada da mulher foi alta e extremamente irritante. — Não, não querida. Você não viu o meu medalhão?

A mulher pegou o próprio medalhão e o apontou para frente, fazendo a atenção de Geovanna se focar ali. A maga da Immortal Star estreitou os olhos e percebeu que o medalhão estava entalhado na forma de algum desenho extremamente familiar. As letras "M" e "H" eram inconfundíveis.

— Monster Hunter! — disse Geovanna, surpresa. — Eu não acredito! Como uma das maiores guildas do mundo, que são os melhores caçadores de monstros e que nunca se meteram em guerras de reinos acabou se unindo contra Riven?

— Existe muita coisa nesse mundo que você desconhece, minha cara. — respondeu a mulher, com um sorriso no rosto que não iria desaparecer tão cedo. — Mas não se engane: a Monster Hunter é sim uma guilda boazinha demais e nunca se intrometeria em uma Guerra de Larga Escala como essa. É por isso que "nós" saímos da guilda e formamos uma nova para fazer parte da Nova Era. A Era dos Divinos!

— Você não está falando nada com nada! — gritou Geovanna, realmente perdida naquela conversa. Ficar tanto tempo ali não estava sendo lucrativo, pois a batalha dos exércitos se aproximava pouco a pouco. — O que é esse "nós" que você está falando? E o que é essa Nova Era?

— Eu vou lhe contar pois logo vocês serão nossos aliados. — disse ela, com uma convicção surreal. — A Monster Hunter recebeu uma proposta magnífica de uma nova Aliança entre grandes Reinos, mas nossos líderes a recusaram. Por isso muitos membros decidiram sair da Guilda para criar uma nova e acatar a proposta no lugar da Monster Hunter. E essa Guilda é o "nós" que eu comentei. A nova guilda de caçadores e protetores da Aliança dos Reinos Divinos! A Millenium Hunter!

Princesa Charlotte, espere!

Uma nova pessoa apareceu, chamando a atenção das duas mulheres. Era um homem bem vestido, com terno preto, camisa branca por baixo, gravata negra, luvas brancas de pano, calça lisa e brilhosa, também preto, sapatos lustrados, bigode comprido, cabelo curto e bem penteado e monóculo. Era a típica vestimenta dos mordomos de ricas famílias. Ele se aproximou da mulher extravagante e continuou.

— Eu recebi novas informações e preciso lhe avisar, Minha Senhora. — disse o mordomo, se referindo com grande respeito à mulher. — A Guilda Immortal Star também recusou as propostas da Aliança e foi determinado que eles são um "Perigo Maior", pois eles atacaram e destruíram um de nossos batalhões, e por isso devem ser tratados como inimigos.

— Ah! Mas eu não acredito! — disse Charlotte. Sua expressão tinha mudado de graciosidade para nervosismo. — Outra Guilda que não sabe ver que o mundo está prestes a mudar! Vocês deveriam abrir os olhos de uma vez!

— Desculpe, mas pelo que eu entendi, parece que foram os seus olhos que estão fechados! — gritava Geovanna, realmente irritada. — Vocês deram as costas para seus companheiros para irem atrás de uma ideologia de alguns reinos malucos que decidiram atacar o coração da maior aliança do mundo!

— Silêncio, plebeia! — disse Charlotte, alterando a voz pela primeira vez. — Tubes, se afaste. — disse ela, se virando para o mordomo. O homem fez uma reverência e se afastou alguns metros rapidamente, sem pestanejar. — É uma pena que vocês não poderão trabalhar junto conosco. Eu tinha um certo interesse em alguns dos membros de sua Guilda... Mas se eu não posso tê-los como aliados, eu ainda posso tê-los como súditos leais!

A energia ao redor de Charlotte aumentou drasticamente. Ela estava pronta para atacar com tudo. Isso não era novidade para Geovanna, que também estava deixando sua fúria tomar conta de seu ser. Agora ela achava que aquilo tinha se tornado pessoal. Ela sabia bem que aquela mulher disse "súditos leais" no sentido de "serem escravos". E ela se recusava a ver qualquer membro de sua guilda lambendo os sapatos daquela mulher vulgar. Se recusava a ver San tendo que carregar o trono daquela mulher para onde ela bem quisesse. Não ia deixar aquilo passar barato, principalmente porque ela mesma tinha dito que tinha interesse em "certos membros" da Guilda. E com o medo que entre essas pessoas estivesse o seu amado, Geovanna atacou.

ESFERA DE ENERGIA CONCENTRADA!

Geovanna puxou o braço direito para trás, passou uma certa quantidade de energia mágica nele e depois de apontar a mão na direção da oponente, disparou sua esfera de energia pura nela. A magia viajou rápido e atingiria a mulher em um segundo, já que elas não estavam tão longe assim uma da outra.

PROJEÇÃO MÁGICA, ESCUDO AMARELO DE ZUR!

Charlotte levantou a mão para frente e liberou o pouco de energia que tinha concentrado. E aí que as coisas estranhas começam a acontecer. De sua roupa, um dos desenhos esquisitos brilhou intensa e rapidamente, depois "saiu" do tecido, como se tivesse sido rasgado, voou até a frente da mulher e cresceu exponencialmente. O desenho se transformou em um escudo de batalha de tamanho real, na cor amarela e com um grande "Z" entalhado no ferro.

A bonita esfera de energia de Geovanna atingiu o escudo em cheio, criando aquela velha e conhecida explosão mágica com uma fumaça sobrenatural. Uma mulher não conseguiu enxergar a outra por rápidos cinco segundos. Quando a fumaça abaixou, Geovanna percebeu que sua oponente estava intacta. E sorrindo.

— Sua magia é bela, minha querida. — começou Charlotte. — Mas sem poder bruto, você não vai conseguir nem sequer me arranhar. Veja como uma magia de ataque deve ser utilizada! PROJEÇÃO MÁGICA, ESPADAS ROXAS DE ASTRAL!

Mais uma vez, Charlotte levantou a mão mirando Geovanna, concentrou energia mágica e fez sua magia ganhar forma. De sua roupa, mais especificamente de sua saia, três desenhos brilharam e se destacaram. Os desenhos ganharam formas de espadas longas de dois gumes na cor roxo, que apontaram para a maga de energia e dispararam. As armas não eram rápidas, mas não era por isso que Geovanna não deveria se preocupar. Ela esperou até que elas estivessem perto e depois pulou para trás para se esquivar. Esse foi seu grande erro.

Para começar, as espadas não estavam mirando "nela", e sim, no chão aos seus pés. As três espadas roxas atingiram o chão a poucos centímetros de Geovanna e fizeram o que foram criadas para fazer: explodir. Ah, mas calma. Não foi uma explosão típica, daquelas destrutivas. Foi uma explosão de vento. Então ela não destruiu o chão e tudo o que havia ao redor. Isso era bom por um lado. Mas isso não livrou Geovanna. A explosão de vento atingiu ela em cheio e a jogou para longe como se fosse um pedaço de papel pego em tornado.

Geovanna voou girando e bateu com as costas na parede de uma casa de três andares que estava a muitos metros de onde ela previamente se encontrava. A parede que ela bateu era a do segundo andar, e logo depois do impacto, ela foi ao chão, totalmente desequilibrada e machucada. A queda ainda lhe adicionou novas dores. O pior de tudo isso era a tontura. Ela tentou se levantar, mas o mundo parecia estar girando e ela foi ao chão novamente. Assim como o mundo, seu estômago também estava girando e ela estava quase vomitando tudo o que tinha comido há poucas horas atrás.

Mas aquilo ainda era uma batalha, e a oponente dela sabia bem como proceder quando seu oponente estava atordoado. Charlotte, sem nem precisar se aproximar mais, concentrou mais energia mágica e apontou a mão para cima dessa vez. A emanação de energia fez Geovanna acelerar o processo de cura daquele enjoo.

PROJEÇÃO MÁGICA, LANÇA VERMELHA DE YRTER!

Assim como as duas magias anteriores, um dos desenhos da roupa da mulher brilhou e ganhou vida, voando até acima de sua mão previamente levantada. O desenho se transformou em uma lança de ponta grossa e triangular e cabo longo, totalmente vermelha. Charlotte fez um movimento com o braço para frente, como se estivesse segurando a lança e a jogando. Com o movimento, a lança vermelha partiu em direção a uma certa garota desconcentrada.

Geovanna não viu o que vinha em sua direção. Ela não precisava saber o que era para entender que corria perigo. Tudo que a maga conseguiu fazer foi forçar as pernas e se jogar para o lado. A lança atingiu a parede ao seu lado e, assim como as espadas, explodiu. Dessa vez, a explosão foi mais "comum", com a adição de uma lufada de fogo que espalhou por toda a área. Mais uma vez, Geovanna foi acertada pelo poder da explosão e voou mais três metros para o lado, caindo no meio da estrada de cara virada para o chão. Sua roupa tinha sido levemente queimada e seu ombro esquerdo estava ardendo.

A maga da Immortal Star não estava tendo tempo para raciocinar. Ela queria analisar a oponente, descobrir como as magias dela funcionavam e principalmente, qual era a melhor maneira de contra-atacar. Ela se remexeu e forçou o corpo a obedecê-la. Ficou de joelhos e conseguiu focar a visão novamente. Mas seus olhos captaram mais um movimento de sua oponente. Charlotte não era daquelas que tinha a bondade de esperar para ver se o oponente levantaria a mão e gritasse por piedade. Para ela que era especialista em destruir todos os tipos de monstros, uma batalha só terminava quando seu inimigo estivesse em pedaços.

PROJEÇÃO MÁGICA, MARRETA BRANCA DE HOLMEN!

Dessa vez, sua mão foi apontada para o lado. Energia mágica saia de seu corpo sem parar, mas ela não parecia nem um pouco cansada. Geovanna nunca descobriria, mas Charlotte treinou intensamente para poder usar várias magias interruptamente. Depois de chamada, a magia dela fez mais um desenho se destacar de sua roupa e voar até perto de sua mão direita. O desenho tomou uma nova forma, se transformando em uma marreta com cabo curto, mas com a cabeça de ferro de dois lados grande o suficiente para amassar capacetes em uma só pancada. E como o nome sugeria, a arma era totalmente branca.

A cor pouco importava para Geovanna. O que realmente importava era que mais uma magia vinha em sua direção na forma de arma, e que com certeza acabaria criando mais uma explosão maldita. Aquilo não poderia continuar assim. Geovanna não estava tão ferida assim, mas parecia que as magias de Charlotte tinham elementos variados e causavam mais efeitos secundários do que danos propriamente ditos. Claro, isso não tornava aquela batalha menos mortal. Geovanna estralou os dedos das duas mãos e os apontou para frente, concentrando o máximo de energia mágica que conseguiu naquele pouco tempo que tinha.

PAREDE DE ENERGIA!

Por sorte, ela tinha conseguido concentrar energia o suficiente para criar essa magia de agora. Geovanna criou uma parede quase invisível em sua frente. Inicialmente, ela parecia ser feita de vidro, mas logo ganhou uma cor mais azulada, se enchendo de energia mágica que não possuía elemento.

O martelo branco bateu contra aquela parede azul, e assim como todos esperavam, uma nova explosão aconteceu. Mas essa não tinha sido tão grandiosa quanto as outras. Essa magia de Charlotte tinha a função de destruir equipamentos dos oponentes, mas caso a pessoa não estivesse utilizando nada — como era o caso de Geovanna —, a magia poderia facilmente destruir ossos e órgãos. Mas em contraste a isso, a magia da Bibliotecária da Immortal Star servia única e exclusivamente para defesa. Era mais utilizada contra outras magias, mas poderia aguentar grandes impactos de armas pesadas.

O resultado desse embate não foi como o esperado para nenhum dos lados. O martelo sumiu depois do impacto, mas fez uma rachadura na parede azul de energia. Essa rachadura foi se espalhando por toda parede, até a magia em si desaparecer.

— Nossa! Estou impressionada! — disse Charlotte, de volta com seu sorriso bobo no rosto. — Conseguiu criar uma magia de defesa forte o suficiente para aguentar minha magia de impacto! Parece que eu lhe subestimei!

Geovanna gostaria muito de ter respondido algo grandioso, mas ela não conseguia nem abrir a boca. Ela sabia que estava enfrentando uma oponente poderosa, e o fato de ver sua parede de energia, que era sua magia defensiva mais poderosa, virar migalhas com uma única magia que nem parecia ser a mais forte de sua oponente, estava afetando o seu subconsciente. Ela respirava rápido mesmo não estando tão cansada. Aquela luta realmente estava criando uma pressão sinistra para Geovanna, e isso era o primeiro passo para o desespero.

— Eu já brinquei o suficiente com você, querida. — disse Charlotte, apontando a mão para cima mais uma vez. — Mas acho que você deve ter percebido que os soldados de Riven estão se aproximando cada vez mais e eu vou precisar ajudar meus aliados com um certo favor. Então vamos acabar com isso agora, sim?

A aura que emanava da princesa se intensificou. Sua roupa parecia estar brilhando e soltando faíscas, o que tornava a cena mais esquisita do que perigosa. Geovanna forçou sua mente a se manter focada e forçou sua energia mágica a sair de seu corpo. Ela precisava atacar. Precisava fazer com que aquela mulher parasse de atacar sem parar. Precisava derrotá-la. Ela não era só uma oponente. Ela era uma inimiga de sua guilda.

Mesmo tendo passado pouco tempo junto com aquele pessoal, Geovanna gostava muito dos membros e sempre foi tratada com muito carinho pelo pessoal. Tinha feito grande amizade com Kula e Tabatha, e morar na maior Capital do mundo tinha aberto muitas possibilidades a ela. A única coisa que ela prometeu a fazer, mas ainda não tinha criado coragem para tal, era se declarar de uma vez para San. Ele sempre parecia muito distante e quase nunca parava na Base. O pior, era quase impossível saber para onde ele ia e quando voltava. Mesmo depois de tanto tempo tentando, Geovanna ainda não tinha conseguido nem sequer fazer uma missão junto com ele. Mas ela ia conseguir! Ela ia criar coragem! Nunca iria desistir! Enquanto ela vivesse, ela iria continuar tentando juntar essa coragem! Então ela precisava voltar viva e encará-lo! Precisava voltar vitoriosa, com a mente limpa, sabendo que defendeu o futuro de sua Guilda! Iria ganhar!

DIVISOR DE MUNDOS!

Por isso ela foi a primeira a atacar. Levantou o braço direito, passou toda a energia concentrada para ele, deixando em uma cor azul e depois, com um movimentou vertical para baixo, lançou sua onda singular de energia pura. Essa magia tinha um grande poder destrutivo e ainda tinha a habilidade única de repartir magias que encostavam nela. Ou seja, não importa qual magia sua oponente fosse atirar, ela seria destruída no meio do caminho.

Mas o sorriso de Charlotte tirou todas as esperanças que Geovanna poderia ter criado naquele momento. Sem perder a concentração e nem tirar os olhos da oponente, a princesa estralou os dedos. De trás dela, o mordomo pulou e caiu mais a frente. Não era necessário ordens e nem avisos. Ele era o fiel mordomo da Princesa Charlotte e a seguiria até o fim de sua vida. Ele não era só treinado para servi-la, mas também foi treinado para defendê-la.

CORPO DE DIAMANTE!

Assim que o mordomo ficou entre as duas lutadoras, ele passou energia por todo o corpo e abriu os braços, como se fosse um rapaz adolescente esperando um grande abraço de sua amada. Seu corpo brilhou e começou a mudar de cor, ficando cristalino e muito brilhoso.

E então veio o impacto. A magia o acertou diretamente no peito e o empurrou quase um metro para trás. Fumaça mágica saia do local do impacto, mas não havia sangue. O rosto do mordomo mostrava que ele tinha sentido dor, mas sua posição ereta e imponente foi o suficiente para tirar toda a força de vontade de Geovanna.

— Não achou que faria uma "luta honrosa" contra você, não é querida? — perguntou Charlotte, em tom sarcástico. — Adeus! PROJEÇÃO MÁGICA, LANÇA CINZA DE QUERUBIM!

Aconteceu de novo. Grito de magia. Roupa brilhando. Desenho saindo do tecido. Dessa vez, o desenho se transformou em uma lança, mas diferente daquela de fogo, essa tinha a cor cinza e seu formato era diferente. Se tratava de uma lança de penetração, com a ponta fina e cabo longo e também fino. A diferença nas duas magias foi clara: a velocidade. Assim que Charlotte movimentou o braço para frente, Geovanna sentiu a dor. Foi assim, em um piscar de olhos.

A maga da Immortal Star caiu de joelhos e sentiu sangue inundando sua garganta. Olhou para baixo bem lentamente e percebeu que tinha um metro de puro ferro atravessado em seu estômago. A dor estava impossível de se descrever. Ela tentou levar a mão na lança, mas assim que encostou nela, a magia perdeu o efeito e desapareceu. Mas a dor continuou lá. O buraco ensanguentado também. Não houve explosão dessa vez. E não haveria mais.

Geovanna caiu de lado, cuspindo sangue e perdendo a consciência rapidamente. Ela havia perdido? Parecia que sim. Ela ainda enxergava sua oponente. Ela estava falando algo. Mas não ouvia nenhuma palavra. O mordomo se virou para ela e depois de um rápido aceno, começou a se aproximar do corpo caído da garota. Geovanna tinha entendido. Aquela mulher havia dito para ele finalizar a luta. Para a Princesa, era desnecessário que ela sujasse as mãos com uma oponente daquelas. Geovanna morreria como um ninguém, desrespeitada por seu oponente. Que injusto.

TIRO CARREGADO!

Se você gosta de clichês, então essa é a hora de se empolgar. Assim que se aproximou de Geovanna, o mordomo se preparou para finalizá-la. Faria isso como um cavalheiro, usando um golpe só para que a pobre garota não sentisse mais dores. Mas assim que puxou o braço para trás, ele recebeu uma magia exatamente na cabeça. Uma pequena explosão fez o homem alto e bem arrumado voar para o outro lado da rua, atingindo uma carroça vazia que estava por ali. Charlotte exibiu uma expressão de surpresa que não mostrava há anos.

Geovanna ouviu a explosão e viu o seu possível assassino ser atingido na cabeça e depois desaparecer dali. Aquilo era uma magia. Claro que era. Com a pouca força restante que seu corpo exibia, a maga tentou se virar. Queria procurar. Era alguém que tinha aparecido para lhe ajudar. Será que... Era "ele"? Será que o destino lhe daria esse presente? Fazer ele aparecer na última hora para salvar sua vida? Será que o mundo estava dando mais essa chance para que ela se declarasse de uma vez? Logo agora? Logo aqui?

Geovanna o viu. Ele estava em cima de uma das casas que ainda estavam inteiras. Ele estava deitado, mas assim que percebeu a visão da garota, se levantou. Ele trazia algo grande nas mãos. Algo que a maga nunca tinha visto. Mas isso era o de menos. O importante era que "ele", não era exatamente "ele". A pessoa lá em cima era conhecida, mas não era quem ela mais esperava.

— Espero que estejam preparados para pagar o preço por ferir uma de minhas companheiras! — gritou Lelouch, puxando o pino municiador de seu rifle PSG-1 e se preparando para atirar mais uma vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo, vemos a reação do próprio Reino e seus planos para um contra-ataque.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Immortal Star - Segunda Saga" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.