Immortal Star - Segunda Saga escrita por Sandaishiro


Capítulo 17
Os Vencedores e os Derrotados - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

(CAPÍTULO SEM REVISÃO)
E continuando a sequência de lutas, aqui podemos ver o final de mais duas delas



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Assim como prometi anteriormente, vou me focar em terminar as lutas que deixei em aberto. Ainda haviam dezenas de confrontos a serem concluídos, e alguns deveras importantes ainda nem tinham começado. Estamos em uma guerra. “Na” guerra. O acontecimento que marcou o mundo para sempre, tendo livros e mais livros de história inteiros só para ela.

Sobre as lutas passadas, os dois membros da Immortal Star ficariam marcados por elas para todo sempre. Aristarkh nunca se perdoaria por ter matado uma antiga amiga, mesmo que ela claramente estava fazendo de tudo para assassiná-lo. Depois que ele acordou, posso te dizer que a primeira coisa que ele pensou foi ir até a casa dos pais de Kely, quando tudo estivesse mais tranquilo, e lhes pedir perdão.

Já a derrota de Lila a afetou em um modo diferente. Geralmente ela era uma garota alegre e ativa. Mas depois dessa derrota, ela com certeza treinaria o dobro do que já treinava e iria mudar seu comportamento mais infantil para sempre. Provavelmente ela não conversaria com ninguém por vários dias seguidos.

Isso tudo, claro, se os dois conseguissem sobreviver ao final daquela guerra, que não estava nem na metade. O dia já estava terminando, mas a contagem de mortes só aumentava e ainda mais tropas pareciam aparecer de tempos em tempos, nunca dando uma clara visão de quem verdadeiramente estava vencendo.

Na visão dos membros da Immortal Star, a situação parecia ainda pior.

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Lutar contra um cavaleiro e seu cavalo nunca era uma boa ideia quando você não tinha um animal do mesmo porte e com a mesma velocidade para igualar sua situação. Ou alguém para lhe dar suporte, talvez. Então quando Jarhan conseguiu fazer aquele Capitão perder seu cavalo, ele acreditou firmemente que sua sorte estava em alta.

Mero engano. O Capitão que ainda não tinha se apresentado era um combatente formidável. Mesmo sem seu companheiro animal, suas habilidades com as duas espadas longas eram impressionantes. Sua força física chegava a ser assustadora, pois ele conseguia manobrar aquelas duas armas com tamanha precisão e velocidade a ponto de não deixar Jarhan lhe atingir uma vez sequer.

Ok, isso foi um tanto de exagero. Os dois trocaram vários golpes e Jarhan, de fato, acertou seu oponente. Mas todos os golpes foram defletidos por sua grossa armadura, que estava sendo um problema a mais que o necromante estava enfrentando. O único ferimento que Jarhan tinha conseguido lhe causar, sem contar o corte na perna durante as investidas com o cavalo, tinha sido um corte um tanto superficial no pescoço.

Já o nosso esforçado necromante estava em apuros se fossemos comparar os ferimentos. Jarhan já tinha iniciado a luta com um corte dolorido nas costas. Agora estava com o braço esquerdo completamente tingido de vermelho por causa de um ferimento no ombro, e com ferimentos leves na cabeça, na perda direita e dois no peito e barriga.

O Capitão avançou com uma estocada dupla, mirando o coração e o pulmão. Um ataque mortal, se atingisse. Jarhan pulou para trás e atacou imediatamente depois, para manter o oponente em um só local. Eles estavam nessa troca de movimentos há alguns segundos já, impossibilitando um ou outro de chegar perto o suficiente.

CAVEIRA DAS CHAMAS MORTAIS!

Uma das coisas que Jarhan já havia percebido nessa luta era que seu oponente era um lutador exímio, mas não possuía muito poder mágico. A ideia de Jarhan era economizar o máximo possível de energia mágica, mas ele sabia que para essa luta, ele era obrigado a utilizar suas magias destrutivas.

Assim que terminou de carregar energia negra em sua mão, ele disparou uma esfera de energia que logo tomou a forma de uma caveira humana envolta em chamas negras. Seu oponente teve um leve frio na espinha quando vislumbrou aquela caveira risonha e sinistra vindo em sua direção. Mas isso não o fez mudar de posição e nem de ideia sobre o que fazer.

— Acredita mesmo que pode me atingir com essas magias de baixo nível?

O Capitão segurou as espadas um pouco acima da cabeça e, as energizando, fez um corte cruzado assim que a caveira se aproximou, a cortando em dois e a fazendo sumir sem causar nenhum tipo de explosão. Jarhan exibiu uma expressão de susto que foi quase hilária. Ele não acreditava que alguém conseguiria cortar sua magia tão facilmente assim. Será que ele era tão poderoso? O necromante estreitou os olhos quando viu um brilho azulado emanando da lâmina das duas espadas do oponente. Ali tinha algum truque!

— Você está usando armas mágicas! — gritou Jarhan, mais para acalmar sua mente do que para atrair a atenção do seu oponente.

— Mágicas? — perguntou o Capitão, olhando para uma de suas armas. — Não, você está ligeiramente enganado. Minhas armas, “Jápeto e Clímene” não são exatamente mágicas. Elas são “Encantadas” pelos próprios Sizys. São duas das armas mais poderosas do meu reino. — falou ele, claramente com um orgulho fora do normal.

Aqui preciso fazer uma pausa explicativa. Existem uma grande diferença entre armas “mágicas” e armas “encantadas”. As armas mágicas eram algo muito mais raro e poderoso. Eram feitas com minérios já cheios de energia mágica naturalmente, e durante o processo de criação da arma, é feito alguns rituais desde a fabricação do punho da arma até todo o trabalho com a lâmina. Poucos ferreiros conseguem fazer uma arma mágica de boa qualidade, não só pela dificuldade em juntar materiais e criar os rituais, como também por ser um trabalho um tanto perigoso, pois se sair de controle, a fabricação pode causar explosões mortais. Não é baixo o número de vítimas por esse fato.

Já as armas encantadas são armas já prontas, que levam encantamentos feitos por alguns tipos de magos ou até mesmo raças. Geralmente são escrituras feitas na lâmina da arma que, quando ativadas pelo usuário, concedem algum tipo de bonificação ou poder único. Elas poderiam ser mais “fáceis” de serem feitas, mas ainda eram um tanto raras pois poucos magos conseguiam criar encantamentos que não saíssem do controle assim que ativados.

A maior diferente entre uma e outra era que, as armas mágicas tinham seu “poder” sempre ativo, e não requeriam nenhum ou quase nenhum poder mágico do usuário para serem utilizadas. Em contra partida, essas armas vão se degradando com o tempo e perder seu poder mágico depois de muitos usos ou muito tempo. Já as encantadas, necessitavam que o usuário as “alimentasse” toda vez que fossem ativadas. Mas a não ser em casos onde a parte com a escritura é danificada, ela não “envelhece” e não perde o seu poder. Mas claro, se a parte com a escritura quebrar, é necessário refazer o encantamento novamente.

Por fim, não é conhecido nenhuma arma que seja mágica e que recebeu algum encantamento, porque as energias acabam se anulando ou causando grandes estragos. Mas é possível que alguém consiga usar uma arma mágica e outra encantada em cada mão.

Ah sim, sobre os “Sizys” que o Capitão comentou: eles são uma raça de elfos que vivem muito ao extremo oeste, em uma das maiores florestas fechadas do planeta. São conhecidos como os “Elfos Verdejantes”, pois sua pele tem uma certa tonalidade verde. Também são famosos por serem os elfos mais inteligentes e mais poderosos em se tratando de magias. O estranho era que eles não gostavam dos humanos, então o fato desse Capitão ter uma arma encantada por eles seria um mistério. Não que Jarhan fosse se importar.

LANÇA DE LUZ PERFURANTE!

Assim que terminou de empinar o nariz falando de sua arma, o Capitão puxou a espada da direita para trás e passou um tanto de energia para sua lâmina. Assim que Jarhan decidiu se preparar para seja lá o que fosse, ele fez um golpe de ponta dali mesmo onde estava, o que fez sua arma disparar um feixe de luz em forma de lança na direção do necromante.

A magia veio rápido, mas Jarhan também conseguiu ser rápido o suficiente para reagir. Ele girou sua foice e a colocou com o cabo em frente a magia, se preparando para defletir. O problema foi não saber que seu oponente já estava preparado para algo assim. O Capitão ativou o encantamento de sua espada que ainda estava apontada para frente, o que fez a magia se intensificar imediatamente. O feixe de luz cresceu tanto em tamanho quanto em poder. E pra essa parte, Jarhan não teve tempo de reagir.

O feixe atingiu o cabo da foice, mas o atravessou como uma faca atravessando um pão endurecido, cortando a arma em dois. Como se isso não fosse o suficiente, a magia continuou e atingiu o meio do peito do membro da Immortal Star, o jogando para trás violentamente. Jarhan caiu no chão rolando e sangrando, completamente desamparado.

Mesmo com a dor, ele tentou se levantar imediatamente. Assim que colocou força no braço, sentiu uma fisgada horrível de seu peito, o que fez ele tossir secamente três vezes. Mas ele não tinha tempo. Não tinha tempo de se acostumar com a dor e nem chorar por sua arma ser partida ao meio. Seu oponente já estava em cima dele.

O Capitão atacou com um golpe duplo vindo de cima, esperando partir seu oponente em pedaços. Com a força restante de seu braço, Jarhan se jogou para o lado, rolando ainda mais. As duas espadas atingiram o chão com tudo, abrindo dois buracos razoavelmente profundos. Jarhan terminou de rolar e se levantou o mais rápido que pode, segurando só a parte de cima de sua arma. Olhou para os lados, mas sabia que não encontraria um substituto para sua arma. Haviam muitas espadas, escudos e lanças jogados pelo campo de batalha, mas Jarhan tinha treinado única e exclusivamente com a foice.

E claro, seu oponente não iria esperar que ele encontrasse uma nova arma. Partiu para cima novamente. No campo de batalha, você deve ter só um objetivo em mente: derrotar seu inimigo. Assim que você perde esse foco, a possibilidade de derrota aumenta gradativamente.

Vendo que agora seu oponente estava impossibilitado de se defender, o Capitão mudou seus ataques potentes para ataques rápidos. Começou com uma combinação nada padrão de cortes horizontais e diagonais, mudando o lado do ataque dependendo que espada usava. Tudo o que Jarhan conseguiu fazer foi se esquivar o melhor que pôde, dando pulos para trás ou se abaixando. Mas com o novo ferimento, seu corpo já não trabalhava com a mesma potência, e isso ocasionou dele ganhar mais três ferimentos ao redor do corpo.

IMOBILIZAÇÃO DO TERROR!

Jarhan bateu com a palma da mão no chão a sua frente e mandou um pouco de energia mágica para a direção de seu oponente. Era uma magia rápida e isso poderia fazer o necromante ganhar tempo, se fosse efetiva. Ne segundo seguinte, uma mão cadavérica surgiu atrás do Capitão e lhe segurou a perna direita, apertando com força.

O cavaleiro sentiu um arrepio crescendo e subindo por sua espinha até chegar em seu cérebro. Ele viu aquela mão de ossos lhe apertando e lhe puxando para baixo. Parecia aquela outra magia que engoliu seu cavalo, mas em menor proporção. Em um misto de raiva e decisão, o Capitão olhou para Jarhan ainda com uma cara fechada, girou sua espada da esquerda, fazendo as letras rúnicas na lâmina acenderem, depois simplesmente desceu a lâmina na mão esquelética, a destruindo completamente.

— Acho que você não ouviu direito a primeira vez. — começou o Capitão, agora com uma voz mais grossa e potente. — Essas suas magias de baixo nível não são nada para mim. Espero que você não esteja me subestimando ou tirando algum tipo de piada da minha cara me atacando com essas bobagens!

O mundo parou por poucos segundos para Jarhan. Ele não estava enfrentando alguém qualquer. Achava que tirar o cavalo iria ser o suficiente, mas mesmo depois que seu oponente se mostrou um bom guerreiro, Jarhan ainda tinha certeza que não faria uma luta difícil. Estava errado. O necromante apertou as mãos e continuou olhando fixamente para o rosto sério do oponente. Aquilo precisava ser uma luta de proporções destrutivas, não tinha como economizar energia mágica. Ou Jarhan parasse aquele homem ali, ou outros companheiros seus poderiam ser vítimas das habilidades refinadas de espadas duplas daquele Capitão.

— Verdade! — gritou Jarhan, o que não era muito necessário, pois não havia tanto barulho ao seu redor. Parece que o grosso das batalhas estavam acontecendo mais para o horizonte. — Eu estava achando que conseguiria uma vitória fácil assim que te derrubei do cavalo, mas parece que eu estava enganado. Você é um oponente de respeito. Merece que eu lute com tudo o que eu tenho.

Aqui começava um novo plano do necromante. Ele precisava analisar seu oponente antes, não só o quão habilidoso ele poderia ser, mas também precisava de cada detalhe de sua personalidade para que o plano funcionasse. Não era uma coisa que ele fazia normalmente, então seria difícil “encenar” tudo o que planejava. Mas pelo menos, a atenção do oponente ele já tinha.

— Meu nome é Jarhan Al'Arwah, soldado do Primeiro Esquadrão das Linhas de Frente da Guilda Immortal Star e estou lutando para proteger a cidade onde moram meus familiares e meus companheiros. Pode me dizer quem seria você?

— Ah, então parece que você tem modos afinal de contas! — respondeu o homem, deixando sair um pequeno sorriso. Jarhan contou aquilo como um ponto positivo para seu plano. — Pois bem, como cavalheiro, devo honrar as apresentações desse duelo. Meu nome é Bruce Marquis Wargon, Capitão do Terceiro Esquadrão Avançado de Betejilse. Luto pelo meu reino junto com a Aliança dos Reinos Divinos e honrarei o nome de minha família e de meu Rei vencendo essa batalha!

Foi quase o suficiente por enquanto. Jarhan começou a concentrar energia nas duas mãos, o que fez Bruce voltar a sua posição defensiva. Tinha funcionado! Aprender as características fundamentais do oponente era essencial para um certo tipo de magia que a necromancia controlava. Mas claro, só isso não seria totalmente suficiente. Ainda era necessário alguns “itens” para ter sucesso.

EXÉRCITO DOS CAÍDOS!

Se você estava esperando ver uma das principais magias de um necromante, então essa hora é agora. Jarhan fez suas duas mãos emanarem uma grande quantidade de energia mágica negra, depois, ao mesmo tempo, bateu as duas mãos no chão, enviando toda a energia de uma só vez. Várias linhas negras percorreram o chão em direções aleatórias, parecendo procurar algo. Quando paravam, as linhas se transformavam em pequenos círculos mágicos com cinco escritas rúnicas, brilhavam um pouco e começavam a criar algo.

Esse algo foi criado em rápida velocidade, mas a lembrança não desapareceria nunca mais. Os círculos mágicos formaram esqueletos de tamanhos variados, vestindo partes diversas de armaduras, nada nunca completo, e com armamento diferenciado. Era tudo feito de pura energia mágica, mas para quem nunca viu, aquilo era uma visão do inferno, com mortos ressurgindo de suas tumbas e clamando por sangue mesmo sem dizerem uma só palavra. Jarhan PODIA reanimar esqueletos reais, mas ele precisaria estar no local deles e a visão enojava até mesmo o invocador.

Jarhan conseguiu criar dez esqueletos branquelos e maltrapidos. Eles faziam um barulho esquisito de ossos se batendo e não pareciam olhar para uma só direção. Mas Bruce sabia que ele era um alvo. Isso até mesmo antes de todos os dez esqueletos se virarem para ele e correrem com suas armas levantadas.

O cavaleiro não se desesperou. Segurou firme suas espadas e se preparou para uma luta de larga escala. Começou defendendo os primeiros ataques. Vieram em várias difreções e em diferentes ângulos. Aqui, ele já conseguiu ver outra coisa sinistra na magia: a força física dos esqueletos não poderia ser subestimada. Eles atacavam com velocidade e força o suficiente para decepar um membro do corpo humano.

Mas ao mesmo tempo, Bruce também percebeu que eles eram desajeitados no quesito de mirar no local certo. Parecia que eles atacavam de qualquer jeito, não mirando em lugares mais mortais ou precisos. Eles lutavam como amadores. O Capitão de Beteljise conseguiu prever todos os ataques quase que facilmente. O problema era só a quantidade de ataques simultâneos, mas ele deu conta.

Mas não foi perfeito. Bruce sabia que não poderia ficar na defensiva para sempre, além de que lutar com os esqueletos fazia ele perder de vista Jarhan, que era o maior perigo. Então ele precisava contra-atacar assim que possível. Ele defendeu mais ataques, pulou, se esquivou e viu uma abertura. Aplicou um corte com sua espada esquerda, perfeita. Um corte vertical que arrancou o braço direito e parte dos ossos do peito de um esqueleto. Mas nesse segundo, Bruce esqueceu que não estava enfrentando um ser que sente dor e que cairia. O esqueleto, que usava uma lança de ponta, usou só o braço esquerdo e conseguiu perfurar a perna direita do cavaleiro, o fazendo recuar vários passos.

Isso abriu chances para muitos outros esqueletos conseguirem acertar um golpe que seja em Bruce. Todos atacavam em tempos variados, pois não tinham nenhuma coordenação ou comando. Mas com o oponente ferido, era mais fácil de ele não conseguir aguentar uma onda de ataques. Então foram estocadas, espadadas, golpes de balanço vindo de cima e de baixo, mirando ombro, perna, cabeça e costas.

Bruce foi atingido três vezes. Na verdade foram mais, só que sua armadura conseguiu defletir o resto dos golpes. Mas ainda assim, isso lhe rendeu três novos ferimentos pelo corpo, o que fizeram ele perder a compostura de vez. Concentrou energia na arma da esquerda e, depois de se esquivar mais duas vezes, atacou pra valer, gritando com tudo sua magia.

REDENÇÃO DE CLÍMENE!

O Capitão levantou a espada cheia de energia mágica, fazendo uma esfera uniforme ser criada em sua ponta. Depois a desceu com força, jogando aquela pequena esfera no chão em sua frente. A esfera se espatifou e imediatamente explodiu em uma onda de todas as direções, varrendo tudo o que tinha no caminho.

O resultado foi impressionante. Assim que a onda de energia tocava nos esqueletos, eles se desmontavam instantaneamente, sem nenhuma resistência. Todos os dez esqueletos caíram no chão desmontados, como se fosse apenas um amontoado de ossos empilhados. Poucos segundos depois, os ossos desapareceram completamente, sem deixar qualquer vestígio. Bruce não esperava ter que usar essa magia tão cedo, pois lhe gastava muita energia mágica.

As duas espadas encantadas do cavaleiro tinham poderes diferentes, mas bem simples. As melhores armas encantadas são assim, possuem encantamentos simples que completam as magias ou o estilo de luta do usuário. As espadas de Bruce tinham o poder de aumentar o poder de uma magia dele (a espada da direita, que era a se chamava Jápeto) e a outra diminuía o poder mágico de magias do oponente (que era a espada da esquerda com o nome de Clímene). Bruce criou magias específicas para cada arma e a combinação fez ele ser um dos guerreiros mais poderosos dos reinos do Oeste.

TOQUE DA REDENÇÃO!

Foi o melhor momento que Jarhan poderia ter para atacar. Bruce estava ligeiramente arfante e quase de joelhos no chão. Bem no momento que ele se reergueu, Jarhan apareceu por trás dele e lhe agarrou no pulso do braço esquerdo. Naquele mesmo instante, o cavaleiro ficou paralisado, com um sentimento forte de gelo correndo por sua espinha dorsal. Depois, linhas azuis começaram a aparecer do braço segurado e indo em direção para a mão do necromante.

Era um dreno de energia mágica. Simples assim. Bruce estava perdendo sua energia mágica e passando para seu oponente. Naquele ponto, não dava para saber se era mais perigoso perder energia mágica ou vital.

Mas a paralisia foi muito momentânea. Bruce viu que não conseguia sequer sentir o braço que estava sendo segurado, mas conseguia movimentar o outro. Então ele girou o corpo e aplicou um corte rápido vindo de baixo, que pegou Jarhan desprevenido. O necromante ainda levantou o braço para não ser atingido no rosto. Jarhan pulou para trás soltando seu adversário, e imediatamente colocou sua mão no novo ferimento no braço esquerdo.

— Maldito seja! FÚRIA SANGUINOLENTA DOS TITÃS!

Você está acostumado em combates onde as magias vão evoluindo de níveis de pouco a pouco, pois ninguém usa uma magia extremamente poderosa que consome muita energia sem saber se o oponente pode se defender ou se esquivar de alguma forma. Então não lhe culpo por ficar impressionado quando eu falar que Bruce ignorou tudo isso e usou uma das suas magias mais poderosas, sendo quase uma Magia Suprema.

A energia em volta do corpo do cavaleiro explodiu. Ele se virou para Jarhan, seus olhos brilhando, querendo consumir qualquer tipo de vida em sua frente. Seus dois braços foram puxados para trás com as armas apontadas para frente. Seus dois braços vibraram, e isso foi tudo que o necromante conseguiu ver antes de colocar os dois braços para frente para se defender. Também usou um tanto de energia mágica recém roubada para fortificar seu próprio corpo, mesmo não sabendo se isso seria suficiente.

O que veio depois foi um turbilhão de ataques frontais, de ponta para perfurar o inimigo. Não era possível saber quantos golpes tinham sido, pois eles aconteceram tudo em um segundo, sendo o golpe mais rápido que Jarhan já tinha enfrentado. Mas o necromante não teve nenhuma chance de se defender direito. Ele levou uma grande quantidade de cortes e estocadas ao redor de toda frente de seu corpo, protegendo apenas sua cabeça. Foi dano o suficiente para Jarhan cair ali mesmo.

Mas houve resistência. Não só pelo aumento de defesa que ele mesmo utilizou no segundo antes de levar o golpe, mas o corpo de Jarhan era naturalmente mais resistente do que muitos guerreiros bem treinados. E por fim, havia outro motivo ainda mais importante para ele querer aguentar o golpe em si em vez de se jogar para o lado. Ele foi ferido, mas esperou e esperou. Cada corte, cada nova dor fazia seu corpo pender. Mas ele resistiu.

Nos poucos segundos que aquela torrente de golpes estava sendo aplicada, Jarhan conseguiu ver que ela diminuíam de velocidade a cada nova estocada. Por isso ele protegeu o rosto, mais especificamente os olhos. Ele precisava observar e esperar. Até o momento em que um golpe não foi rápido o suficiente.

Jarhan soltou sua defesa (o que fez ele ganhar um corte no rosto) e segurou o braço atacante do oponente, dando um passo para frente e ficando cara a cara. Bruce arregalou os olhos quando percebeu que seu oponente tinha aguentado tantos ataques de frente só para poder se aproximar. Isso o deixou sem reação, e também não o deixou se defender o que veio em seguida.

Jarhan soltou o braço de Bruce, mas imediatamente colocou as duas mãos firmemente em sua cabeça, arrancando-lhe o capacete em um só puxão. Ainda ali, e com uma velocidade fora do comum, Jarhan agarrou os cabelos castanhos e lisos do soldado de alta patente, puxou sua própria cabeça e fez algo que seria marcado na história dos combates em campos de batalha: aplicou uma cabeçada forte no nariz de Bruce.

Espere, não pense besteiras. Jarhan não era nenhum tipo de artista marcial secreto ou algo do gênero. Também não era um planejador excelente, mesmo tendo uma ideia brilhante para derrotar seu oponente. O que ele fez agora, essa cabeçada totalmente fora do comum, pode ser vista como algo “esquisitamente eficiente”. Esquisito porquê, quem imaginaria um mago que utiliza magias negras que mexem com a morte, algum dia daria uma cabeçada no meio da guerra mundial mais importante que já houve? Já a parte do “eficiente”, você vai ter que esperar um pouco mais para entender.

Bruce cambaleou para trás, totalmente zonzo e dolorido. Perdeu o passo e o equilíbrio, indo no chão com tudo. Seu nariz sangrava, o que o fez cuspir várias vezes para retirar o excesso que ficou em volta da boca. Já Jarhan, também cambaleou para trás e caiu de joelhos no chão, finalmente sentindo a pior dor de sua vida. Sua mente estava querendo que o corpo parasse. Seus olhos piscavam muito, querendo fechar de vez. Sangue, sangue e mais sangue. Pela primeira vez, Jarhan sentiu que daqui a pouco, viraria material para outro necromante.

O Capitão de Betejilse foi o primeiro a se mexer e o primeiro a se levantar. Quase caiu novamente assim que firmou as pernas, dando passos bêbados para o lado. Mas se manteve firme usando uma das espadas como muleta. Limpou o nariz com as costas do braço e depois cuspiu no chão ao seu lado. Respirava entrecortado, mas mantinha um olhar ainda muito vivo. E furioso.

Jarhan por outro lado não estava em condições físicas de se mover muito. Ele precisava, sabia disso. Mas agora parecia que seu corpo tinha o dobro de peso, e tanto sua visão quanto sua audição estavam comprometidas por causa dos limites humanos de seu próprio corpo. Ele não conseguiria manter a luta se não recuperasse os sentidos. Tudo o que ele tinha agora era sua energia mágica. Tinha que usar, pois faltava tão pouco para seu plano funcionar!

O necromante se levantou o melhor que pode, virou-se de lado e começou a correr tropeçando. Bruce não acreditava que, depois de todo esse tempo, aquela pessoa fugiria da batalha. Sendo isso ou não, o cavaleiro segurou mais uma vez suas armas e começou a correr atrás de seu oponente. Ele estava em melhores condições, então o alcançaria sem muito esforço. E logo.

Mas Bruce diminuiu o passo quando sentiu que Jarhan corria e concentrava energia mágica ao mesmo tempo. O que ele estava esperando? Queria pegá-lo com a guarda baixa, fazendo-o perseguir? Bruce nunca cairia em um truque tão medíocre como aquele. Ainda assim, o cavaleiro estava preparado para se defender e se pudesse, contra-atacaria com força total para encerrar aquela luta de uma vez por todas. Isso até ver que seu oponente pulou e se virou para ele. Havia alguém caído no lado do necromante, morto com duas flechas enterradas na garganta.

— Desculpe meu amigo. — começou Jarhan, colocando a mão em cima das costas daquele corpo já falecido. A voz dele parecia triste a ponto dele chorar. Juntando toda sua coragem, ele puxou as duas flechas para fora, soltando dois filetes de sangue ainda mornos. — Mas preciso que me ajude mais uma vez. Não por mim. Mas por nossa grande família. — falou, e depois passou toda a energia que ele vinha concentrando enquanto corria para a mão direita. Colocou a mão na cabeça do homem e então clamou. — TÉCNICA PROIBIDA, ZOMBIFICAÇÃO!

Uma aura roxa e negra passou para o corpo caído do ex companheiro de Guilda de Jarhan. Essa energia, Bruce podia sentir, era horrível. Tinha uma sensação horripilante, fazendo o estômago do cavaleiro embrulhar. Ele mesmo nunca tinha sentido algo que poderia ser considerado tão “malévolo” quanto aquela magia.

Depois que a aura cessou, o impossível aconteceu: o corpo caído e já morto no chão sofreu um espasmo. Bruce viu toda a cena e falou para si mesmo “Não, não pode ser”. O braço se virou e fez alavanca para reerguer o corpo. As pernas se dobraram, joelhos no chão, depois ajudaram o corpo a ficar ereto. A visão total daquilo também não agradava.

Primeiro, parecia que o sangue continuava escorrendo dos dois furos que ele tinha no pescoço, encharcando toda sua roupa. Depois, os olhos. Eles tinham ficado sinistros, brancos como leite e com veias negras rodeando o globo. Tirando isso, ele parecia com uma expressão serena e vazia, como alguém que não está pensando em absolutamente nada. Sendo impossível ou não, Helveton, membro do Esquadrão de Defesa e Suporte da Immortal Star, estava de pé novamente. Mas não exatamente “vivo”.

Bruce gostaria de ter tido mais tempo para processar toda aquela nova informação, mas o zumbi puxou suas armas — duas garras de quatro pontas, pintadas em amarelo e preto como se fosse as patas de um tigre —, e partiu para o ataque em uma velocidade que, com toda certeza do mundo, não era de um morto vivo. O cavaleiro aparou o primeiro golpe que tinha sido mirado na cabeça, e logo após teve que recuar um passo para se esquivar de um rápido ataque horizontal aplicado mais embaixo.

O que veio depois foi ainda pior. As duas garras de Helveton brilharam em amarelo escuro e ele fez um movimento cruzado em sua frente. Dali, duas ondas de energia em formas de lâminas triplas da mesma cor de suas garras foram voando na direção do oponente. Pego de surpresa, mas não totalmente sem defesa, Bruce cruzou as espadas em sua frente e usou o poder de uma delas para defender a magia, que o empurrou por um metro antes de dissipar totalmente no ar.

Aquilo tinha sido uma magia! Mas onde estava o encantamento, os círculos mágicos ou sequer a concentração de energia! Bruce não sentiu nada! Não era possível que um corpo reanimado conseguisse usar magias e ainda suprir os encantamentos! Foi o que passava pela cabeça do Capitão naquele momento.

Mas existia vários motivos pra Zombificação de Jarhan ser tratada como “magia proibida”. Primeiramente, mexer com os mortos nunca era algo prazeroso ou ético. Mas o mais importante é que essa magia em questão era “perfeita” demais. Ela conseguia trazer uma pessoa de volta desde que não tenha passado tempo demais. Além disso, o corpo mantém toda a energia mágica que a pessoa possuía antes da morte. Isso fazia ser possível o zumbi utilizar suas próprias magias.

A única coisa não perfeita na Zombificação era a mentalidade. Ao utilizar a magia, Jarhan conseguia dar uma só ordem, e ela não poderia ser muito específica, pois se não, o zumbi não saberia como executá-la. Nesse caso, tudo que o necromante ordenou foi “aquele cara é inimigo”. Jarhan também não poderia ordenar uso de magias ou até estratégias. Isso tudo seria executado de acordo com o estilo de luta do próprio zumbi.

Helveton pariu para cima novamente, em outro avanço rápido. Esse era o estilo de luta dele. Ele partia com velocidade e precisão, fazendo o oponente cansar e abrindo brechas para ataques mortais. Mas como eu já havia dito antes, Bruce era um guerreiro exímio. Ele conseguiu defletir os cinco golpes seguidos do oponente, e ainda, em um movimento circular, conseguiu atingir Helveton no lado direito do quadril.

A sensação de acertar um zumbi era bizarra. Eles não sentiam dor, mas sangravam. Não tinha expressões, então não dava para saber como reagiriam. Por isso Bruce ganhou um novo corte não profundo na testa quando o zumbi ignorou completamente o dano levado e atacou imediatamente depois.

— Parece que eu não posso subestimar esse cadáver ambulante. — falou Bruce, mais para ele mesmo do que para outro. Também concentrou um tanto de energia mágica nas duas espadas e se preparou. — DESCIDA DOS GIGANTES!

Bruce levantou as duas espadas e as colocou juntas, encostando uma mão na outra. As duas armas liberaram uma luz acinzentada, e o usuário deu um salto curto para frente, preparando um golpe potente. Helveton bateu as duas garras na sua frente duas vezes, as fazendo vibrar e brilhar novamente em amarelo. Depois, as suas mãos criaram esferas de luz que ficaram ainda mais potentes e brilhosas.

O membro morto vivo da Immortal Star levantou os dois braços e se preparou para aguentar o avanço do oponente. Iria ser uma disputa direta de magias, e você já está acostumado com o impacto. Bruce desceu as duas espadas com toda força que tinha, acertando as duas armas carregadas de Helveton, criando uma onda destrutiva ao redor dos dois que foi sentida até pelas tropas que lutavam ao longe. Helveton chegou a afundar alguns centímetros no chão, de tão poderoso foi o impacto.

As duas magias ficaram trocando faíscas por pouquíssimo tempo. Por mais que Helveton conseguia exibir uma incrível força e até poder mágico, ele não conseguia ser páreo para os ataques potentes de Bruce. Por isso os braços do zumbi cederam depois de um duelo de força física. Seria um ataque fatal, que cortaria Helveton em dois. Mas o ex membro da Immortal Star colocou sua força restante nos braços e empurrou o golpe para o lado esquerdo no último segundo.

Mas isso não fez ele se esquivar do golpe. As duas espadas atingiram o ombro de Helveton e deceparam seu braço com uma facilidade de um copo cheio de água sendo virado e esvaziado. O braço decepado voou para o lado, soltando sangue pelo chão, mas Helveton não moveu um centímetro. Ele não sentia dores, não sentia nada. Só o que ainda lhe restava de consciência era um objetivo.

Helveton acertou um potente chute no estômago de Bruce. Forte o bastante para tirar o cavaleiro do chão e o jogar para trás. Bruce ficou sem ar e foi ao chão de costas, totalmente sem equilíbrio. Não estava realmente ferido, porque vestia uma cota de malha por debaixo da armadura. Na velocidade de apenas uma piscadela, o Capitão viu seu oponente morto vivo pular para cima dele, mirando um golpe com a garra que lhe faltava. Mesmo naquela posição, Bruce ainda conseguiu levantar as duas espadas, se preparando para defender.

Houve um impacto, mas não tão potente quanto os outros que já vimos. A questão era que a força física do zumbi não era a preocupação do Capitão estirado no chão. O problema era que Helveton estava com sua arma carregada de energia mágica, e Bruce só sentiu assim que defendeu golpe.

Nenhuma magia foi encantada, zumbis não conseguiam mais ter a habilidade comunicativa. Mas ainda assim, uma magia foi disparada. Da garra de Helveton, quatro estacas de energia foram criadas e disparadas, como se fossem projeções alongadas da própria arma. A espada de Bruce, a que conseguia defletir magias, até conseguiu parar uma das estacas, mas as outras passaram reto e atravessaram tanto a armadura quanto a carne do cavaleiro.

Bruce gritou até seus pulmões perderem todo o ar. A dor lhe corroeu, e não só sangue lhe escapou do corpo, como também lágrimas. Ele se debateu um pouco ainda no chão, até conseguir sua consciência de volta e empurrar Helveton com a perna. O zumbi voou para trás e caiu no chão de costas também, fazendo um barulho pesado.

O Capitão do Terceiro Esquadrão Avançado de Betejilse se levantou. Dessa vez, toda a sutileza e cavalheirismo simplesmente desapareceu da mente dele. Sua aura se intensificou, ficando mais escura refletindo a sua fúria. Segurou as duas espadas tão forte que se a audição de Helveton fosse como antes, ele teria se assustado. Mas não, ele também se virou no chão e se levantou, um pouco mole, parecendo um sonâmbulo.

— Técnica Secreta! — gritou Bruce, enterrando as duas espadas no chão ao seu lado, uma de cada lado. Depois, ele bateu uma palma bem em sua frente e passou uma grande quantidade de energia para as mãos, criando uma esfera intensificada de aura. — LANÇA DE JUSTA DO INFINITO!

Bruce juntou as mãos, fazendo a esfera desaparecer momentaneamente. Depois, ele puxou o braço direito para trás, criando uma linha de uma mão a outra. Essa linha cresceu e tomou uma nova forma, parecendo um tipo de cabo. Na ponta da outra mão, a linha também cresceu e se esticou, formando um tipo de cone com uma ponta muito fina no fim. A lança parecia ser feita de luz sólida, intensa e brilhante. Parecia potente o suficiente para atravessar um castelo.

E foi disparado contra Helveton, que ainda parecia não conseguir ter o total controle do próprio corpo. A magia lançada não parecia ser tão rápida, mas os dois estavam muito próximos um do outro. Por esse motivo que o morto vivo não conseguiu se esquivar, ou sequer pensar em uma maneira para se defender.

O estrago foi mais absurdo do que qualquer outra coisa que já tinha acontecido ali naquele campo de batalha. Helveton levantou o braço na tentativa de usar a garra para defletir a lança, mas isso foi completamente inútil. A ponta desintegrou o braço, jogando a garra para o alto e para trás. E isso foi só o começo. A magia o atingiu no meio do peito e o explodiu de dentro para fora. Não o ultrapassou e continuou avançando. Era uma magia de um alvo só, mas com um poder extremo.

Foi como se o ex membro da Immortal Star tivesse engolido uma bomba explosiva de energia. Partes do corpo que eu não vou especificar aqui voaram para todas as direções, pintando as partes ainda não sujas do campo de vermelho. Bruce respirava ofegantemente, quase sem energia mágica. Estava bem exausto, e só agora as feridas começavam a latejar e a incomodar. Infelizmente para ele, a batalha ainda não tinha terminado.

 — A luta acabou agora, Capitão Bruce Marquis Wargon! — gritou Jarhan, de um distância bem segura. O cavaleiro olhou para o lado e o encontrou de joelhos no chão, na frente de um círculo mágico pequeno, feito de sangue. Haviam alguma coisa junto do círculo e o necromante segurava a garra de Helveton, aquela que tinha voado para longe. — Meu companheiro lutou bravamente, e eu esperei até o final de sua luta para poder chamar a sua atenção. No fundo, eu tinha esperança que Helveton ainda ganhasse de você, mas parece que a Zombificação tem muitos limites.

— Você ficou olhando enquanto seu companheiro arriscava sua segunda vida? — perguntou Bruce, com um tanto de nojo. — E você consegue tratá-lo como amigo? Nunca vi uma pessoa tão baixa!

— Minha estratégia funcionou desde que você me disse seu nome completo. — começou a explicar Jarhan, completamente tranquilizado. Parecia até irreal. — Minha magia não trabalha só com a morte, mas também com maldições. E alguns rituais eu necessito de informações para elas terem efeitos. Algumas precisam até mesmo de materiais do meu oponente.

— Você tem muita coragem de tentar me explicar sua magia no meio de nossa batalha!

Bruce praguejou isso, depois retirou as duas espadas enterradas na terra e começou a correr na direção do seu inimigo, querendo finalizar aquele combate de uma vez por todas. Mas depois de exatos cinco passos, ele simplesmente caiu. Foi ao chão, como se tivesse desmaiado. O tombo foi feio, a ponto dele se machucar de verdade. Foi imediatamente depois que ele percebeu que não sentia mais as pernas.

— Eu posso te explicar porque, como eu já disse, a luta terminou. — respondeu Jarhan, com a mão dentro do círculo de sangue. — Consegui seu nome, sua essência, alguns fios de cabelo, um pedaço do tecido de sua roupa e seu sangue. Tudo o que eu precisava era de “tempo”, pois fazer o círculo corretamente necessita de concentração. Mas Helveton conseguiu isso pra mim, por isso vou ser eternamente grato a ele. Agora... RITUAL NEGRO – LINHA DO FALECIMENTO!

Essa era uma das magias mais poderosas de Jarhan. Com certeza, era a mais efetiva também. Mas como era um ritual e era necessário ter completado várias “etapas” antes de utilizá-la, era difícil de ser usada em um duelo. Mas como ele conseguiu fazer Bruce cair nas armadilhas dele, a magia acabou saindo com sucesso.

Inicialmente, não aconteceu quase nada. Jarhan mandou energia para o círculo de sangue, que brilhou e depois criou uma linha da mesma cor que se ligou ao corpo caído de Bruce. Mas não houve danos, não houve dor. Pelo menos não nesse momento. A linha se espalhou como água da chuva na roupa, deixando todo o corpo do cavaleiro rodeado com uma aura vermelho sangue. Não era necessário dizer que Bruce se desesperou com aquilo.

— Primeiro, como eu já comecei... — disse Jarhan, olhando novamente para o círculo. — Vamos remover sua habilidade de se locomover. — disse, e então passou a mão para baixo do círculo, apagando duas partes.

Ao mesmo tempo, sangue brotou das pernas de Bruce, que soltou um grito tão alto quando teve o corpo estocado pela magia de Helveton. Ainda em seu desespero, o cavaleiro olhou para baixo, querendo saber o que tinha causado aquilo. E é aqui que entra o misticismo: não havia ferida alguma. O sangue estava vindo da própria perna. Não havia cortes, furos, nada. Parecia que os poros de pelos de sua perna começassem a sangrar.

— Agora vamos remover sua habilidade de causar danos aos outros, coisa que fez até demais ao meu amigo e eterno companheiro. — falou Jarhan, e apagou uma parte lateral do círculo, tanto da direita quanto da esquerda.

Aconteceu de novo. Dessa vez, foram com os braços de Bruce. Ele continuava gritando, agora mais baixo e mais fraco que anteriormente. Não sentiu mais os braços, só as dores que comiam sua consciência. Ele chorava e tentava se mover, só para aumentar ainda mais seu desespero ao ver que não conseguia mover um músculo.

— Eu deveria apagar esse círculo pouco a pouco, para você pagar por tudo o que fez, mas como não sou esse tipo de pessoa, além de que você não estava lutando por livre vontade, e sim por obrigação, vou acabar com seu sofrimento de uma vez por todas. — disse por fim, e apagou o círculo inteiro passando a mão rapidamente por ele, como se estivesse limpando um vidro.

Houve mais um último suspiro de Bruce, gritando mais alto por apenas um segundo antes de sua cabeça pender para baixo e ali ficar. Ninguém assistia aquela luta, então ninguém pode dizer o quão desesperador foi esse final. Com certeza perguntariam o que tinha acontecido por ali, pois junto ao corpo do Capitão havia sangue de uma tropa inteira.

Jarhan estava sem nenhuma gota de energia mágica sobrando. Aquilo tinha sido seu trunfo final, e se não funcionasse como deveria, a derrota seria dele. Ele se levantou e foi até onde estava o braço esquerdo de Helveton, o que tinha sido decepado primeiro. Jarhan removeu a garra, com um pesar terrível em seu rosto.

— Perdão ter que usar você dessa forma, meu amigo. — falou Jarhan, ali sozinho. Apenas ele e seu remorso de ter que usar uma magia que era proibida, e por um bom motivo. Olhou para cima, como se fosse falar com um espírito que estava indo para o paraíso. — Mas sem você, eu não conseguiria realizar meu plano tão perfeitamente. Vou ficar com suas armas e as deixarei em seu túmulo, junto com a história sobre como você lutou pelos seus companheiros mesmo depois da morte. Descanse em paz, Helveton.

Ainda naquele campo de batalha, outros membros da Immortal Star travavam lutas diferentes em um local diferente. Eram o esquadrão que tinha como objetivo destruir os “Trebuchets”, que tinham causado um grande estrago nas tropas de Riven. Sobre esse objetivo, ele estava quase concluído, já que o ataque surpresa de Geovanna e seus companheiros foi rápido e destrutivo. Mas a quantidade de soldados operando as grandes armas de cerco deixaram seus postos e partiram para o ataque. Isso fez as armas pararem de serem usadas, mas agora aquela colina tinha virado um novo campo de batalha.

Mas nenhum dos outros companheiros de Geovanna estava tendo tanto trabalho como Smolder. Ele enfrentava o Vice Capitão da Tiger Claw, um homem chamado Gabriel. Os dois homens lutavam em estilos completamente diferentes.

Smolder era usuário de machados, carregando dois machados com lâmina dupla e cabo de madeira grossa em cada mão. Ele tinha um estilo não marcial, que é forjado inteiramente durante o combate. Os membros da Tribo Werzak são colocados em lutas desde pequenos e um tanto forçados a melhorarem seus instintos e percepções. Um homem adulto dessa tribo possui dezenas de cicatrizes que ganharam há anos por causa do treinamento na infância. Sobre o estilo de luta em si, esses guerreiros lutavam com uma ferocidade fora do comum, possuindo golpes mortais e pesados, destrutivos até mesmo para os melhores escudos ou armaduras. Muitas lutas deles acabavam com um único golpe, de tão fortes.

Já Gabriel era o vinho para a água de Smolder. Seu estilo de luta era de esgrima, extremamente refinada e pura. Era completamente baseado em velocidade e defesa, a um ponto de que seu oponente não conseguia o acompanhar. Seus golpes eram tão rápidos que sua arma chegava a ficar invisível quando usada, deixando o oponente incapacitado para defender. Isso sem contar com a impressionante destreza de seu corpo, tanto para se esquivar ou atacar.

Agora o duelo desses dois estava um tanto equilibrado, mesmo que Gabriel esteja na vantagem. Isso porque eles já trocaram vários golpes, mas Smolder não tinha conseguido acertar absolutamente nenhum golpe no oponente. Gabriel era um mestre em defletir ataques, e deixava Smolder sem balanço e quase indefeso a cada nova investida.

Por outro lado, Gabriel conseguiu sim acertar alguns golpes em Smolder... O problema era que tinham sido completamente superficiais. Apenas cortes pequenos ou não profundos. Isso porque toda vez que Gabriel deixado seu oponente sem balanço e atacava em um ponto cego, Smolder fazia uma cambalhota sem sentido e não convencional e acabava se esquivando por pouco. O fato do membro da Immortal Star não ter um estilo próprio estava fazendo uma grande diferença, pois não era possível prever nenhuma de suas ações.

Também estava difícil para que Smolder usasse alguma de suas magias de técnicas. Por exemplo, nesse exato momento, ele estava tentando concentrar energia mágica nos braços, mas Gabriel era tão rápido para atacar, que ele precisava cortar sua concentração e se defender. O grande homem sem camisa tentou se afastar três passos, querendo ganhar tempo, mas Gabriel logo o alcançou novamente e aplicou mais três estocadas rápidas. Só uma delas conseguiu atingir de leve a perna direita de Smolder, nada sério.

ESTOCADA ILUSÓRIA!

Parecia que os dois queriam levar a luta mais a sério. Gabriel puxou o braço com a espada para perto de si, concentrou energia em toda a lâmina fina de sua espada, depois deu um passo largo para frente e atacou com uma estocada. A lâmina tubular brilhou, e logo em seguida a ponta desapareceu.

Para Smolder, foi ainda pior. Ele viu a estocada, conseguiu prever em que ângulo viria. Mesmo que fosse rápido, ele ainda conseguia confiar em sua própria velocidade de reação e se esquivar. Mas dessa vez, assim que ele levantou seu braço direito para se defender, ele viu a lâmina se dobrando como se fosse uma cobra e depois atacando em um ponto mais embaixo. Um golpe ilusório, escondendo a verdadeira intenção.

O membro mais novo da Immortal Star foi ferido acima da cintura. Dessa vez não tinha sido um corte superficial: a espada de Gabriel penetrou em sua carne e foi retirada imediatamente depois, puxando sangue com ela. Gabriel estava prestes a rir, mas quando viu que seu oponente não exibia qualquer emoção de dor, decidiu comentar:

— Você me impressiona, plebeu. — falou, com um toque irritante em sua voz. Ele falava com a cabeça um tanto erguida. — Finalmente lhe acertei um golpe em cheio e você conseguiu resistir a dor magnificamente.

— Você acha que isso foi um golpe em cheio? Hahahahaha! — a risada de Smolder foi alta o suficiente para outras pessoas que estavam mais próximas ouvirem e até olharem. Gabriel perdeu a expressão alegre que exibia. — Acredita mesmo que uma arma fina dessas pode me causar algum dano sério? Acho que você não sabe com quem está lidando!

E atacou. Dessa vez foi um avanço mais rápido, diferente dos avanços e golpes pesados que ele usava até agora. Smolder atacou com um golpe horizontal mirando as pernas do oponente, mas Gabriel, sem nem sair do lugar, girou a espada, defendeu o golpe e o empurrou para o lado, defletindo perfeitamente o golpe avançado. A habilidade de defesa de Gabriel era irritantemente perfeita.

Mas Smolder não desistiu. Começou a aplicar uma sequência potente de golpes em direções variadas. Ainda sem mover um centímetro sequer, o Vice Líder da Tiger Claw defendia seus golpes com facilidade, esperando momentos oportunos para aplicar seus próprios ataques. Quando isso acontecia, Gabriel fazia estocadas rápidas. Atingiu duas vezes seu oponente, no braço e no lado esquerdo da cabeça, mas nada sério.

Se afastaram outra vez. Tinha sido mais um embate igual aos outros seis ou sete que eles tinham travado. Não estava adiantando. Se isso continuasse, ele virariam o dia inteiro nesse duelo, até que um dos lados perdesse por cansaço. Mas Smolder não queria ter que perder tanto tempo, por isso começou a concentrar energia novamente.

Gabriel não iria deixar. Apertou o punho da espada e partiu para cima novamente, aplicando uma nova estocada rápida mirando a garganta do oponente. Só que dessa vez, o resultado foi diferente. Smolder não levantou suas armas para se defender. Na realidade, ele não “tentou” se defender. Apenas deu um mínimo passo para o lado, fazendo a estocada lhe atingir em cheio no ombro esquerdo. A espada entrou em sua carne facilmente, como um prego entrando em papel.

ATAQUE FULMINANTE!

Foi assim, sem esperar ou sem reagir a dor. Gabriel não acreditava que seu oponente fosse deixar ser ferido propositalmente daquela forma, por isso não conseguiu tempo o suficiente para reagir a esse ataque. Smolder levantou seu machado da direita, que brilhou não tão intensamente antes de descer violentamente contra o corpo do oponente que estava praticamente grudado ao seu. Era tudo que essa magia fazia. Um golpe simples, mas mortal.

Gabriel ainda tinha uma velocidade absurda, então ainda teve tempo para puxar sua espada e tentar se afastar. Mas não escapou do dano, pois sentiu um trancar na hora de puxar a arma. Smolder tinha apertado os próprios músculos em vez de relaxá-los, tudo para que seu oponente não tivesse chances de escapar ileso.

O machado lhe cortou de ombro a cintura, em um risco vertical, lhe rasgando suas roupas caras e seu corpo intocável. Foi a primeira vez na batalha que ele perdeu a compostura, dando quatro a cinco passos errados para trás. O membro da Tiger Claw olhou para seu sangue como se fosse a primeira vez em sua vida que ele o via.

— Maldito plebeu! — praguejou Gabriel, ainda se afastando pouco a pouco. — Que tipo de monstro você é pra ter essa ideia? Quem leva um ataque de propósito sem nenhuma proteção corporal só para ter uma chance de acertar um golpe em um oponente?

— Eu já falei: você não sabe com quem está lutando. — respondeu Smolder, remexendo o ombro machucado. A dor estava ali, mas não o incomodava. Sua vitalidade era algo fora do comum até mesmo para guerreiros treinados em resistência. — Todos da Tribo Werzak lutam sempre apostando suas vidas, usando tudo o que podem. Por isso somos conhecidos como os “Guerreiros da Fúria”! — falou, com um bom tanto de orgulho em sua voz.

— Haha... — riu o Vice Capitão, bem baixinho. Depois levantou a cabeça e soltou uma gargalhada ainda mais louca. — Tribo? TRIBO? Eu sabia que você era alguém baixo! Alguém que não merece nem a preocupação da nossa sociedade! — sua energia cresceu, envolvendo todo seu corpo. Seu rosto agora exibia um Gabriel diferente. — MODO CERBERUS!

Uma nova aura foi criada ao redor de seu corpo. Era negra com cinza escuro, e parecia pulsar a cada segundo. Smolder se preparou para se defender, mas aquela não parecia ser uma magia de projétil ou algo do gênero. O membro da Immortal Star tinha ficado nervoso com o comentário do oponente. Mas aquela era exatamente a hora de se irritar?

O que aconteceu depois é difícil de explicar. A magia de Gabriel era bem especial, inventada pelo próprio. A aura que rodeava seu corpo estava criando um tipo de ilusão ao seu redor, e assim que ele se movimentou, tudo se tornou ainda mais bizarro. A ilusão estava criando “pós-imagens” do seu corpo, parecendo que ele estava se dividindo em três.

Já no primeiro ataque, Smolder viu que o rumo da batalha tinha mudado. Gabriel atacou com uma estocada na altura da cabeça, e o guerreiro sem camisa e todo arranhado conseguiu defender de início, mas quando ele já pensou em se preparar para abaixar a defesa, ele sentiu outro golpe no mesmo lugar, e depois mais outro. Haviam sido três ataques quase no mesmo ponto, e Smolder não tinha conseguido ver os outros dois.

A situação piorou logo em seguida. Gabriel começou a aplicar uma combinação super rápida de ataques em diferentes alturas e locais. Defender os dois primeiros ataques foi fácil. Mas como Smolder era obrigado a defender três vezes no mesmo lugar, ele não conseguia trocar de posição defensiva rápido o suficiente para se livrar da próxima investida. Ele levou três golpes, depois conseguiu defender mais três, depois levou mais três. E isso continuou por alguns longos segundos.

Quando o fôlego de Gabriel cessou e ele mesmo se afastou para não ser acertado com um golpe horizontal e potente de seu oponente, Smolder já estava com uma aparência horripilante. Seu corpo estava coberto de ferimentos. Mesmo que sejam coisas leves ou superficiais, a quantidade exuberante era uma preocupação. O sangue já tinha se misturado com as pinturas do corpo, não dando mais para diferenciá-las.

— Você entendeu agora, plebeu? — questionou o Vice Capitão, com seu tom de voz de superioridade, que dava raiva em muitos que o ouviam. — Você não tem chance contra minhas técnicas refinadas. Você que veio de uma vila fedorenta e bárbara nunca poderá ficar no mesmo patamar que alguém como eu!

— O que você... — tentou falar Smolder, ainda respirando rapidamente e tentando se manter firme. A dor não lhe incomodava tanto, mas a falta de sangue sim. — O que você disse sobre minha vila?

— Está surdo depois de levar tantos golpes? Eu falei que ela é fedorenta e bárbara. Conheço muito bem o histórico da Tribo Werzak, que são guerreiros idiotas e sanguinolentos que só ligam para si mesmos e ignoram leis ou exércitos de qualquer outro reino. Vocês são uma escória que não deveria ter a permissão de continuar respirando nesse mundo!

Era aquilo. A técnica infalível que já matou incontáveis guerreiros experientes no campo de batalha. Smolder fechou os olhos por dois segundos, e quando os abriu novamente, eles estavam com outra cor. Sua expressão passou para uma de pura raiva, a ponto dele mostrar os dentes como se fosse uma fera selvagem. Ele arcou um pouco as costas e apertou os machados. Tinha entrado em fúria.

Gabriel sorriu quando viu seu oponente correndo em sua direção dando um grito de guerra. Tinha funcionado! Gabriel era um lutador que sabia mexer com a cabeça de seu oponente, deixando ainda mais fácil de se atingir a vitória. Era a mesma habilidade que San tinha, mas usada de um forma diferente.

O primeiro movimento de Smolder foi um golpe vindo de cima, que foi esquivado com uma certa facilidade. Mas o estrago que o guerreiro da Tribo Werzak causou fez Gabriel ficar mais atento. O chão que o machado atingiu ficou como uma pequena cratera. A força física e potência de ataque de Smolder não era brincadeira. Logo em seguida, o guerreiro furioso atacou com um golpe horizontal rápido, mas Gabriel conseguiu defletir. Nesse momento, Smolder também percebeu que a aura estranha do oponente também servia para defesa, já que ele sentiu três armas o empurrando.

CANHÃO DE PEDRAS!

Foi uma magia imediata. Smolder desceu o machado da mão esquerda, enterrando-o levemente no chão. Passou um pouco de energia mágica para lá, e depois forçou o machado para frente e para cima. A magia fez com que estilhaços de terra e pedra voassem na direção do oponente, alvejando-o com projéteis terrestres.

Gabriel deu um único passo para trás e levantou sua espada. Mirou, analisou e esperou. Viu aquela saraivada de pedras e terra vindo em sua direção. Não se precipitou ou se desesperou. Manejou a espada. Cima, lado, baixo, cima de novo, lado, lado. A cada movimento, ia aparando um projétil, os desviando para os lados ou para o chão. Ao final da magia, ele estava intacto.

Mas também ao final da magia, Smolder estava em cima de Gabriel, em um pulo mortal e descendo com os dois machados lado a lado, querendo cortar o inimigo ao meio. Seria um golpe e tanto, mas Gabriel não estava desprevenido. Ele previu aquilo. Então tudo que fez foi dar outro passo, para o lado dessa vez, deixando o corpo pesado de Smolder bater com tudo no chão, o fazendo outra cratera com suas armas.

ESTOCADA TRIÂNGULAR!

Gabriel passou energia mágica para a lâmina de sua arma e quase não mirou. Com uma leve girada de corpo, ele aplicou três estocadas relâmpago nas costas de Smolder, que formavam três pontas de um triângulo. Foi a primeira vez que o grande guerreiro da Immortal Star soltou um grito curto de dor antes de se jogar para frente, quase totalmente sem balanço.

— Como eu disse, Monstro Bárbaro. — começou Gabriel, fazendo um rápido movimento com a espada para o lado, tirando o sangue acumulado na arma. — Você não tem chance alguma de sequer acertar outro golpe em mim. Não importa que tipo de técnicas você tenha aprendido com o seu bando selvagem e inescrupuloso. Vocês só servem para serem escudos sacrificiais, até mesmo para a guilda para qual você trabalha!

A fúria de Smolder aumentou. Sua aura ficou ainda mais potente e mais avermelhada. Ele soltou outro urro raivoso e grosso, mas em vez de causar algum medo em seu oponente, como geralmente acontece, Gabriel só alargou ainda mais o sorriso. Ele pensou que essa seria a última investida que aconteceria, pois era difícil imaginar o quão mais o corpo do guerreiro de tribo aguentaria.

Houve uma mudança. Smolder partiu para cima mais uma vez, indo para um ataque frontal, assim como foi a primeira vez. Mas Gabriel percebeu que ele tinha corrido mais rápido. E o ataque também foi ainda mais rápido. Não foi o suficiente para acertar o nobre esgrimista, porém. Gabriel defletiu mais uma vez o ataque potente de Smolder, mas percebeu que além de mais rápido, o golpe estava mais pesado.

Smolder não parou aí. Começou a atacar furiosamente e velozmente, sem se preocupar com mirar direito. Gabriel entrou em uma posição defensiva, ainda sorrindo. Os golpes eram rápidos e potentes, mas estavam muito previsíveis. Com a sua habilidade especial ativa, ele conseguia usar as três imagens para defletir os golpes, por mais potentes que fossem. Era a força de um homem contra a de três.

ESTOCADA RELÂMPAGO!

Era tudo uma questão de paciência. Os ataques de Smolder poderiam ser perigosos, mas eram tão previsíveis que o fazia ficar indefeso em uma grande maioria de vezes. Gabriel só esperou um momento oportuno e aplicou seu golpe relâmpago mirando o meio do joelho direito do oponente. A espada atravessou a perna do guerreiro da Immortal Star, que não tinha proteção alguma. Smolder mais uma vez gritou e foi ao chão, de joelhos.

AS CEM VESPAS!

Esse era um ataque mais potente. Gabriel concentrou ainda mais energia mágica para aplicar esse golpe, mas por causa de sua estratégia de deixar o oponente no chão sem defesa, ele teve o tempo necessário para conseguir se concentrar.

Com mais um giro rápido, o Vice Líder da Tiger Claw passou para as costas de Smolder e puxou sua espada para trás, além de arcar um pouco o corpo, se preparando para o ataque. Com uma explosão de energia por volta de todo o corpo, Gabriel começou a aplicar várias estocadas ao redor das costas desprotegidas de Smolder, em uma velocidade ainda mais surpreendente do que ele já tinha demonstrado. Aplicou trinta e três golpes, que foram multiplicados por três por causa de sua magia anterior, e finalizou com um potente avanço que atravessou o peito do guerreiro de fora a fora.

Smolder caiu. Tinha se tornado uma peneira humana e sangrava para sua inevitável morte. Sua face bateu forte no chão, e ali permaneceu sem mover um músculo. Gabriel relaxou os músculos e limpou a espada da mesma maneira que antes. Sorriu uma vez mais, saboreando a vitória. Para ele, aquele era um resultado óbvio, não poderia ter sido diferente. Alguém com um status social tão elevado e tão bem treinado não poderia ficar abaixo de um verme vindo de uma Tribo distante que só saberia guerrear.

O nobre se virou e encarou a situação do resto daquele campo de batalha. Parecia que algumas lutas tinham terminado e, para seu azar, suas tropas pareciam estar perdendo. Não exatamente um problema grandioso. Tudo o que ele precisava fazer era eliminar o resto dos plebeus, garantir que as armas continuassem em estado de funcionamento e chamar por um novo time de atiradores. Tudo que ele precisava era de paciência para terminar seu trabalho, como um profissional.

— UAAAAAAAAAAAAAAHHHHH!!!

O grito tirou Gabriel de seu estado de conforto. Ele deu um pulo para frente com o susto, se virando imediatamente depois. O que encontrou não tinha sido uma visão bem-vinda. Smolder estava de pé, ainda de costas para ele. Por mais incrível que pareça, essa não era o pior da visão. O mais estranho é que Gabriel percebeu que os mais de cem ferimentos nas costas do oponente não vertiam sangue. Como algo assim era possível?

— Faz bastante tempo que alguém não me pressiona tanto assim em um duelo... — falou Smolder, não exibindo nenhuma fraqueza em sua voz. Ele se virou lentamente para encarar seu adversário. — Só quando eu chego a esse ponto que eu posso usar meu verdadeiro poder!

— Ah, acha mesmo que isso vai funcionar? — respondeu Gabriel, em forma de pergunta retórica. Ele tentou disfarçar o máximo que conseguia o fato de não acreditar estar vendo aquele homem em pé ainda. — Esse é o clichê mais antigo que eu conheço!

— TÉCNICA ESPECIAL DE WERZAK! — gritou Smolder, como em resposta ao desafio de seu oponente. O chão começou a tremer, se rachando ao redor dele. Seu corpo exalou uma aura ainda mais intensa e vermelha, e todos os seus músculos pareciam vibrar. — LOUCURA!

Por mais que o início dessa magia estava demonstrando ser alguma coisa grandiosa, assim que ele gritou o seu nome, tudo o que aconteceu foi a aura se expandir e imediatamente voltar, deixando o corpo de Smolder rodeado com um tipo de campo de força vermelho. Mas além disso, era óbvio que algo tinha acontecido ao corpo dele. Gabriel jurava que ele tinha ficado ainda maior e mais robusto.

Smolder arcou o corpo, encostando uma das mãos no chão e então avançou. Foi um tiro de canhão. Gabriel piscou e então levou um golpe certeiro de ombro do seu oponente. O nobre foi jogado para trás, sem ar. Mas ele não chegou a ir ao chão. Arrastou os pés e parou, cuspindo e lutando para recuperar o fôlego. Foi tudo o que ele conseguiu até ver que Smolder já estava em cima dele de novo.

A machadada veio de cima novamente, bem mais rápido. Dessa vez, Gabriel até conseguiu se defender, mas foi por pouco. Era inacreditável que Smolder tenha conseguido ficar com uma velocidade quase igual a dele! Outros dois golpes, um de cima e outro de lado. Gabriel se abaixou primeiro e depois defletiu o segundo ataque. Erro. Mesmo com três armas para ajuda-lo, ele não conseguiu força o suficiente para defletir. O machado conseguiu cortar a perna esquerda do Vice Capitão, mas não tinha sido um ferimento muito sério.

— MALDITO BÁRBARO! — gritou Gabriel, dando um passo para trás e concentrando energia mágica na arma. — ESTOCADA RELÂMPAGO!

Dessa vez, era para ser um golpe assassino. Gabriel mirou no olho direito do oponente, já que estavam muito perto um do outro e seria mais difícil de Smolder prever. Isso somado a ultra velocidade do esgrimista, acabaria se tornando o final do duelo, com a espada atravessando o olho e o cérebro do oponente.

Isso se o golpe tivesse acertado em cheio. Smolder fez um movimento ainda mais estranho dessa vez. Soltou o machado da mão esquerda e a levantou para a trajetória do golpe. A espada fina atravessou o meio de sua mão, ao ponto de só parar quando a palma bateu no guarda mão.

Quando isso aconteceu, Smolder ainda fechou sua mão, segurando firmemente a arma do oponente. Nesse exato momento, Gabriel percebeu o perigo que aquela técnica de seu oponente proporcionava. Os olhos de Smolder tinham perdido as cores, ficando totalmente vermelhos, como se fosse um verdadeiro monstro. Foi por ficar vislumbrado com aquele olhar, que Gabriel recebeu um novo golpe diagonal, e dessa vez, não tinha sido superficial.

Gabriel deu passos errados para trás, quatro ou cinco vezes, sangrando e tremendo com a dor. Seu peito tinha sido cortado de uma ponta a outra, novamente. Mas agora tinha sido muito mais fundo. Tinha sido um golpe total e mortal, quase idêntico ao primeiro que ele recebeu.

A magia Loucura de Smolder era um perigo não só para qualquer oponente presente em um campo de batalha, quanto para o próprio usuário. Era uma magia especial usada por um tipo de “classe de combate” chamada “Berserker”. Não era uma classe que poderia ser aprendido em escolas ou algo do gênero, e apenas três tribos ao redor do mundo tinham esse estilo de combate, com algumas mudanças entre uma e outra.

Sobre a magia, ela fazia com que o usuário ficasse em um estado completamente dormente. Não sentia dores ou cansaço. Mas isso não significava que eles não se feriam, claro. Além disso, sua força física, percepção, velocidade e capacidade de raciocínio aumentavam esporadicamente. Existiam dois problemas: o primeiro era que, para a magia ser invocada, o usuário precisava atingir um estado de nervosismo muito alto. Inconsciente disso, as provocações de Gabriel acabaram fazendo esse efeito.

O segundo problema dessa magia era que, enquanto estiver nesse modo, o usuário fica impossibilitado de utilizar outras magias, não importa qual seja. Ele poderia sim utilizar sua energia mágica para amplificar defesas e ataques, mas não para invocações mágicas.

Mas para destruir um inimigo já ferido, você não precisava de muito mais coisas. Smolder deixou o corpo cair para frente lentamente, depois explodiu em um impulso total e frontal. Gabriel ainda estava se recuperando do golpe, coisa que não parecia ter muito o que ser feito. Ele tinha conseguido puxar a espada de volta quando recuou, então pelo menos, não estava desarmado. E sua aura de pós imagem ainda estava ativa, mas ela oscilava querendo desaparecer.

Mas uma combinação rápida e não sequencial de golpes foi aplicada por Smolder. Golpes que tinham mais velocidade as vezes. Outas vezes eram muito mais potentes. Todos inconsistentes, bizarros. Nesse último avanço, Gabriel até conseguiu se esquivar por muito pouco de quase todos os golpes e defletiu o que podia, mas no fim levou um chute no rosto que não previu, fazendo sangue cair por seu nariz.

MODO HERMES!

Mesmo sem fôlego por causa da combinação quase infinita de seu oponente, Gabriel achou uma brecha para se esquivar e pular para longe. Concentrou energia mágica o mais rápido que pode por todo o corpo e conjurou uma nova magia. Era um novo tipo de aura, dessa vez na cor branca. Não parecia ter pós imagens, então não funcionaria igualmente.

Gabriel percebeu que a desvantagem era totalmente dele. Ele estava muito ferido, mesmo tendo levado apenas dois golpes. Mas como eu já disse, a força física de Smolder era uma coisa fora do normal, e muita gente já havia perdido levando apenas um golpe dele. Por fim, o Vice Líder também achava que usar uma magia que necessitasse muito de seu movimento seria algo ruim, mas era a melhor maneira que ele tinha para contra-atacar agora.

Ainda assim, Gabriel atacou. O que Smolder viu foi... Nada. Ele não viu nada. Gabriel simplesmente desapareceu de sua frente, e um segundo depois, um novo furo tinha aparecido nas costas do grande guerreiro em loucura. Smolder virou já atacando, mas não atingiu o oponente. Nem o viu novamente. Gabriel já estava ao seu lado, e aplicou mais dois golpes de ponta, os dois certeiros.

Esse modo de Gabriel fazia ele colocar todas suas energias em pura velocidade de locomoção e ataque. Mas era uma magia cansativa, exigia um esforço absurdo do próprio corpo, além de ser extremamente difícil de controlar a mira ao atacar. Não era uma magia feita para ser usada com o corpo ferido daquele jeito, mas era isso ou ser morto pela força absurda do oponente.

CÍRCULO DO DESESPERO!

Gabriel sabia que não podia ficar naquele modo por muito tempo, então assim que viu seu oponente vindo para cima mais uma vez, ele se esquivou e liberou mais energia ainda para utilizar essa magia. Isso o fez correr ainda mais rápido do que antes, o que já tornava algo bastante impossível. Ele passou pelo lado de Smolder, que não conseguiu acompanha-lo. Depois, Gabriel o circulou e continuou correndo nesse círculo, criando um tipo de barreira humana bizarra.

Mas é claro que isso não era tudo que a magia fazia. No próximo segundo, Smolder sentiu três estocadas lhe perfurando. Uma nas costas, uma na perna direita e uma no pulso da mão esquerda. Smolder não viu nenhum dos três golpes. Mesmo durante sua Loucura, ele não conseguia acompanhar toda aquela velocidade, mas precisava tentar.

Smolder observou os movimentos, ouviu os passos e atacou em sua frente, com um golpe horizontal vindo da direção contrária da que seu oponente corria. Mas tudo o que o machado de Smolder atingiu foi o vento. Com seu braço esticado, Smolder recebeu mais duas estocadas nele, aumentando o número de furos pelo corpo. No outro segundo, mais duas estocadas nas costas e na parte de trás da perna direita.

Aquilo não era bom. Aquela magia de Gabriel não parecia ter fim. Provavelmente continuaria a infligir danos até o oponente cair morto, ou a energia do usuário terminasse. Smolder ainda conseguia raciocinar o suficiente para saber que ele não gostaria de fazer essa aposta. Então ele flexionou as pernas e pulou para trás, para longe, saindo daquele círculo bizarro.

Mas assim que pisou no chão outra vez, ele foi ferido mais duas vezes. Em um piscar de olhos, Gabriel tinha mudado sua trajetória e voltou a circulá-lo. Não adiantava tentar fugir. O Vice Capitão era rápido o suficiente para segui-lo para qualquer lugar, não importava a distância. O poder de Gabriel não era brincadeira. Ele não tinha conseguido chegar ao posto de Vice Líder de uma Guilda só usando seu status social e nobreza.

Smolder olhou para os lados e encontrou algo que lhe deu uma nova ideia. Ele urrou uma vez mais, querendo elevar seu espírito furioso e fazer seu corpo aguentar ainda mais ferimentos. Se virou e deu um novo salto, muito maior e mais longo. Assim que pisou no chão, já sentiu uma nova estocada no lado esquerdo do rosto, rasgando sua orelha. Não se importou. Não havia dor. Só havia a raiva. Correu.

Ficou na frente de um dos Trebuchets, um que ainda não tinha sido destruído. Sentiu seu oponente em suas costas, provavelmente se preparando para atacar mais uma vez. Não esperou. Deu um novo salto, depois de energizar as pernas. Foi para o alto, em cima da grande arma de cerco, quase na ponta. Não havia espaço para rodeá-lo lá, então Gabriel teria que desativar sua magia se quisesse continuar lutando.

Ou assim Smolder pensou. Uma nova estocada em suas costas, na altura do rim. Esse tinha sido um golpe perigoso e provavelmente mortal. Smolder sentiu sua garganta se encher de sangue. Olhou para trás e não acreditou no que viu. Gabriel continuava o rodeando... pisando em pleno ar! Como isso era possível? Será que ele também poderia voar? Como estava fazendo aquilo?

Duas novas estocadas, uma delas foi no meio da mão esquerda. Esse dano fez ele soltar o machado daquela mão, o deixando apenas com uma arma. Raiva e mais raiva. A Loucura tinha outro porém, que era aumentar ainda mais o poder do usuário quanto mais ele chegava perto da morte, o que também não era uma boa notícia. Mas seus sentidos estavam ainda mais apurados agora, e ele sentiu uma coisa: um passo.

Sim, era um passo. Um barulho uniforme que estava acontecendo a cada segundo. O trebuchet não tinha espaço para que Gabriel rodeasse alguém, mas ele ainda poderia pisar nas extremidades da arma. Era isso que ele estava fazendo! Ele não estava voando! Estava dando pulos extremamente precisos e rápidos! Smolder riu. E urrou. E pulou de novo.

Dessa vez não foi um pulo fugitivo. Smolder concentrou uma boa quantidade de energia mágica que lhe restava em suas duas pernas, depois pulou reto para cima. Mas a energia não foi para o impulso inicial. Não, não. A energia era para o golpe de pisada que ele queria dar. O corpo grandalhão de Smolder voltou com uma força tremenda, batendo e destruindo o trebuchet como se fosse um graveto esmagado por uma rocha.

O efeito foi imediato e chamativo, atraindo a atenção de todos os soldados que lutavam ao redor. Toda a arma de cerco veio ao chão, completamente destruída aos pedaços. Como Gabriel estava mesmo usando uma parte da arma para pular, seu passo falhou e ele caiu junto aos escombros. Sem ter onde se apoiar, o Vice Líder de Guilda caiu por cima das várias estacas de madeira e pedaços de ferro.

O tombo foi feio, a ponto dele perder sua concentração e desativar seu modo de super velocidade. Ele rolou algumas vezes depois que caiu, pois sentiu uma dor intensa na perna. Quando parou, olhou para baixo e viu um ferimento bem sério em sua perna direita. Provavelmente caiu em cima de uma das vigas de madeira. Não importava agora. A dor era excruciante e não o deixou ficar de pé novamente.

Mas Gabriel não precisou se preocupar em se levantar. Alguém fez isso por ele. Smolder o agarrou pela nuca, vindo por trás, e o levantou do chão com uma mão só. Isso não era exatamente um estrangulamento, mas o aperto potente poderia muito bem esmagar todo o pescoço do Vice Líder se aquilo continuasse.

— Está orgulhoso agora? — perguntou Smolder. Sua voz estava completamente diferente, extremamente grossa, ao ponto de ser bem difícil de entender. Sua “Loucura” parecia estar acabando, pois sua aura vermelha estava começando a se apagar. — Vai perder pro bárbaro de uma tribo longínqua que você tanto despreza! ESTÁ ORGULHOSO?

— Arghhh, me solte! Seu maldito monstro grotesco e...

Não houve mais conversa. A fúria de Smolder estava sumindo, mas isso não significava que ele ainda sentia os efeitos. A raiva e a sanguinolência tomava conta de seu ser. Com a mão direita, ele apertou o machado com o resto de força que tinha, chegando a trincar a madeira do cabo. Não esperou seu oponente terminar de falar. Não era necessário. Em um movimento só, ele passou sua arma pela linha do pescoço de Gabriel, bem abaixo de sua mão que a segurava. Foi uma decapitação instantânea e brutal.

A luta tinha terminado ali, mas houve um outro efeito imediato. Como eu disse, a destruição do trebuchet, junto com os vários urros de Smolder, atraíram muita atenção de soldados aliados e inimigos. Nesse final, haviam alguns espectadores, querendo saber como aquilo ia acabar. Bom...

Quando Smolder separou a cabeça e o corpo do seu oponente, os soldados inimigos ficaram paralisados em tempos diversos. Olhavam para o sangue gotejando no chão. Mas todos, sem nenhuma exceção, mantiveram seus postos quando o homem da Tribo Werzak jogou a cabeça para o lado, como se fosse uma bola de papel.

Houve um estardalhaço e uma correria desenfreada. Alguns soldados soltaram suas armas e se ajoelharam, pedindo redenção. Alguns outros, mais nas extremidades do campo de batalha, viraram as costas e correram. Sem um líder para organizá-los, eles não sabiam o que fazer. Existia sim, um Capitão de Esquadrão lutando ali com eles. Mas ele teve o azar de enfrentar Geovanna, e agora estava caído desmaiado em um canto junto com um trebuchet destruído.

Geovanna ordenou aos seus amigos e os soldados de Riven que ainda estavam de pé para que não seguissem os fugitivos. Eles se concentraram em amarrar os desistentes e desequipa-los totalmente. Foram destruir a última arma de cerco que havia restado e criaram um perímetro de segurança, com soldados e membros da Guilda em pontos estratégicos.

Só depois disse que a garota correu para perto de Smolder, que continuava parado no mesmo lugar. Ele estava com a cabeça abaixada, em silêncio total. Geovanna se assustou quando viu a quantidade de ferimentos que seu corpo sustentava. De longe, as pinturas corporais escondiam os vários furos e sangue que escorria deles. De perto...

— Smolder! Como você está? Consegue me ouvir? — perguntou a maga, em um tom cheio de preocupação.

Não houve resposta. Lentamente, a garota foi rodeando seu corpo até ficar na frente do mesmo. Smolder continuava com a cabeça abaixada e não exibia nenhuma reação. Geovanna se abaixou para ver seus olhos, e constatou outra coisa ainda mais alarmante: Smolder estava completamente apagado. Ele tinha desmaiado em pé.

Mal sabia Geovanna que aquilo tinha sido um ato de puro orgulho. Smolder queria passar não só para Gabriel, como para todos os outros que nenhum homem da Tribo Werzak se ajoelhava ou caía perante um inimigo que fere o orgulho de sua família ou seus amigos.


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Notas finais do capítulo

E no próximo capítulo, mais lutas terminando e outros problemas se iniciando



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