Uma Qualquer História Especial escrita por UQPE


Capítulo 30
Capítulo 30 - O Susto




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As vozes aproximavam-se cada vez mais. Lia e Lúcia estavam as duas de pé, falando sem voz, lendo a boca da outra.
- E agora o que é que fazemos?
- Esconder!
Olharam freneticamente dum lado para o outro da sala.
- Ist die Tür offen? (A porta está aberta?) – disse a voz que elas tinham identificado como a de Tom, mais perto do que nunca.
Lia ia a correr para a casa de banho.
- Não, alguém pode ir aí!
- Então?
Ouviram:
- Versuchen Sie es. (Experimenta.) – disse outra pessoa, presumivelmente Gustav.
Ouviram passos que estavam praticamente dentro da sala. Lúcia agarrou Lia e arrastou-a até ao guarda-roupa, onde se sentaram nas prateleiras. As portas eram do género que desliza, e Lia deixou uma aberta uns poucos centímetros, não fossem ter uma falta de ar ou assim.
Assim que Lia largou a porta, entraram umas dez pessoas na sala. Conseguiram discernir as vozes de Tom, Gustav, Georg, do manager e de algumas raparigas. Mais importante ainda, a voz de Bill. Lúcia sentiu a ânsia passar-lhe para o peito.
Lia agarrou-lhe a mão e ficaram ali, encolhidas e esperando que ninguém abrisse a porta durante muito tempo – de facto, fora uma hora. Já sentiam que os músculos não se podiam queixar mais quando finalmente as pessoas pareciam estar a sair da sala. Os risos e sons foram-se tornando mais distantes até haver um silêncio absoluto. Lia estava para agarrar a porta quando ouviram novamente:
- Kommen Sie, Tom? (Vens, Tom?) – disse o manager.
- Nur eine Sekunde gehen Sie voraus. (Só um segundo, vai tu à frente.)
Esperaram até se ouvir o som da porta a fechar. Tom atravessou a sala. Ouviram-no abrir algo que parecia uma mala e pressionar uns botões em algo. O móvel no bolso de trás de Lúcia começou a vibrar contra a madeira das prateleiras.
Tom correu até ao guarda-roupa, abriu-o e deu um salto ao vê-las às duas. Lia e Lúcia riam-se.
- I’m sorry, but you should have seen your face! – disse Lúcia
Tom começou também a rir-se. Já não as via há algum tempo. Estavam ambas vestidas de escuteiras, de camisola, calções e botas.
Lúcia tinha um chapéu. Lia tinha o seu cabelo loiro-sujo preso em dois elásticos, e os olhos esverdeados brilhavam de excitação. Tom supôs que ela não chamava muito a atenção na Alemanha, por ter a cor de pele clara; achou-a adorável, embora não o fosse admitir com Lúcia ao pé. Tinha ainda um pin com o símbolo da banda no bolso esquerdo da camisola, não pôde resistir. Lúcia tinha o cabelo castanho escuro solto, para a divergir ainda mais da rapariga no DVD, que tinha o cabelo preso. Os olhos cor-de-mel mostravam mais ânsia que excitação.
- We haven’t seen you in ages!
Era verdade. Tom tinha crescido mais uns centímetros, se possível. Tinha as rastas loiras-sujas presas, como sempre. A cara de anjinho ria-se, e o piercing no lábio brilhava. De perto, podia-se ver uma borbulha na testa e uma na bochecha, escondidas com maquilhagem.
- Nice make-up.
- Hey, no one’s perfect... – olhou para Lia e acrescentou – ...although some of us are close to it. – e piscou-lhe o olho. Lia riu-se. Lúcia aproximou-se dele e sussurou:
- No flirting with my friend, please. I wouldn’t want her getting involved with someone like you.
- Someone like me? Aww, that sounds like an insult.
- Yeah, like you, shower-boy.
Tom riu-se.
- Did you notice there’s one in the bathroom? – afastou-se e estendeu a mão a Lia, para a ajudar a sair do guarda-roupa.
- We’ll be onstage in some minutes. I’m assuming you want to be in the first row?
- Of course! If you can get us there.
Tom acenou, e levou-as até uma outra porta, que dizia Security.
- Just go through there and show security your passes. Even if there’s no more place, they’ll get you in.
- What about you?
Tom dirigiu-se à porta ao lado.
- I’m gonna do what I’m best at. – sorriu-lhes e desapareceu pela porta. Meio segundo depois esta abriu e a cabeça dele espreitou:
- Well, second best at! – piscou-lhes o olho. Lia riu-se e Lúcia rolou os olhos.
- Break a leg!
- See you!

Já não podiam aguentar a pressão de todas as raparigas no estádio a empurrá-las, a elas e toda a gente na primeira fila, contra as grades.
Lia e Lúcia já tinham apoiado os pés nas grades para tentar escapar mas era inútil.
- Só espero que isto acalme quando eles chegarem! – disse Lúcia.
- Acalmar não digo, mas que elas parem de empurrar!
Ouviam algumas a gritarem-lhes qualquer coisa.
- O que é que elas estão a dizer?
- Qualquer coisa sobre estrangeiras. Não ligues. Se isto piorar, a porrada é universal.
Riram-se e aguentaram mais uns minutos. Finalmente, a música de fundo parou e umas luzes apareceram sobre o palco. As fãs começaram a gritar e Lúcia sentiu ainda mais pressão contra as grades. Gustav apareceu, acenou e pegou nas suas baquetes. Seguiu-se Georg, em passos largos, com o seu baixo na mão. Entrou depois Tom, que acenou entusiasticamente e tomou o seu lugar. Começaram a tocar Durch den Monsun. As fãs gritaram ainda mais. Na sua deixa, Bill entrou no palco, e aí, o estádio parecia ter explodido. Lúcia apercebeu-se de duas coisas. A primeira era que estava prestes a gritar algo obsceno à rapariga imediatamente atrás de si, que puxava os seus próprios cabelos de histeria. A segunda coisa era que o seu coração batia como se não houvesse amanhã. Lia deu a mão a Lúcia.
- Das fenster öffnet sich nicht mehr…

To be continued...


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