O tempo passa, quer se queira, quer não. Passou e Lúcia nem deu por isso. Vivia como se dormente. A realidade que vivia não lhe oferecia nada, a única coisa que a consolava eram as memórias de Bill. A única confidente era Lia, o resto das pessoas, pais e etc., estavam todos preocupadíssimos com ela, suspeitavam de depressão, de namorados, de anorexia. Lúcia não reagia a nada.
Passou tão depressa o tempo, que de súbito já era o seu aniversário. Estamos a 31 de Julho. Não era só um aniversário, era o aniversário – o aniversário dos seus 18 anos – e ela nem cá estava em espírito para celebrar. Toda a gente em seu redor estava bastante contente, que já tinha idade para fazer isto e aquilo. Lúcia já tinha aprendido que pôr uma máscara de satisfação era mais fácil nestas alturas. Acordou com os pais e Lia a desejarem-lhe entusiasticamente os parabéns. Lúcia levantou-se e fez a rotina da manhã. Quando foi ter com eles à cozinha, estavam todos em volta dum monte de presentes para ela. Tinham também um bolo de anos, já para o pequeno-almoço. Lia e ela tinham planeado sair o resto do dia. Abriu as prendas da família, pais, avós, padrinhos. Tudo coisas que não lhe faziam falta nenhuma. Agradeceu, fingindo contentamento. Reparou que Lia não lhe dera nada mas não se importou. Foi buscar as suas coisas e saiu com ela.
Quando chegaram ao rés-do-chão, Lia disse, com um sorriso:
- Acho que vais gostar das tuas prendas.
- Como assim?
- Bem, falta veres a minha... e outra.
Lúcia olhou-a com um olhar inquisitivo mas não disse nada. Lia entregou-lhe algo achatado embrulhado em papel de embrulho. Lúcia abriu: era um DVD. Mais propriamente, um DVD documentando a estadia dos Tokio Hotel em Lisboa. Na capa estava uma imagem da banda. Lúcia evitou olhar para a pessoa no centro. Ocupando quase metade da capa, estavam três assinaturas e um “Happy Birthday!”.
Olhou para Lia, não entendendo:
- Porquê?
- Abre.
Abriu, e dentro viu, à frente do livrete, um envelope. Na parte da frente dizia: “Best wishes to you. By the way, if you want his signature, use what’s inside the envelope. Tom”. Dentro do envelope estava um bilhete da Lufthansa, um bilhete de avião para Frankfurt, Alemanha, no dia 1 de Agosto. Lúcia tentou registar tudo isto. Tom mandara-lhe um bilhete, para a Alemanha, para encontrar Bill. Ela tinha direito a mais uma oportunidade. O seu coração, nesse momento, e pela primeira vez desde há muito tempo, saiu do seu estado de hibernação e encheu-se de afecto por Tom. Começou a rir, primeiro baixinho, depois que nem uma perdida. No meio do seu riso, começou também a chorar. Lia não quis ficar de fora e juntou-se. Lúcia olhou para ela e perguntou:
- Lia... é já amanhã! Amanhã vou para a Alemanha! Vou ver o Bill!
Lia parou momentaneamente o riso e olhou para ela, séria.
- Oh Lú, e achas mesmo que os teus pais te vão deixar ir?
Lúcia interrompeu a sua alegria. Nem pensara nisso ainda. Os seus pais eram bastante liberais, e agora ela tinha 18 anos, mas mesmo assim... uma viagem para o estrangeiro, sozinha?
- Oh, Lia... Meu deus, se calhar não me vão deixar! Tens de me ajudar! Como é que eu vou fazer?
Aí Lia desatou-se a rir como antes.
- Essa é a minha prenda de anos! O Tom também me mandou um bilhete, eu falei com os teus pais e eles deixam-me ir contigo, pelos teus anos! Muitos parabéns, Lúcia!
Entre risos e choro da parte de Lúcia, abraçaram-se. Este, certamente, não era um aniversário que Lúcia fosse esquecer.

No dia seguinte, pelas 11 da manhã, já estavam elas e os respectivos pais no aeroporto de Lisboa. Depois de concordarem com os avisos habituais e se despedirem, de mostrarem os passaportes e as malas na alfândega, de verem as lojas e verificarem a porta de embarque, sentaram-se e esperaram. Comentaram as pessoas que pareciam ir no mesmo avião que elas. Ao fim de algum tempo, era altura de embarcar. Sentaram-se nos seus lugares, Lia começou a estudar o livrinho de frases em alemão e Lúcia fechou os olhos para adormecer. Mal podia esperar até chegar lá...

To be continued...