Lúcia levantou-se cedo, muito antes do despertador tocar. Tinha mudado a sincronização da estação.
Sentada na cama, olhava para o casaco que estava em cima da cadeira. No pulso, ainda tinha a pulseira. Pensava se havia de devolver ambos ou não. Por um lado, ele devolveu-lhe o casaco, por outro, ele não sabia se ela ia lá buscá-lo.
Decidiu pensar nisso depois, pois naquele momento tinha de ir para a escola. Vestiu as suas roupas de marca, comeu e saiu de casa.
Na escola, procurou Lia. Foi encontrá-la nos bancos do jardim, sozinha e a ouvir música que dava para quem estivesse a cinco metros, ouvir também. Batia, sistematicamente, com o pé no chão.
- Bom dia. – cumprimentou Lúcia.
Ela não lhe respondeu. Lúcia tirou-lhe um phone do ouvido e disse:
- Eu disse bom dia.
Lia levantou-se e começou a afastar-se. Lúcia intersectou-a.
- Hei, estás-te a passar ou quê?
Virando-se disse:
- Estou-me a passar? Eu estou-me a passar? Eu? Queres saber, até estou. Estou-me a passar contigo. Tu és uma mentirosa traidora. Tu sabias, eu levei-te comigo e tu aproveitaste-te.
- Estás a falar do quê?
- Não sabes? Eu digo-te. Disto! – e meteu-lhe debaixo dos olhos, fotos dela e Bill no corredor do hotel, agarrados e nalgumas aos beijos, que haviam sido retiradas do DVD.
Lúcia ficou sem palavras, não sabia que tinham sido gravados. Esforçara-se tanto para esconder e agora o mundo todo ia ver aquelas imagens. Pior, a sua melhor amiga, estava chateada e com razão.
Lia fervia de raiva. No dia anterior não quis acreditar no que via. Pensou que pudesse ser alguém parecido mas não. Era ela. Lúcia, a sua melhor amiga. Estava ali com o seu ídolo, o seu amado. Pensou e percebeu que tinha sido enganada. O sentimento de revolta cresceu dentro dela, possuindo-a até encontrar Lúcia no dia seguinte e descarregar tudo:
- Tu foste uma traidora. Eu é que te levei ao concerto. Tu nem os conhecias e, se não fosse eu, provavelmente hoje ainda nem sabias quem eram. Tu enganaste-me, mentiste. Aposto que o Ricardo do infantário é mentira. Tu sabias que eu gostava do Bill e...
Ok, agora não era verdade.
- Tu não gostas do Bill. Tu nunca o conheceste, nunca estiveste com ele, nunca nada. Tu tens uma obsessão com ele, isso não é gostar.
- Talvez tivesse tido algo com ele, talvez tivesse chegado a conhecê-lo, se tu mo tivesses apresentado!
Lúcia pensou: seria possível que Lia e Bill gostassem um do outro, que tivessem o que eles tinham tido? Seria possível que fosse Lia a sofrer agora por Bill ter uma namorada verdadeira e Lúcia a estivesse a consolar e elas nunca se tivessem zangado?
- Pois não to apresentei. Fiquei com ele todo para mim, não é isso que estás a dizer? Que eu sou egoísta e que tu é que o conhecias há mais tempo e que tu é que devias estar naquele DVD? Eu não queria estar no DVD! – as lágrimas começaram a cair-lhe pela cara – E para tua informação, ele já não está mais comigo. Feliz?
E foi-se embora. Não foi às aulas nesse dia. Foi para o Parque das Nações. Esteve o dia todo lá sentada. Aquela água parecia pequena, ao lado do seu sofrimento. Primeiro Bill, agora Lia, o que ia acontecer mais?
Foi a casa, trouxe o casaco de Bill, meteu-o num envelope, escreveu a morada e enviou-o de volta. Não escreveu remetente, disfarçou a letra. Tinha decidido que ele não ia saber que ela foi ter com ele, mesmo que fosse para devolver a pulseira.
Sammy, o cão que encontraram juntos e que Tom dera o nome, era o único que Lúcia nunca tinha pensado em devolver. Podia trazer-lhe recordações, mas aparentava ser o seu único amigo. Que não a abandonara.

To be continued...