Liberta-te escrita por Saturno


Capítulo 1
Único




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Jason olhou mortalmente para seu maior inimigo, sentia que lhe atacaria a qualquer momento, mas já sabia que mais cedo ou mais tarde, Jason precisaria dela. Afinal, ele dependia da cadeira de rodas.

Por mais que não fosse culpa da cadeira, Jason odiava ter que encarar aquilo. Não foi a cadeira de rodas que tirou todos seus sonhos, mas era ela que o fazia lembrar de todas as coisas ruim que passava diariamente. Desde ruas emburacas a olhares tortos.

Lembrou-se do dia em que o prédio velho caiu e, consequentemente, uma grande parte do concreto caiu em cima de suas pernas. Os médicos acreditavam que um milagre acontecera, já que Jason ainda estava vivo, mas sem o movimento das pernas. Não houve maneira de recuperar suas pernas e não houve maneira de recuperar toda sua carreira e objetivos.

Ele era militar, afinal, queria proteger as pessoas, queria garantir a elas que poderiam continuar suas vidas pois ele estava ali para dar a dele. Mas agora não poderia mais fazer isso e tudo pareceu sem sentido por meses e meses.

Hoje era seu aniversário de trinta anos, também era o sétimo mês que estava na cadeira de rodas, empregado em uma livraria e tendo um caso com uma mulher magnífica.

— No que está pensando? — questionou Laurel, olhando-o com curiosidade.

— Em você — murmurou Jason.

Jason jamais saberia como Laurel poderia gostar dele. Ele era rabugento, cadeirante e extremamente vago, pelo menos essas eram as coisas que ele dizia a ela.

"—Você não é rabugento, Jason. E, pelo amor de Deus, como se cadeirante fosse uma doença! Eu amo você do jeito que você é, não me importo se é cadeirante ou não, se é rabugento ou não, desde que você me deixe completar o seu vazio, eu me sinto feliz" era o que lhe dizia todas as vezes que a questionava o motivo de continuar com ele.

— Espero que sejam pensamentos bons — disse Laurel, sorrindo e acariciando os cabelos de seu namorado.

— Você se casaria comigo, Laurel? — questionou subitamente, deixando-a surpresa.

— Isso é um pedido de casamento ou é apenas uma curiosidade sua? — Laurel sentou-se na cama e o olhou seriamente.

— Pode responder minha pergunta? — pediu.

— Eu não acredito que está me dizendo isso! — Laurel levantou-se irritada. — Que pergunta idiota, Jason!

Por um momento Jason pensou que estava tudo terminado e ele quase chorou por isso. Por mais que questionasse seu relacionamento todo dia, sabia que não poderia continuar sem Laurel, pois ele aprendeu a amá-la e se um dia ela fosse embora, parte dele iria também. Jason sorriu com o tamanho clichê que sentia nesse momento, mas apesar de clichê, eram todos sentimentos verdadeiros.

— Quando eu te pedi em casamento você recusou, dizendo que eu estava confusa, que eu achava que te amava. Eu não falei nada sobre aquilo, porque eu não queria brigar com você, mas agora você me vem com esse assunto… Por que você acha que pode me dizer o que eu sinto ou que eu não sinto? Porra! Se eu te pedi em casamento, Jason, é porque eu te amo e é porque eu quero passar meus dias ao seu lado — exclamou Laurel, virando-se de costas e limpando as lágrimas.

Laurel sempre foi muito educada e sentimental, e Jason sabia que algo devia estar errado para que ela falasse palavras de baixo calão. Faziam cinco semanas que Jason havia recusado o pedido de casamento de Laurel, tudo isso por culpa de sua fraqueza, culpa de seu receio.

— Me desculpe — falou, de repente. — Eu tenho medo de não poder te fazer feliz, Laurel. E se você achar um cara melhor que eu? Mais bonito que eu? Que consiga andar? Que não fique reclamando no seu ouvido toda hora? Que não recusa o pedido de casamento da mulher mais incrível do mundo… — dessa vez quem estava com lágrimas nos olhos era Jason.

— Eu posso achar muitos caras melhores que você, Jason. Mas eu não vou amar nenhum, porque meu amor pertence apenas a você, porque ninguém pode me dar o que eu quero, só você. Eu te amo, Jason — murmurou Laurel, sentando-se na ponta da cama e encarando os olhos do homem.

— Então… você quer se casar comigo? — pediu ele, uma segunda vez.

— Não — a resposta soou agressiva e rápida, surpreendendo Jason de uma maneira inacreditável.

Depois de todas as palavras… Ela simplesmente diria não?

— Eu estou brincando, idiota. Só queria que soubesse que foi assim que me senti quando você disse aquelas coisas pra mim… É claro que eu me caso com você — então Laurel o abraçou fortemente e Jason pode sentir o cheiro do shampoo de chocolate impregnado nos cabelos dela.

Ele podia não ter o movimento das pernas, mas ele tinha o amor de Laurel. E nada comprava isso.


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