Olhei o letreiro da industria para ver se batia com o nome escrito no papel em minhas mãos e quase chorei quando vi que, sim, era o mesmo lugar.

Fazia uma eternidade que eu andava e andava naquela cidade grande e nada de achar meu futuro local de trabalho.

Devagar, adentrei ao enorme prédio, e tomei o elevador até o andar indicado, o quinto. Chegando lá, me dirigi até uma moça que parecia ser a recepcionista.

- Bom dia. - saudei, ela levantou os olhos do computador a sua frente, fazendo um punhado de cabelos ruivos caírem sobre seus ombros. - Meu nome é Katniss Everdeen e eu tenho uma entrevista marcada com o senhor Hawthorne. - ela sorri para mim e assente enquanto digita alguma coisa no computador.

- Ele já está disponível e pode lhe atender agora. - sorrio em resposta para ela, esperando por mais alguma orientação a seguir. A moça me indica a direção da sala, mas acaba indo comigo para anunciar a minha chegada.
Instantaneamente fico nervosa. Nunca trabalhei em uma industria antes, mesmo sendo com o cargo de secretária.
A menina comigo abriu a porta de uma grande sala. Toda clara, limpa, espaçosa.

- Bom dia, senhor. Essa é a moça que o senhor aguardava. - ela sorriu para mim e fez um gesto para que eu entrasse.

Assim que o fiz olhei para o homem que me aguardava. Ele era alto. Bem alto, tinha pele morena, cabelos e olhos escuros. Era bonito, eu admita, mas de forma alguma me senti atraída.

Pelo contrário, seus olhos sobre mim estavam me deixando sem graça. Ele tinha um sorriso pretensioso no rosto, simpático, mas não era apenas isso. Assim que a secretária se retirou ele fez sinal para que eu sentasse e caminhou até mim, me oferecendo sua mão, eu aceitei.

- Bom dia, senhorita.

- Bom dia, senhor Hawthorne. - ele riu, contido, e puxou uma cadeira para sentar na minha frente.

- Nada senhor por aqui, desde que, claro, eu também possa te chamar pelo seu primeiro nome. - era normal algo assim? Eu devia, sei lá, me sentir bem com isso?

Mesmo que desconfortável, resolvi ser educada.

- Claro. - respondi apenas.

Ele arrumou o terno caro que vestia, se encostou na cadeira e olhou diretamente para mim. Assim começou uma série de perguntas, e, graças a Deus, muito profissional. Perguntou sobre minha formação, minha experiencia profissional, o que me levou a deixar a cidade pequena pela grande Nova York, o que eu esperava do trabalho e porque me sentia qualificada para a vaga.

Respondi a cada pergunta com calma e o que julguei ser a resposta adequada.

Após, pelo menos, trinta minutos sentada ali com ele, pude acompanhá-lo ao ficar em pé.

- Pois bem, Katniss. - sorriu. - Tenho certeza que não precisarei pensar em opções, você é mais que qualificada para trabalhar na minha empresa.

Meu coração deu um salto. Eu tinha certeza que conseguiria a vaga, mas nada se comparava ao fato de realmente saber que estaria na empresa.

Os últimos meses em Nova Jersey não tinham sido fáceis, era a primeira oportunidade boa de trabalho que me aparecia em séculos, depois da faculdade nada havia ficado mais fácil, como eu pensei que seria. O motivo da minha mudança para cá era esse emprego.

- Obrigada, senh... - ele me olhou de um jeito que me fez querer rir, era como se dissesse “nada de senhor...” - Obrigada, Gale. Tenho certeza que não vai se arrepender. - seu nome era fácil e estava em letras grandes e legíveis em uma placa na mesa.

Ele sorriu mais uma vez para mim, me oferecendo a mão e, para meu espanto, me conduzindo até a porta segurando nela, ele a abriu, se despediu de mim, me deu mais algumas instruções e se inclinou, me dando um beijo na bochecha.

Me senti extremamento desconfortável com isso. Ele era um homem que eu não conhecia, não tinha nenhum contato, e mesmo assim já estava cheio de dedos para cima de mim.

Percebi ali, naquele momento, que Gale Hawthorne estava acostumado a ter qualquer mulher apenas com um sorriso, e que minha relação com ele teria de ser estritamente profissional.

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Não era muito tarde quando cheguei no apartamento que alugava. Após resolver todos os assuntos legais para a minha contratação, era hora de um banho e um descanso, pois começaria a trabalhar logo na semana que vem, hoje era uma quinta-feira.

Estava entrando no elevador quando ouvi uma voz desconhecida e apressada.

- Moça, segura o elevador, por favor. - eu ergui os olhos do meu celular, onde mandava uma mensagem para a minha mãe, e vi um homem loiro, de estatura média, e muito, muito bonito.

Ele tinha uma criança pequena no colo e incontáveis sacolas distribuídas nos braças, eu coloquei a mão no elevador que fechava até que ele entrasse.

- Obrigado. - me disse, sorrindo apesar do cansaço nítido.
Eu sorri em resposta, mas não aquele sorriso forçado que dei a Gale.

- De nada. - vi que ele tentava equilibrar a menina adormecida da melhor maneira possível no meio de todas aquelas sacolas que carregava.

- Posso segurar alguma coisa para você. - ele estava tão concentrado em tentar se organizar que demorou um tempo até que me escutasse.

- Não, tudo bem, obrigado. Não precisa se preocupar.

- Mas não me atrapalharia. - ele me olhou no mesmo momento em que a menina se remexeu, e meio relutando, me passou uma das bolsas grandes e uma mochila cor de rosa da Barbie.

Perguntei para qual andar ele ia e apertei o botão, me surpreendendo por ser no mesmo andar que o meu.

Quando chegamos no sexto andar, o elevador abriu e nós saímos, ele abriu a porta do apartamento que fica no lado oposto ao meu e eu entrei, mesmo sem ser convidada, para deixar as coisas ali em cima de algum sofá ou mesa.

Assim que entramos ele pediu que eu deixasse no chão mesmo, assim como fez com as que ele carregava, e depositou a pequena menina no sofá grande da sala.

Assim que o fez, virou para mim.

- Muito obrigado, eu estava quase caindo com tudo isso.

- Não foi nada, imagina.

Ele me estendeu a mão, apertou a minha e sorriu.

- Sou Peeta Mellark, e você senhorita? - ruborizei com a maneira que ele me olhou. Não foi um olhar indecente nem nada do tipo. Foi mais... especulador.

- Katniss. Katniss Everdeen.

- Obrigado mais uma vez. - falou para mim, assim que cheguei a porta de sua casa.

- Por nada. - murmurei, sorrindo feito uma menina boba.

Ora essa, o que estava acontecendo comigo? Nunca fui de ficar sem jeito na frente dos homens. Ah, se a minha irmã me visse agora...

Me despedi dele meio desajeitada, sem saber se um aperto de mão seria muito mecânico. Mas por fim, foi o que eu fiz.

Caminhei para o meu apertamento me sentido esquisita, querendo pegar o telefone e ligar logo para casa.

Eu precisava falar com Prim.