As tropas estavam perfiladas na linha de frente, homens do Norte, Imaculados, Dothrakis, vários do Sul, das Ilhas de Ferro. O medo da guerra, o medo de não voltar para suas casas, para suas famílias, para seus amores, as vidas normais que nunca mais seria as mesmas, nada seria o mesmo. Os sete reinos mudariam, como haveria de ser. Toda a batalha estava vindo, tudo pelo que os patrulheiros esperavam. Vinham a galopes para poderem lutar todos juntos. Eram a força, e juntos poderiam vencer, tinham mais chances do combate.

Dany via da janela do quarto as fileiras com milhões de homens fechando flancos. Estava nervosa, queria que tudo aquilo acabasse logo, ou que simplesmente não acontecesse. Sabia que aquele era o dia, demorou a dormir e quando acordou, decepcionou-se mil vezes por não estar em casa, com os filhos e o marido. Era dia da Longa Noite que viria, tinha que estar preparada, pelo amor e pela honra de seu povo.

Jon estava olhando novamente os mapas, possíveis entradas de onde eles viriam. Olhava aquilo fazia horas, sem descanso e sem pausa nem para o desjejum.

— Precisa comer alguma coisa ao menos, Jon. - Ela ficara ressentida pela manhã, de acordar sozinha na cama. Sentira em algum momento um beijo na testa, porém acordou com o lado da cama de Jon, frio. Ele estava ansioso, nervoso, porém tentava não demonstrar para ela e para ninguém, Jon era o homem que gostava de esconder o que lhe afligia, suas feridas abertas.

— Não consigo comer muito por agora, meu amor. - Pela primeira vez em horas, Jon tirou o rosto do papel acima da mesa. Sua expressão estava cansada e amarrada enquanto lia. Ele ficava lindo quando ficava mais sério diante dos documentos. Era uma visão maravilhosa para os olhos de qualquer sortuda de Westeros.

— Bom, já que insiste, vamos comer um pouco agora sim. Não seja teimoso com sua esposa, não é assim que ensina seus filhos, em relação à mãe? - Ela pegou o pão e cortou com carinho, como fazia questão de fazer para os meninos toda a manhã quando estavam à mesa. Deu um pedaço para ele com um sorriso.

— Meu amor… - Jon a olhou ternamente sabia que ela estava preocupada e que só queria lhe ajudar e que se preocupava com seu bem estar, mas realmente aquele era o dia decisivo para todos os Reinos, precisava tentar se manter focado em algo que pudesse ajudar a vencer aquela batalha tão cruel.

— Esse é o melhor pão que já comi na vida. - Ela mudou rapidamente de assunto, pois sabia que ele lhe daria uma forma de mudar de conversa ou dissuadi-la a fazer outra coisa.

— Realmente, senti um pouco de falta dele no meu dia-a-dia. Não ficava sem durante a manhã, nem mesmo na Patrulha. Recebíamos muitos. - Ele se pegava vezes ou outra lembrando do que gostava de comer quando era pequeno e mesmo com os Patrulheiros, inclusive era a primeira vez que falava sobre isso de forma tão natural. Aquele pão estava realmente delicioso como muito tempo não se lembrava, porém estava com mais saudades de casa do que nunca.

— Podemos levar todos, se quiser. - Eles sorriram cúmplices. - Estaremos logo em casa.

— Estaremos sim, com certeza e conto as horas para isso. - Ele apertou a mão da esposa. - Obrigada por estar comigo.

— Não estaria em outro lugar, sabe disso. - Ela sorriu com amor e carinho.

— Ainda sim, quando entrei naquela sala, quase cogitei que iria me trancafiar como louco.

— Ao invés, eu te peguei para mim. - Ela foi até ele e o beijou.

— Tenho sorte de ter ido me ver aquela noite e me propôs casamento. Que os deuses me levassem se não tivesse aceito.

— Eu não permitiria de qualquer forma. - Beijou-lhe o rosto. - Precisamos descer para conversar com os homens. Preciso ver se os meu filhos estão bem alimentados lá fora.

Na sala dos Lordes, Daenerys estava sentada em sua cadeira, esperando notícias sobre seus dragões. Jon pedia para que os lordes se posicionar e tiravam dúvidas sobre como fazer. 

Sansa sentada ao lado dela, a olhou com desprezo e curiosidade, porém não se importou com a Lady que tentava dissimular simpatia. Ela sabia que Sansa não faria nada que colocasse em risco seu posto.

— Pretende lugar conosco lá fora, Lady Sansa? - Ela fez um comentário irônico. Ela jamais deixaria de devolver a maneira deselegante a qual Sansa os tratou na chegada. Estava na hora de mostrar que ela sabia golpear com palavras.

— Preciso pensar em resguardar o Norte, Vossa Graça. - Ela apenas disse com desprezo na voz.

— Ora, então a rainha deveria agir como uma donzela em perigo, presa numa torre? - Ele bebericou a taça de vinho para ter a oportunidade de sorrir em triunfo.

— Certamente que não, Vossa Graça. - Ela parecia ter sido pega no xadrez mental.

— Eu gostaria que pudesse defender parte do reino de meus filhos, lutando, senhora. - Ela se levantou e foi para perto do marido, viu que um dos soldados reais falava com ele.

— Tyrion nos mandou uma mensagem, disse que está tudo bem e esperando nossa volta. Os meninos estão se comportando, na medida do possível. - Disse Jon a Daenerys quando ela se acercou dele.

— Graças aos deuses. Tinha tanto medo que Rhaella se revoltasse e acabasse dando problemas. - Seu rosto transmitiu a saudade ao citar os filhos.

— Me espanta que Tyrion tenha conseguido fazer isso. - Ele disse contudo.

— Gostaria de saber como agiremos nessa noite. - Disse Daenerys com a voz mais baixa.

— Estaremos com os dragões apostos. - Ele falou. - Os homens manterão as trincheiras acesas e tochas para que possamos ver a chegada do exército de mortos. Iremos atacar pesado como pontas de lança.

— Vamos passar acabando com todos eles e nada mais vai importar senão vencer a guerra. - Disse ela com ímpeto de rainha nas palavras e Jon encheu-se de orgulho. Era a mulher mais amada e adorada, conquistou o carinho de muitos reinos, de muitos senhores, e era justa com os cruéis, com os irredutíveis. Ela estava com a aura de uma guerreira e teria sua espada maior empenhada, Drogon. Era assim que lutaria bravamente.

— Exatamente, meu amor. - Ele sorriu confiante. - Nós iremos vencer.