Dê Adeus à Juventude escrita por Atlas


Capítulo 1
but the rain is full of ghosts tonight


Notas iniciais do capítulo

título do capítulo é de Edna St. Vincent Millay



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but the rain
is full of ghosts tonight

A primeira impressão de Sirius sobre o Inferno é que ele é muito claro. Ridículo de claro, ao morrer é bem provável que ele fique cego, então.

A segunda é que talvez ele não tenha realmente ido para o Inferno. É nessa parte que a vida dele deve passar por seus olhos, uma grande lupa nos maiores erros cometidos.

Mas isso não acontece, ele apenas fica em pé lá, em um lugar que ele nem ao menos pode ver.

Não ter ido para o Inferno deve ser um dos seus primeiros erros. Seus olhos se acostumam com o branco ensurdecedor de lugar nenhum e é ali que ele repara onde está.

Há mais de dez mil anos atrás ele embarcou pela primeira vez no Expresso de Hogwarts. Há mais de dez mil anos atrás ele conheceu James Potter. E ele ficou bêbado de felicidade, do êxtase da tão sonhada liberdade e de ter a honra, de ser digno, de se tornar o melhor amigo de James Potter.

Ele leu em lugar nenhum, apenas pelas histórias contadas pela caduca da sua avó, que a pós vida era o lugar mais triste que já tinha encontrado. Ela lhe disse que ninguém se conhece verdadeiramente até morrer.

A terceira impressão de Sirius sobre o não-Inferno é que não tem nada. Tem uns bancos brancos, fumaça que se espalha pela plataforma cheirando a gente velha, e uma locomotiva vermelha, qual ele andou até os fins de seus dias. Ele não tem uma epifania e ele não encontra o amor de sua vida.

Ou Sirius é algo muito simples, ou sua vida é tão cheia de assuntos não-resolvidos que vai demorar um pouco mais até o espetáculo.

Tudo que Sirius sabe sobre si mesmo, até agora, é que ele morreu de uma forma estupida. Ele queria cair lutando, cair encharcado no próprio sangue e não parar de brandir sua varinha até que seu cadáver se apresente a todos. Ele queria cair fazendo alguma coisa, queria cair não sendo um inútil.

(Tudo que Sirius sabe sobre si mesmo, desde sempre, é que ele queria cair com James e somente James.)

Sirius se senta num dos bancos envolto em nevoa, tentando saber se era isso. Ficaria num Purgatório até que o mundo explodisse e ele estivesse livre. A Estação de Hogwarts é uma das memórias perfeitas dele, aquela que nenhuma Era ou psicopata neonazista pode arruinar.

Para ele, Hogwarts era um santuário. Onde foi um menino livre, um menino quem tinha quem quisesse ao seu lado. Um menino de livre arbítrio, que talvez morresse pelas mãos de um outro alguém.

A pior parte?

Talvez ele passe o resto de sua existência pensando em Bellatrix. Pensando que mesmo que foi ela quem o matou, gargalhando em triunfo em missão de seu milorde...

Sirius não a odeia, mesmo que queira mais que tudo.

Ama sua assassina mais que tudo, mesmo que tenha tentado esfregar a família da própria pele diversas vezes.

Ele não ouve passos, ou respiração alguma, mas ele vê uma silhueta abrindo caminho entre a fumaça branca, andando da forma que ele sempre se lembrava. James é muito mais novo do que em suas memórias infestadas, tem os olhos castanhos muito mais brilhantes e o sorriso de lado é o mesmo.

Não passava um dia em que Sirius não sentia falta de James.

(A melhor parte?

Ele não vê Lily em nenhum lugar, então já é um bônus.)


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