Havia um menino na sala, na minha sala, eu não sabia seu nome, apenas sabia que ele estava lá, o tempo todo, só observando tudo, quieto em seu próprio canto, mas isso não impedia que ele sofresse nas mãos daqueles babacas da sala.

Não havia ninguém que o ajudasse, a maioria só observava tudo sem esboçar nenhuma reação, alguns pareciam realmente se divertir com tudo e outros até se atreviam a rir, sem o menor pudor, apenas riam como hienas, eles sequer se importavam com o que o garoto sentia e se você olhasse bem, nos olhos dele você perceberia com facilidade que alegria ou diversão não eram exatamente as palavras que definiam suas emoções naqueles momentos.

Na minha humilde opinião, ele não tinha nada de mais, só teve o imenso azar de virar a vítima daqueles monstros.

Aquele garoto era uma pessoa normal como qualquer outra, não me chamava a atenção em nada exageradamente e parecia realmente ser uma boa pessoa. Eu queria poder ajudar-lo, mas não tinha nada que eu pudesse fazer, se eu me metesse com aquela gente quem acabaria virando a vítima deles seria a minha pessoa e, acredite em mim ou não, esse não é o tipo de coisa que você pede pro Papai Noel no Natal.

Se não me falha a memoria, há algum tempo uma garota tentou ajudar ele. Ela gritou com os caras que estavam importunando o garoto, os mandou pararem, e se tem uma coisa que eu lembro exatamente é da voz dela gritando no meio de uma das aulas, não lembro com certeza as palavras que ela usou, mas foi algo nas linhas de:

“Vão se ferrar! Todos vocês! Qual a necessidade disso? Imaginem se fossem vocês no lugar dele! Estariam se divertindo tanto?”

Ela apontou o dedo na cara de todos enquanto o garoto a olhava com os olhos arregalados, assustado talvez, ou somente confuso, quem sabe fosse pelo fato daquela garota realmente não fazer a mínima ideia de com quem estava mexendo e eu acho que ninguém estava no clima de contar a ela.

Durante o resto daquele dia ela ficou do lado do garoto e ninguém mais mexeu com ele. Bem, ninguém fez mais nada aquele dia.

No dia seguinte ela faltou, e no outro também e por mais alguns dias, ninguém sabia de nada, isso foi até a coordenadora ir à nossa sala e dizer que a mãe da garota tinha pedido pra transferir ela para outra escola e o porquê exato disso ninguém sabia com certeza, mas, pelos sorrisos vitoriosos e arrogantes que aqueles idiotas ostentavam quando a mulher informou as noticias para a sala, qualquer um conseguiria supor que eles não tinham apenas um dedo, mas sim uma mão inteira nesse pequeno “incidente”.

Após isso ninguém mais foi corajoso, ou estupido, o suficiente para se intrometer novamente e tudo seguiu como era antes dos atos, ou tentativas, heroicas daquela garota, a qual nós ainda não sabíamos o que havia acontecido, mas tínhamos suposições não tão agradáveis.

Eu gostaria de ajuda-lo, gostaria mesmo, mas infelizmente, ou talvez nem tanto assim, eu não tenho coragem, ou estupidez, o suficiente para fazer o mesmo que aquela garota, para enfrentar aqueles caras e dizer na cara deles tudo o que eles mereciam ouvir.

Infelizmente, não há nada que eu possa fazer por você sem que eu acabe, sem querer, trazendo a atenção deles, que por um sinal agora está concentrada na sua pessoa, para mim. Realmente me perdoe caro garoto misterioso, cujo nome desconheço, mas... Antes você do que eu.