Destruindo Tradições escrita por Angel Salvatore


Capítulo 1
Lobos e vampiros não se misturam


Notas iniciais do capítulo

Essa é outra spin off de STM com Anastácia e Connor como os principais. Espero que gostem.



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Rosnei para Paola, que se olhava no espelho pela milésima vez. Não que estivéssemos atrasadas, mas eu não gostava de enfrentar aquela multidão de estudantes. Paola passou a mão por seu cabelo loiro e piscou seus olhos castanhos para o espelho. Notando a minha pressa, ela fez um bico e me olhou de cima a baixo.

“Você nem está pronta”, ela reclamou pegando os livros. “Anastácia, sempre reclamando”

Revirei meus olhos e catei uma blusa preta de manga curta dentro do meu armário e vesti. Prendi meu cabelo preto em um rabo de cavalo e peguei os livros em cima da cama.

“Pronta”, eu disse indo em direção a porta.

“Ás vezes, eu acho que você vai cedo para aula, só para não encontrar com Jennifer.”, Paola disse me seguindo, alguns passos atrás.

Em parte, ela tinha razão. Eu não gostava de Jennifer Compton. Ela se achava o centro do universo e era uma patricinha bem irritante quando queria. Mas, entre andar com ela , Paola e Paloma, e andar com um bando de lobisomens emos... (Não que todos naquela escola fossem emos, mas a maioria era) Bem, portanto que eu não tivesse que usar rosa, eu estava conformada.

“Você sabe tão bem quanto eu, que, para Jennifer, eu sou apenas um cão de guarda”, eu disse olhando indiferente para Paola.

Paola era até uma boa amiga, tirando todo o rosa e o tempo que levava em frente ao espelho. Ela parecia me entender, mesmo de um ponto de vista colorido. Bem colorido.

“Você diz isso porque não pegou a época em que Lana mandava.”, Paola disse e revirou os olhos. Nós duas passamos pelo lobby, ainda deserto e andamos até o prédio de aulas. “Ela iria te tratar como se fosse um nada. Nem ia deixar você se aproximar dela.”, ela pressionou os lábios juntos, como se não gostasse das lembranças. “Pelo menos, Jennifer te deu uma chance.”

Revirei meus olhos castanhos com a menção de Paola sobre Lana Flowers. Eu não a havia conhecido, mas pelo que me contavam, agradecia por não tê-lo feito. Aguentar Jennifer já era ruim. Ter que aguentar alguém pior que ela, como Lana... Com certeza, eu teria me matado.

“Ainda bem que é o último ano”, eu suspirei. Paola sorriu, seus olhos brilhando em expectativa. Eu estava apenas aliviada. “Alguns meses a mais e , adeus Spell The Most.”

“E o baile de Outono, amanhã”, Paola disse sonhadora. Seu sorriso e seus olhos ficaram melosos.

“Essa palhaçada ainda”, sussurrei. Mas não foi baixo o suficiente. Paola revirou os olhos e fez um bico. Seus olhos castanhos ficaram grandes, como de um cachorrinho.

“Você vai, não é?”, ela perguntou.

Uma coisa que eu odiava em Paola, além da maioria das suas roupas serem rosa, era quando ela piscava aqueles, grandes e amáveis, olhos castanhos. E o pior era que eu não conseguia resistir.

“Nem se eu quisesse ficar no quarto, eu poderia.”, revirei meus olhos. Já estávamos dentro do prédio de aulas, paradas em frente a escada. Subi um degrau, indo para o segundo, onde ficavam minhas aulas. Me encostei no corrimão e abracei meus livros. Paola parou a minha frente, esperando. “Jennifer quer todas no baile”

“É, ela vai com Eron.”, Paola disse pressionando os lábios juntos. Ela parecia estar dividida entre ficar feliz por ir, ou mal por Jennifer ficar com o mais gato da escola. “Nem parece que é amanhã, o baile. Eu ainda nem tenho um par.”, ela suspirou, triste. Mas, isso só durou uns 3 segundos. Seus olhos brilharam de novo e um novo sorriso cresceu. “Já comprou o seu vestido?”

“Roxo”, eu disse com falsa alegria.

“Oh, vermelho.”, ela começou a pular, feliz. Apostava que se não estivesse segurando os livros, ela estaria batendo palmas também. “Tudo está tão perfeito!”, ela exclamou. “Eu vou ao baile com minhas melhores amigas. Só falta arrumar o par ideal.”, ela suspirou. “Adoraria que um dos vampiros me convidasse.”

Levantei uma sobrancelha e mudei meu peso de um pé para o outro. O que mais tinha naquela escola eram vampiros solteiros. Infelizmente. Se , pelo menos, ELE estivesse comprometido, talvez mexesse menos comigo. Engoli a seco e voltei minha atenção a Paola e seus olhos distantes. Além de suas lembranças.

“Sabe, se Lana, Mia, Jack e Dylan estivessem ainda vivos, estariam indo ao baile entre si.”, Paola disse, séria. A olhei, confusa. “Dylan e Lana eram meio que um casal. Parece que eles ficavam, mas ninguém nunca viu. Mia e Jack eram amigos, mas não era segredo nenhum que Jack era apaixonado pela Mia. Mesmo quando Mia estava Dylan. Quer dizer, Jennifer também era meio atraída por Dylan”

“Jennifer? A nossa Jennifer?”, eu disse mais confusa. Era quase que impossível acreditar que ela já havia gostado de alguém, além dela mesma.

“Sim, a nossa Jennifer.”, ela riu, então parou olhando para o relógio. Também o fiz por reflexo. Quase dei um pulo quando vi que faltavam apenas 10 minutos para o sinal tocar. “É melhor eu ir para a sala.”, Paola disse e virou as costas começando a se afastar. “Até mais tarde”

“Até”, eu respondi vagamente enquanto subia as escadas.

Caminhava sozinha pelo curto corredor e pensativa. Por fora, eu era a lobisomem incompreendida. Que andava com um bando de patricinha e parecia feliz com isso. Ninguém sabia o que realmente se passava , não em minha mente, mas em meu coração.

Nem mesmo Paola sabia. Não que eu não confiasse nela. Eu não confiava em mim mesma. Aquilo era tão errado. Não que fosse proibido, mas não era certo. E eu, mais que ninguém, sabia disso. Mas, então porque eu não conseguia esquecê-lo? Desde a primeira vez que o vi com os outros. E vê-lo todos os dias na minha sala, não ajudava nada.

“Hey, Rayleigh”, me chamaram.

Nem percebi que estava parada na porta da minha sala. Muito menos olhando para baixo, para os meus pés. Menos ainda, em frente a ele. Levantei meus olhos para encontrar os seus, cor de mel. Um sorriso brincalhão dominou seus lábios e seus olhos pareciam ansiosos para que eu dissesse algo.

Eu não conseguia me mexer. Nem respirar. Tive que me concentrar por um segundo para não deixar meu coração bater mais alto ou mais rápido que o normal. Mas, ele estava tão lindo.

Os cabelos curtos, perfeitamente arrumados em cachos negros. A pele cor de chocolate em contraste com a blusa pólo vermelha. A calça jeans clara e o par de tênis. A alça preta de sua mochila era visível em seu ombro. Engoli a seco.

“Mars”, cumprimentei Connor.

Ele continuou parado na porta da sala, impedindo a minha entrada. Tentar driblá-lo era quase que uma missão impossível. Não que eu fosse lenta, mas, em comparação a um vampiro, qualquer um era uma lesma.

“Me deixe passar, Connor”, eu pedi e dei um passo para o lado. Ainda sorrindo, Connor se pôs a minha frente. Ele estava levando aquilo como uma brincadeira. E eu não gostava de ser um brinquedo. Me abracei mais os livros e deixei minha expressão em branco. “O que você quer?”, exasperei.

O sorriso de Connor aumentou.

“Quero passar de ano com boas notas. Quero que a nossa Spell The Most seja campeã mundial.”, ele deu passo a frente. Não me mexe, presa em seus olhos mel. “Se não fosse pedir demais, gostaria de um par para o baile. E , se eu for sortudo o suficiente, um beijo seu.”

Ele tocou meu rosto e traçou com cuidado desde minha bochecha até meu pescoço. Quando seu dedo tocou apele exposta e quente do meu pescoço, eu recuei. Era como se a verdade me atingisse na testa, sem erro. Eu era uma loba e ele um vampiro. Sua beleza era um sinal quase gritante para mim.

Aproveitei sua surpresa pelo meu recuo, e lhe driblei, entrando na sala de aula e indo me

sentar no meu lugar. Connor se recuperou, e recuperou o seu sorriso, e caminhou na direção da minha mesa. Quando parou a minha frente, colocou as mãos em cima da mesa. Parei de arrumar meus livros e o encarei, séria.

“Não vai me responder?”, ele perguntou.

Vi seu sorriso vacilando um pouco e ele levantou sua sobrancelha. Pensei em ignorá-lo, mas sabia que não desistiria tão fácil. Se eu conseguisse enrolar o tempo o suficiente para todos entrarem, estaria salva. De mim mesma.

Ao mesmo tempo que eu queria fazê-lo calar a boca e sair de vez da minha vida, eu queria que ele sussurrasse eternamente em meu ouvido com aquela voz de anjo. Encarei-o, séria. Lutando ao máximo para manter meu rosto em branco.

“Notas boas?”, comecei a indagar comigo mesma , como se ele nem estivesse ali. Mas eu estava nem consciente de sua presença masculina a minha frente. “Se você estudar, chega lá. A nossa Spell The Most campeã? Vocês jogam bem. Tem algumas falhas nos passes, mas jogam bem. Um par para o baile?”, olhei no fundo dos seus olhos mel. “Connor, sejamos sinceros. Você consegue qualquer garota em um estalar de dedos. Qualquer uma desmaiaria só por você falar com ela. Quem dirá dançar no baile.”, joguei meus braços para o alto, exasperada. “Escolha e convide.”, dizer aquelas palavras fizeram minha garganta secar e senti uma pontada no meu peito.

“Não é tão fácil assim”, Connor tentou discutir. “A garota que eu quero é teimosa demais para desmaiar se eu a convidasse.”, ele deu um olhar significativo na minha direção. Seu sorriso cresceu. “É capaz dela me desmaiar.”, ele jogou a cabeça para trás e riu.

Seu riso me fez tremer, mas continuei falando como se nem o tivesse escutado falando. Coloquei meus cotovelos na mesa e cruzei minhas mãos na frente do meu rosto, deixando minha expressão pensativo. Como se cogitasse algo impossível.

“Um beijo meu?”, perguntei. Connor assentiu, esperançoso. Eu sorriu e ele sorriu de volta. Meu sorriso se apagou e voltei a ficar séria. “Nunca.”

Ele abriu a boca par discutir, mas a porta se abriu e os alunos começaram a entrar seguidos pela professora Caddie. Connor foi se sentar com seus amigos, como se nada tivesse acontecido. Uma pequena culpa cresceu em meu peito por não ter aceitado sua indireta. Além de sua direta.

“O que eu perdi?”, escutei Drake perguntando para Connor. Seus olhos verdes indo de Connor para mim.

“Eu estragando minha vida”, sussurrei para mim mesma.

Mas sabia que ainda tinha um par de olhos mel me olhando.

******

“Me responde de novo o motivo de eu estar aqui”, eu pedi novamente para Paloma que estava parada ao meu lado no canto do ginásio, olhando para o confusão de estudantes que dançavam e se divertiam. Ela me encarou com os olhos azuis.

“Por mim, por Paola”, ela sorriu. “E por Jennifer”

“Oh, claro”, eu reclamei.

“Não acredito que estou aqui no canto enquanto Paola e Jennifer se divertem com aqueles vampiros gatos. Jason e Eron.”, ela reclamou e bateu seu pé no chão. Revirei meus olhos e ela começou a gesticular. “Sabe quanto tempo eu demorei para ficar linda desse jeito?”

Paloma realmente tinha ficado bonita. Ela estava com um vestido verde tomara que caia com um tipo de fecho na frente. O top parecia ter sido feito com um tom de verde mais escuro para destacar. O restante do vestido ela solto pelo seu corpo e tinha um tipo de xale em seus ombros. Nos cabelos, ela tinha prendido em um coque, assim com o de Jennifer. Eu estava com um vestido roxo de calças finas , um bom decote e com um corte desde o joelho até o final, dos dois lados. Meus cabelos estava liso e longo, uma cortesia de Paola.

Apenas dei de ombros para Paloma enquanto ela continuava reclamando.

“Sabe, até aquela Lien Winter arrumou um par.”, ela disse. Como se eu me importasse. “Connor a convidou. Aquela animal de duas pernas tem par. E logo o Connor Mars, aquele gato quente.”

Tudo bem, agora eu me importava.

“Connor e Lien?”, eu perguntei um pouco abismada. O filho da mãe tinha me convidado para o baile a um dia atrás e já foi atrás de outro rabo de saia?

“É”, Paloma confirmou. Ela colocou um dedo em seu queixo e olhou para frente com os olhos azuis estreitos, como se o segredo da vida estivesse ali. Mas, depois de um tempo eu percebi, que ela estava pensando e analisando os fatos. “Até que faz sentido, sabe? A rabugenta e o brincalhão. Eles fariam um bom casal.”

“Se você diz”, eu bufei e cruzei meus braços.

Paloma me olhou de um jeito estranho, então começou a andar de um lado pra o outro, exasperada. Até de desistiu de ficar esperando seu par cair do céu e foi andar entre a multidão de estudantes, me deixando lá sozinha. Eu até preferia assim. Por outro lado, Paloma poderia ter achado estranho o fato de eu ter amassado o copo de plástico, que estava em minha mão, com tanto ódio. O líquido escorregou em meus dedos e eu xinguei. Só não sabia se o xingamento era para o copo ou para Connor.

Estava tão cega com meu ódio que nem percebi quando Paloma voltou. E pela sua cara, ela tinha novidades.

“Você não sabe quem eu vi entrando no salão”, ela disse. Dei de ombros. Nada estava me impressionando naquela noite. Ela revirou os olhos pela minha falta de atenção. Que ela fosse encontrar Paola e Jennifer com seus pares para conseguir atenção. “Nicolas Wave. Aquele gato de olhos azuis. Mas, como sempre, Night o segurou para ela.”, ela ficou divagando sozinha olhando novamente para o nada. “Fico pensando o que ela fez com Nathan Castille.”, ela disse e um sorriso malicioso cresceu em seus lábios. “Nicolas pode ser um gato, mas Castille tem alguma coisa que para puxar a atenção de todas as meninas para ele. Fico imaginando como ele ficaria se fosse um vampiro, envés de um bruxo.”

Ela continuou falando, mas eu não estava mais prestando atenção. Em parte porque o assunto não me interessava. Outra parte, porque Connor estava vindo na nossa direção. Nosso olhares se atraíram como imãs. Ele estava certo de seus passos na nossa direção. Pensei em fugir, mas sabia que demoraria menos de alguns segundos para ele me encontrar de novo.

Desviei meu olhar de seus olhos mel para a sua roupa. Uma blusa branca, com gola V, fazia um grande contraste em sua pele escura. Calça jeans cinzas, um par de tênis em seus pés. Além de um blasé preto por cima da blusa. Os cachos negros pareciam em desordem, mas, bem arrumados. Voltei meus olhos para o seu rosto, já mais próximo, e tinha o grande sorriso habitual em seus lábios.

“Você está linda”, Connor cantarolou em meu ouvido assim que me alcançou.

“Obrigada”, eu rosnei. Ele me olhou, estranhando minha reação ao seu elogio e eu me pus a explicar. Paloma estava um pouco mais distante, olhando para a festa e procurando alguém para poder fisgar. “Onde está Lien? Seu par?”

“Oh”, ele disse entendendo o porque de eu estar tão rude. “Ela e os amigos estão procurando Castille. Deu uma confusão com Wave e ele trouxe Alexa para o baile.”

“É, eu meio que estou sabendo dessa confusão”, eu disse gesticulando vagamente com a mão para a multidão de estudantes que estavam dançando uma música lenta. Eu abri minha boca para mandá-lo ir dançar com seu par, quando fui interrompida por Paloma.

“Hey, Anastácia.”, ela tocou meu ombro com o dedo. A encarei. “Vou ao banheiro.”

Assenti, mesmo que ela já tivesse virado as costas e ido embora. Olhei novamente para Connor que esticou sua mão na minha direção e levantou uma sobrancelha. Eu sabia muito bem o que ele queria, mas me fez de desentendida. Connor bufou e agarrou em meu braço, me puxando

com força para a pista de dança.

Eu poderia ter reclamado. Poderia tê-lo xingado. Mas, tudo o que eu fiz foi deixar que ele me guiasse quietamente até a pista de dança e colocasse meus braços em seu pescoço. Ele pôs os seus em minha cintura. Se meus pais me vissem naquele momento, me matariam. Eles me segurariam pelos ombros e me sacudiam até eu repeti a lição que tinha aprendido a minha vida inteira: VAMPIROS SÃO NOSSOS INIMIGOS. NÃO PODEMOS TER NENHUM TIPO DE VINCULO COM ELES. E lá estava eu, dançando com um vampiro.

“Você está pensando nisso de novo”, Connor disse.

“Além de vampiro, você é leitor de mentes?”, ironizei.

“Não, mas tenho um instinto predador. E esse instinto me ensinou a ver os pensamentos e as emoções das pessoas por um único olhar.”, ele disse sério. Haviam sido poucas as vezes que eu o tinha visto sério. Bufei por sua afirmação, mas não me afastei.

Mesmo meus pais me ensinando que os vampiros eram nossos inimigos naturais, que eram frios e mortos. E que só estavam no mundo para punir os maus, depois que eu conheci Connor, eu meio que discordava em alguns pontos com eles.

Por exemplo, Connor não era frio. Ele bem quente, como Paloma e Paola diriam. E ele poderiam ser meu inimigo natural, mas eu não sentia aquele incomodo de que meus pais tanto diziam que eu teria quando chegasse perto de um vampiro. E eu achava que estava perto o suficiente. Já que o peito dele roçava constantemente no meu. E ,mesmo eu tendo um ótimo auto controle, não era de ferro. Ás vezes, me distraía, e meu coração parecia correr uma maratona.

“Me diga o que estou pensando”, eu ordenei.

Connor olhou no fundo dos meus olhos, aproximando o rosto o bastante para que eu pudesse sentir sua respiração contra o meu rosto. Ele tinha um cheiro tão bom. Parecia morango. Bem diferente do cheiro de morto que meus pais falaram que um vampiro tinha.

“Você está pensando naquele negócio de 'inimigos naturais'.”, ele afirmou afastando sue rosto um pouco do meu. Eu engoli a seco e abri minha boca para discutir, mas ele foi mais rápido. “Esquece um pouco isso, Tacy. Acima de sermos vampiro e lobisomem, somos um garoto e uma garota que se sentem atraídos um pelo outro.”, ele estreitou mais os braços a minha volta, fazendo que meu peito, que antes apenas roçava contra o seu, batesse com força. Nossos corpos pareciam se encaixar. Meus olhos se arregalaram, pela surpresa de seus movimentos. O sorriso voltou ao seus lábios. Limpei a garganta, porque, se eu falasse, minha voz se quebraria.

“Como tem tanta certeza que sou atraída por você?”, eu perguntei baixo. Agradecia que ele tinha uma super audição e eu não teria que repetir. Seu sorriso se tornou presunçoso e preguiçoso.

“Seus olhos afirmam tudo o que seus lábios insistem em negar.”, ele disse e começou a aproximar seu rosto do meu.

Naquele momento, eu soube que estava entregue. Eu era mole em seus braços e não queria saber o que ele faria comigo. Joguei minha cabeça para trás e ofereci meus lábios para ele. Connor riu, convicto e um pouco aliviado e continuou se aproximando de mim. Sabia que depois daquilo, não teria mais volta. Meus pais me matariam, mas, que se danassem eles.

Alguém esbarrou com força em nós dois, nos tirando do nosso encanto. Um dei um pulo para trás, assustada e senti Connor me segurando pelo ante braço. Olhei com raiva para o lado e encarei Alexa Night, que tinha as mãos nos lábios e olhava para o seu acompanhante, Nicolas Wave, assustada.

Muito estranho, mas não dei muita atenção e voltei a olhar para Connor, que olhava para a cena com os olhos arregalados. Parecendo se lembrar que eu ainda estava ali e que ainda me segurava, ele olhou para mim. Passei a mão pelo cabelo, exasperada e confusa. Aproveitei que ele também estava confuso e me soltei de seu aperto. Ele olhou para a mão vazia e abriu a boca para me dizer alguma coisa. Mas eu saí correndo do baile.

E ele não foi atrás de mim.

******

“Nossa, que baile”, Paola disse assim que entrou no quarto.

Afundei meu rosto ainda mais no travesseiro. Não queria saber do baile. Não queria saber da minha vida. Nem parecia que eu tinha saído de lá faziam apenas 2 horas. Pareciam anos. Talvez se eu ficasse bem quieta, Paola pensasse que eu estava dormindo. Mas parecia que a sorte não estava do meu lado hoje. Senti meu colchão afundando ao meu lado e uma mão em meu cabelo.

“Anastácia, está acordada?”, Paola perguntou. Eu gemi, sabendo que, de um jeito ou outro ela me contaria. “Que bom! Tenho tanto para te contar.”, afundei meu rosto ainda mais no travesseiro, esperando que ficasse sem ar, antes que ela começasse a falar de sua noite perfeita. Paola pareceu notar e , com um pouco de força, virou meu corpo para cima. “Não morra antes de eu falar.”, ela disse balançando o dedo a minha frente.

“Paola, você sabe que eu sempre te escuto, não é?”, eu perguntei, vendo seus olhos castanhos se estreitando. Era meio estranho ver Paola desconfiada , pela primeira vez. “Hoje, eu realmente não estou com clima.”

“Por causa de Connor?”, ela perguntou, sem hesitar.

“É claro que...”, me detive no meio da minha negativa quando percebi o que tinha dito. Meus olhos se arregalaram. “Como você sabe?”

“Tenho olhos, Anastácia. “, ela disse séria. “Posso ser loira e seguir Jennifer, mas não sou totalmente burra.”, ela pegou uma mexa do seu cabelo loiro e começou a brincar com ele. Olhei para Paola de um jeito diferente. Com um cérebro que realmente funcionava. “Vi vocês dois dançando.”, ela parou de brincar com o cabelo e me olhou. “Vi vocês dois quase se beijando.”

Dei um pulo na cama.

“Por favor, não conte a Jennifer”, eu pedi.

Eu já tina uma ideia do que aconteceria se Jennifer soubesse de meus sentimentos por Connor. Primeiro riria de mim, porque era ridículo a ideia de uma loba e um vampiro ficarem juntos. Depois começaria a elogiar Connor. Depois se insinuaria para ele. E , por fim, eles estariam namorando, e eu assistindo tudo, quieta. Como uma boa cachorra de guarda. E viveria infeliz para sempre.

“Você acha que sou tão submissa?”, Paola disse, parecendo se sentir insultada. “Sou sua amiga, Anastácia, mesmo você não me considerando. Só porque te vi com Connor, não quer dizer que vou correndo contar a Jennifer.”, ela deu um olhar triste. “Assim você me magoa.”

“Desculpe”, sussurrei, me jogando de novo na cama e colocando o braço em cima dos meus olhos. “Agora você pode me dizer o quanto eu sou idiota por achar que poderia ter algo com Connor.”

“Vou dizer, sim, que você foi idiota, mas não por isso”, ela disse. Senti sua mão em meu braço e ela o puxando para longe do meu rosto. Pisquei algumas vezes contra a claridade. “Você é linda, Anastácia. Um pouco obscura, mas linda. Também é bastante rebelde e ligada a tradições. Mas, tem que aprender que, quem faz seu destino é você. O que seus pais pensaram quando te colocaram nessa escola?”, ela perguntou tocando no meu ponto mais fraco. “Acharam que você, com 17 anos, não se interessaria por outros garotos? Que não quebraria algumas regras?”

“Eles me criaram para pensar no futuro da alcatéia”, eu sussurrei. Me assustei quando Paola jogou seus braços para o ar, exasperada. Me assustei mais ainda quando percebi o quão frágil eu estava naquele momento.

“Você só tem 17 anos, Anastácia.”, ela quase gritou. “Sua maior preocupação agora é que roupa usar no dia seguinte, ou se realmente deveria investir em Connor. Não em milhares de lobos esperando seu comando.”

“Mas, foi assim que eu fui criada.”, eu disse também alto e me sentando com força na cama. “Meus pais me ensinaram desde pequena que nossos maiores inimigos eram os vampiros. Que não

deveria me envolver de nenhum jeito com eles.”, balancei a cabeça, assustada com as afirmações que vinham a minha mente. “E aqui estou eu.”

“Apaixonada por seu maior inimigo.”, Paola completou. A olhei, quase não a reconhecendo como a mesma garota superficial de horas atrás. “Ainda acho que você está jogando sua vida no lixo.”

“O que você quer que eu faça?”, eu disse, desesperada e enterrei meu rosto na mão.

“Que você lute.”, Paola começou a passar a mão por meu cabelo, carinhosamente. “Vai esperar até que seus pais arrumem um noivo para você, só para continuar a linhagem de lobos? Ou que Connor comece a namorar alguma garota daqui da escola? Sabe que é fácil para ele, não é?” , ela perguntou. Sua voz estava dura e firme. Levantei meus olhos para ela e assenti. “Ele é bonito, Anastácia. E popular. Para ele arrumar uma garota, é fácil.”

“Pare, eu já entendi”, eu pedi e me encolhi na cama. Paola se levantou e foi para o banheiro tirar seu vestido vermelho sem alças. Ela parou na porta e me encarou.

“Não deixe-o passar.”, ela disse e deu um sorriso.

Fiquei olhando para a porta do banheiro depois que ela a fechou e fiquei cogitando a possibilidade de Paola ter sido possuída por alienígenas.

*****

Passei o domingo inteiro no quarto, encolhida nos cobertores. Paola vinha ao nosso quarto para me trazer comida. Ela não tinha comentado mais sobre o baile, ou sobre mim , ou sobre Connor. Era como se nossa conversa nunca tivesse existido.

Segunda, lá estava eu, novamente rosnando para ela, que ficava se olhando no espelho e piscando seus olhos castanhos para o espelho. Antes que ela dissesse que eu não estava pronta, peguei minha blusa preta sem manga e a vesti. Peguei meus livros e segurei-os em meus braços. Bati meu pé no chão, com força.

“Já estou pronta”, Paola disse me olhando pelo reflexo e levantando seus braços, como em sinal de desistência. Eu ri.

Fomos andando até o prédio de aulas falando sobre assuntos banais. O Assassino Mágico tinha sido morto, claro, depois de sequestrar Alexa e Castille. Ficamos um pouco impressionadas por ser Gordon Fox, o professor de arco e flecha de Paloma, o culpado. E por ele estar morto. Paola agradecia por ter escolhido aulas de dança, invés de arco e flecha. E eu agradecia por fazer luta.

Chegamos ao prédio bem mais rápido do que eu queria. Paola se despediu de mim, me dando um olhar significativo enquanto ia para sua sala de aula e eu subia as escadas. Eu já sabia que iria encontrá-lo, só não estava preparada. Diferente das vezes que eu o encontrava na porta da sala de aula, ele estava sério e de braços cruzados. Seu olhar estava tão intenso que me perguntei se ele poderia ver minha alma.

“Rayleigh”, ele me cumprimentou, ainda sério.

“Mars”, devolvi seu cumprimento, deixando meu rosto em branco. Ele continuou me estudando. Mudei meu peso de um pé para o outro e o encarei. “Me deixe passar, Connor”, pedi.

Um sorriso discreto apareceu tanto em seu rosto quanto no meu. Ele deu um passo a frente, na minha direção e eu dei um passo para trás. Pensei ter visto um rastro de tristeza em seu olhar, mas foi rápido demais pra eu ter certeza. Comecei a andar para dentro da sala, quando senti sua mão fechando em meu ante braço. Um flash de ontem , se passou em minha mente, como um dejá vú.

“O que você quer?”, eu perguntei olhando de sua mão até seu rosto tenso.

Seu rosto relaxou quase que automaticamente e um grande sorriso apareceu nele.

“Quero passar de ano com notas boas.”, ele começou a lista, mas seus olhos iam e viam de meus olhos até meus lábios. “Quero que a nossa Spell The Most seja campeã. Se não for pedir

demais, gostaria de um par para o baile. E , se eu for sortudo o suficiente, um beijo seu.”

“O baile foi sábado, Connor”, eu disse rindo.

“Outros virão.”, ele se defendeu.

“Notas boas?”, comecei a indagar comigo mesma , como se ele nem estivesse ali. Exatamente como antes. “Se você estudar, chega lá. A nossa Spell The Most campeã? Vocês jogam bem. Tem algumas falhas nos passes, mas jogam bem. Um par para o baile?”, olhei no fundo dos seus olhos mel e mordi meu lábio. “Connor, sejamos sinceros. Você consegue qualquer garota em um estalar de dedos. Qualquer uma desmaiaria só por você falar com ela. Quem dirá dançar no baile.”, eu fui abaixando minha voz, conforme as palavras saíam da minha boca, exatamente como na sexta. “Escolha e convide.”, eu sussurrei.

“Não é tão fácil assim”, Connor também sussurrava. “A garota que eu quero é teimosa demais para desmaiar se eu a convidasse.”, ele olhou no fundo dos meus olhos. Seu sorriso cresceu. “É capaz dela me desmaiar.”.

Nem percebi que estávamos tão perto um do outro. Só quando vi que nossos narizes se encostaram. Aquela era a hora de escolher se terminava o que tinha começado ou fugia. Engoli a seco. Uma outra lição que meus pais tinham me ensinado era: NUNCA DESISTA. Fiquei séria e coloquei minhas mãos em seus braços, gostando que eles se encaixassem. E que sua pele fosse tão macia. Connor passou um braço em minha cintura e me puxou com força contra o seu corpo. Ele tentou me beijar, mas eu virei o rosto. Aquele jogo ainda não estava terminado.

“Um beijo meu?”, perguntei. Connor assentiu, esperando. Mordi o lábio de novo e Connor soltou o ar. “Vem pegar”.

Connor riu, aliviado e me beijou. Tinha tanta força naquele beijo, mas, ao mesmo tempo, era delicado e com tanto amor. Nem mesmo o sinal do começo das aulas, ou os inúmeros passos e múrmuros ao nosso redor, nos pararam. Então, uma lembrança surgiu em minha mente e eu me afastei, batendo em seu braço com força. Connor recuou e me olhou, confuso.

“Nunca mais me chame de Tacy”, eu disse fingindo estar com raiva. Connor suspirou e me abraçou de novo.

“Que tal, meu amor?”, ele sugeriu sussurrando em meu ouvido.

“Perfeito”, eu sorri para ele.

Para meu amado inimigo.


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