Reborn escrita por BabyS


Capítulo 3
She Wolf


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, serio mesmo. Eu já tinha o capítulo quase todo pronto e poderia tê-lo postado assim, mas queria algo a mais e esse algo a mais só veio hoje :s Sem contar que a faculdade está uma loucura, perdoem meu atraso. Fiz um cap bem grande para compensar ^^



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P.V.O Beau

Passei o resto da madrugada no quarto de Archie e Jessamine concentrando-me na leitura de páginas surradas do meu velho exemplar de Morro dos Ventos Uivantes, que pedira a Eleanor para recuperar em meu antigo quarto. Charlie não sentiria falta, eu sim. Concentrar-me no romance odioso de Catherine e Heathcliff tirava da minha cabeça as preocupações com o meu próprio romance.

A certo horário quando o céu azul escuro dava lugar a um azul cada vez mais pálido pude ouvir os Cullen se organizando para as atividades do dia. Carine, antes de sair para o hospital, passou no quarto de Edythe, ouvi duas batidas leves na porta antes de Edythe murmurar “Entre”, houve um momento de silêncio após ela entrar, imaginei que estivesse se comunicando por pensamentos, Edythe disse “Prefiro não protelar”, mais um momento de silêncio, ela desejou à Carine um bom dia de trabalho e então esta já estava disparando até seu Mercedes na garagem. Não podia nem fazer suposições sobre a conversa silenciosa delas se não acabaria ficando paranóico. Preferia não protelar para o que? Acabar com tudo? Eu não podia acreditar no quão obsessivos meus sentimentos por ela se tornaram, acho que fazia parte de toda a intensidade.

Archie apareceu para pegar uma muda de roupas para ele e outra para Jessamine. Constrangido me ofereci para sair para que eles pudessem se trocar em seu próprio quarto, mas Archie recusou veemente e quando estava prestes a fechar a porta depois de sair do quarto ele pareceu ponderar em algo e deu passo para trás, para dentro do cômodo.

— Edythe vai voltar ao colégio hoje. – ele disse sondando minha reação. Fechou a porta ao passar e se sentou na cama ao meu lado.

— E porque ela vai voltar? – Perguntei imaginando que seria como na época que antecedia à minha chegada a Forks, antes de eu bagunçar a vida de todo mundo.

— Ela não pode sofrer um luto eterno. Na teoria Edy é um adolescente de 17 anos que precisa completar o ensino médio. Se ela resolvesse abandonar os estudos por causa da sua morte chamaríamos atenção para nós, e não é o que queremos.

— Entendi. – murmurei, captando a complexidade das conseqüências.

— Aproveite que ela não estará aqui para sair um pouco desse quarto. Não se considere um prisioneiro, Beau. – Archie sorriu levantando-se – Vocês se desentenderam, é normal e você ficaria surpreso com quantas vezes já brigamos por aqui, na verdade nem posso contar e isso é vergonhoso, mas é assim que as coisas acontecem numa família e agora você é parte da nossa, não iremos expulsá-lo caso as coisas não deem certo entre você e Edythe. Não que essa seja uma possibilidade. – ele piscou para mim e saiu. Senti um soluço se formar em minha garganta. Vampiros choram? Nota mental para perguntar assim que puder.

Era bom saber que eu tinha um lugar para chamar de lar e pessoas para chamar de família, não que tudo isso importasse muito sem ela.

Quando que eu fui me permitir cair desse precipício? Não havia volta, só queda livre e eu não sei se queria descobrir o que havia no fundo.

Após ouvir o volvo dar partido e acelerar para a estrada me levantei decidido a sair e só voltar quando tomasse uma decisão. Earnest desenhava algo parecido com uma planta de casa, pequena, mas era tudo perfeitamente detalhado. Ele definitivamente deveria abrir uma agência de arquitetura ou algo assim.

— Oi, Beau. – ele disse desviando e olhar de seu trabalho quando apareci ao seu lado.

— Está ficando ótimo. – elogiei olhando por cima de seu ombro.

— Obrigado. – ele sorriu, o rosto tão paternal que não me restavam dúvidas de que ele era o coração da casa. Lembrei-me de Edythe dizendo que o que Earnest trouxera de sua vida humana fora sua incrível capacidade de amar.

— Vim avisar que eu irei caminhar para espairecer.

— Caminhar aonde? – ele perguntou com cautela. Imaginei que com medo de que eu fosse nos expor.

— Não se preocupe, será aqui pela floresta mesmo. Talvez eu vá até o Canadá. – Vi a tensão em seu rosto se dissipar e sorri.

— Vá com Deus, meu filho. - Earnest disse puxando-me num meio abraço, nossa diferença de altura ficando mais evidente com a proximidade. E pela segunda vez no dia minha garganta se fechou.

— Obrigado – murmurei com a voz embargada e saí correndo em direção à floresta, libertando-me de meus pensamentos e deixando os instintos me dominarem. Saltei sobre o rio e já estava voando através do mar verde, as copas das árvores que se uniam formando um teto folhoso denso não permitindo que nenhuma luz penetrasse, dando a impressão de uma noite eterna, mas eu não estava com medo, sabia que tudo ali temia a minha presença.

De repente um vento vindo do leste trouxe o cheiro de um animal, carnívoro, mudei a direção guiado pelo faro apenas, corri por aproximadamente 40 km, me joguei deslizando por baixo de um tronco caído que escorava-se numa outra árvore e quando olhei para cima um leão da montanha agachava-se em posição de ataque ao me ver. As patas gigantes apoiadas encima de um rocha que chegava perto de 2 metros de altura, os lábios negros se retesaram mostrando as presas afiadas.

Grunhi em resposta. Um som gutural que vibrou em meu peito e reverberou pela floresta vazia, sorri quando vi que o felino pareceu analisar se eu era realmente a presa ou este era o posto dele, aproveitei a confusão dele e saltei sem dificuldades os dois metros da rocha agarrando-o pelo pescoço e fechando as pernas em seu dorso, o peso o fez perder o equilíbrio e caímos da rocha, suas garras arrastavam-se pela minha pele inutilmente. Resolvi poupar-lhe o sofrimento e afundei os dentes em sua jugular e senti, em êxtase, o líquido quente escorregar por minha garganta, o gosto e o cheiro bem melhor do que o dos cervos, era como se eles fossem a salada e o leão da montanha a picanha. Em pouco tempo senti o fluxo de sangue diminuir e logo o leão estava drenado. Empurrei para o lado seu corpo inerte e levantei-me percebendo que ele fizera um bom estrago em minhas roupas. Supondo a direção que me levaria ao Canadá voltei a correr.

Após algumas horas pude sentir o clima mudar, a temperatura caía e imaginei que se já não estivesse no Canadá, estaria perto. Não sabia exatamente o que estava procurando, mas acredito que saberia quando encontrasse. Eu só precisava me afastar. Certa claridade começava a passar pelas árvores e me perguntei o que haveria à frente, acelerei os passos e logo emergi nas margens de um lago enorme, era lindo e invernal, alguns cisnes nadavam e pássaros davam breves mergulhos na água emergindo rapidamente com pequenos peixes no bico. Me perguntei como seria a tal capacidade de não precisar respirar e poder ficar infinitamente em baixo da água e quando percebi a água já batia na altura do meu peito, mergulhei e não sei quanto tempo fiquei ali embaixo observando as algas e os peixes, nadando para todo o lado.

E foi então que um som de movimento chegou aos meus ouvidos, não tão nítido quanto seria se eu não estivesse submerso, mas consegui perceber que os passos eram pesados demais para ser um animal normal, a criatura deveria ser gigante. Um urso? Cuidadosamente emergi deixando acima apenas os olhos e a 5 metros da beira do lago encontrava-se uma loba gigante, assim como as da aldeia quileute, assim percebi que não era um animal normal. Ela me encarava com surpresa, quase susto, não por eu estar ali, com certeza havia percebido minha presença, era outra coisa e eu não sabia o que. Os olhos castanhos escuro eram conhecidos, humanos demais e cheios de sentimento. E eu os conhecia.

Eu conhecia aquela loba com o pelo castanho avermelhado, só não sabia como, e as lembranças falhas da minha vida humana não ajudavam muito, embora eu tivesse certeza de não ter me deparado com uma loba gigante antes da transformação.

Quando ela se virava para correr para dentro da floresta um sonho me veio à mente e eu gritei:

— Jules!

As patas pararam de se mover e a cabeça virou-se lentamente para trás. Era ela, eu não sabia como, mas era. Igual á loba que vi em meu sonho, a mesma loba que atacara Edythe neste sonho. Rapidamente saí da água e fui para perto dela, a velocidade pareceu assustá-la e os dentes ficaram à mostra.

— Jules? – Perguntei, os olhos me fitavam com atenção, ela acenou brevemente com a cabeça gigante e pude entender que aquilo era um sim.

Ficamos em silêncio nos encarando, e eu tinha certeza de que parecia tão estranho para ela quanto ela estava para mim. A loba a minha frente era anormalmente grande, do tamanho de um cavalo, o pelo bastante espesso, digno de um cachorro das neves.

De repente me ocorreu que até o momento eu estava morto para toda a cidade de Forks, exceto para as lobas Quileute, mas na época a Jules ainda não fazia parte da matilha. Ela saberia sobre mim? Ou estaria achando que eu era uma alma penada que apareceu para puxar sua perna durante a noite?

A questão é que com ela transformada e eu sem poderes sobrenaturais que me permitissem ler pensamentos como a Edhyte, a conversa iria fluir de forma unilateral, com Jules contribuindo apenas com acenos com a cabeça.


— Eu não sei como funciona essa coisa de se transformar em loba, mas você poderia voltar a forma humana para conversarmos? - os olhos dela estreitaram-se desconfiados e completei rapidamente. - Eu sei que até o momento eu estava morto, deixe-me explicar caso seu bando não tenha lhe contado a verdade.
Jules ponderou pelo que pareceram vários minutos, até se virar para mim e abaixar a cabeçorra até o chão cobrindo os olhos com as patas gigantes, depois levantou a cabeça novamente e apontou com o focinho para mim.


— Um momento, isto é uma comunicação de sinais, certo? - perguntei e ela sacudiu a cabeça para cima e para baixo, tomei a resposta como um sim. - Você pode repeti-la então?
E Jules revirando os olhos fez os mesmos gestos tapando os olhos e apontando o focinho para mim.
— Você apontou para mim, então quer dizer que é para EU fazer algo? - Esperei sua confirmação para prosseguir em minha interpretação. - Você quer que eu tape os olhos?
Jules fez que sim novamente parecendo feliz que eu tivesse chegado à conclusão certa.
Me virei de costas sem entender o que ela pretendia com aquilo, fechando os olhos e tapando-os com as mãos. Provavelmente não queria que eu visse algum segredo da transformação, ou da tribo.
Ouvi as grandes patas de Jules caminhando ao meu redor para verificar se eu estava olhando. E pude sentir através das vibrações no chão de terra úmida ela mudar seu peso das quatro patas para apenas as duas traseiras, levantando o corpo, e mesmo com os olhos fechados meus reflexos responderam, os braços voaram cruzando-se na frente do meu peito onde eu sabia que as patas de Jules iriam bater, tive que exercer todo meu autocontrole para não atacar e apenas defender-me, as patas peludas pararam em meus antebraços.
— Não preciso ver o que me ataca para conseguir me defender  - murmurei ainda de olhos fechados. – Fique tranqüila, eu não estou vendo nada se era isso que você queria testar.
Ouvi Jules exalar o ar pelas narinas e depois de um segundo silencioso um uivo de dor ecoou pelas árvores.
— Pode abrir os olhos, Beau. - reconheci a voz de Jules.
Devagar, na verdade sem saber o que esperar, abri os olhos. Ela estava mais alta e com certeza mais atlética, os músculos alongados das pernas se destacando sob a pele morena acobreada, expostos por um short jeans curto. A única peça que cobria seu tronco era um top de biquíni, deixando a mostra a barriga lisa e os ombros estreitos cobertos pela cascata de cabelos negros brilhosos. Aquela imagem com certeza poderia estar num desses calendários que vemos em ambientes muito masculinos e extremamente machistas. Então fiz uma correção mental associando-a à uma passarela em Barcelona, alta, magra e atlética, desfilando modelos fitness.

Não sei quando ela se tornara assim, tão diferente da garota de 15 anos que me contara histórias assustadoras nas quais não acreditava e que agora faziam parte das nossas vidas. Jules não se parecia nem um pouco com uma garotinha adolescente, as feições eram mais maduras, as maçãs do rosto proeminentes, a face perdera o formato redondo e infantil, tomando formas angulosas. O jeito sutil com que ficava em pé, como distribuía o peso entre os dois lados do corpo, parecendo ser capaz de correr em folhas secas sem emitir um ruído se quer, contrastava enormemente com a fera em que estava transformada há menos de um minuto.

Jules estava muito atraente.

— Vai ficar me olhando ou vai começar a explicar porque você não está embolado nos destroços da picape? Se é que sobrou algum depois da explosão né... – sua voz estava agressiva, ressentida e incrédula de que ali fosse realmente eu, talvez pensasse que eu fosse mesmo um fantasma.

Apoiei as costas no tronco de um abeto e deixei meu corpo escorregar até o chão, sentado puxei meus joelhos apertando-os contra meu peito tentando imaginar de que forma contaria para Jules sobre a criatura que me tornei.

— Hm. As histórias de terror que você me contou na praia de La Push... – parecia fazer tanto tempo, as lembranças humanas enlameadas em meu cérebro que as afundava cada vez mais para o esquecimento – Não demos tanto crédito quanto elas mereciam.

— E você quer me dizer isso agora? Não sei se percebeu, mas sou uma história de terror ambulante. – retrucou amarga. Jules não parecia estar encarando muito bem essa coisa da transformação. Não sei se aquilo me fazia querer compartilhar que ela não era a única a ter que lidar com uma vida nova ou se me fazia recuar temendo que ela odiasse o Eu-monstro quanto o Ela-mostro.

Resolvi começar por uma abordagem diferente.

— Então assim como as histórias acertaram sobre você, elas também acertaram sobre os Cullens. – ela com certeza já sabia dessa parte, mas ainda assim seu rosto se distorceu numa careta e quase não consegui prosseguir – Um dia fui jogar baseball na floresta com eles, e outros apareceram e aparentemente gostaram bastante do meu cheiro, o que os levou a uma perseguição sádica. – Fiz uma pausa para observar como ela estava digerindo a história e agora Jules parecia muito apreensiva. Por mim, talvez? – Os Cullens se mobilizaram para me levar o mais distante possível da rastreadora. Archie e Jessamine me levaram para a Flórida e os outros que ficaram dividiram-se entre proteger Charlie e perseguir a rastreadora, mas ela era muito inteligente, Jules. Conseguiu me fazer acreditar que ela sequestrara Reneé e que se eu não me entregasse ela a mataria, imagino que você concorde que eu não poderia fazer outra coisa além de me entregar. Consegui fugir dos Cullens e fui ao encontro dela... Era tudo mentira. – Suspirei com as memórias vindo à tona.

Jules deu um passo vacilante em minha direção, a expressão mortificada, mas não se aproximou mais.

— Quando os Cullens chegaram eu já havia sido bastante torturado e... mordido. – a última palavra saiu num sussurro e Jules perdeu uma respiração. Os olhos que agora me sondavam demonstravam reconhecimento e repulsa.

— Não havia como retirar o veneno, Edhyte tentou, mas se continuasse eu iria morrer.

— E você acha que assim está vivo? – o tom foi baixo e transbordava ódio.

Abri a boca para responder, mesmo sem saber o que, mas ela continuou antes que eu pudesse.

— Você não sabe o quanto o Charlie sofreu e continua sofrendo. No início nem sabíamos se ele iria aguentar. Sua mãe ainda não acredita no que aconteceu, ela ainda espera que você vá visitá-la nas férias de verão. Os seus amigos na escola... eu. Você não se importou em como nós sofremos, não é? Você foi tão egoísta. Se tivesse morrido de verdade nosso sofrimento teria valido a pena, mas não, enquanto chorávamos você curtia a eternidade com sua garota. Nós dois somos monstros, Beau, mas temos uma diferença, eu não escolhi me tornar nisso, você sim.

E sem nenhum aviso prévio o som de algo sendo rasgado preencheu a floresta, Jules assumira sua forma de loba e corria para longe. Não a segui, estava petrificado, as palavras dela ecoando em meu cérebro. Um soluço sem lágrimas escapou de minha garganta e percebi que estava chorando.


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Notas finais do capítulo

Gostaram que eu postei uma imagem no inicio do cap? Tô querendo fazer isso nos outros, o que acham? O que acharam do capítulo? Por favor comentem! Os comentários de vocês é o que me motiva a escrever mais e mais =D Muitos comentários indicam felicidade e felicidade indica inspiração haha Até.