Sweeney Todd odiava todas as estações. Odiava o calor do verão, que lembra de como Lucy usava seus vestidos cor de rosa e o levava para passear. Odiava o outono, com todas as folhas caíndo e Lucy se perdendo no meio delas como uma criança faria. Odiava o inverno, quando as bochechas de Lucy ficariam rosadas assim como a ponta de seu nariz. E por último, odiava a primavera, aonde abrochavam todas as flores que Lucy tanto amava.

Ele detestava todas as estações por não parecerem mais as mesmas quinze anos depois. Agora o inverno era apenas um tempo no qual a possibilidade de adoecer e morrer antes de completar sua vingaça era maior. O verão, aonde o calor parecia quase insuportável, não importava a roupa que colocasse. O outono, com todas as malditas folhas e a primavera com aquelas flores que nos dias de hoje, Sweeney Todd não poderia odiar mais. As odiava porque a padeira abaixo de si não pensava da mesma forma, porque ela estava sempre alegre comentando sobre alguma coisa positiva de todas essas quatro.

Porque ela sempre estava animada demais, e sempre fazia algum comentário sobre alguma beleza da natureza, ou se não era sobre a noite, a lua, as estrelas, sempre tentando roubar a atenção so barbeiro para longe de sua vingança e para perto dela. Odiava as quatro estações porque Nellie Lovett não parava de falar delas quando não tinha mais assunto algum.
~//~~

Nellie, por sua vez, amava todas as quatro, assim como amava tantas outras coisas. Mas nada a surpreendia mais do que as maravilhas que a natureza era capaz de produzir. Dessa forma, as estações para ela eram um deleite, sempre algo novo e incrível, tudo tão balanceado e correto, fazendo o mundo caminhar como deveria.

Amava o verão, quando podia usar alguns de seus melhores vestidos, quando conseguia arrastar Sweeney para fora pelo menos uma vez e sonhar com a praia e um futuro que ela não queria que demorasse, e que fazia as coisas parecerem todas mais fáceis.

Amava a primavera, com todas aquelas flores que podia comprar no mercado e colocar enfeitando toda a extensão da casa, fazendo parecer que não era tão obscura assim. E tentava sem parar fazer com o que o barbeiro a deixasse colocar algumas lá em cima para alegrar, perto da janela aonde ele tanto ficava. Infelizmente, sempre recebia um “Não, Mrs. Lovett”. Mas isso de forma alguma seria impedimento para Nellie, e ela sabia que acabaria conseguindo um dia.

Amava o outono que coloria a cidade de outra cor, com suas folhas que ela tanto amava ver cairem, pegar um punhado e jogar novamente para cima apenas para vê-las caindo de novo. Sweeney as detestava, mas Toby compartilhava da adoração da padeira, e sempre a ajudaria a limpá-las da calçada, brincando um pouco mais do que trabalhando.
E, por fim, Nellie Lovett amava o inverno, quando podia tomar mais de suas bebidas para se aquecer e fazer biscoitos com a ajuda de Toby ou ver a neve começar a cair. Mas acima de tudo, ela amava Sweeney Todd no inverno.

Pois as vezes, nos dias frios de meio de semana, com os olhos do barbeiro mais escuros do que o normal, os cabelos mais desalinhados e o eminente cansaço que fazia com que ele também parecesse humano, Nellie o olhava e o achava tão lindo para estar tão perto. Lindo demais para estar ali, ao alcançe de suas mãos frias pela temperatura.
Nesses dias, apesar de tudo, ela sentia medo, porque tinha a realização um tanto esquizofrênica de que não havia como evitar estar apaixonada por Sweeney, que nada poderia ser feito a não ser sentir.

Sweeney Todd compartilhava de um pensamento desses, bem no fundo de sua cabeça, aonde ficavam as coisas que não eram capazes de serem admitidas por ele. Odiava sobretudo o inverno, porque a padeira aparecia com gim na barbearia dele, para aquecer os ossos, ela dizia. E seus olhos brilhavam, as bochechas mais coradas escondiam as olheiras fundas, e mais do que nunca, ela parecia cheia de uma vida que o barbeiro nunca poderia ter. Ele a odiava também por isso, e por fazer com que ele sentisse medo de que, no fundo, pudesse estar a possibilidade de se apaixonar por Nellie de volta.