A Vendedora de Corações escrita por Ginger Bones


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Então, amores, espero que gostem. Demorei pra escrever e espero ter ficado bom ♥



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A menina passava todos os dias empenhada em suas vendas, como todos os vendedores de feira no centro da cidade, alias. Era uma cidade grande e o movimento era sempre o mesmo, as pessoas passando apressadas em direção ao trabalho, crianças correndo para alcançar a carona até a escola. No entanto, a menina do vestido vermelho já era uma presença habitual em meio às barracas dos adultos, ela pareceria apenas mais uma pequena vendedora tentando fazer negócios, não fosse por sua inusitada mercadoria.
–Você gostaria de comprar um coração?-perguntava a qualquer pessoa que lhe desse atenção. Os moradores da cidade já haviam se acostumado às suas perguntas, mas alguns desavisados arregalavam os olhos surpresos. Nem todos conheciam a magia, era a verdade. Porém, a garota não tirava o sorriso do rosto em momento algum, não importava a reação dos que lhe ouvissem.
–Tenho vários modelos muitos bonitos para oferecer.-ela dizia. Ao ver um jovem homem de cabelos claros passar apressado e murmurando coisas incompreensíveis para si mesmo, a menina viu ali uma possível oportunidade de vendas. Ele parecia alguém que estava quebrado.-Senhor! Você gostaria de comprar um coração?
O homem parou de caminhar, surpreso e virou-se para a menina, momentaneamente interessado. Ela oferecia-lhe um belo coração vermelho brilhante em suas mais, a cesta pendurada em seu outro braço continuava cheia de outros corações tão belos quanto o que agora ela estendia ao homem.
–Você também repara corações partidos?-questionou o homem se aproximando da menina. Muito perto, ela pensou.
–Oh, não.-ela disse com a calma de sempre.-Eu apenas vendo corações, senhor.
–Entendo.-murmurou agora com um tom desapontado.
–Mas se você descer esta rua, vai encontrar o Heartsmith!-exclamou apontou a direção certa para o homem desconhecido. A esperança em seus olhos era evidente.
–Heartsmith?-falou para ele mesmo. Virando-se para a garota, abaixou-se até ficar da mesma altura que ela e voltou a parecer animado.-Obrigado, jovem senhorita.
–De nada, senhor.-respondeu sorrindo. Nada a deixava mais feliz do que o olhar agradecido de alguém, mesmo que não tivesse vendido nada. Ela não era má, afinal.
O homem se dirigiu ao lugar que a garotinha havia lhe apontado, caminhando entre a multidão e tentando evitar bater em alguém em sua pressa ansiosa. Parou ao ver a entrada bonita de uma oficina pintada em tons de amarelo e dourado. Grandes janelas se estendiam diante da loja e a luz do lado de dentro do lugar escapava por cada espaço de vidro da janela. O nome "Heartsmith" estava escrito sobre a porta em um grande letreiro de cobre escuro e brilhante. Sinais de um trabalho bem feito e constantemente reparado. Um sino soou ao abrir a grande porta, estranhamente, ela abriu com facilidade e total silêncio. Um garoto de não mais do que 20 anos estava sentado diante de uma mesa de trabalho, concentrado com um belo coração em uma máquina que o prendia a sua frente. Ele ao menos havia notado a presença do estranho em sua loja?
–Com licença.-pediu o jovem de cabelos claros, tímido ao atrapalhar o trabalho de Heartsmith.
–Hum?-murmurou Heartsmith se virando para a porta e notando-o pela primeira vez. Limpou o suor em sua testa com suas luvas de trabalho e tirou seus óculos de proteção de seus olhos, os levando até sua testa onde sabia que não iria atrapalha-lo.- Oh, um cliente!
A sua animação era contagiante e Heartsmith era mais bonito do que qualquer ferreiro poderia ser.
–Bem-vindo, senhor, o que posso fazer por você?-perguntou se aproximando do estranho em sua loja enquanto o mesmo fechava a porta.
–Uma moça me disse que você conserta corações.-afirmou apontando com seus dedos em direção à rua, de onde a garota ainda podia ser vista ao fundo com seu vestido vermelho chamativo e sua cesta de belos corações.
–Sim, é o que eu faço!-exclamou Heartsmith, estendendo sua mão.-Prazer em conhecê-lo.
–Prazer em conhecê-lo também.-respondeu o jovem apertando sua mão, corando um pouco logo em seguida. No entanto, Heartsmith tentou fingir que não havia notado a vermelhidão em seu rosto.
–Qual o problema?-perguntou Heartsmith. Próximos como estavam, ele percebia como era baixo em relação ao estranho a sua frente e o sol do lado de fora incomodava seus olhos ao ter que levantar a cabeça para olha-lo.
–Bem...-começou o de cabelos claros, estendendo-lhe um danificado coração, a luz quase não brilhava mais em seu interior.
–Cara, parece que está bem danificado!-exclamou surpreso Heartsmith, não permitindo sequer que o homem terminasse sua frase.
–Então, você não consegue reparar?-perguntou em um tom triste, desapontado até.
–Eu não disse isso!-respondeu Hearsmith balançando suas mãos enluvadas em negativa.-Mas talvez leve um tempo.
–Isso...-disse-lhe o estranho.-Pode ser um problema.
–Você está planejando se casar?-Hearthsmith cutucou o homem de brincadeira. Ele parecia acanhado, era alguém sem senso de humor. Isso o deixou um pouco para baixo, mas Hearthsmith não demonstrou.
–Na verdade, sim.-respondeu o homem constrangido.
–Oh, parabéns.-falou Hearthsmith mais constrangido ainda. Por algum motivo, aquilo o afetara. Por que? Ele nem sabia o nome do sujeito.
–Mas o casamento está tão perto...-começou o homem cabisbaixo.-Acho que este coração é incapaz de amar.
–É... Acho que temos um problema.-disse Heartsmith.-Bem, sugiro que você deixe aqui comigo. Não posso prometer nada, mas darei o meu melhor.
–Obrigada.-agradeceu o homem com um meio sorriso.-Cuide bem dele, caro Hearsmith.
–É claro.-exclamou segurando o coração que o desconhecido lhe entregava.-Com certeza! Não sei quanto tempo levarei, mas apareça quando quiser.
–Farei.-disse-lhe.
O homem se despediu e saiu da loja com um tilintar do sino na porta.
Do outro lado da rua, a menina continuava a oferecer sua mercadoria.
–Você gostaria de comprar um coração?
Ao vê-lo passar por ela, sorriu e acenou-lhe brevemente. Ele acenou em retorno, dando um sorriso agradecido a menina que havia lhe ajudado.
Alguns dias haviam se passado quando o jovem de cabelos claros volta até a oficina de Heartsmith para lhe fazer uma visita.
–Olá, desculpa estar lhe incomodando a essa hora.-pede o jovem batendo de leve na porta com os ossos da mão.
–Hum?-murmura Heartsmith se virando para a porta.-Oh, é você.
Ele se alegra ao ver seu novo cliente preferido passar pela porta de sua loja.
–Eu trouxe bolo!-exclama o jovem sorrindo com uma enorme caixa de bolo em suas mãos.
–Está delicioso.-afirma Heartsmith ao provar o primeiro pedaço de bolo sentado frente ao homem em sua oficina.
–Que bom que você gostou.-agradece.
–Nenhum dos meus clientes me trouxe bolo.-fala tímido Heartsmith limpando parte de farelos em seu queixo com as pontas dos dedos.
–É o mínimo que eu poderia fazer por alguém que está consertando meu coração.-ele explica tomando um novo gole de café.
–Falando nisso...-Começa Heartsmith pensando em como dizer a ele o que precisava.
–Algum problema?-pergunta o outro preocupado.
–Bem...-explica Heartsmith.-Algumas partes vitais que fazem a função "amor" funcionar estao faltando...
–Entendo.-interrompe-lhe o jovem.-Então, nunca serei capaz de amar minha noiva? Ela merece algo melhor...
Aquele homem parecia realmente desgastado.
–Eu vou consertar para você!-afirma Heartsmith convicto.-Ainda há algo que pode ser feito.
–Muito obrigado, Heartsmith!-diz o jovem esperançoso mais uma vez.
–Não há de quê.-responde Heartsmith.-Fico feliz em poder ajudar alguém como você, senhor.
–Visitarei você novamente amanhã.-diz o jovem se despedindo.
–Até amanhã, então.-despede-se Heartsmith do homem assim que ele sai pela porta.
Heartsmith toca em seu peito, onde seu próprio coração despedaçado brilha fraco.
–Será que vai ser o suficiente?-pensa alto quando se encontra sozinho novamente em sua loja.
–Ao olhar para seu coração em suas mãos, ele espera que seja sim o suficiente.
–Você conseguiu!-exclama extremamente agradecido o jovem bonito no dia seguinte quando Heartsmith lhe devolve seu coração agora consertado e novo novamente.
–É claro, eu disse que faria, não disse?-diz Heartsmith em uma pergunta retórica.
–É incrível.-diz o cliente emocionado.-Consigo sentir meu coração transbordando amor.
–Serio?-pergunta Heartsmith tocando em seu peito.-Isso é ótimo!
–Sim.-afirma em resposta.-Tenho certeza que minha noiva ficará feliz.
–Oh...-responde Heartsmith. Ele havia se esquecido da noiva.-Tenho certeza que vai.
–Espero poder vê-lo em meu casamento.-diz o homem segurando Heartsmith pelos ombros animado.
–Claro...-responde Heartsmith, mesmo não se sentindo realmente feliz com o convite.
–Mais tarde naquele dia a menina vendedora de corações encontra um cabisbaixo Heartsmith sentado sobre uma caixa de madeira de suprimentos próxima à sua loja.
–Pobre Heartsmith!-ela fala se sentindo mal por ele. Ela se aproxima dele, chamando-lhe a atenção.-Por que você dividi partes do seu coração com os outros?
–Olha quem fala.-Heartsmith lhe responde.-Como é que você vende corações se não tem sequer o seu?
–Porque nenhum desses corações serve para mim.-diz ela corando.
Entendo...-começa Heartsmith.-Então talvez...essa parte que restou sirva para você?
–Você está me dando seu coração?-a menina pergunta admirando o belo coração que Heartsmith lhe estendia. Era o coração mais belo que ela jamais teve.
–Sim, se este for bom para você.-ele lhe responde.
–Obrigada, Heartsmith!-Exclama a menina jogando-se sobre Heartsmith e o envolvendo em um abraço apertado que ele retribui com prazer.
************************
Há muito tempo a menina continuava sentada sobre sua cama na mesma posição, o livro que ela fitava há tanto tempo jogado sobre o colchão branco e sóbrio. Era a única coisa que ela tinha vontade de olhar naquele quarto branco e sem graça que ela agora devia viver por tempo indeterminado, mas ela esperava que pudesse ir embora em breve.
–Como você está hoje?-disse um homem alto e magro, de cabelos claros de um tom de loiro brilhante e olhos verdes como os seus atraindo sua atenção ao entrar no quarto.
–Doutor!-ela exclama.
–Amanhã é seu grande dia!-ele lhe diz tocando em seu ombro carinhosamente.-Você tem sorte de termos encontrado um doador de coração.
–Sim, o Heartsmith é muito bondoso.-a garota ruiva sobre a cama fala ainda olhando para seu livro sobre a cama.
–Como?-pergunta o homem confuso. Ele não havia entendido o que a garota quis dizer.
–Tudo bem, as pessoas não lembram dele. Nem mesmo aqueles que ele ajudou.-diz ela sorrindo ao se lembrar do rosto de Heartsmith e segurar o livro de capa dura contra si em um abraço. O coração vermelho desenhado sobre a capa brilha ao entrar em contato com a luz.-Mas eu sempre lembrarei.


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