The Jacket escrita por cerlunas


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Tenho que admitir uma coisa: eu mais escrevi essa fanfic pra não me sentir tão culpada pela quantidade de UAs que escrevo deles e provavelmente vou postar.
Sorry not sorry.
Boa leitura!

PS. Eu amo a amizade Finn/Rey. Não pude deixar de fora.



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1.

Sua mãe era a melhor pilota da galáxia. Poe tinha certeza disso.

Quando chegava em casa, com o cheiro de óleo e a típica jaqueta, ela sempre sorria para si e contava alguma história das suas aventuras.

Poe queria ser como ela quando crescer.

Esfregou os olhos, entrando silenciosamente no quarto da sua mãe. Olhou em volta, e logo achou a jaqueta em cima da cama. Pegou-a e vestiu.

Como esperado, ficou grande, mas não se importou muito.

Poe olhou-se no espelho. Seus cabelos castanhos estavam bagunçados e ele tinha um grande curativo branco em seu rosto, mas a jaqueta fazia-o parecer alguém legal.

Saiu do quarto, aproveitando para pegar suas naves no chão do corredor. Silenciosamente, foi para o pátio. Sua mãe estava na cozinha ouvindo música e falou para o garoto tomar cuidado.

Poe brincou por bastante tempo com suas naves e bonequinhos. Corria de um lado para outro, derrotando seus inimigos cuidadosamente para não deixar pegar terra na jaqueta. Sua mãe não deixava-o usar por medo de ele estragar, mas provaria a ela que poderia cuidar de suas coisas muito bem.

Pouco tempo depois, sua mãe o chamou dizendo que estava na hora de tomar banho.

Guardou suas naves no seu esconderijo secreto e começou a correr em direção a casa. Queria mostrar logo para sua mãe a jaqueta intacta. Porém, em algum ponto, tropeçou nos próprios pés, caindo com um sonoro “ai!”. Sua mãe correu à porta para ver o que tinha acontecido, e não ficou nada satisfeita ao ver o filho no chão, com um machucado novo no joelho e sua jaqueta cheia de poeira, folhas e afins.

— Você está bem? — Perguntou, ajoelhando-se na frente do filho.

— Tô. — Murmurou mal humorado.

A mulher deu um sorriso.

— O que eu falei sobre pegar minha jaqueta?

As orelhas de Poe ficaram vermelhas.

— Desculpe.

Suspirou.

­ — Tudo bem. Vá para o banheiro, vou limpar seu machucado e depois tome banho. Vamos jantar fora. Amanhã eu cuido da jaqueta.

Ele concordou, animando-se. Ficou aliviado por sua mãe não estar brava, mas ainda tinha um sentimento de missão fracassada.

A mulher ajudou-o a ficar de pé e os dois voltaram para casa, com Poe andando engraçado por conta da dor na perna.

— Poe. — Chamou antes do filho entrar no banheiro —, vou te dar a jaqueta quando você crescer. Não precisa se apressar. Você vai ser o melhor piloto da galáxia.

Piscou para o garoto. Poe sorriu determinado, mostrando seu dente trincado.

Ele sabia que nunca seria melhor que sua mãe, mas não se importava em ficar em segundo.

2.

Aos dezesseis anos, a jaqueta o servia melhor. Mas ainda ficava um pouco larga.

Poe estava na casa da sua tia, entediado. Já tinha lido os livros que tinha por ali, e como estava de castigo, não era como se pudesse fazer muitas coisas.

Não que isso mudasse alguma coisa.

Sua tia estava entretida no seu próprio quarto. Fazia poucos minutos que ela tinha vindo checá-lo.

Se levantou da cama e ajeitou a jaqueta em seu corpo. Abriu a janela e sem grandes dificuldades, saiu por ali.

Andou até o terreno do vizinho, procurando não ser visto. Mesmo que soubesse que não seria.

O cara tinha uma oficina, e perto do galpão onde consertava os veículos, estava um que era basicamente uma sucata. Poe gostava dele por ser fácil de ligar, e porque ninguém realmente daria falta.

Logo ouviu o típico ronco alto, antes do motor se estabilizar. Sorriu, entrando na sucata e limpando suas mãos sujas nas calças.

Acelerou, sentindo a forte arrancada.

Sua tia morava em um vilarejo bastante afastado, sem muitas pessoas. Era ótimo, pois ele tinha mais espaço para correr sem riscos de alguém dedurá-lo.

Sorriu relaxado quando chegou perto da velocidade máxima, mesmo que não fosse muita. O vento forte bagunçava seu cabelo e ele sentia-se bem.

Deu algumas voltas, mas sabia que era hora de voltar. Estava anoitecendo, sua tia logo começaria o jantar e ele precisava ajudá-la.

Voltou, e foi aí que as coisas começaram a dar errado.

— Hey, você! — Uma voz gritou quando estava estacionando, e o garoto arregalou os olhos ao perceber a quem pertencia. O vizinho.

Suas mãos começaram a tremer, não estava esperando aquilo. Sentia-se nervoso, e nem tinha terminado de desligar a sucata. Os fios pareceram dar um nó do seu cérebro, mesmo que ele estivesse acostumado a mexer com eles.

E o vizinho se aproximava cada vez mais.

Ele tinha que fugir.

Tudo teria dado certo, se Poe não tivesse prendido as longas mangas da jaqueta em algum lugar.

Nem se lembrava direito onde tinha sido, só sabia que puxou e puxou, mas não adiantou: a jaqueta rasgou, e o vizinho pegou-o.

E pela expressão no rosto do cara, ele realmente estava encrencado.

***

Depois de sua tia o vizinho terem uma longa discussão, ele deixou-o ir, desde que começasse a ajudá-lo no que quer que fosse que ele pedisse. Sua tia concordou, se desculpando novamente, e Poe não falou nada. O que diria?

Além do mais, poderia aprender uma coisa ou duas com ele sobre consertos. Não reclamaria.

Sua tia já o encarava por alguns segundos, sem expressão. Até então, não falou nada, e Poe se perguntava o que estava por trás daqueles olhos tão frios.

Mas aquilo era o de menos, pois ele só olhava para sua jaqueta rasgada.

— O que você acha que sua mãe diria disso? — Questionou calmamente.

Poe não respondeu. Franziu os lábios sem nem mesmo notar.

A mulher suspirou alto, andando até o sobrinho.

— Me dê a jaqueta, vou consertá-la.

Poe agradeceu enquanto entregava-a. Não tinha o que dizer.

3.

Merda... — Xingou baixinho, enquanto BB-8 bipava, pedindo para ele manter a calma.

Mas era difícil manter a calma numa situação dessas, pensou olhando para sua X-Wing.

Fazia dois dias que tinha voltado da sua segunda missão como membro da Resistência e já tinha conseguido estragar sua nave.

Bem, não foi exatamente ele, mas Poe poderia ter evitado isso.

E como se não bastasse, a nave cuspiu o óleo que tinha colocado de volta na sua jaqueta.

Olhou para ela, sem saber o que fazer.

Tirar mancha de óleo não deveria ser tão difícil... certo?

Gemeu alto, enquanto BB-8 parecia estar se divertindo.

Aquele não era mesmo o seu dia.

— Que foi, bebê chorão? — Ouviu uma voz feminina, e ao se virar, se deparou com Jessika Pava. — Quer saber? Nem precisa falar. Eu já sei.

Poe revirou os olhos.

— Sempre bom ver você, Jess.

Ela sorriu, se aproximando.

— Poupe-me.

Os dois ficaram em silêncio, enquanto Jess apenas alcançava as ferramentas para o amigo.

— Ele tem perguntado sobre você, sabe. — Comentou.

— Ele? — Questionou inocentemente, fazendo a garota revirar os olhos.

— Você sabe de quem estou falando. — Acusou, fazendo o piloto desviar o olhar. — O que exatamente falo para ele?

— O óbvio.

— Estou cansada de limpar suas bagunças.

— E mesmo assim, aqui está você.

Poe sorriu fraco para a garota.

— É. Mesmo assim aqui estou eu. — Repetiu cansada. — Me dá sua jaqueta, vou tirar essa mancha. Não quero te ouvir reclamando sobre isso pelo resto da vida.

Poe tirou a jaqueta, entregando-a para Jess.

— Obrigado. — E não era só por isso que estava agradecendo.

4.

Poe acordou.

E no momento em que piscou os olhos, suas memórias mais recentes voltaram: Jakku, BB-8 e Kylo Ren entrando em sua mente.

Tinha mais.

FN-2187. Finn.

Não havia sinal de nenhum deles.

Nem da sua jaqueta.

Gemeu. Perder sua jaqueta era ainda pior do que estragá-la. Porém, teria que se preocupar com aquilo depois.

Tinha muito que fazer.

***

BB-8 estava bem.

Finn também.

Poe sorriu ao ver o ex-stormtrooper, abraçando-o.

Eles conversaram por poucos segundos, até Poe notar:

— Essa é minha jaqueta! — Exclamou, surpreso e aliviado.

Finn começou a tirá-la.

— Não, não. Fique com ela. Combina com você. — Poe olhou-o, antes de morder os lábios. — Você é um cara bom, Finn.

Poe não sabia por que exatamente tinha dado sua jaqueta, mas supunha que era uma coisa boa. Finn provavelmente cuidaria melhor dela.

5.

Finn não acreditava no que estava acontecendo.

Não acreditava de onde tinha tirado tanta coragem para enfrentar Kylo Ren, que já o detestava por ser um traidor.

Essa palavra não o ofendia mais. Não depois do que ele fez aos seus amigos. Não depois do que ele fez ao Solo.

Tinha vontade de fugir, mas aquilo não era uma opção. Não enfrentaria Kylo apenas por ele mesmo, mas sim por Rey. Poe Dameron. Pela Resistência.

Ele lutou, mesmo sabendo que perderia.

E quando sentiu o sabre de luz de Ren rasgar sua jaqueta e a sua visão ficar negra, só podia torcer para que a Força estivesse com Rey, pois ela era melhor do que ele sempre seria.

+1

Finn só abriu os olhos novamente dias depois.

Seu primeiro impulso foi perguntar por Rey. Porém, apenas BB-8 estava ali, que avisou a todos sobre a notícia o mais rápido possível.

Acabou que, Rey estava à procura de Luke Skywalker.

Mas, além disso, o que mais o surpreendeu foi a quantidade de pessoas que ficaram felizes por ele ter acordado.

Ninguém o tratava como um traidor. Era estranho, porque tinha mentido sobre saber como abaixar os escudos e mesmo assim, era visto como um herói. Ele não sabia lidar com os acenos e sorrisos que recebia constantemente, junto com as perguntas de como ele estava indo.

Não sabia lidar com a Resistência no geral, porque era tudo diferente do que estava acostumado.

Sua recuperação começou, e era bastante incômodo não fazer tudo o que queria.

Mas Poe quase sempre estava consigo e respondia pacientemente as milhares de perguntas que ele tinha. Rey também não demorou a voltar, mas estava ocupada com seu treinamento Jedi — ou algo assim, pois ela já estava velha para isso. Ele não entendia muitas coisas sobre o Código Jedi.

Poe e Finn dividiam o quarto até ele estar mais recuperado. Eles também dividiam algumas roupas, já que Finn não tinha muitas coisas.

Eles dormiam em um beliche. Finn ficava com a parte de baixo e Poe com a de cima.

Mas naquele momento, ambos estavam sentados na cama de Finn, com as costas apoiadas na parede.

Estavam ouvindo música, porém até pouco tempo também conversavam. Era normal ficarem em silêncio, pois quando tocavam naquele assunto começavam a pensar, e então era difícil parar tão cedo. Finn ainda se sentia ameaçado e estava sempre segurando a mão de algum dos seus amigos, enquanto Poe tinha seus pesadelos por conta da tortura de Kylo Ren. Cada um lidava com as coisas da sua própria forma, mas sempre podiam contar com a ajuda um do outro.

— Sinto muito. — Finn anunciou depois de um tempo.

Poe olhou-o sem entender.

— Pelo quê?

— A jaqueta. — Justificou.

Poe franziu as sobrancelhas, antes de sorrir como se tivesse se lembrado de algo.

— Ah.

Levantou da cama, andando até o roupeiro.

— Por falar nisso, tenho uma coisa para você. — Explicou, a ver a expressão de Finn.

Huh.

Achou que fazia sentido, pois viu Poe várias vezes olhando para seu guarda-roupa. Quando Finn perguntava por que, o piloto falava apenas um “nada de mais”.

Abriu a porta, pegando uma sacola. Voltou a sentar-se na cama, tirando de lá uma jaqueta.

A jaqueta.

— Rey me entregou, então achei que poderia ajeitá-la para você. Mas acontece que sou horrível com costura. — Riu.

Virou-a.

— Viu? Agora tem um sabre de luz legal, que usei para tapar meu péssimo trabalho. E na frente coloquei o símbolo da Resistência. Até que ficou boa, huh?

Finn pegou a jaqueta das mãos de Poe, encarando o sabre de luz azul. Piscou, não entendendo direito. Aquilo era... seu? Poe tinha tido esse trabalho por sua causa?

Porém, Poe interpretou o silêncio de uma forma errada.

­— Você não gostou? — Perguntou casualmente, porém ele não sorria mais.

Mas Finn sorriu, e abraçou Poe com força.

— Eu adorei. — Falou abafado por estar com a cabeça enterrada no seu pescoço. — Eu amei. Obrigado.

O piloto sorriu, um pouco surpreso pela reação de Finn. Mas não ia reclamar, principalmente porque sentia uma mistura de sentimentos estranhos no seu estômago que não experimentava há tempos.

Abraçou-o de volta, acariciando suas costas.

— Não foi nada.

Mas para Finn, foi. Ele nunca tinha ganhado presentes, nem tinha tido pessoas que se importavam com ele.

E mais tarde, quando Finn estava com a cabeça encostada no ombro de Poe que tentava explicá-lo o princípio de binário, não podia deixar de sentir-se feliz. Não mudaria nada do que fez.


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Notas finais do capítulo

É isso. Obrigada a todos que leram.
Me inspirei nisso: http://petimetrek.tumblr.com/post/136064171286/oh-no-you-dont-like-it-sniff-poe-i-love