Com toda a certeza do mundo, é algo difícil viver num colégio interno, é mesmo difícil. E pode-se somar a este fato, ainda, mais algumas complicações se você não é o melhor exemplo de aluno comportado, como no meu caso. O fato é que, se fosse apenas isso, estaria tudo certo, eu saberia lidar perfeitamente bem com as situações, afinal, sou um Uchiha. No entanto, tudo fica um pouco mais dificultoso quando há em sua vida uma velha maldita disposta a acabar com você assim que houver oportunidade, também como no meu caso.
— Vamos, Uchiha, já para a diretoria! — Tsunade gritou, indicando-me o caminho para sua sala.
— Veja bem, eu poderia estar matando, eu poderia estar roubando, mas estou aqui...
— Se “pegando” com a senhorita Aihara. — a velha completou, enquanto fazia aspas com os dedos e com uma expressão maldosa (em ambos os sentidos) tomando conta de seu rosto.
A menina se encolheu um pouco mais próxima à árvore, tão vermelha quanto um pimentão. Olhos assustados, cabelos desgrenhados, roupas amarrotadas e um ou dois botões da camisa desabotoados. É, o trabalho havia sido bem feito...
Involuntariamente, um sorriso de canto despontou em meus lábios. Tsunade pareceu seguir a mesma linha de pensamento e isto foi o suficiente para deixá-la ainda mais brava (se é que isso era algo realmente possível).
— Agora, Uchiha! — ela tornou a gritar, quase que me arrastando pelo braço.
— Mas espere um minuto — soltei bruscamente meu braço do aperto da sua mão. Aquela mulher era mesmo forte para ser apenas uma mera mulher... talvez fosse um demônio, ou qualquer outro ser maligno enviado para infernizar minha vida. E esta hipótese se enfatizou ainda mais quando notei a aura assustadora que a rodeava. — por que ela também não vai? — questionei, apontando discretamente para a menina, Aihara alguma-coisa (nem ao menos me lembrava do nome dela).
— Oras, — Tsunade endireitou sua postura — senhorita Aihara é só uma moça indefesa... mas, você, Uchiha — mantinha o dedo indicador bem próximo ao meu rosto — é o culpado disto tudo. Quem dirá que não a forçou a nada?
— O que está dizendo? Eu não forcei ninguém, não... Leve ela também!
— Quem diz as coisas aqui sou eu! E trate de ir logo antes que sua situação, que já não é boa, se agrave ainda mais.
“Hm, sei. Só quer me ferrar, isso sim”.
Somente anui, seguindo-a pelo longo corredor.
Chegamos na sala ou, melhor, no covil da Tsunade
A mulher demônio sentou em sua cadeira e fez sinal para que eu o fizesse também, em frente à sua mesa.
— Muito bem... — foi interrompida por leves batidas vindas da porta de entrada para a sala. Tsunade murmurou algo veemente irritadiço — Será que todos acham que, só porque sou a diretora aqui, devo ser a única a resolver tudo? — grunhiu abrindo a porta.
— Asuma sensei me mandou até aqui por conta de meus atrasos — Sakura surgia por detrás da porta, aparentando completa indiferença. — Acho que não se deve assistir as aulas somente a partir do segundo horário... — ela completou, com um sorriso adornando os lábios rosados, enquanto entregava à velha o que me parecia ser uma notificação.
Sim, sim, eu estava olhando por cima do ombro. Embora não quisesse admitir, aquela menina me atiçava a curiosidade.
— Sente-se. — suspirou Tsunade, como quem diz para si mesmo: “Ature-os”.
A garota de cabelo róseos sentou-se ao meu lado, de um jeito nada feminino, por assim dizer. Desengonçada, despencou sobre a cadeira, e não se deu sequer o trabalho de recolher as pernas, fazendo assim com que nossos joelhos se tocassem.
— Senhorita Haruno, onde estão seus modos?! — Tsunade a repreendeu — A senhorita é realmente uma decepção. — falou, balançando a cabeça negativamente.
— Bom, acho que eu os perdi por aí... Pode me ajudar a encontra-los? –perguntou ironicamente, referindo-se aos próprios modos — E quanto ao fato de eu ser uma decepção... bem, não sou obrigada a agradar ninguém, muito menos a senhora, que eu mal conheço, não sei nada a respeito e tampouco tenho qualquer intimidade. — concluiu, cruzando os braços despreocupadamente.
Vi a expressão, antes severa e confiante, da diretora se contorcer numa carranca brava. Não consegui evitar, sorri com tudo aquilo. Sakura havia conquistado meu respeito por sua capacidade de deixar a maldita Tsunade no estado que se encontrava naquele instante.
— Tenha absoluta certeza, Haruno, que esse seu comportamento será notificado aos seus pais! — O demônio asqueroso rosnou, visivelmente irritada.
— Tsunade-sama. Rosinha — olhei diretamente para a garota ao meu lado — O papo aqui está muito bom, mas eu pretendo fazer coisas mais divertidas ainda hoje... certo, senhorita Haruno? — um sorriso malicioso se formou nas comissuras da minha boca. — então, por favor, vamos andar logo com isso! — supliquei, porque já não aguentava olhar para a cara daquela velha maldita.
A garota nem ao menos me deu atenção, só revirou os olhos e me ignorou.
— O senhor não tem vergonha na cara não, senhor Uchiha?! — A loira perguntou com os olhos arregalados.
— Vergonha de quê?
— Se insinuar desta forma para a senhorita? Eu só espero que não esteja tentando fazer com esta pobre moça o mesmo que fez com a Aihara...
— Ah, então agora eu sou a pobre moça? — Sakura se pronunciou, fingindo indignação — Pensei que fosse “uma decepção” — Fez aspas com as mãos enquanto falava, repetindo as palavras que Tsunade havia usado para descrevê-la anteriormente.
— Fique calada, Haruno! O ponto aqui é o Uchiha e suas intenções pervertidas. — A velha a repreendeu. A rosada somente afundou-se ainda mais na cadeira, irritada, soprando de maneira nervosa uma mecha do cabelo cor-de-rosa que lhe caía sobre os olhos.
— Não, não tenho vergonha. E também não vou conversar com a senhora sobre isso, então, por favor, só faça o seu trabalho e nos dê logo uma advertência! Mas que porra! Será que a senhora não percebe que é horrível ter de ficar te encarando? — esbravejei, porque minha paciência já tinha se esvaído por completo.
Sakura riu com vontade, antes de completar:
— Concordo com ele.
— Ok — Tsunade acertou com força a superfície de madeira da mesa — Sabem bem que este é um colégio onde quase todos levam as coisas a sério, mas sempre, assim como em qualquer outro internato, existe uma minoria, da qual vocês dois fazem parte, que insiste em agir como delinquentes. — ela fez uma breve pausa, apenas para que um sorriso maldoso se emoldurasse em seus lábios — Seus pais os mandaram pra cá para uma única finalidade: criar modos, portanto, vou lhes dar modos. — ela vasculhou as gavetas e pôs-se a procurar algo. Uma caneta, deduzi, assim que começou a rabiscar com esta mesma num papel, comumente usado para decretar punições. Punições! — Eu não posso dar uma simples suspensão, tem de ser mais e não podemos permitir que vocês parem os estudos, por isso irão limpar a biblioteca, juntos, por uma semana inteirinha. — A velha parecia estar singelamente contente.
— O quê? — perguntei surpreso, como se não tivesse entendido aquilo direito.
— É isso mesmo que você ouviu — ainda abri a boca para argumentar, mas a velha me interrompeu, esbanjando um carisma sem igual. — Sem mais questionamentos, Uchiha! Nos poupe disso... Agora façam o favor de se retirar.
Levantei bruscamente e saí andando pelos corredores.
Com essa advertência eu não poderia mais fugir da escola, não poderia ir às festas, nem teria tempo para as garotas. Ou seja, eu estava verdadeiramente fodido.
— O que tem de tão mal nessa biblioteca? — perguntou a voz que eu já conhecia a alguns dias.
— É a biblioteca abandonada da escola, tem mais de dez mil livros literários e some a isso os inúmeros didáticos. Ainda tem um jardim do lado de fora. Você faz ideia do quanto de tempo que limpar isso vai nos ocupar? — falei revirando os olhos.
— Estamos ferrados! — Ela falou com os olhos arregalados.
—Sim, estamos. — concordei.