A mulher do retrato escrita por Lady Town


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

O fim



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A vinda de Bernardo para Belarrosa não passava de uma hipótese até aquele momento. Vitória ficou desesperada com a possibilidade de o filho estar parcialmente curado, embora o tivesse encontrado confuso. Ela não poderia ser vista na cocheira dos cavalos. Decidiu, após chamar Zilda e Bento ao quarto, que o melhor plano seria acomodar Bernardo escondido no quarto que Luíza ocupava e a menina dormiria com ela, assim ninguém desconfiaria de nada. Ela poderia cuidar do filho, acompanhá-lo para saber como realmente estava, do que se lembrava. E assim foi feito.

Luíza sentiu-se satisfeita pela mudança de postura de Vitória. Conheceu Bernardo assim, que, no meio da noite, parecendo bastante confuso, foi conduzido ao seu quarto. Era, de fato, um rapaz bonito, talvez envelhecido para a idade que tinha. Agora vestia roupas limpas. Bento também havia lhe aparado a barba e cabelos.

Vitória sentou-se ao seu lado na cama, onde foi colocado por Bento e tentou fazer-lhe algumas perguntas. Ele respondia perguntando-lhe quem era ela e onde ele estava. Parecia mesmo não se lembrar de absolutamente nada. Luíza não compreendia como ele podia ter aparecido em Belarrosa confuso daquele jeito. Talvez tivesse uma memória seletiva, ligada a tal Allegra e ao lugar onde viveram? Sugeriu tal hipótese e Vitória zangou-se imensamente.-

—Eu já lhe pedi pra não mencionar o nome desta mulher nesta casa!

— E se “esta mulher” é a chave para a cura de seu filho?

— Então ele ficará como está!

 

 

Vitória levantou-se e fez menção de deixar o quarto, ordenando que Bento ficasse em companhia do filho, tarefa que revezaria com Zilda. Luíza a interrompeu:

— Ele merece uma chance, condessa!

— Eu dei todas as chances a ele, Luíza. Ele teve os melhores médicos de São Paulo...Eu não aguento mais!

— E se chamasse o doutor Botelho? Não precisa mencionar a identidade dele, seria apenas um rapaz que foi encontrado desmemoriado nos jardins...

— Mas você mesma não disse que a mambembe seria a cura dele? Como posso mencionar isso ao Botelho? Não...ninguém pode ajudá-lo.

— Talvez a própria mambembe!

 

Zilda surpreendeu-se com a audácia da menina mas, no fundo, concordava com ela. Vitória saiu do quarto e Luíza a seguiu, assim como a governanta.

— Talvez...

— Não!!! Além disso, vamos supor que a talzinha o ajudasse a se lembrar de tudo... Para quê? Para que eu o devolva aos braços dela? Eu perderia meu filho de qualquer forma.

— Você não está preocupada com a felicidade dele. Nunca esteve.

— A senhora e a senhorita estão nervosas! Interveio Zilda, tentando interromper a discussão no meio da noite.

— Como ousa falar isto? Você mal me conhece!

 

Luíza saiu do quarto e Vitória percebeu que havia exagerado, mas sentia-se, de fato, nervosa. Mandou que Zilda a chamasse de volta, mas a governanta convenceu-a a conversar com ela na manhã seguinte e tentar se acalmar. A menina pediu licença a Bento para entrar no quarto. Bernardo agora dormia. Recolheu seus pertences à maleta.

— Por que fazer a mala agora, senhorita, se me permite a pergunta?

— Porque assim que o dia amanhecer, Bento, irei para minha casa.

— Discutiu com a senhora condessa?

— Discuti sim. Mas é mais que isso. Não posso ficar assistindo a tal descaso de uma mãe com o próprio filho!

 

 

Luíza terminou a maleta e desceu para a sala, onde sentou-se. Iria apenas esperar as primeiras horas do dia para solicitar que o cocheiro a levasse de volta. Tentava cochilar mas não podia. E foi então que despertou completamente com batidas desesperadas na porta e gritos de mulher.

— Abra, maldita! Eu sei que Bernardo está aí! Eu sei! Abra!

 

Toda a casa acordou e Zilda desceu com Bento mais que depressa. Mesmo o capataz tentando calar seus gritos, por um descuido dos dois ela entrou no casarão e subiu as escadas gritando por Bernardo. Todos a seguiram, inclusive Luíza. A mulher foi direto ao quarto da condessa.

— Onde ele está, maldita? O meu Bernardo? Onde você o escondeu?

— Emília di Fiori...como ousa? Como? O meu filho está morto! Todo mundo sabe disso!

 

Felipe, Melissa, todos agora estavam no quarto de Vitória assistindo à cena.

— Desista de seu teatro...eu estava com ele. Eu cuidei dele. Ele veio ao meu encontro...ao meu encontro e não ao seu e você não pode fazer nada para mudar isso...

— Do que esta mulher está falando, minha tia?

— É uma maluca, Felipe. Não vê?

— Eu sou a esposa de Bernardo e eu sei que ele está escondido nesta casa e não vou sair até levá-lo comigo.

— Vai...você vai sair escurraçada daqui! Bento, tire essa demente da minha frente e certifique-se que ela não apareça por aqui nunca mais! Vitória parecia haver sentenciado que Emília não voltaria a ver seu filho.

 

Neste momento, acordado pelos gritos, Bernardo adentrou o quarto e, ao vê-lo, Emília soltou-se dos braços frouxos de susto do capataz. Abraçaram-se e Bernardo parecia saber muito bem quem era ela.

— Meu amor...meu amor...eu prometi que eu ia cuidar de você, não foi? E eu vou, eu vou!

 

Bernardo ainda estava confuso. Não sabia onde estava, quem eram aquelas pessoas que o olhavam boquiabertas.

— Você tentou me matar mas não conseguiu, não é? Você não matou o nosso amor!

— Cale esta boca, sua maldita!

— E nunca vai poder se perdoar pelo que  fez ao seu filho!

— Era para você estar naquela carruagem, não ele. Eu jamais faria mal ao meu filho!

— Ele me protegeu porque ele me amava e agora, sabe do que ele se lembra apenas? De mim, sua bruxa! De mim! Você nunca, nunca vai nos afastar!

— Eu quero ir embora deste lugar, Emília. Eu quero ir embora! alegou Bernardo.

— Não, meu filho! Você não pode ir com ela, não pode...

 

Vitória começou a passar mal e, enquanto todos lhe acudiam, o casal aproveitou para sair. Bento os seguiu e tentou proibir Bernardo de deixar o casarão, mas o rapaz, num surto de raiva, socou-lhe o rosto, derrubando-o no chão, onde continuou a agredi-lo de forma descontrolada enquanto Emília o puxava para que fugissem depressa.

 

Depois de toda a confusão, da fuga do casal, todos se perguntavam o que havia acontecido mas Vitória não estava em condições de explicar nada naquele momento. Luíza só sabia que tinha que sair daquela casa o mais rápido que pudesse e foi o que fez. A mãe lhe fez muitas perguntas já que a menina chegara transtornada em casa.

— Você saberá de tudo, minha mãe. O povo não tardará em espalhar a fofoca. Eu só não quero e não posso conversar com a senhora agora, me desculpe! e trancou-se no quarto de onde não saiu nem para as refeições.

 

Realmente não demorou para que a notícia de que o filho da condessa estava vivo e de toda briga chegasse aos ouvidos de Amália, que logo levou a história toda aos patrões. Toda a cidade comentava sobre o que havia acontecido durante a madrugada no casarão.

 

Luíza só sabia, agora definitivamente, que não era aquela mulher quem amava. A mulher que ela imaginou existiu apenas enquanto ela ignorava suas maldades, seu caráter. Era uma assassina. Nem mesmo negara a acusação de Emília. E o filho era vítima, de todas as formas, de sua tirania e de seu ódio. A jovem se sentia anestesiada. Não conseguia chorar nem sentir nada, tamanho era o choque que tomara sua alma.

Os dias passaram e Amália ficara sabendo que estavam todos os Castellini de mudança para São Paulo. O casamento havia sido cancelado, estavam desmoralizados perante toda a cidade. Luíza recebeu a notícia por sua mãe, que parecia aflita.

— Você vai com eles, não é? Os planos da condessa de levá-la não podem ter mudado.

— O meu plano de acompanhar a condessa mudou, mamãe.

— Mas você tem de ir! Olhe, aqui o povo esquecerá depressa de toda essa história e em São Paulo tudo haverá de ser como era antes de a condessa vir para cá.

— Eu não irei a lugar algum em companhia desta mulher!

— Eu entendo sua decepção...

— É uma assassina, minha mãe!

— Eu ouvi a história toda, mas será, Luíza? O povo distorce tanto as coisas... não é possível.

— Eu estava lá! Eu sei agora quem ela é e não gostaria que a condessa fosse mais assunto nesta casa.

 

 

Consuelo deixou o quarto da filha desconsolada. Ela perderia a chance de sua vida e parecia mesmo determinada a não voltar atrás. À tarde, apareceu um menino do casarão com uma carta para a senhorita Luíza. Uma carta da condessa. E ele avisou que esperaria a resposta, que tinha ordens pra isso.


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