A mulher do retrato escrita por Lady Town


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Uma segunda confissão



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Teria que descer para o café. Mesmo que depois voltasse para o quarto onde pudesse até deitar-se. Luíza pensou que este plano seria ideal para que a governanta não desconfiasse de nada, já que a condessa, como combinado, passaria a manhã dormindo. Tomou um banho demorado e envergonhou-se, por momentos, pensando no que havia ocorrido durante a noite. Não sabia dizer do que tinha medo antes, tudo tinha sido tão maravilhoso...E ela desconhecia completamente os prazeres que seu corpo podia lhe dar, era uma completa ignorante em relação a isso. Mas que moça de sua idade não o era? Supreendera-se com Vitória, mas talvez estivesse mais surpresa consigo mesma, com a falta de pudor, com a capacidade de agradar os desejos da amante, tão experimentada, tão mais mulher que ela. Aquilo tudo, tinha certeza, era o ápice de sua paixão. Não haveria nada melhor no mundo do que tê-la em seus braços, sentir-lhe o cheiro e o calor da pele, pentear-lhe os cabelos, tão entregue, tão sua. E como poderia ser tão errado o que estavam fazendo? Tão errado e tão puro? Não compreendia, mesmo sabendo que sim, era errado, proibido. E irresistível.

Os dias e as noites que Luíza passava no casarão eram sempre iguais: olhares e sorrisos futivos durante o dia e os braços da amada durante as noites. Numa delas, Vitória despetalou uma rosa sobre o corpo nu da menina, e com outro botão, desenhava-lhe as curvas, calmamente.

— Sente cócegas?

— Não...é bom...-disse a menina passando os dedos nos lábios dela.

— Meu filho...-e o sembante de Vitória amargou-se- Meu filho sempre me dizia uma coisa.

— O quê?

— “Mamãe, sabia que há rosas que dão no inverno?” -e adorando-a, continuou.- Luíza, você é a rosa de que ele falava, a rosa no inverno de minha vida...

 

A jovem abraçou-a com ternura e beijou-lhe muitas vezes o rosto.

— Eu sei que teve a gentileza de nunca me perguntar nada, mas vejo nos seus olhos que me questiona a respeito do segredo sobre o passado de meu filho.

Luíza não a desmentiu.

— Eu não sou a pessoa que você idealizou. E eu tenho tanto medo que se decepcione a ponto de não poder mais me amar...

— Eu jamais deixaria de te amar! E eu não quero e não preciso deixar de te amar! Eu sei quem você é! Porque eu te conheço no momento de maior entrega e você é sim, exatamente, o que eu penso...

— Você ainda é muito jovem para entender as máscaras que construímos ao longo de nossas vidas... Mas eu preciso lhe contar, mesmo correndo o risco de te perder. Eu não quero e não posso mais me esconder de você...

— Então, conte! Mas não estou lhe cobrando nada. Eu não preciso que me conte nada para acreditar que confia em mim.

— O meu filho está vivo, Luíza!

A jovem afastou-se, instintivamente.

— Vivo?

— Sim! Ele não morreu no acidente. Ao invés disso, encontramos Bernardo muito ferido mas vivo. O médico cuidou dele e, ao final de tudo, concluiu que o ferimento na cabeça o deixaria desmemoriado para sempre, praticamente um demente.

— E onde ele está agora?

—Eu não sei..e essa é a desgraça da minha vida...É isso que me trouxe a Belarrosa. Bernanrdo fugiu do sanatório onde vivia e tenho pistas de que tenha vindo pra cá.

— Não vivia com você em São Paulo?

Vitória levantou-se da cama vestindo um peignoir e começou a andar pelo quarto.

— Não...e por isso eu sou uma pessoa mais horrível ainda...O meu orgulho, meu brio, fizeram com que eu escondesse meu filho doente de todos...preferi que pensassem que tivesse morrido a ser ridicularizado, alvo de chacotas...e, a contragosto de meu marido, internei Bernardo num sanatório por todos esses anos, escondido, protegido...

Luíza ouvia a confissão incrédula enquanto acompanhava os passos da condessa. Estava parada, agora, na frente da foto do filho. Não sabia se chorava, não podia ver. E o pior, não sabia o que dizer a ela.

— Todos sabem que há um túmulo do seu filho aqui...

— Mandei que sepultassem um caixão cheio de pedras...e que o padre realizasse a cerimônia.

— Quem mais sabe disso?

— Zilda e Bento. Agora você. Meu marido levou o segredo com ele...

 

Luíza levantou-se, vestiu a camisola e abraçou Vitória pelas costas, beijando-lhe os ombros.

— Eu preciso pensar em tudo que me falou. Mas não me parece sufuciente para afastar-me de você. Principalmente porque vou fazer o que puder para ajudá-la a encontrar Bernardo!

 

As duas se abraçaram em prantos. Luíza sabia que aquela confissão havia sim perturbado sua alma, só não sabia ainda em que intensidade. Teria que pensar, que julgar, se é que lhe cabia fazer isso. Mas, naquele momento, tinha de amparar Vitória. Deitou-se ao seu lado até que dormisse. Depois, recolheu-se ao seu quarto onde poderia estar sozinha e refletir. Sentiu medo de que tudo pudesse se acabar ali, naquela confissão.

 

 

 


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