A mulher do retrato escrita por Lady Town


Capítulo 18
Capítulo 18




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Zilda encontrou a patroa recostada à cama, com um sorriso no rosto, serena, talvez como nunca a tivesse visto.
— Senhora, precisa de alguma coisa?
— Não, Zilda! Pode sair e fechar a porta.
— Então, a menina...
A feição de Vitória transformou-se na hora.
— Não lhe dei confiança para saber do que tratamos aqui, eu e a senhorita Luíza.
— Mas, senhora, sua busca...
— Cale-se, Zilda! Conseguiu me irritar! Saia! Agora!

Vitória aborreceu-se imenso com a intromissão da criada, mas decidiu que nada abalaria um dia que havia começado de forma tão especial. Riu-se sozinha ao perceber que a vida lhe surpreendera. Suspirava como uma mocinha, logo ela, uma mulher tão vivida. Sempre havia se interessado por homens. Outra possibilidade sequer lhe passara pela cabeça e agora se via completamente apaixonada por outra mulher. Ela, uma velha, envolvendo-se com uma menina que tinha idade para ser sua neta...

Todos esses pensamentos lhe ocuparam a mente. Havia gostado dos beijos, do cheiro dela, de abraçar um corpo que não lhe envolvia totalmente, como de um homem, mas ao contrário, que ela dominava. O contato com a pele macia de Luíza, o perfume de seus cabelos...e como era linda e delicada...Estava em êxtase por sentir-se amada depois de tanto tempo. Por mais que a jovem lhe tivesse dado pistas de sua paixão, não ousou imaginar que sentisse algo além de admiração por ela. Uma velha....ou não seria tão velha assim? Os cabelos grisalhos lhe apareceram cedo demais, era verdade, mas pelo menos quarenta anos separavam as duas...Questionou-se do porquê Luíza teria se apaixonado por ela. Depois a experiência lhe lembrou de que nào há explicaçóes para essas coisas. 

E, de repente, lhe veio a lembrança do filho...também ele havia se apaixonado e, entregue a um amor, teve a vida desgraçada....A lembrança de Bernardo fez com que sua manhã se enegrecesse. Decidiu descer à sala depois de longo tempo reclusa em seus pensamentos.

 

Luíza entrou em casa, correndo, carregou Amália no colo e lhe deu um beijo no rosto!

— Mas é outra menina! Não é a que acobertei a saída mais cedo! disse Amália abraçando a menina. - Sua mãe ficou preocupadíssima. Vá! Suba logo e vá falar com ela!

Luíza estava tão feliz que nem lhe ocorreu, no caminho de volta para casa, que tal mudança de humor precisaria ser explicada. Foi necessário que improvisasse:

— Mamãe, vou contar-lhe a verdade!

Consuelo estava aflita mas ao vê-la tão bem disposta novamente, tratou de ouvi-la sem nada dizer.

— Eu insultei a governanta da condessa...e, logicamente, a condessa me pediu que não voltasse mais lá. Foi um grande mal entendido, embora eu só tenha respondido à altura das provocações de dona Zilda...mas o importante é que decidi ir até lá e pedir desculpas, à dona Zilda e à condessa Vitória. E agora está tudo bem!

— E por que escondeu isso de mim? 

— Porque a senhora ficaria muito decepcionada com meu comportamento e minha falta de educação e...

— Eu morri de preocupação que lhe tivessem causado algum mal e era só uma falta de educação? E precisava cair doente por conta disso, oras?

— Mamãe, eu não poderia mais frequentar o casarão...

Consuelo olhava-a atônita e confusa.

— E quando essas condessa for embora para São Paulo? Vai morrer?

No momento, a única resposta que lhe ocorreu é que não poderia aceirtar, depois de tanta devoção, que a condessa pensasse que era uma jovem sem modos. Era uma questão de honra!

Foi para seu quarto após garantir-se de que havia convencido a mãe com tal desculpa. Jogou-se na cama e também ela tinha, agora, motivos suficientes para rir-se sozinha, de sua coragem, petulância, de como o amor a transformara em tão pouco tempo.

Já havia beijado uma vez. Um primo, alguns anos antes. E havia gostado, mesmo não estando apaixonada por ele. Mas o beijo de Vitória era melhor do que jamais havia imaginado. E surpreendia-se por não julgar tão amoral que tivesse beijado uma outra mulher. Sentia que o amor lhe dava tal direito. E ela a amava também...quase não podia acreditar. O que vira nela? Preferiu acreditar que o destino lhe pusera a condessa em seu caminho e que a única coisa a fazer era deixar de questionar-se e amá-la. Somente.


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