Depois da minha pequena discussão com a Brenda, fui ver como Soluço estava para tentar por juízo na cabeça dele; aquele jeito de falar me assustou, deu a impressão de que ele iria fazer alguma besteira. Como sempre, suspeitei que ele pudesse estar na floresta, o procurei durante um tempo até vê-lo sentado na beira de um penhasco, brincando com um lápis de carvão. Sorri por nada e fui até ele quando vi que a Brenda estava indo até lá. – Pelos deuses, essa menina precisa de um hobby!— Fiquei com raiva, óbvio, e decidi tomar uma atitude, mas fui barrada pela sua tropa particular.

— Não se meta. É, vaza daqui, pirralha. – Elas disseram alternando a frase ente si.

— Temos a mesma idade! – Retruquei tentando passar, elas ainda me barravam. – Me deixem passar!

— Não. Deixe a Brenda se divertir um pouco. – De novo, elas alternaram a frase.

Alguma coisa se apossou de mim, dei um empurrão nas duas deixando-as no chão. Nem eu entendi o motivo, eu apenas queria fazer alguma coisa a respeito. Corri que nem uma louca, porém, por algum motivo que eu não sei qual é, fui correndo mais devagar até parar e me escondi atrás de uma pedra.

A conversa dos dois não era nada interessante, a Brenda estava falando muita besteira e Soluço parecia bem incomodado com a presença dela. Nem mesmo eu queria continuar ali, eu já estava torcendo para que o grupinho da Brenda me pegasse. Depois de muito papo-furado, Brenda começou a fazer charminho, tocou no peito do Soluço, se inclinou e o beijou no rosto. – Argh! Que raiva! – Soluço levou um susto e a afastou, – Ai! Que alegria! – depois deu um sermão na garota.

— Mas o que é isso?!— Soluço gritou com muita raiva.

— Eu só estava... – Brenda tentou argumentar, mas foi interrompida.

— Não interessa! Olha, eu tentei ser gentil com você, mas agora chega! Estamos no meio de uma crise, todos estamos preocupados e você... Que se dane, me deixa sozinho!

Brenda se levantou com lágrimas nos olhos e saiu andando, até deu pena, ela parecia estar sofrendo mesmo. Quando tive certeza de que ela já tinha saído de vista, fui para perto de Soluço, sentei me apoiando nele, o Menino-Dragão se virou com cara de bravo, pensando ser a Brenda de novo, mas, quando viu que era eu, conseguiu abrir um sorriso. Deu para observar a distancia entre eu e a Brenda.

— O que exatamente você ouviu? – Soluço perguntou envergonhado.

— Tudo. Fiquei com pena de ela.

— Eu sei, é que... – O olhei esperando uma explicação. Soluço hesitou. – D-deixa pra lá.

Dei de ombros sabendo que ele iria me dizer tudo o que precisava em algum momento.

— Então vamos falar de outras coisas, – Aproveitei a oportunidade. – tipo aquele papo de “Isso não terminou, pai, você ainda vai ver o quanto eu estou certo.”. – Imitei-o de um jeito forçado e exagerado, caprichando na gesticulação e voz anasalada. Soluço riu.

— Ei, eu não falo assim e nem mexo tanto os braços.

— Acabou de mexer, agora mesmo. – Ri e repeti o jeito que ele fez quando tentou retrucar comigo.

— Tá ok, sério agora. – Soluço segurou meus braços de forma delicada para eu parar de mexê-los até deixarmos de rir. – Eu só acho que isso não está certo. Eu deveria fazer alguma coisa contra essa guerra. Será que vai doer no meu pai se tentar conversar?

Percebi que Soluço ficou tenso de novo, coloquei minha mente para trabalhar, só para vê-lo feliz de novo, então tive uma ideia.

— Soluço... Que tal irmos a uma missão secreta, você e eu? – Falei enquanto trançava uma mecha mal feita de cabelo, em seguida beijei-o no rosto. Soluço se virou para mim com um sorriso de contentamento.

Mal eu sabia que estávamos sendo observados.

Brenda estava nos olhando do alto de uma colina com o seu grupinho ao lado. Elas perceberam a diferença no tratamento de Soluço entre uma e outra. 

Brenda estava cheia de ódio, com uma expressão que ninguém nunca tinha visto, entretanto, suas amigas nem se importavam.

— Observa a distância... – Uma das amiguinhas da Brenda provocou a líder.

— O que você vai fazer agora, Brê? – Perguntou outra.

— Paciência, meninas, – Brenda enxugou uma lágrima e forçou um sorriso. – vingança é um prato que se como firo.