Aquele sorriso encantador, olhar inocente, ofuscava toda sua roupa suja e velha. Dentro de uma condução, em um dia de chuva, com sua irmã em seus braços, dormindo, cansada. Aquele brilho no olhar, e o sorriso, ah o sorriso, o garoto que sorria, devia ter oito anos, sua irmãzinha, capotou em seus braços, dormia feito um anjo, mas só Deus sabe o que eles passavam, de dia, ou à noite. O que será que eles faziam quando a noite caía? Para quem eles pediam socorro? E o que as pessoas faziam por eles? Qual o sentido da vida deles? Pelo que eles lutavam? Pela sobrevivência, ou por um prato de comida a cada dia? Aqui, neste nosso mundo, tudo é incerto, e há coisas que passam despercebidas, como a vida dessas ciranças... Que vivem sozinhas, procurando um sentido, um prato, uma família, ou então, algo um pouco mais simples que isso tudo, mas difícil de se achar... A felicidade. Mas o que encantava, era o amor que o garoto sorridente tinha com sua irmãzinha, era como se ela fosse seu bem mais precioso, e que ele tivesse que a proteger. E isso era verdade. Vê-lo ali sentado ao meu lado, lutando contra o frio, o vento forte e os olhares indesejados, me fez repensar toda a minha caminhada de vida... Todos os meus conceitos caíram por terra por alguns segundos, e a compaixão falou mais alto do que um coração tão frio. Era um pena de que eu não tinha como ajudá-los. Não tinha mesmo. E com uma coisa apenas eu ajudei: eu sorri para eles. Eu orei por eles. E acho que isso foi um presente necessário... Por que ás vezes, aquele foi o único sorriso que eles veriam naquele dia. Me perguntava agora para onde iriam aquelas duas crianças? Qual seria o destino deles, o final da história? E bom, há coisas que não podem ser ditas, porque nem o próprio futuro sabe, e tão incerto e indeciso.