Sou melhor com você escrita por Daniel Rodriguez


Capítulo 4
Capítulo 4°




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Sherlock foi sentar-se ao lado dela e passou um braço sobre seus ombros.

— Vai dar tudo certo — prometeu. — Conseguiremos uma licença na segunda-feira, e então poderemos...

Ela o empurrou.

— Sherlock, não vou me casar com você! Será que não entende? Não daria certo.

— O que está dizendo? É claro que vamos nos casar!

— Não há nada de tão óbvio nisso. Você só está fazendo planos para se casar comigo porque estou grávida.

A mandíbula tensa a fez lembrar como ele podia ser teimoso quando tomava uma decisão.

— Não pense que vai me fazer desistir disso, Watson. É tudo muito simples. Está esperando um filho meu, por­tanto, vou me casar com você.

— É exatamente o que estou dizendo. Jamais teria se casado comigo de outra maneira.

— Como pode saber? Talvez tenha voltado justamente para pedi-la em casamento.

Joan riu, mas o som era mais desesperado que divertido.

— Você, me pedir em casamento? Por favor, Sherlock! Com quem pensa que está falando? Nós nos conhecemos bem demais para esse tipo de jogo. Não há nada de errado com minha memória. Você sempre disse que não preten­dia se casar.

— Sim, sei que disse isso há alguns anos.

— Sherlock, discutimos sua postura com relação ao ca­samento na última vez em que esteve aqui, e você disse que não havia mudado de ideia. Deixou claro que não quer nenhum tipo de compromisso, e até comentou como seria injusto esperar que alguém convivesse com essa sua ânsia de liberdade.

— Só repeti uma opinião antiga por força do hábito. Havia dito tudo isso durante tantos anos que... — parou, passando a mão na cabeça. — Essa discussão é ridícula, Joan. Temos de nos ater aos fatos, e o mais importante é que você está grávida. Já confirmamos esse dado atra­vés de um teste, e agora é hora de pensarmos no próximo passo. Casamento.

— Isso é o que você pensa. Tenho pelo menos meia dúzia de opções relativas ao próximo passo, Sherlock. Posso ser mãe solteira, se quiser. Mamãe cuidou de mim e Oren sozi­nha, e sou perfeitamente capaz de fazer o mesmo por esse bebê. Não pode me obrigar a casar. Não estamos na Idade Média, lembra-se? As mulheres adquiriram al­guns direitos nos últimos anos. Não tantos quanto me­recemos, mas alguns.

Holmes suspirou com evidente frustração.

— Joan, deixe de ser teimosa. Sei que a situação é difícil, mas somos adultos e podemos lidar com ela. — Levantou-se, andando de um lado para o outro enquanto pensava numa maneira de persuadi-la.

Joan fechou os olhos e respirou fundo. E pensar que a indisposição estomacal deveria ter sido o pior momento desse dia confuso! As coisas pioravam a cada minuto desde que se levantara para abrir a porta e encontrara Sherlock na soleira!

Por que diabos voltou, afinal? Como se pudesse ler seus pensamentos, ele parou e virou-se.

— Estou feliz por ter voltado. Meu Deus, é assustador pensar que eu poderia ter passado minha vida toda, sem saber que era pai. — Riu, saboreando a última palavra como se experimentasse o novo conceito.

Joan não acreditava no que ouvia, Sherlock estava rindo. A situação mais embaraçosa que viveram juntos e ele estava rindo. Ela tinha pavor do desconhecido. Aprendera ain­da criança que não podia confiar em muita gente. Havia visto a mãe lutar com unhas e dentes pela sobrevivência dos três e isso ficara gravado em sua memória para sem­pre. Por isso não conseguia acreditar que a vida podia ser fácil.

Sim, tinha de admitir que sempre admirara o entu­siasmo de Holmes, e chegara até a invejar sua coragem em algumas ocasiões, como agora, por exemplo.

Holmes cruzou os braços e plantou os pés no chão com firmeza.

— Tem razão — disse. — Não posso obrigá-la a se casar comigo. Está sendo teimosa, mas sei que a novidade da situação a assusta. Por isso voltou a adotar a velha atitude do posso-fazer-tudo-sozinha. Não sei por que ain­da me surpreendo. Você sempre foi assim! Mas de uma coisa quero que tenha certeza, Watson, porque não pretendo mudar de ideia. Não vai enfrentar essa gravidez sozinha, e está acabado. Não pense que...

— Sherlock, por favor, ainda não tive tempo para pensar coisa alguma! Até algumas horas atrás, nem sonhava que pudesse estar grávida!

— Quer dizer que, depois de pensar e refletir com calma, pode mudar de ideia sobre meu pedido de casamento?

— Quem sabe? Talvez decida praticar bungee jump, também. Seriam duas possibilidades bem parecidas. Uma queda livre sem nenhuma garantia de que não vou me arrebentar no chão antes de perceber o que está acontecendo...

— Ei, obrigado pelo voto de confiança! Reconheço que nunca pensei em desempenhar o papel de marido, mas estou disposto a me empenhar na tentativa. Isso tudo é tão novo para mim quanto para você.

Ela levantou-se.

— Vou preparar uma xícara de chá. Quer um pouco?

— Prefiro uma cerveja.

— Desculpe, mas ainda não fiz as compras da semana.

— Oh, então costuma ter cerveja em casa?

— Não. Estava apenas sendo educada. – Joan começou a resmungar “Nem quando sou educada as pessoas valorizam” e foi em direção a cozinha e Holmes a seguiu.

— Precisa de mais alguma coisa? Posso ir às compras para você.

— Não está satisfeito com a faxina? — Ela disparou irritada. — Vejo que terminou de passar o aspirador de pó e tirou a poeira dos móveis.

— Sim, estava ansioso e...

— Ah, cale a boca!

— Isso é maneira de falar com o pai de seu filho? Que tipo de exemplo pretende oferecer? Esperava poder ensinar algumas regras de educação e cortesia ao bebê, mas...

— Sherlock, acho que ainda é cedo para esse tipo de preocupação.

— Talvez, mas li em algum lugar que os bebês podem ouvir algumas coisas quando ainda estão no útero da mãe. Música, sons mais agudos... quer que nosso filho ouça a mãe dizendo coisas rudes ao pai?

Joan encheu a chaleira de água e sorriu.

— Ei, eu vi isso! Você sorriu! Vamos lá, Watson, não precisa ser tão séria o tempo todo.

— Sim, preciso, porque sei que você jamais será sério.

— A vida é importante demais para ser encarada com mau humor. Temos de desfrutá-la, abraçá-la, celebrá-la.

— Mmm-hmm — ela afirmou com a cabeça, prepa­rando a xícara com um saquinho de chá enquanto espe­rava a água ferver.

— Case-se comigo, Joan — ele pediu, deixando-se cair de joelhos. — Por favor, eu imploro. Meu filho está implorando. Não nos torture dessa maneira cruel.

— Acho melhor levantar-se, antes que eu tropece em você.

— Podemos nos divertir muito como marido e mulher. Viajaremos juntos, levaremos o bebê para conhecer novos lugares e sons... pense em todas as coisas que podemos dividir com ele. Ou ela.

— Esse argumento jamais me convencerá a aceitar seu pedido de casamento. — Ela suspirou, levando a xí­cara de chá para a bancada e acomodando-se num dos bancos. — Odeio estragar seus planos, mas alguém teria de ficar em casa para ganhar a vida.

— Ah, então é isso! Pois deixe-me tranquilizá-la, meu bem. — Saiu da cozinha, levando com ele uma grande dose de energia e euforia.

Joan apoiou a cabeça em uma das mãos. Desde que abrira a porta no início da manhã, sentia-se como se houvesse sido colhida por um tornado. Sherlock sempre exer­cera esse efeito.

Mas agora...

Como poderia lidar com alguém tão cheio de energia e vitalidade numa rotina diária? E se o bebê fosse como ele?

Sherlock retornou e jogou um pequeno volume sobre a bancada, diante dela. Um cartão magnético e um talão de cheques presos por um elástico.

— O que é isso?

— Retire o elástico.

— O QUE É ISSO? – ela gritou insistindo.

Ele removeu o elástico e abriu o talão de cheque no último canhoto preenchido.

— Sei que gosta de dinheiro e não irá se casar sem algumas garantias básicas, e por isso estou provando que posso cuidar de você.

Joan leu o valor no canhoto e piscou. Estaria vendo direito?

— De onde veio todo esse...? — Parou, percebendo que a pergunta poderia ser mal interpretada.

— Das investigações com o MI6. Além desse valor depositado em conta corrente, tenho alguns investimen­tos, uma boa poupança e um excelente seguro de vida.

— Não sabia que MI6 pagava tão bem. Parabéns Sherlock Holmes, algo útil!

— Na verdade, não preciso de muito para viver. Estou sempre viajando, e costumo ser econômico com minhas despesas.

De repente via outro aspecto do homem que pensava conhecer tão bem. Fitando-o nos olhos, podia perceber a maturidade sob a aparente jovialidade, e a combinação era quase irresistível.

— Vou pensar — prometeu, esperando ganhar tempo com a resposta evasiva.

— Ótimo! Enquanto pensa, onde posso dormir?

— Que tal na casa da Srta. Hudson?

— Em Bonney Lake? Acho que não. Seria terrível ter de viajar todos os dias até aqui.

— Viajar todos os dias...? O que quer dizer, Sherlock?

— Bem, mesmo que o casamento não aconteça ime­diatamente, preciso estar por perto para cuidar do bebê que está em seu ventre.

— Sou perfeitamente capaz de cuidar de mim mesma. É o que tenho feito durante boa parte de minha vida, lembra-se?

— Sim, e por isso acho que precisa de um descanso. Especialmente agora, quando tem mais alguém para cuidar.

— Não vou vencer essa batalha, não é? — Ela suspirou, olhando para o peito amplo e recordando coisas que, nesse momento, só poderiam prejudicá-la. — A casa só tem dois quartos, e um deles eu transformei em escritório. Vai ter de dormir na sala íntima. O sofá se transforma numa cama bem confortável.

— Ou... posso dormir com você.

— Minha cama é estreita demais. Se não me engano, você mesmo notou esse incômodo em sua última visita.

— Não faz mal. Compraremos uma cama de casal. Iremos a Bonney Lake e traremos as coisas que guardei na casa de Hudson. Depois...

— Não.

— Não o quê?

— Não posso ir a Bonney Lake.

— É claro que pode. Peça uma licença, tire férias, qualquer coisa. Temos de contar aos velhos que...

— Esse é o problema. Não serei capaz de enfrentar srta. Hudson. Ainda não. Não teria coragem de encará-la

— Acha que nos condenariam pelo que aconteceu?

— Não consigo nem imaginar como reagiriam.

— Srta, Hudson ficará tão feliz, que nem pensará em recriminar nossa impetuosidade.

— Impetuosidade? Conheço palavras melhores para descrever o que aconteceu.

— Não na frente do bebê, por favor. Vejo que teremos de cuidar desse seu vocabulário. Não se sente feliz por saber que estarei por perto para ajudá-la a monitorar seu discurso?

— Oh, céus!

Holmes debruçou-se no balcão a fim de encará-la de perto.

— Tudo bem, você venceu.

— Venci... o quê?

— Não precisa ir a Bonney Lake comigo. Embarcarei no voo do final da tarde, passarei a noite na casa de Hudson, alugarei um caminhão para transportar as coisas e...

— Um caminhão? Pelo amor de Deus, não tenho tanto espaço disponível. Que tipo de coisas pretende trazer para cá?

— Meu equipamento de fotos e vídeos, roupas, objetos pes­soais... E estou pensando num caminhão pequeno — ex­plicou, sem desviar os olhos de sua boca. Quando parou de falar, inclinou-se e roçou os lábios nos dela. — Diga que está bem, por favor. Preciso ter certeza.

Joan fechou os olhos, incapaz de sustentar o olhar in­tenso. Quando se deu conta ele já havia contornado o balcão e a tomava nos braços. Agora que o sentia tão perto, era obrigada a admitir que o calor daquele corpo a fazia sentir-se muito bem. Protegida, segura, forte...

— O teste pode falhar — disse, disposta a fazer um último esforço para deter o que quer que estivesse acon­tecendo entre eles.

— Estarei de volta na segunda-feira. Então iremos a um médico e você poderá ter certeza.

— Não acha que devíamos pensar nisso antes de se mudar para cá?

— Quer dizer que só aceitará viver comigo se estiver grávida?

Havia algo estranho em seu tom de voz, alguma coisa que não conseguia identificar.

— Se entendi bem, você só deixou Londres para saber quais haviam sido as consequências daquela noite que passamos juntos. Teria voltado, se eu não estivesse grávida?

— Podemos discutir isso mais tarde. Por enquanto, viveremos juntos nesta casa até você decidir me aceitar como marido. Precisa me tornar um homem honesto, Joan! — Ele brincou.

— Você sempre foi um homem honesto. E honrado. Senão, por que estaria fazendo tudo isso?

— Sim, por quê? — Holmes sorriu antes de beijá-la.

 


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