Dark Souls - A Novelização escrita por EliminatorVenom


Capítulo 3
Capítulo 3 - Santuário de Firelink


Notas iniciais do capítulo

E aí pessoal, como vão?!
Depois de um mês sem atualizar, eu voltei! Eu estava com preguiça e falta de inspiração, mas eu escrevi muito nos últimos dois dias, e aqui estamos nós!
Um problema que percebi em minhas histórias, depois de ler, foi meu problema de descrever o terreno. E claro, a redundância. Eu realmente não consigo corrigir esses erros, mas estou tentando e estudando, para ver se resolvo!
E um agradecimento em especial á Dragonslayer, por ter feito a maravilhosa capa da fanfic! Crédito total á ele!



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O morto-vivo piscou com suas pálpebras ressequidas, enquanto o vento açoitava-lhe o rosto e levava ciscos e mosquitos aos seus olhos vazios constantemente. O pássaro gigantesco voava á velocidades imensas, e montanhas inteiras passavam como que por borrões por ele, enquanto cruzava os céus.

Enquanto as montanhas cobertas de neve passavam por ele, o morto-vivo pensava. Resistir de nada adiantaria, pois aquele corvo era simplesmente forte demais, e mesmo se conseguisse, o corvo o deixaria cair no chão. E daquela altura, aquilo seria fatal. E idiota.

Ele não precisava respirar tanto quanto um humano. Ainda assim, a falta de ar o acometia de vez enquanto, quando uma corrente de ar particularmente forte batia nele. A vertigem já tinha passado, e ele suspeitava que o corvo não o deixaria cair. E mesmo se caísse, o corvo iria buscá-lo. Provavelmente.

Enquanto voava, e as montanhas enevoadas e o Asilo ficavam por trás dele, o morto-vivo pensava. Tentava se lembrar de seu nome. De seu passado. Tinha memórias vagas, embora constantes. Lembrava-se que o Asilo era uma fortaleza quando foi jogado lá. Uma fortaleza decrépita, mas ainda defendida e ativa. Lembrava que tinha sido levado ao asilo através de uma estrada esburacada. Uma estrada ruim, na qual a velha carroça quicava enquanto o guarda que conduzia o cavalo reclamava do frio e dos mortos vivos que carregava. Sua espada ainda estava úmida com o sangue de dois dos mortos-vivos, que subitamente tinham tentado mordê-lo pelas costas. Ele podia estar em uma posição ruim, e ele podia não ser muita coisa com uma lâmina. Mas ele estava encouraçado com ferro surrado e tinha uma arma que cortava carne como manteiga. Os dois mortos-vivos imbecis morreram sem suas cabeças.

Mas não conseguia lembrar-se do próprio nome. Quando você se torna morto-vivo e se é solitário, os nomes vão de pouco á pouco perdendo o sentido, como a sanidade. Mas a sanidade é algo que você tem de lutar para manter. A sanidade vai perdendo o sentido, e isso é perigoso. Se você perder a sanidade, você se torna Vazio. Se tornando Vazio, logo poderá morrer. Para sempre. Ou sua alma será condenada á vagar eternamente pela terra, presa ao corpo insano de uma criatura que é pouca coisa além de um zumbi. Mas o nome, ao contrário da sanidade, não é tão importante. Novos nomes podem ser escolhidos e criados do nada, não podem?

Enquanto vagava pelos seus pensamentos, o branco das montanhas e estradas estreitas foi se tornando um verde escuro, e pinheiros começavam á surgir das encostas férteis, ao contrário das estranhamente áridas terras gélidas do Asilo.

Enquanto o sol se movia preguiçosamente, aproximando-se das duas horas, o verde escuro foi cedendo á um verde cada vez mais claro, e as montanhas se tornaram colinas e vales, e os pinheiros deram lugar á carvalhos, eucaliptos e baobás. A paisagem se tornou mais bonita, mas ainda melancólica, de certo modo. Como um homem que vive sozinho numa cabana no topo de uma montanha, com uma vista maravilhosa ao seu redor, tudo carrega uma doce, mas constante melancolia.

O morto-vivo assistia á mudança quieto, com apenas vago interesse. Porém, algo á frente dele capturou sua atenção. Algo que interrompeu seus pensamentos trágicos.

Uma mancha cinza que surgia do horizonte e crescia cada vez mais á medida que o corvo se aproximava dela em seu vôo, e logo foi possível ver que era uma muralha de pedra cinzenta, gasta e antiga, mas ainda forte. Uma catapulta não faria um só estrago nessa belezinha. Séculos passariam antes da muralha finalmente ceder, mesmo que minimamente.

O corvo cortou o ar como uma flecha, enquanto disparava por cima do muro e fazendo uma curva estreita para a esquerda. Seu agarro não cedeu nem um pouco, mas o morto-vivo temeu pela sua vida por um instante.

O corvo diminuiu a altura do seu vôo, gradualmente. Tão lentamente que o morto-vivo demorou á perceber. E quando percebeu, estavam se aproximando á uma formação de terra á beira de uma montanha, com um Stonehenge de pedra e uma fogueira em seu centro, e uma mureta em suas bordas, como que para impedir que as pessoas caíssem de lá. Ela tinha uma escada encravada na beira da montanha que levava até uma imensa fortaleza de pedra, que parecia uma imensa sombra, antiga e rachada, que encarava a formação de terra ali em baixo, encarando com raiva e medo.

Ele só pôde reparar nisso, quando o corvo mergulhou em um rasante súbito até a formação de terra, passando por cima da mureta, e jogando o morto-vivo no chão de lá.

Ele soltou uma exclamação fraca e caiu de joelhos, e imediatamente sentiu uma dor ardente percorrer suas pernas e pés, embora não tenha sido forte – cortesia do chão de terra e grama -, e ele lentamente se pôs de pé, olhando ao redor, analisando melhor o lugar onde estava.

O lugar era uma ruína, isso ele tinha certeza. Tinha muretas arruinadas de pedra e construções incompletas ou danificadas espalhadas por todo o lugar. Uma construção muito maior – aparentemente um mausoléu ou um templo – podia ser vista diretamente á sua frente. Á seu lado direito, ele via a escada que levava á fortaleza lá em cima. Á sua frente, havia uma Fogueira. Uma fogueira igual aquelas do Asilo.

E ao seu lado esquerdo, viu um banco de pedra, rusticamente entalhado...

E um homem sentado sob ele.

O morto-vivo piscou em surpresa ao vê-lo, e o homem olhou-o. Não com surpresa, mas com leve aborrecimento e diversão.

O morto-vivo instintivamente agarrou o cabo de seu bastão e o seu escudo, mas não os puxou. O homem não parecia hostil. Apenas aborrecido. O morto-vivo hesitantemente largou o cabo do porrete e o escudo, e andou lentamente até o homem, com curiosidade. O homem olhou-o, e falou, com uma voz levemente sarcástica:

— Ah, então você deve ser um novo recém-chegado... Deixe-me adivinhar, você veio por causa do destino, daquela lenda dos mortos-vivos, certo? – O morto-vivo ficou paralisado. O homem conhecia aquela lenda? E mesmo se conhecesse o morto-vivo não fora lá por causa dela. Na verdade, ele nem fora pra lá. Foi o corvo que o levou até aquele lugar, e nem foi ele que pediu. Mas decidiu dizer sim, balançando a cabeça afirmativamente, com hesitação. O homem revirou os olhos. – Bem, você não é o primeiro.

O homem era de estatura média, e tinha pele pálida, olhos azuis e cabelos pretos cortados curtos. Ele tinha um sorrisinho sarcástico, e seu peito, ombros e braços estavam cobertos por uma camisa reluzente de anéis de ferro. Uma cota de malha. Suas calças também eram de cota de malha, com botas de placas de metal fino e luvas grossas de couro. A roupa de um soldado regular, de um soldado de infantaria. Um cinto de couro adornava a sua cintura, e de lá, pendia uma espada longa embainhada, e um escudo estava preso ás suas costas. O homem podia parecer desdenhoso e sarcástico, mas ele tinha experiência de combate. Dava para ver em sua expressão, em seus músculos, em seu porte.

Porém, o homem continuava o encarando com sarcasmo, e prosseguiu:

— Você teria feito melhor se tivesse apodrecido no Asilo Morto-Vivo, mas é tarde demais agora. – Ele suspirou. – Bem, já que está aqui, deixe-me lhe ajudar. Existem, na verdade, dois Sinos do Despertar. Um está lá em cima, na Igreja dos Mortos-Vivos. O outro está muito, muito mais em baixo, nas ruínas da Blighttown... Toque ambos, e alguma coisa acontece. Brilhante, não? Não é muita informação, mas tenho a impressão que isso não vai te parar. Então, vá. É porque você veio para cá, não é? Para essa terra amaldiçoada dos Mortos-Vivos? Hah, há há há há...

Não era. Ele só quisera sair daquele Asilo maldito, e ser livre de uma vez por todas. De certa forma, o corvo tinha ajudado muito. Não fosse por ele, ele provavelmente estaria andando por entre montanhas gélidas, tentando encontrar algum abrigo desesperadamente... Ou morto por bandidos da montanha, por quedas ou por bestas famintas.

Porém, se lembrou do cavaleiro que estava morrendo no asilo. Lembrou-se de algumas de suas últimas palavras.

“Tu que és morto-vivo és escolhido... Em vosso êxodo do Asilo Morto-Vivo, farás peregrinação á terra dos Lordes Antigos... Quando tu tocares o Sino do Despertar, o destino dos morto-vivos serás conhecido”.

Ele morrera na esperança de que o morto-vivo tocasse os sinos. E se não fosse por ele, o morto-vivo ainda estaria preso naquele asilo. Decidiu que devia pelo menos isso á ele.

O cavaleiro que estava sentado logo á frente dele olhou para o resto dele com mais atenção e fez uma careta de desgosto.

— Ah, seu rosto! Você é praticamente Vazio!  Mas quem sabe... – Novamente, seus lábios se curvaram em um sorriso malicioso. – Ser Vazio poderia resolver alguns problemas!

Era verdade. A aparência do morto-vivo era praticamente á de um Vazio. Só era possível ver que não era morto-vivo por causa de seus olhos, que eram negros em vez de brancos, e que ele andava e agia de modo controlado. Ele perguntou:

— Como... Como posso restaurar minha humanidade?

A humanidade era um dos maiores mistérios da alma e dos espíritos de todos os seres vivos e não-vivos. Na sua forma visível ela parecia uma pequena forma humanóide, completamente negra e fluida. Porém, ela estava dentro de cada ser humano, e um pouco dela estava dentro de cada besta, e muitas delas estavam dentro de certos seres. Demônios, santos, Guardiões das Fogueiras, todos tem quantidades extremas de humanidade dentro deles. Sua função natural era um mistério, embora mortos-vivos pudessem usá-la para restaurar sua aparência humana, e dizem que até mesmo a insanidade de um morto-vivo Vazio podia ser curada com humanidade, embora fosse algo impossível, pois era um processo que tinha de ser feito pelo usuário, e eles não tinham inteligência o suficiente para fazê-lo.

A humanidade também ajudava em vários outros aspectos, embora a volta da aparência humana fosse o mais óbvio.

— Hm, o quê? Restaurar sua humanidade? – O cavaleiro olhou-o, com um misto de diversão e intriga. – Bem, existem alguns jeitos de você fazer isso... Colete de pouco á pouco de cadáveres, ou você pode subornar um clérigo, e ser purificado por ele. E o jeito mais rápido, embora eu nunca fosse fazê-lo, é matando um morto-vivo saudável, e roubar a sua humanidade. Mas roubar o seu vizinho é apenas humano, no final das contas! Hah, há há há!

Porém, ao perceber que o morto-vivo continuava o olhando, os olhos do cavaleiro se estreitaram.

— Para o quê você está olhando? Não tente nada de esperto. Você vai se arrepender se tentar.

— Não quero roubar sua humanidade. – O morto-vivo grunhiu. – Mas preciso de mais informação.

— O quê? Você quer ouvir mais? Ah, isso é tudo que precisávamos... Outra alma inquisitiva. – Ele grunhiu, com leve frustração. – Bem, então me escute com atenção... Um dos sinos está lá em cima na Igreja dos Mortos-Vivos, mas o elevador está quebrado. Você vai ter que subir as escadas pelas ruínas, e acessar a Fortaleza dos Mortos-Vivos através do canal. O outro está muito mais embaixo da Fortaleza dos Mortos-Vivos, nas ruínas infestadas de pragas de Blighttown. Mas eu prefiro morrer a voltar á pisar naquela fossa. Hah, há há há!

O morto-vivo continuou encarando-o, e o cavaleiro se irritou:

— Mas que inferno, o que foi agora? Você pergunta coisas demais.

Decidiu que ele não tinha mais nada á lhe contar.

Ele deu as costas ao cavaleiro, e caminhou até a fogueira no centro daquilo tudo.

O morto-vivo se sentou por perto da fogueira, e sentiu o calor reconfortante o envolver. O calor pareceu queimar o seu cansaço, fechar seus ferimentos, revigorar a sua alma. Ao reparar no estranho líquido dourado que escorria da fogueira, ele pegou os frascos de Estus que estavam vazios e começou enchê-los com o líquido. O líquido era o Estus, a bebida favorita dos mortos-vivos.

Após alguns minutos, apenas descansando, ele se pôs de pé novamente. Ele olhou para a construção arruinada na frente dele, sem dúvidas alguma espécie de santuário.

Havia duas escadas de pedra, uma na esquerda e outra na direita. O morto-vivo escolheu ir pela a da direita.

Os degraus eram de pedra rachada, com musgo saindo por entre as fendas e rachaduras. Levou á uma inclinação de terra levemente acima da anterior, e ele encontrou três portais de pedra, um na esquerda, outro no “meio” (Tecnicamente também á sua esquerda) e outro a direita. Ele andou pelo o da direita, e encontrou um cadáver ressequido.

Desconfiado, se aproximou do cadáver lentamente, e viu que segurava algo brilhante, branco em suas mãos, que estavam em concha.

Ao ver que era aquele fogo branco que também vira no asilo, logo o recolheu e fechou sua mão sob ele, e novamente teve aquela sensação de algo entrando em seu corpo, sua essência.

Saiu do arco da direita, e logo rumou ao do meio.

Quando entrou lá, se deparou com outra coisa inesperada. Era um pátio suntuoso, embora antigo. Era feito de tijolos de pedra, e musgo e grama cresciam por entre as rachaduras e entre os tijolos. O pátio era sustentado por antigos pilares também cheios de musgo. O pátio tinha, como única decoração, vários potes de cerâmica manchada pelo tempo espalhados pelos fundos do pátio. Perto da sua extrema direita, havia uma escada que levava para cima. Mas não foram esses detalhes que lhe chamaram a atenção. O que lhe chamou atenção foi a figura que estava de pé, perto dos vasos de cerâmica. Outra pessoa.

Era um homem pálido de porte médio, mas gordo e de braços musculosos. Ele tinha olhos castanhos e cabelos louros cortados curtos, em um estilo de monge, fazendo um anel perfeitamente circular de cabelos louros que nasciam do topo da cabeça até ás orelhas. Ele estava trajado com vestes robustas de couro, com proteções de couro endurecido ao redor do pescoço e dos ombros. Suas calças eram de couro, mas revestidas por várias placas de metal, e também tinha botas imensas de couro, e manoplas de couro reforçadas por rebites de ferro. Ele segurava um bastão com uma esfera cheia de espigões em uma mão, e na outra, um escudo de metal intricado, vermelho e azul, com detalhes e um símbolo de um leão dourados. Ele era, aparentemente, um monge.

O morto-vivo andou até ele cautelosamente, e o monge o olhou, com leve arrogância e curiosidade.

— Olá. Creio que nós não nos conhecemos, não? Pois bem, meu nome é Petrus, de Thorolund. Você tem negócios conosco?

Thorolund era uma terra famosa por seus monges, criação de paladinos e criadores de milagres. Com certeza, ao falar “conosco”, deveria ter se referido ao Caminho Branco, o caminho da luz. A religião da qual todos os monges de Thorolund faziam parte.

O morto-vivo negou com a cabeça, encarando o monge com interesse. Que diabos um monge estaria fazendo naquele lugar?

— Se não, então prefiro manter a distância, se possível. – O monge virou a cabeça, como se o morto-vivo cheirasse mal. E cheirava, mas ele fizera aquilo não por causa do cheiro repulsivo, e sim por estar dispensando-o.

O morto-vivo franziu a testa e deu um passo na direção do monge, que o olhou novamente. A expressão não era de desagrado, mas de levíssima curiosidade e serenidade, como a expressão de antes.

— Pelo o que eu me lembre, eu pedi para que mantivéssemos a distância. Mas também quero que saiba que não quero que interprete isso mal. Aqui, tome um presente pela paz. – O monge enfiou a mão enluvada por entre as dobras da sua armadura que agiam como bolsos, e agarrou um pequeno objeto circular que brilhava á luz do sol. O monge a estendeu, e o morto-vivo viu que era uma moeda de cobre. Esse tipo de moeda servia como transação e economia no mundo fora de Lordran, e normalmente, pessoas que vinham de fora carregavam estas consigo, para aliviar a saudade que sentiam de suas terras natais. Porém, em Lordran, elas eram pouco mais do que decoração, sendo que a economia de Lordran eram almas. Almas roubadas de mortos-vivos e bestas mortas, que podiam ser usadas para uma variedade de coisas. Desde remendar equipamentos á dar dons mágicos, as almas eram a fundação de tudo em Lordran.

O morto-vivo hesitou, e o monge estendeu a mão ainda mais.

— Não se preocupe, pode pegar. É para você.

O morto-vivo estendeu a mão rasgada, e após um leve instante de hesitação, fechou seus dedos sobre a moeda na mão do monge, pegando-a.

Ele olhou para a moeda brevemente, antes de apertá-la firmemente. Quando abriu a mão, ela havia sumido. Ela havia ido para o mesmo lugar onde as almas e as humanidades absorvidas eram guardadas. Um plano etéreo, uma dimensão de bolso. Um lugar para se guardar as coisas.

Porém, ao contrário das almas e da humanidade, a moeda tinha peso, e mesmo em outra dimensão, o morto-vivo sentia o seu peso. Levíssimo e quase imperceptível, mas existente.

O morto-vivo olhou-o, então simplesmente abanou com a cabeça para se despedir do monge, e então, só por curiosidade, subiu as escadas de pedra.

Elas levavam á outro lance de escadas, erguidas sobre placas de pedra, que por sua vez, levavam á um lugar plano, de grama, e uma estranha construção de pedra, com interior de tijolos negros.

O morto-vivo foi inspecionar o lugar, e descobriu que essa construção não tinha chão. Havia apenas um grande buraco onde devia estar o solo. E correntes antigas com apenas leves sinais de ferrugem surgiam das paredes como veias metálicas, levando para algum lugar lá em cima.

Então, se lembrou das palavras daquele cavaleiro sarcástico.

“Um dos sinos está lá em cima na Igreja dos Mortos-Vivos, mas o elevador está quebrado”.

Então, aquele era o elevador! Isso explicava as correntes na parede. Deviam servir para puxá-lo.

O morto-vivo olhou por dentro do buraco com cautela para não cair, e então viu que não era muito fundo. Podia parecer burrice, mas parecia haver luz lá dentro, como se a luz do sol também entrasse naquele buraco obscuro.

Hesitantemente, ele se curvou um pouco mais para observar, e ao fazer isso, ele escorregou.

Instantaneamente, ele tentou se agarrar á qualquer coisa. Não conseguira agarrar as correntes, e a borda daquele lugar estava escorregadia com o orvalho das plantas. E então, caiu.

A queda nem fora dura. O morto-vivo conseguiu cair de joelhos, e ao olhar para cima, viu que nem caíra de um lugar exatamente alto. Mas ainda estava fora do alcance dele.

Mas ele havia deduzido corretamente ao dizer que a luz do sol entrava naquele lugar. Havia um lago portal que levava á uma clareira pequena e segura, com um grande pilar de pedra no centro, manchado por séculos de musgo e rachado pelas intempéries. Ao atravessar o portal, percebeu outra coisa.

Baús de madeira velha se assentavam confortavelmente contra as paredes de terra que envolviam a clareira, e o morto-vivo decidiu checá-los. Afinal, baús costumavam conter coisas úteis.

Ao caminhar ao primeiro baú, ele se curvou e destrancou-o, puxando o antigo ferrolho de metal que o trancava. Ao abri-lo, viu um estranho talismã de pano esfarrapado, que vagamente parecia um humano. Bem vagamente.

E era apenas isso. Um talismã. Um método de evocar milagres, magias relacionadas ao poder dos deuses e das forças sagradas. O morto-vivo não conhecia nenhum milagre, portanto, aquilo tinha nenhuma utilidade á ele.

Por enquanto.

Guardou-o junto ás suas almas, e abriu o outro baú. O conteúdo dele foi mais bem-vindo. Uma estrela-da-manhã, um tipo de porrete que era composto de um longo cabo de madeira, com uma bola de ferro no final deste, cheio de pregos pontiagudos para ferir os adversários. Era mais pesado que seu bastão, claro, mas sua potência e eficiência em combate (Mesmo contra inimigos de armadura) o faziam ser uma melhor escolha, aos olhos do morto-vivo pelo menos.

Após guardar o próprio bastão em sua dimensão de bolso e favorecer a estrela-da-manhã sobre ele, foi ao último baú. Perto dele, havia uma fenda da qual ele poderia passar sem problemas. O morto-vivo observou através desta, e vislumbrou uma terra de grama apodrecida, de árvores retorcidas e lápides. Ossos estavam espalhados pelo local, resquícios daqueles que haviam morrido.

Um cemitério.

O morto-vivo tremeu levemente, antes de abrir o último baú. O seu conteúdo foi o que mais lhe impressionou.

Uma quantidade de medalhões de bronze, com pingentes largos e circulares que haviam orbes brancos por dentro dos aros metálicos. Medalhões de Lloyd.

Os mortos-vivos eram criaturas malditas nas terras fora de Lordran, e os cavaleiros de Lloyd eram ávidos caçadores de mortos-vivos. Eles costumavam carregar esses medalhões que, quando quebrados, misteriosamente negavam os efeitos de Estus. Morto-vivos não eram mais curados pela bebida, e podiam ser derrotados com maior facilidade graças á isso.

Ele prendeu um desses amuletos ao redor do pulso, para poder utilizá-lo mais rápido num caso de emergência, e guardou o resto em sua dimensão interior.

Olhou de novo para o cemitério, para o buraco por entre as paredes de terra. Ele caminhou até ela, mas no primeiro passo, foi um erro óbvio.

Seu pé deslizou pelo barro macio, coberto por grama úmida, levando seu corpo junto com este. Ele grunhiu, quando caiu e rolou por uma pequena ladeira úmida, caindo nas placas de pedra que serviam de estrada no cemitério, cortando o solo apodrecido, passando por entre as lápides.

O morto-vivo se pôs de pé, batendo no braço para se livrar de um amontoado de barro, e enquanto fazia isso, escutava sons estranhos de coisas estalando, se movendo e batendo umas contra as outras.

Imediatamente, ele sacou sua maça e escudo e virou-se. E o que viu não lhe agradara nem um pouco.

Os ossos que vira estavam se re-formando e erguendo-se. Ossos dos pés e pernas se conectaram e se ergueram, e logo o resto do corpo veio. Pélvis, espinha dorsal, costelas, ombros, braços e mãos que seguravam espadas curvas e pequenos escudos. Essas mesmas mãos que seguravam armas tateavam pelo solo, em busca do crânio, que logo era colocado por entre os ombros. As órbitas, outrora vazias, agora brilhavam com malignidade branca, um resquício das almas que já tiveram.

Eram apenas dois esqueletos, mas esqueletos eram oponentes terríveis. Ágeis, espertos e praticantes da estratégia de “morte por mil cortes”, eles matariam o morto-vivo. Devagar e gradualmente, mas o matariam.

Se ele não fizesse nada, é claro.

O primeiro esqueleto saltou até ele de súbito, balançando a espada em um largo arco diagonal, mas o morto-vivo estava preparado. O escudo foi erguido, e com um movimento ágil, o morto-vivo estapeou a espada para fora do alcance de seu corpo, fazendo o esqueleto hesitar, o que deu uma margem de tempo para o morto-vivo golpear-lhe as costelas usando a esfera espigada, desmontando o esqueleto como blocos de montar nas mãos de crianças.

O segundo viu o que ocorrera ao seu companheiro, e ergueu o escudo, mais cauteloso. Porém, o outro esqueleto já começava á se erguer novamente, com suas peças se erguendo no ar e remontando-o. O jeito era fazer com que não pudesse se regenerar de nada.

Seguindo essa linha de pensamento, o morto-vivo ergueu a estrela-da-manhã e desceu-a com brutalidade sobre os restos do esqueleto, partindo os ossos já velhos em lascas brancas, e com mais um golpe, reduziu alguns ossos á pó puro.

Porém, o outro já avançara, e desferiu um corte vertical com a espada, que traçou uma linha vermelha nas costelas do morto-vivo.

Imediatamente, a dor ardeu na lateral de seu corpo. O morto-vivo grunhiu e girou, golpeando com a maça. O esqueleto pulou para trás, evitando o esmagador balanço da maça. O morto-vivo avançou novamente, golpeando de cima para baixo, mas o esqueleto bloqueava com o pequeno escudo, que rachava sobre a pressão incrível dos golpes do morto-vivo. Ele retaliava com cortes pequenos e golpes rápidos, mas o morto-vivo não era idiota. Passou á defensiva, e assim que o esqueleto atacou, ele deu um passo ao lado, enquanto deixava a maça fluir em sua mão, chocando-se contra o crânio do esqueleto e rachando-o. Isso fez a criatura parar por um segundo, registrando a dor nos resquícios de sua alma, e o morto-vivo chutou-o, o desmontando.

Então passou á golpeá-lo com a maça como se faz com um bloco de pedra, com uma picareta. A estrela-da-manhã subia e descia, subia e descia, até que não restasse nada á mais do qual o esqueleto poderia se regenerar.

Ele ficou lá, arfando por alguns segundos, sentindo-se vitorioso. Então enxugou os cabelos úmidos com o suor de sua testa, antes de olhar ao redor. De um lado, viu um caminho que levava mais profundamente pelo cemitério, e outro que o levava até uma escada.

Obviamente, foi pela escada, e após subir os velhos degraus de pedra, percebeu que o lugar estava cheio de água. Devia ter sido uma espécie de casa de banho ou piscina, no passado.

Ao sair da construção, percebeu uma coisa. Era um dos edifícios daquele santuário! Vejam só!

Ele voltou para a fogueira e descansou um pouco, fechando seus cortes e dissipando seu cansaço, antes de se erguer e desta vez, descer a escada perto do poço.

Ao descer os degraus de pedra, percebeu que ainda teria uma longa subida pela frente. O morto-vivo resignou-se á subir a encosta da montanha, sentindo a grama acariciando a sola de seus pés enquanto andava até chegar á uma área mais larga, com outra escadaria na encosta da montanha, que levava á um lugar mais próximo ao imenso canal.

Porém, como sempre, ele não podia ter um caminho fácil. Sempre tinha que ter alguém querendo matá-lo no meio do caminho.

Esse alguém era um morto-vivo Vazio – um zumbi, digamos assim – que empunhava uma espada terrivelmente quebrada, um escudo tão cheio de buracos que podia servir de peneira, e uma armadura terrivelmente velha, feita de couro apodrecido e cota de malha incrivelmente corroída. Em vez de calças ou algum tipo de vestimenta plausível, ele trajava restos do que devia ter sido um saiote de combate. Suas sandálias estavam parcialmente desintegradas, com a maior parte do pé exposta. Seu capacete de ferro rachado cobria sua cabeça.

Um guerreiro morto-vivo. Mais fraco do que o soldado que encontrara mais cedo, mas ainda mais forte daqueles mortos-vivos seminus que viviam no Asilo.

O morto-vivo caminhou até o zumbi, que se virou vagamente interessado no morto-vivo. Mas ao reparar em sua presença, os olhos do zumbi se ascenderam com um brilho assassino, enquanto erguia a espada para golpear o morto-vivo.

Mas este estava preparado. Já empunhando sua maça, ele se esquivou do golpe da espada, passando por baixo do atacante, enquanto erguia a bola espinhada para atingir o zumbi.

Normalmente, tentar perfurar alguém com uma maça era uma decisão idiota. Mesmo aquelas com espigões raramente podiam fazer muita coisa além de abrir um ferimento superficial. Mas esse não era o caso da estrela da manhã. Basicamente um ouriço do mar de metal, ela atravessou a carne fraca que recobria o estômago do zumbi, rompeu o estômago e quebrou-lhe a espinha, passando através das suas costas.

O zumbi soltou um grunhido fraco, antes de desabar no chão, morto. O morto-vivo puxou a maça ensanguentada, e reparou que, do lado da escadaria, havia um soldado morto-vivo. Encouraçado por ferro, ele já caminhava na direção do morto-vivo, com a espada em punho.

O morto-vivo correu até ele, também preparado para atacar. O soldado zumbi cortou o ar com um golpe horizontal, que foi parado e desviado pelo escudo de tábuas do morto-vivo. Com a arma inutilizada momentaneamente, o zumbi só teve tempo de olhar na face enrugada do morto-vivo antes que este o chutasse da borda da fina passagem, o jogando para a imensidão abaixo de montes de pedra escarpados. Era uma queda de várias centenas de metros. Não tinha como ele sobreviver aquilo.

Um som que lembrava o de vidro estourando e de fogo queimando algo surgiu acima dele, e o morto-vivo se virou e ergueu a cabeça, para ver a explosão de chamas que ocorrera na escada, bem próximo dele. Brasas quentes caíram sobre seu ombro, que foram logo empurradas pela mão raquítica do morto-vivo.

Ele saiu daquela fina passagem e começou á subir a escada, onde finalmente viu quem tentara explodi-lo: Um guerreiro morto-vivo, que segurava uma espada quebrada em uma mão e pequenos objetos esféricos em sua mão, aparentemente feitos de barro e pano. O morto-vivo correu até ele.

Ele teria morrido, se não tivesse percebido o movimento súbito.

O morto-vivo estancou de súbito quando percebeu o vulto saltando no ar, e rapidamente deu passos para trás quando o machado se abateu exatamente onde estivera antes, rachando o degrau de pedra e jogando pequenas lascas para todo o lado.

O guerreiro em questão agora tentava erguer a massa de ferro negro que era o machado, tentando retirá-lo do chão. O morto-vivo tomou isso como oportunidade, e deu um potente golpe de maça, bem na nuca do zumbi opositor. Ele nem teve tempo de falar, simplesmente caiu morto, com o cérebro e a parte de trás do crânio tendo sido transformados em um sangrento mingau roxo-avermelhado com lascas brancas.

Ele passou pelo corpo do zumbi, abaixando-se da bomba que foi atirada nele. Ele reparou que outro guerreiro morto-vivo descia da pequena escada de pedra do local, que levava diretamente ao canal. Então, resolveu apressar as coisas.

O zumbi bombardeador ergueu a espada para golpeá-lo, mas o morto-vivo o atingiu com a maça, abrindo feios cortes em seu rosto e transformando um dos seus olhos em uma papa branco-amarelada, fazendo-o hesitar, e o morto-vivo simplesmente repetiu o que havia feito ao soldado morto-vivo lá em baixo: O chutou para o imenso vazio abaixo.

Então se virou, e correu para atacar o outro guerreiro, agitando a estrela-da-manhã em um arco brutal. O guerreiro reagiu bem á tempo de erguer o escudo.

Lascas de madeira voaram para todo o lado enquanto o guerreiro deslizava para trás pela força bruta do impacto. O morto-vivo tremeu, mas logo se recompôs, e avançou novamente. Seu golpe desta vez explodiu o joelho do pobre guerreiro, que caiu no chão, grunhindo de dor, e o morto-vivo o executou com mais um golpe.

Ele se virou para a escada, arfando com o esforço, e subiu-a, chegando á uma fina passarela de pedra, com um cadáver ressequido no final (O que era irônico, considerando que estavam num canal), e um arco bem á sua frente, que levava para o interior do canal.

Decidiu não perder mais tempo do lado de fora, e então adentrou o canal.

A primeira coisa que percebeu era que o lugar fedia. Não o fedor de esgoto, mas sim o fedor doce de decomposição e morte, o cheiro de fungos e bactérias devoradoras de carne.

E o cheiro de algo que devorava carne.

Ele buscou a fonte do cheiro, e viu do seu lado esquerdo um imenso e gordo rato. Suas costas estavam cheias de pústulas brancas, pulsando com pus e doenças. Boa parte de sua carne estava purulenta e coberta por feridas de doenças. Uma mordida daquele bicho era provavelmente mais mortal do que um golpe de espada.

O morto-vivo caminhou até ele, e o rato se virou, com seus olhos vazios irradiando malícia. O morto-vivo não deu tempo para a criatura pensar – se pudesse pensar – apenas saltando e desferindo um golpe brutal que lhe rachou a cabeça. Aquilo provavelmente fora um ato misericordioso, considerando como o rato estava.

Mas ele não fora a fonte daquele cheiro horrível. A fonte vinha daquilo que ele estava prestando atenção antes.

Um cadáver semi devorado, pálido com sua falta de sangue, meio apodrecido. O rato estivera se banqueteando daquele corpo quando o morto-vivo chegara ali. Isso apenas o fez se certificar de que NÃO queria beber a água daquele lugar. Não que precisasse.

O cadáver estava recostado contra uma grade de ferro, então era impossível acessar o outro lado do canal. O jeito era ir do outro lado.

Enquanto caminhava pela água esverdeada do canal, percebeu um arco na parede, do qual vinha luz. Um portal para o lado de fora?

A questão foi respondida assim que chegou lá, e de forma positiva. Aquele portal dava de cara com uma escadaria de pedra que, ao ser subida, levou o morto-vivo á um pátio de pedra, com dois guerreiros mortos-vivos andando de um lado para o outro.

Assim que chegou lá, os dois mortos-vivos se viraram em sua direção, e eles começaram á correr até ele. O morto-vivo decidiu derrotá-los rapidamente, para não ficar em uma posição desfavorável.

O primeiro logo saltou até ele e desferiu um rápido golpe de espada, bloqueado pelo escudo de madeira. O segundo veio atrás, tentando perfurá-lo com a lâmina, mas o morto-vivo dançou e balançou a estrela-da-manhã, estourando a face do primeiro zumbi em uma névoa de sangue, pus e lascas de osso. O segundo começou á se virar, com o escudo já erguido, e a estrela-da-manhã nas mãos do morto-vivo fez jus ao seu nome, caindo como um cometa sob o frágil escudo do zumbi, partindo-o em dois com um brutal impacto.

O zumbi em questão caiu de joelhos pela pura força do ataque, e o morto-vivo o abateu com um último golpe. Quando o cadáver caiu no chão, o morto-vivo viu que havia uma pequena ponte apodrecida, mas sólida, levava á esquerda.

Caminhou até ela, e novamente, seus reflexos inatos o alarmaram. Ao virar a cabeça, se deparou com um grupo de guerreiros zumbis. Um empunhava uma espada e bombas, e outro empunhava um grande machado. De uma das construções do outro pátio, veio outro guerreiro, armado com uma espada quebrada e um escudo antigo.

O de machado pulou em sua direção e desceu a imensa lâmina no chão com tamanha força que este se cravou na pedra, forçando o morto-vivo á recuar, e por cima deste, uma bomba de cerâmica assobiou pelo ar, fazendo o morto-vivo pular para trás e cair sobre uma pilha de barris, que se quebraram sob seu peso. O estrondo da pequena, mas chamejante explosão o fez imaginar o que teria acontecido com ele se tivesse permanecido no lugar.

Ao começar á se levantar, percebeu que a pilha de barris escondia uma passagem, para um estreito corredor de madeira e pedra que o levaria até uma construção antiga, provavelmente um lugar mais cômodo do que aquele em que estava agora.

Ele escutou outra bomba assobiando pelo ar, e sem pensar duas vezes, rolou para o corredor.

A queda foi curta e só um pouco dolorida, e assim que atingiu o chão de madeira esverdeada, as chamas eclodiram onde ele estava antes.

Pôs-se de pé, agradecendo aos deuses pela sua sorte. Então ele olhou para o corredor adiante, e seguiu á frente. Se ficasse ali, naquele corredor de madeira, uma bomba de chamas poderia ocasionar no seu triste e prematuro fim.

Ele seguiu em frente, e quando as sombras das construções acima cessaram, ele se viu perto de um pequeno pátio de pedra. Ele já estava para correr para lá, quando percebeu coisas róseas, como vermes, apertadas firmemente na madeira.

Com um sobressalto, o morto-vivo ergueu a maça e golpeou as raquíticas mãos da plataforma, e o zumbi caiu da ponte, grunhindo de dor, até o infinito abaixo dele.

Os zumbis começaram á subir dos encostos da ponte. Eram zumbis iguais aqueles do asilo. Seminus, agitando lâminas que já perderam o seu uso com insanidade, de olhares vagos. Os zumbis comuns.

O morto-vivo conseguiu empurrar um que já estava de joelhos sobre a borda da ponte, o jogando para a morte quebradiça do fundo do penhasco que se situava logo além. Os outros zumbis, dois no total, começaram á andar até sua direção. O morto-vivo ergueu seu escudo e andou em igual velocidade, e o primeiro zumbi pulou de súbito, em velocidades altas, e desferiu um pesado golpe contra o escudo. Ele fez o morto-vivo tremer, mas ele contra-atacou, chutando o opositor Vazio e golpeando seu peito com a maça, o fazendo se afastar, com graves ferimentos em seu pulmão e peito.

O segundo desferiu uma onda de golpes, sem cessar, e o morto-vivo simplesmente esperou ele acabar sua onda assassina, antes de bater o escudo em sua cara e golpeá-lo com a maça, derrubando-o.

O primeiro tentou atacar novamente, mas o morto-vivo se abaixou e bateu o escudo em sua barriga e o ergueu, erguendo o próprio zumbi ao mesmo tempo. Ele exclamou em surpresa, antes do morto-vivo jogá-lo da borda da ponte. Ele morreu sem nem entender o que havia acontecido.

O morto-vivo olhou ao redor, mas viu que não havia mais inimigos, e então, ele adentrou a construção. Não antes de revistar um cadáver que repousava do lado de fora, mas só encontrou lixo e coisas inúteis, e decidiu deixá-las com ele.

A construção era velha e arrebentada, com potes de cerâmica sendo a única mobília daquele lugar, e uma escadaria que levava para cima.

Ele averiguou o lugar, mas não havia nada de notável por lá. Ele subiu as escadas, e chegou á uma mureta de pedra, que levava exatamente ao mesmo pátio do amigo incendiário e seus comparsas! Vejam só!

Ele caminhou pela mureta até achar um lugar por onde podia passar, e com um único salto, pulou da mureta até o pátio, e voltou para a pequena ponte, correndo á passos largos.

O zumbi de machado se virou de súbito ao vê-lo e começou á erguer o imenso instrumento de morte, mas o morto-vivo o empurrou da ponte, o jogando para o vazio. Quando a bomba foi atirada até ele, o morto-vivo rolou por baixo dela, parando bem na frente do bombardeador.

Por um momento, se encararam, e então o morto-vivo ergueu sua maça, o atingindo com imensa brutalidade no queixo.

O pátio em que estavam agora não tinha nenhuma “parede” no espaço entre as duas construções da esquerda e da direita, e o golpe, além de rachar o crânio do pobre Vazio, o jogou no mundo abaixo, também.

O morto-vivo arfou triunfante, até que uma mão gélida correu pela sua espinha.

O outro zumbi.

Ele sentiu algo duro, frio e áspero atravessar suas cortas, passando pelo rim e emergindo do outro lado. Uma dor atroz incendiou sua barriga, o fazendo cair de joelhos, onde foi chutado na base do pescoço pelo zumbi.

Ele rolou, manchando o piso de vermelho, e chutou o zumbi no peito, o empurrando para trás. O morto-vivo se ergueu, trêmulo, e esperou o outro morto-vivo avançar.

O outro golpe de espada passou rente ao pescoço do morto-vivo, que então chutou a barriga do zumbi novamente, o fazendo se curvar, e seu crânio foi esmigalhado pelo golpe de maça do morto-vivo.

Ele desabou, enfim morto, e o morto-vivo grunhiu de dor, sentindo o sangue fluir de sua ferida aberta. Aquilo cicatrizaria rápido graças á sua natureza de morto-vivo, mas ainda era um ferimento muito incômodo, e perda de sangue nunca era algo bom.

Ele pegou um de seus frascos de Estus e o bebeu, sentindo o líquido dourado e grosso passar pela sua garganta e para a sua corrente sanguínea, revitalizando o seu corpo e fechando os ferimentos.

Os órgãos se fecharam, os ferimentos se costuraram, e a dor diminuiu. Ele se sentia com vigor o suficiente para lutar de novo.

Ele virou a cabeça para os dois lados, e viu um portal branco, de névoa densa do lado direito. Aquela mesma névoa que havia aparecido antes da sua luta contra o Demônio do Asilo e quando fora acessar o nível superior do asilo.

Ele respirou profundamente, fechou os olhos, e cruzou a névoa.


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Notas finais do capítulo

O que será que aguarda além do portal da névoa? Será que o morto-vivo enfrentará um novo inimigo, maior e mais temível do que o Demônio do Asilo? Será que encontrará aliados? Ou será que a morte o aguarda?
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E aí, o que acharam?
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