Chlöe e o segundo lado escrita por Thay


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Algumas vezes dizem que nossos maiores medos são frutos de nossas mentes incompletas e intemperantes... Talvez algum dia entendamos o que tudo isso tem a ver conosco. Espero que apreciem um pouco da minha intemperança. Boa leitura!



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Bibury, 50km de Oxford, Inglaterra.

Dezembro de 1876

A pálida garotinha de cabelos negros olhava para seus sapatos ocres cobertos pela neve próspera e fina, e tentava, de forma falha, afastá-la de seus calçados. Estava frio, realmente frio. Os ventos gélidos que vinham do Norte traziam consigo melancólicos meios tons estridentes, a aldeia estava serena e o cair da noite, próximo.

A pequena Chlöe vagava pela rua principal do vilarejo e observava as lamparinas serem acesas pelos aldeões. Homens voltavam de seus trabalhos, traziam consigo a lenha, a caça e a coleta, feita nos campos para além da cerca. Algumas mulheres seguravam trouxas de roupas, sorriam e chamavam as crianças para o banho, estas, por sua vez, brincavam de esconde-esconde na clareira do bosque, perto dos pequenos dois balanços feitos pelo Sr. Elliot, o ferreiro da vila, balanços os quais, a Chlöe de sete anos se dirigia, sem pressa.

A garota sentou-se no balanço da esquerda e segurou com suas pequenas mãos as correntes de ferro, estavam úmidas e bastante frias, ela lembrou-se da mãe e das luvas, as quais ela deveria ter colocado, todavia , ela nunca escutava a mãe, na verdade, ela não escutava ninguém de fato. Chlöe impulsionou o balanço para trás a fim de conseguir o movimento desejado, dessa forma entrou no ciclo do vai e vem que almejava. Por intermédio do vento teimoso, seu cachecol vermelho se perdeu no mesmo, sendo levado a alguns metros de distância da garota. Esta, irritada, saltou do brinquedo em pleno ar, num pouso perfeito, incrível para sua idade, e correu de forma peculiar e rápida demais até o pedaço de pano escarlate dependurado num galho seco de um suntuoso salgueiro.

Chlöe não alcançava o cachecol, era bem pequenina para pegá-lo àquela altura. Porém, ela sabia que a altura não a impossibilitava de alcançá-lo. Tomando a devida precaução, olhou para todos os lados, e sem que ninguém a notasse, rodopiou em pleno ar, a mais ou menos três metros acima do solo, agarrou o cachecol e voltou ao mesmo, ágil e sutil como uma bailarina, uma bailarina intrínseca.

E dessa maneira, passou o pedaço de pano em volta do pescoço e retornou ao destino inicial, foi então que percebeu que o balanço da direita movimentava-se harmonicamente. Estranho, pensou consigo mesma. As crianças da aldeia não costumavam brincar ali, pois tinham medo daquela parte do bosque, e era por isso que Chlöe gostava dali, um lugar onde podia pensar sozinha, já que dispensava qualquer tipo de relação com outra criança, isso porque ela nunca conseguia de fato entrar num círculo de amizade sem as pessoas a olharem de forma estranha, tudo por ser uma Armstrong.

Ela fitou o balanço da direita até este diminuir o ritmo gradativamente, talvez tenha sido o vento, falou em sua mente. Talvez. Nisso ela sentou-se novamente no da esquerda e encarou sua saia preta, e ao acaso uma folha seca pousou na mesma. Com a mão direita e delicadamente, segurou a ponta e fitou as nervuras, pelas quais correra seiva há um bom tempo. E se precipitando mais uma vez, sendo o mais cautelosa possível, estendeu a mão a sua frente e mirou seus olhos azuis tão incrivelmente claros, que mais pareciam brancos, e fez com que a folha flutuasse a sua frente.

- Demais! – uma voz ao seu lado disparou.

Chlöe assustada perdeu a concentração e a folha também perdeu-se no vento. Ela virou-se subitamente e encarou o balanço da direita. Um garoto. Ela nunca vira aquele garoto ali antes. Nunca. Era uma aldeia pequena, todos conheciam todos, e além do mais, ela era filha do administrador dali, sabia quase todos os nomes de todas as dez famílias que a compunha.

-E-eu nunca o vi aqui – sua voz era doce e trêmula ao ser proferida.

-Certamente, Srta. Armstrong – o garoto de olhos verdes e cabelos castanhos claros respondeu de forma clara.

- Como sabe meu sobrenome? – continuou curiosa.

-Sei de muitas coisas que você não sabe, Chlöe, garota intrínseca. Eu a tenho observado por muito tempo – disse da forma mais natural possível.

A garota arregalou os olhos, ele sabia, ele viu. Ela estava perdida, seu segredo poderia ser revelado. Não restava dúvidas. Ela ainda estava praticando, mas precisava se proteger, proteger para que não a descobrissem. Foi então que decidida, saltou do balanço de forma angelical e com um movimento rápido de mãos fez com que o balanço da direita girasse a fim de prender o garoto nas correntes. Porém, o garoto sumiu, mas não antes de ela ver o sorriso nos lábios dele.

Uma sensação estranha percorreu o seu corpo, era medo, medo de ser descoberta. Ela levantou suas mãos e as fitou por alguns instantes, tentando recapitular as palavras do menino: garota intrínseca. Ela era uma garota intrínseca, ele dissera.

Repentinamente em suas mãos pousaram outras mãos, as dele. Ela quis soltar-se, mas ele não permitiu.

-Calma, não vou te ferir. Meu nome é Adam, e só você pode me ver. – usou a voz mais serena para transferir conforto a pequena menina.

- Mas mamãe diz para eu não falar com estranhos – Chlöe retrucou e levantou suas íris em direção as do garoto.

- E desde quando você ouve sua mãe? Nós a escolhemos, Srta. Armstrong, e em breve tudo fará sentido. – assim a imagem de Adam tremeluziu e o garoto se dissipou no ar.

As pequenas mãos da garota permaneceram onde as de Adam a haviam deixado. E pela primeira vez na vida ela sentiu-se não estranha. Um sorriso tímido tomou conta de seus lábios.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui. Realmente obrigada, fique a vontade para comentar e me reportar de erros.



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