Colin havia desistido. McGonagall não ia dar o braço a torcer. Contrariado, ele foi obrigado a acompanhar o último grupo que caminhava pela passagem que ligava Hogwarts ao bar Cabeça de Javali, onde seriam recebidos por Aberforth Dumbledore e os demais estudantes da escola que não tinham idade para lutar, ou não se sentiam capazes.

Mas Colin era capaz. Só não era velho o suficiente na concepção da velha professora de Transfiguração.

Ele já estava no pub maltrapilho, procurando seu irmão e o encontrou cercado pelos demais amigos grifinórios, assustados e com feições que beiravam à vontade de chorar. Mesmo mais ao longe, podiam ouvir o barulho da guerra que começava a se desenvolver no castelo.

- Colin! – exclamou Dennis Creevey – Eu estou com medo!

Essa frase daria espaço para várias brincadeirinhas dos amigos, mas o clima que se instalara era de pavor geral, todos se sentiam da mesma forma. O irmão mais velho se juntou ao garoto e aos amigos, que haviam feito um círculo no chão, em um canto afastado dos demais alunos, que bebiam cerveja amanteigada oferecida por Aberforth.

- Calma, pessoal. De que casa nós somos? Somos da Grifinória! Os leões são o quê? Vamos, digam! – instigou o jovem, buscando uma forma de amenizar a tensão do ambiente.

- Leais. – sussurrou uma garotinha.

- Ousados! – falou empolgado um menino.

-Companheiros. – continuou uma outra menina, sentada ao lado da primeira, se avermelhando com a atenção logo depois.

- E o que mais? Esse último você sabe bem, Dennis! – incentivou Colin.

- Nós somos corajosos! Os grifinórios estão sempre prontos para ajudar quem precisa, em momentos de necessidade. Nós lutamos de várias formas pra proteger quem amamos e nós não temos medo de nada! Ou ao menos, não deveríamos ter. - terminou, constrangido, abaixando a cabeça como os amigos.

- Vou contar um segredo pra vocês. – sussurrou o Creevey mais velho. O grupinho se apertou mais no círculo – Sem ter conhecido o medo, não dá pra se ter a coragem. E há vários tipos de coragem – continuou tendo uma boa ideia – por exemplo, se a gente tentar acalmar as outras pessoas aqui nesse momento difícil, estaremos realizando atos de coragem. Deixando o medo pra lá e procurando fazer o bem. O que te deixa calma?

Uma das meninas do grupo se assustou quando o mais velho fez uma pergunta direta a ela. Respondeu de prontidão.

- Um patrono. Eu já vi uma garota fazer um patrono na Sala Comunal. Eu senti muita calma nessa hora.

- Pois então vamos fazer patronos.

E eles fizeram. Colin ensinou e aprenderam rápido a lição que o garoto havia aprendido com Harry Potter, quando participou da Ordem da Fênix, praticamente dois anos antes.

O grupinho se espalhou pelo Cabeça de Javali, mostrando seus animais protetores a todos que rondavam o lugar. Era um momento de distração e calma, em meio ao turbilhão de luzes e estrondos vindos da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, não muito distantes daí.

Colin havia se sentado numa poltrona, perto ao retrato de Ariana Dumbledore. Se ele virasse o quadro, poderia estar em poucos minutos lutando ao lado daqueles que defendiam um mundo melhor, tanto para os trouxas quanto para a sociedade bruxa. Ele ainda tinha algumas marcas das diversas sessões de Sectumsempra que tivera que se sujeitar por ter nascido trouxa. Ainda lembrava de ter visto um aluno do sétimo ano aplicar uma maldição Cruciatus em seu irmão, que passara dias tendo pesadelos e acordando aos gritos.

E Colin sentiu que ele também devia estar lá. Ajudando a construir um novo Mundo Bruxo, onde houvesse liberdade e ninguém se importasse com a sua descendência. Ele queria igualdade para todos aqueles que, como ele e seu irmão, não conseguiam se encaixar no mundo normal por serem especiais, por terem magia no sangue.

Harry Potter, Hermione Granger, Ronald Weasley... o trio de ouro e tantos outros que, num dia qualquer anos antes, se reuniram para formar a nova Ordem da Fênix, estavam lá, lutando por todos os que estavam do lado de cá.

Lutando também pelo próprio Colin. E por isso, todos eram seus heróis, de alguma forma.

- Eu tenho que estar lá, Ariana. – sussurrou para o quadro da moça, que deu um sorriso triste, como se concordasse que fosse verdade, mas mostrasse medo por ele. A passagem se abriu e o menino olhou para os lados, confirmando que estavam todos alheios ao que se passava neste exato momento com ele.

Arregaçou as mangas e puxou a varinha para junto de si. Ele sentiu pela primeira vez que era um grifinório como Harry Potter. Corajoso e destemido, pronto para lutar pelos amigos.

Ao chegar no castelo, se deparou com uma cena de morte e destruição, mas não se abalou. Ele sentia no sangue que passava por suas veias que tinha que entrar em ação. Avistou rostos conhecidos e começou a lançar feitiço após feitiço contra os que ameaçavam seus companheiros.

Não soube ao certo quantos comensais desarmou, muito menos quantos protegos lançou na direção dos que lutavam no seu lado.

Colin também não soube quem ele protegeu quando abaixou a sua guarda por um mísero instante.

E ele também não soube quem o atingiu com a pior das maldições, a Maldição da Morte.

Mas o que Colin soube era que, a partir daquele momento, alguém passaria a chamá-lo de herói. O que Colin sabia era que ele seria para sempre o herói de alguém.

Assim como Harry Potter sempre seria o herói dele.