Entre espíritos e humanos escrita por AuroraRavka


Capítulo 2
Pessoas fáceis, sorrisos bobos


Notas iniciais do capítulo

Eu sou uma pessoa legal, acredite no que digo!



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Ricardo é interessante e alegre demais.

Foi no mercado comigo, carregou minhas compras e quando enfim voltamos para minha nova casa, ele me ajudou a ajeitar minhas louças em seu devido lugar. Sorriu de minhas piadas bobas e eu ficava encantada com seu jeito de ser, com sua leveza e com seus olhos azuis quase cinza.

– Pronta para começarmos a melhor parte? A parte em que poderemos cozinhar? – Ricardo se inclina para mim e encosta uma mão em meu ombro. Eu adoro contatos físicos, sempre fui muito receptiva a isso.

Eu levanto os braços em alegria e sorrio na direção dele. – Vamos estrear minha cozinha nova da minha casa nova!

Às vezes parece que você se esquece de mim.

Faço uma careta com o comentário de minha irmã, mas mesmo assim continuo empolgado pelo fato de poder fazer algo em minha casa. Nós ajeitamos os ingredientes e eu já havia decidido fazer uma macarronada. Diga-se de passagem, agora eu sou uma universitária, e macarrão é o prato principal de qualquer pessoa nessa situação!

Palavras são trocadas e segredos também. Eu conheço esse homem há cinco horas, isso se você não contar na época em que aluguei a casa, aquilo tinha sido tudo por telefone, mas enfim, eu descobri que ele tinha vinte e seis anos, seu pai havia morrido e ele cuida do negócio da família com a mãe. Está fazendo mestrado na universidade federal em que vou estudar, é praticamente meu veterano, já que é formado em letras. Sua paixão era escrever, seu hobbie era correr, seu maior sonho era ser capaz de ensinar literatura para as pessoas mais necessitadas, seu maior medo é ser traído por alguém que ama. Adora sorrisos e abraços. Ele é galã, mas tem pavor de patos. É amigo de todos os proprietários das vinte e três casas da rua das Casas Coloridas.

Assim que acabamos de preparar a refeição, eu me sento com ele em um tapete bege super fofo que jogo no chão da minha sala, já que não tenho mesa, então isso serve.

– E aí, já escolheu a cor?

Balanço a cabeça, enquanto continuo mastigando e paro um pouco para pensar.

Amarelo, que tal, adoro essa cor!

Alice ama amarelo desde o dia em que tentou convencer a nossa família que era a deusa do sol, na época estávamos estudando deuses de diversas religiões, e eu a apelidava de Amaterasu, para continuar incentivando seu título de deusa. Mas eu não queria nada amarelo, o interior da casa já tinha essa cor.

– Sem amarelo desta vez, eu quero verde, verde como a cor dos meus olhos.

Nojenta... nem se acha.

– Okay, então eu já posso conversar com alguns empreiteiros, aí logo, logo sua casa fará parte do nosso arco-íris. – Ricardo se aproxima de mim e me encara muito perto. – Bem, seus olhos são realmente lindos, mas acho que vai ser difícil encontrar uma tinta com essa cor. – Ele me encara com os olhos penetrantes dele e eu paro de mastigar minha comida e o encaro de volta.

– É esquisito isso sabia, eu não gosto de ser encarada enquanto como. – Ele sorri e o som da risada dele reverbera pelo meu corpo. Encosto minha cabeça na dele e dou um beijo em seu nariz.

Ver ou fazer uma pessoa corar é uma das coisas que mais gosto, é o momento em que vejo a pessoa se sentindo frágil.

– Seu hálito cheira a macarrão... – Ele diz depois de se recompor e põe sua uma mão em meu ombro novamente. – Você é diferente, eu tenho a estranha sensação que preciso estar próximo a você.

Dou um sorriso leve para ele e pego seu rosto com minhas mãos. – É que eu sou uma pessoa de várias personalidades, eu carrego dentro de mim duas almas, eu posso ver espíritos e sempre os ajudo a seguir seu caminho. Eu vivo entre o real e o irreal, eu sou uma ótima pessoa! – Beijo a testa dele e volto a pegar meu prato, levando-o até a cozinha para pegar o resto de macarrão que ainda sobrava na panela.

Escuto os passos de Ricardo vindo até mim e fico comendo enquanto espero ele se aproximar. – Devo acreditar em tudo o que você disse?

– Isso é você quem sabe, meu amigo! – Ele sorri e balança a cabeça.

– Hmm... eu quero te perguntar uma coisa, amanhã teremos uma festa de bem-vindos aos alunos novos da universidade. Você precisa ir!

– Sim, eu vou, deve ser legal conhecer o rosto das pessoas com que passarei um longo tempo.

– Bem, então já que está tudo combinado, acho que já deu minha hora de ir embora.

Termino o resto do meu macarrão e abraço Ricardo pelas costas. – Obrigado por tudo hoje, moço que cobra o aluguel!

Vejo Ricardo dando mais um de seus muitos sorrisos e bagunço seus cabelos. Logo depois ele se despedi e eu fico sozinha em minha nova casa, quer dizer... nunca estou sozinha...

Eu acho legal termos a casa só para a gente agora, mas temos um amiguinho aqui...

Olho na direção da porta de meu quarto e vejo um garoto que aparenta ter uns doze anos ali, sentado diante da porta fechada do meu quarto. Agacho-me até ficar no nível do rosto dele e sorrio para o jovem. – Hey, está com algum problema?

Ele levanta sua cabeça lentamente e eu vejo sangue escorrendo pelo seu rosto, aparentemente ele estava saindo de algum ferimento de sua cabeça. Aproximo minha mão até seu rosto lentamente, com medo dele não aceitar, mas o mesmo permanece imóvel olhando para mim com uma expressão triste. Encosto minha mão e uma bochecha sua e com a outra pego um lenço que sempre carrego no bolso, passo o lenço no rosto do menino e limpo o sangue de seu rosto.

Qual será a barreira dele?

Assim, eu termino de limpar o rosto do menino, com minhas duas mãos seguro em cada bochecha dele, o garoto começa a chorar e eu aproximo meu rosto perto do dele. – Não há com o que se preocupar, meu bem, minha irmã cuidará de você... – Sorrio para ele e dou um beijo leve em sua boca.

Essa porta está impedindo sua passagem, não é? – Vejo o garoto concordando e pego sua mão. - Você não consegue abri-la, já que é apenas o espírito de uma criança.

– Minha mãe, ela disse que eu não poderia abrir essa porta mesmo que ouvisse gritos, mesmo que ficasse assustado, mas minha mãe nunca saiu de lá, eu estou esperando minha mãe sair do quarto e dizer que está tudo bem.

Acaricio o cabelo da criança e o levanto.

Eu já vi casos assim, casos simples de serem resolvidos, e são os que eu acho ainda mais tristes. Existem espíritos que não conseguem ter sua alma liberta por motivos complicados, mas espíritos puros geralmente ficam presos no limbo por coisas bobas, apenas esperando alguém para ajuda-los. Giro a maçaneta do quarto e a sensação de usar o corpo da minha irmã, ou melhor, a sensação de ser mais que uma alma sempre me deixa em êxtase.

O quarto estava decorada de forma aconchegante, várias fotos de família estavam pregadas na parede, uma cômoda com um jarro de flores bonito, cortinas vermelhas que estavam voando... essas mesmas cortinas contrastavam com a parede bege, que estava respingada de sangue. Havia também uma mulher com uma camisola completamente suja e rasgada, ela estava com uma cara de preocupada e assim que ouviu alguém entrando, logo se levantou e viu seu menino, que logo soltou minha mãe e foi até ela. Os dois se abraçaram, os dois choraram, os dois brilharam e os dois foram descansar. Foi tudo rápido, foi tudo muito simples, mas foi emocionante. – Desta vez eu nem pude curtir o corpo da minha amada irmãzinha... – Sorrio e assim que vejo o quarto voltar ao estado normal, com apenas uma cama de casal e um guarda-roupa, eu sei que já é minha hora de voltar.

Você está engordando, hein!

– Deixa disso, sua estranha... mas me diga, como foi a passagem do menino?

A alma dele estava presa pelo combinado que ele fez com a mãe, por consequência, a alma dela também estava presa por não saber como o filho estava.

– Foi rápido e descomplicado, então. – Coço minha cabeça e vou até minha cama, me deito nela e vou logo me cobrindo. – Desta vez não houve problemas. – Bocejo com sono e quando já estava quase entrando no mundo dos sonhos, escuto minha irmã falar.

Eu disse que eu não iria deixar o passado se repetir...


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Notas finais do capítulo

Eu estou com os dedos dos pés doendo.



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